quarta-feira, 28 de março de 2012

A Vez da Lusofonia - Por Luiz Domingues


A julgar pelos avanços que o Brasil tem apresentado nos últimos anos, seria mesmo uma questão de tempo para a nossa língua materna passar a ter uma maior relevância internacional, como sempre mereceu, a ter em vista que os portugueses espalharam o seu idioma por todos os continentes e isso não é pouca coisa. Portugal, um pequeno país em extensão territorial, mas um gigante pelo fato de ter difundido a sua língua e cultura através do planeta, vê agora seu filho maior, expandir-se e assim auxiliar a espalhar a língua portuguesa, para elevá-la em padrões inimagináveis, se vistos anos atrás. É sabido, por exemplo, que muitos países sulamericanos, em sua maioria, hispânicos, instituíram o português como matéria nas escolas de ensino fundamental, sabidamente por conta da liderança natural que o Brasil assumira no cone sul e América latina em geral, desde os primórdios da instituição do Mercosul.

Atualmente, ainda mais líder, a destacar-se entre os chamados, "Brics" e por ser projetado por economistas como uma possível potência de primeiro mundo em um futuro não muito distante, o Brasil tem dado margem a uma pequena corrida internacional em torno do interesse pelo português, a nossa língua. Segundo dados, o português é falado atualmente por cerca de 250 milhões de pessoas no planeta, ao contabilizar-se apenas os nativos. É a sexta língua mais falada do mundo, já superou o russo, língua de um povo muito antigo e dono de uma sólida cultura e história, por exemplo.

Contudo, alguns avanços ainda precisam ser conquistados. A falta de recursos nas áreas de educação e cultura, internamente a descrever, traz também seus reflexos nessa área, sob expansão da língua. São incipientes as iniciativas em prol do português. Se existe o Instituto Camões de Lisboa e o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo (além de 22 centros de cultura lusófona, espalhados pelo mundo), realmente no cômputo geral são muito poucas ações em prol da divulgação e enaltecimento de nossa língua & cultura. Outra questão é a institucionalização do português como língua oficial da ONU. Se o russo o é, com todo o respeito e admiração por esse país e sua cultura milenar, o português precisa dessa elevação, também.

Matéria publicada inicialmente no Blog Pedro da Veiga, em 2011.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Espaço Limitado - Por Luiz Domingues

O Brasil poderia ter um programa espacial mais avançado, mas por incrível que pareça não o tem, por outra razão bem diferente do que nossas deduções óbvias levassem-nos a crer. 

Antes que o leitor estranhe que eu afirme tal ideia ao contra-argumentar que um país com tantos problemas estruturais não poderia investir dinheiro pesado em algo supostamente irreal ante a nossa realidade e prioridades, é bom esclarecer que ciência não é algo supérfluo e assim, benefícios concretos poderiam advir em tal exploração. 

Portanto, não seria um empecilho pelo fator financeiro, nem pela capacitação, instalações ou entraves burocráticos (pasmem!). A verdadeira barreira é a questão obscura em torno de pressões exercidas deliberadamente e infelizmente aceitas pelas nossas autoridades. 

Claro, sabemos muito bem que geopolítica impõe o inevitável jugo de forças maiores às nações pequenas, mas tudo tem limite e é possível negociar limites. 

Em recentes documentos revelados, ficou claro que uma forte pressão internacional, com direito a um velado embargo tecnológico, tem evitado o crescimento do Brasil nesse setor desde o início dos anos noventa, ao preservar assim os interesses de fora.

Em uma reportagem publicada no Jornal, Folha de São Paulo, vários desses documentos foram revelados e ficou bem clara essa pressão de nossos amigos oriundos de outras nações poderosas economicamente.

Sob uma farta profusão de telegramas (a Folha revelou cento e um, em seu site), mostra-se que esse embargo específico vem a ocorrer desde 1987, e teve duração, seguramente, até 2009. 

Sob a alegação de coibir a venda de materiais que pudessem ser usados na fabricação de mísseis, nações de primeiro mundo usaram de todo tipo de pressão para desestimular o desenvolvimento brasileiro, assim como de vários outros países emergentes. 

Não foi à toa, portanto, que o envio do primeiro astronauta brasileiro ao espaço, tenha ocorrido apenas recentemente e como consequência, ter obtido resultados pífios para a praticidade da ciência, quando foi até motivo para chacota em alguns setores da sociedade, que ironizaram o fato do astronauta ter feito experiências primárias, dignas de alunos da 5ª série, na aula de ciências, como se tivessem sido através de experimentos com feijões no espaço...

Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2011.

sábado, 24 de março de 2012

Filme: Sunset Strip (Buscando a Fama) - Por Luiz Domingues


Antes de comentar sobre o filme, "Sunset Strip" ("Buscando a Fama", em português, aliás, outro título inventado pelos distribuidores brasileiros e completamente desconectado  da intenção original dos seus idealizadores), é preciso falar um pouco sobre o contexto em que insere-se tal logradouro, localizado na cidade de Los Angeles, na Califórnia. Ocorre que tal via importante dessa cidade, ganhou uma boa dose de fama extra, por ter sido o ambiente em que houve uma explosão espontânea e muito popular em meados dos anos sessenta, ao reunir diariamente, por muito tempo, uma multidão de jovens identificados com o movimento hippie e a trazer no bojo, Rockers, artistas, intelectuais e todo o tipo de pessoas dispostas a buscar um modo de vida alternativo e pejorativamente designados pelas pessoas com mentalidade conservadora, como: "freaks".

Acima, fotos reais dos famosos distúrbios ocorridos na Sunset Strip, ao final de 1966

Aliás, cabe explicar que o termo, "Freak" (traduzido livremente como "esquisito", ou em termos mais pesados como: "aberração"), foi absorvido pelos hippies e dessa maneira, adquiriu uma outra conotação mais branda e até, de certa forma, a tornar-se motivo de orgulho, como se fosse  um manifesto em torno de que tais pessoas fizessem questão de deixar claro não adequavam-se aos valores tradicionais da sociedade de consumo e dotada de seus valores conservadores. Dessa forma, para muitos, ser um "freak", denotou veladamente uma afronta provocativa aos detratores, no sentido implícito de querer expressar o sentimento de que: -"Sim, eu sou freak mesmo, pois não acredito e não sigo os parâmetros da sociedade hipócrita a cercear a liberdade e a criatividade espontânea de cada pessoa". Muito bem, o fato é que a Sunset Strip tornou-se famosa nos anos sessenta, também por ter protagonizado tais concentrações e houve até um momento de conflito mais tenso, ao final de 1966, quando a polícia atacou a massa e cuja efeméride ficou conhecida como: "Sunset Strip Curfew Riots" (na livre tradução, seria: "toque de recolher na Sunset Strip"), e que ganhou uma subdesignação como: "Hippie Riots" (tumultos hippies).
O excelente grupo de Rock, norte-americano: Buffalo Springfield

Esse evento foi deveras opressivo, pois a prefeitura de Los Angeles quis mesmo impor um toque de recolher, para impedir que os hippies se reunissem todas as noites ali naquela via. Isso motivou o cinema a lançar um filme produzido muito rapidamente para explorar tal história, chamado: "Riot on Sunset Strip", em 1967, e cuja resenha faz parte deste livro, pois além de ser uma peça contracultural evidente, configura-se como um Rock Movie, certamente pelas aparições de importantes bandas da cena psicodélica em voga. tal resenha é econtrada no índice, é óbvio. E outras manifestações sobre o assunto, abundam, como por exemplo, a música: "For What is Worth", da ótima banda sessentista, "Buffalo Springfield", que tem como tema, exatamente essa situação vivida em 1966. 

A Sunset Strip reúne até os dias atuais (2012), uma série de bares e casas noturnas, aliás, desde os anos vinte do século passado, e por décadas, movimentou a fina flor da classe artística ligada à indústria do cinema, sediada na cidade.Tornou-se comum, portanto, a presença de grandes astros do cinema a frequentar as casas noturnas distribuídas ao longo de cerca de dois quilômetros e meio de extensão dessa via.

Entretanto, o panorama mudou um pouco, quando a mesma avenida tornou-se o ambiente para a contracultura sessentista explodir e assim, as casas noturnas abriram espaço para shows de Rock, caso das famosas: "Whisky  a Go Go", "Pandora's Box", "Roxy", "London Fog", entre outras. Centenas de bandas importantes tocaram nesses estabelecimentos, algumas inclusive que se tornaram mundialmente consagradas a posteriori, daí ter havido uma grande fama em torno da movimentação cultural em torno dessa ambientação. Portanto, foi por conta de todo esse histórico pregresso que houve a motivação para tanto falar-se a respeito de Sunset Strip e não foi diferente em relação ao caso do filme que motiva esta resenha: "Sunset Strip" ("Buscando a Fama"). 

Um dia em Los Angeles, em pleno ano de 1972, com muitos fatos a acontecer simultaneamente e entrelaçadas por um mesmo sonho. 
Esse é o mote do filme, "Sunset Strip", obra do diretor, Adam Collis, lançado em 2000. São várias situações aparentemente díspares entre si, mas entrelaçadas pelas motivações em torno do Rock e nesse aspecto, o filme narra subliminarmente sobre o sonho idealizado em torno desse ideal.
Não há neste filme, um protagonista bem delineado, dada a multiplicidade de histórias correlatas, que são mostradas, no entanto, é possível destacar-se uma personagem que mais aproxima-se desse protagonismo, e que seria portanto,  a figura de Zach (interpretado por Nick Stahl), que é um jovem guitarrista  aspirante a alcançar o estrelato, enquanto sobrevive em seu cotidiano nada glamoroso, mediante subempregos. Na base do esforço e tenacidade, ele consegue que sua desconhecida banda, abra o show de um astro do Rock britânico (fictício), chamado: Duncan (interpretado por Tommy Flanagan).
Duncan é um artista considerado "cool", pela imprensa especializada e igualmente consagrado, ao ponto de ser idolatrado, por seus fãs. Ele tem uma veia performática que gira entre os estilos de David Bowie; Jim Morrison, e Peter Gabriel, se é que fosse possível abranger tantas nuances diferentes assim. Duncan possui o seu público fanático e que por conta dessa idolatria, mostra-se muito exigente, no sentido de não nutrir simpatia por outros artistas e não ter a mínima paciência com artistas desconhecidos que eventualmente apresentem-se para abrir os shows de seu ídolo. 

Na vida pessoal,  Duncan mantém um romance rápido com a estilista, Tammy Franklin (interpretada por Anne Friel), que é dona de uma confecção bastante badalada no meio artístico, por conter como clientela base, muitos astros do Rock norte-americano, como Glen Walker (Jared Leto), famoso na cena do Country-Rock (e um artista fictício, igualmente), com quem mantém um caso amoroso, também.

Apaixonado pela estilista, o fotógrafo de moda, Michael Scott (interpretado por Simon Baker), acompanha toda a movimentação em torno desses Rockers, no atelier de Tammy e tenta ajudar um amigo seu, compositor, Felix (interpretado por Rory Cockrane), que é depressivo e costuma afoga-se no álcool e nas drogas para justificar a sua apatia excessiva e que no fundo, ele gosta de encenar com exagero para os demais que o rodeiam. 

Outro personagem interessante, é o empresário artístico, Marty Shapiro (Adam Goldberg), que empresaria bandas orientadas pela estética da Black Music (Soul Music-Funk-R'n'B). Completamente histriônico e prolixo, oferece momentos cômicos ao filme, sem dúvida.

Toda ação do filme, acontece no espaço de vinte e quatro horas, a gerar um dinamismo grande à trama. Zach e a sua banda estão programados para abrir o grande astro britânico, Duncan no emblemático, Whisky a Go Go, uma casa de shows tradicional na vida real. Confusões as mais diversas acontecem durante todo o dia.  Zach é paquerado por uma bela mulher e ao aceitar o convite para entrar em seu carro, é conduzido para uma mansão e descobre que o seu namorado é uma estrela temperamental da música Folk, que o expulsa a tiros (menção à Mr. Zimmerman?). 

Enquanto isso, no atelier de Tammy, a temperatura sobe nos provadores de roupas, a cada instante.
Duncan aparece com a sua entourage, e por ostentar seu temperamento alterado, entra pleno de uma espécie de empáfia, mais a parecer algo proposital para compor uma imagem pública estudada para servir-lhe como aparato na carreira (de fato, esse tipo de recurso ocorre por orientação alheia e que alguns artistas adotam para atingir o seu objetivo). O fotógrafo, Michael Scott, fica dividido entre aproximar-se de Tammy, tentar ajudar o seu amigo Felix e aguentar o empresário falastrão, Shapiro, tudo isso simultaneamente.
Todavia, o mote principal dessa balbúrdia é o jovem guitarrista, Zach e o seu sonho pessoal em tornar-se uma estrela do Rock. Enquanto sonha com a fama, em seu cotidiano, ele costuma tocar solitariamente em sua casa. Ao empunhar a sua guitarra, Fender Stratocaster, toca na varanda de sua casa e sempre ouve outro misterioso guitarrista a tocar pela vizinhança. Então, ele percebe que esse enigmático guitarrista, não reconhecido pelo alcance visual, mas somente por audição, o provoca, no bom sentido do termo, a propor subliminarmente realizar duelos entre guitarras, porém, não consegue identificar de onde esse rapaz está a tocar. 

Chega enfim o momento do grande show de abertura para o astro britânico, Duncan, e tudo dá errado para Zach e os seus companheiros. O áudio está um horror, o público só quer saber do show do seu grande astro, Duncan, e assim, como consequência infeliz, o dono do Whisky a Go Go, expulsa sumariamente a banda do palco, com bastante truculência e desdém.
Duncan entra em cena e faz o seu show, supostamente ao estilo Art-Rock, para o completo delírio de seus hipnotizados fãs. Por outro lado, Scott logra êxito em seu intento, ao acertar-se emocionalmente com Tammy. 

Felix desiste do suicídio (que na verdade fora apenas um blefe romântico de sua parte) e Glen Walker tem uma epifania sobre o novo rumo que sua carreira vai adotar doravante.

Frustrado, Zach volta para a casa e mente ao seu vizinho, um simpático senhor idoso (que fora músico nas décadas de quarenta e cinquenta e costumava incentivar a luta do jovem aspirante a artista, para buscar um lugar melhor no mundo da música), ao dizer-lhe ter dado tudo certo na apresentação realizada no Whisky a Go Go, e que um grande contrato foi oferecido-lhe, decorrente da boa impressão que causara, ou seja, uma mentira em tom de comiseração para com o senhor idoso, no intuito de poupá-lo do dissabor que ele teria ao saber a verdadeira resolução do caso. 

Esse é um momento pungente do filme, pois firma a questão do músico em torno de seu sonho em alcançar o sucesso, na forma dessa sinergia entre dois músicos divididos por gerações diferentes, porém unidos pelo mesmo ideal. 

Para finalizar, Zach vai a uma lanchonete e após sair dela, ouve o misterioso som de uma guitarra a ecoar em um beco próximo. Bingo... é o seu vizinho guitarrista que nunca identificara anteriormente, e que toca o lindo tema que sempre ouve de sua varanda ("Cannyon Song", música da The Band). 

Ao aproximar-se, percebe que o tal rapaz a tocar no beco, era um garçom da lanchonete e assim desvenda-se o enigma: trata-se do misterioso guitarrista em questão. Essa cena final é emblemática, pois sem pronunciar nenhuma palavra, ambos entendem-se ao conversar através das suas guitarras. É bonito vê-los a tocar em duo, com os olhos de ambos a brilhar e a certeza final: no Rock, o sonho nunca acaba. E de fato, é anunciado nos caracteres finais, que Zach e esse guitarrista do beco, fundaram uma banda dali em diante e que esta forjara uma carreira bem sucedida nos anos vindouros. 

Em suma, um bom filme, embora com a trama a revelar-se bem simples e tratada de uma maneira rápida a retratar diversas nuances sobre os bastidores do Rock setentista, com uma encenação frenética e entremeada por muitos personagens a interagir sem necessariamente, haver uma relação mais aprofundada entre eles. 

Algumas situações cômicas estão inseridas a garantir a porção do humor e a mensagem ao mostrar-se o lado lúdico do sonho, enquanto uma aspiração legítima, pois a vontade dos aspirantes é sempre nutrida pelos belos propósitos. Não trata-se de uma obra prima, sob o ponto de vista cinematográfico, mas certamente é agradável para assistir-se.

Tal filme teve uma curta vida em termos de exibições em salas de cinema, portanto, a arrecadar pouco. Ficou restrito a uns poucos festivais de cinema, tão somente e ganhou uma sobrevida mediante melhores resultados, quando avançou pela cadeia natural da distribuição ao chegar à TV.

Até a metade dos anos 2000, teve muitas reprises em canais de TV a cabo, predominantemente. Curioso, em 2001, em plena era digital já sedimentada, foi anunciado o lançamento da obra em formato VHS, algo aparentemente superado, tecnologicamente. Mais curioso ainda, no mesmo ano, houve um relançamento em DVD e posterior relançamento no mesmo formato, com a opção em assistir-se em duas versões, com tela cheia e outra, em tela larga.

Na Internet, é difícil achar-se uma cópia integral no YouTube, no entanto, apenas fragmentos são encontrados. Em alguns portais mais obscuros, como o "tubitv" e outros, consta em suas listas a presença dessa obra, entretanto, fica a advertência de que muitos canais dessa natureza pedem a inscrição obrigatória e alguns deles estão infectados por vírus, portanto, é preciso cautela antes de aventurar-se em assistir em qualquer portal desses.
Ainda a falar sobre o filme, cabe acrescentar alguns atores participantes e não citados ao longo da resenha: Darren E. Burrows (como Bobby), John Randolph (como Mr. Niedehaus), Stephanie Romanov (como Christine), Mary Lynn Rjskub (Eileen), Maurice Chasse (como Nigel), Mike Rad (como Badger), Josh Richman (como Barry Bernstein) e outros.

Sobre a trilha sonora, o material foi composto por Stewart Copland, famoso por ter sido baterista do grupo, "The Police", ao final dos anos setenta e cuja sonoridade básica não comunga desses ideais sessenta-setentistas, mas é bem sabido que Stewart não caiu de paraquedas na cena Pós-Punk no período pós-1977, mas pelo contrário, mantinha uma longa trajetória no Rock britânico, incluso com bons trabalhos realizados com a banda,"Curved Air", versada pela escola do Rock Progressivo setentista.

Acima, na primeira foto, o músico e compositor, Stewart Copland, em ação no estúdio. Na segunda, o excelente, Robbie Robertson, em fotos dos anos setenta em ação coma The Band

Em suma, um músico muito competente  e com noção da história. Como se não bastasse, a coprodução musical desse filme, esteve a cargo de: Robbie Robertson, guitarrista da genial "The Band", isto é, um participante ativo desse período, a dispensar maiores explicações. Em suma, o som que se ouve no filme, é muito fidedigno ao ambiente de 1972, sob diversas vertentes, tanto em termos estéticos, quanto no esmero de apresentar um áudio bastante condizente em termos de timbres e produção em geral.

Escrito por Randall Jahnson e Russell DeGrazier. Produzido por Art e John Linson. Dirigido por Adam Collis, foi lançado em agosto de 2000. Mesmo a configurar-se em uma produção simples, vale a pena assistir, eu garanto.


Resenha publicada inicialmente no Blog do Juma, em 2011. Tal resenha foi revista e ampliada, para ser incorporada ao livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll", devidamente alojada em seu volume I, a partir da página 149

sexta-feira, 23 de março de 2012

Atire a Primeira Pedra - Por Luiz Domingues


Em uma guerra, não há mocinhos, nem bandidos em tese, como os filmes de Hollywood tanto disseminaram ao contrário, por décadas a fio. Na realidade, barbaridades podem ser são cometidas por todos os personagens envolvidos no conflito. 

Recentemente, por exemplo, foi descortinada uma página triste da história, pela qual atrocidades cometidas por cientistas sem escrúpulos os igualaram às praticas nazistas em campos de concentração, durante a Segunda Guerra Mundial. 

Documentos revelaram que entre 1946 e 1948, um experimento científico infectou cerca de mil e trezentos cidadãos guatamaltecos, acometidos por doenças venéreas, para supostamente ser testado os efeitos da então recém-lançada penicilina, no combate às doenças sexualmente transmissíveis.

Entre outras praticas dignas de um Dr. Mengele, inoculou-se sífilis através do globo ocular de prostitutas e estas moças foram estimularam a copular posteriormente com soldados do exército daquele país latino-americano, além de civis a apresentar quadro com deficiências físicas e mentais. 

Órfãos também foram usados nos experimentos, em que o cientista responsável, um senhor chamado, Dr. John Charles Cutler, manteve um laboratório nos moldes parecidos aos usados pelo personagem fictício, o sinistro Dr. Moreau (protagonista da ficção científica: "A Ilha do Dr. Moreau" (Livro de H.G. Wells), que gerou três bons filmes, por sinal). 

E o Dr. Cutler, que antes desse documento vir à baila, por décadas foi considerado um benfeitor da humanidade por suas descobertas no campo das DST, agora sabemos, as suas descobertas foram conquistadas às custas do sofrimento de pessoas pobres de um país centro-americano, certamente tratadas como cidadãos de terceira classe. 

E para ir mais fundo, descobriram que antes, em 1943, ele já fizera vários experimentos em presidiários e infelizmente, em pessoas negras e pobres de uma penitenciária do estado da Indiana, nos Estados Unidos. 

Porém, Mengele e Cutler não estão sozinhos na disputa pela "medalha de ouro Dr. Moreau". Cientistas coreanos, nos anos 1930, obrigaram cobaias humanas a ingerir repolhos envenenados e através de uma cúpula envidraçada, monitoravam "cientificamente', os vinte minutos, em média, que esses infelizes demoravam para morrer, após apresentarem violentas convulsões corpóreas.

Um microbiologista chamado, Shiro Ishii, montou durante o período da Segunda Guerra Mundial, um laboratório ainda mais cruel que o do Dr. Cutler, instalado em um rincão asiático. 

Grigori Mairanovski, outro cientista (este de origem da Geórgia, no leste europeu), costumava realizar experimentos com cobaias humanas nos chamados, gulags, ao envenená-las com gás C-2. 

Neste caso, durava cerca de quinze minutos a agonia dessas pessoas, observada com afinco pelo "nobre" pesquisador. E o objetivo desse experimento fora descobrir um meio do gás não deixar vestígios a ser descoberto por legistas, e assim contribuir com a eficácia do sigilo da espionagem durante o período da Guerra Fria.

E o que dizer dos experimentos que foram feitos para o desenvolvimento da bomba atômica? Pergunte aos pobres moradores do Atol de Bikini ou das Ilhas Marshall, locais onde muitos foram prejudicados, diante de casos relatados sobre abortos, nascimentos prematuros, câncer tireoidiano etc. 

Entre 1971 e 1989, um cientista sul-africano, torturou milhares de pessoas, ao alegar ter encontrado a "cura" para o homossexualismo masculino e feminino. Entre os seus métodos, constava o uso de eletrochoques e castração química.

E o projeto MK-Ultra? Muito antes dos Hippies dos anos sessenta elegerem o LSD como o seu combustível, sob as bênçãos de Timothy Leary, cientistas fizeram muitos experimentos desde o final dos anos 1940, mas com outros propósitos, menos lúdicos. 

O objetivo seria controlar a mente de super espiões, ao violar as normas do código de Nuremberg (quando proibiu-se experimentos desse nível para efeitos militares ou de inteligência secreta). E para testar tais métodos, doses cavalares com LSD, foram injetadas nas cobaias e muita gente morreu de uma forma trágica. 

Recomendo assistir o excelente filme, "The Manchurian Candidate", no qual esse tema é tratado, com Frank Sinatra a atuar como o protagonista (e muito bem por sinal, aliás).

Para encerrar: em nome da "ciência", não foram apenas os pobres animais que sofreram. E nenhuma nação está livre desse ônus, em que não existem mocinhos, só bandidos
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, e republicada posteriormente no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2011.

Filme : Rock Star - Por Luiz Domingues

A história de todo aspirante artista, em qualquer ramo das diferentes manifestações da arte, é quase sempre a mesma: primeiro ele enlouquece ao ver artistas consagrados em ação; depois tenta imitá-los, desesperadamente, e por conseguinte, em uma etapa mais madura do seu próprio desenvolvimento, finalmente encontra o seu estilo e personalidade própria. 

Esse é, portanto, o tema do filme norte-americano, "Rock Star", sobre um aspirante a artista muda a sua condição pessoal, repentinamente ao deixar a condição de cantor de uma banda cover/tributo, para vocalista oficial da banda que ele idolatrava. O filme é inspirado na trajetória do vocalista, Tim "Ripper" Owens, que um dia entrou para o Judas Priest, uma famosa banda pesada, surgida na Inglaterra  nos anos setenta ao substituir, Rob Halford, o seu vocalista clássico. Porém, antes de avançar no comentário sobre o desenvolvimento desse mote, ao narrar a história em si, é preciso salientar que a ideia, não obstante ter sido inspirada em fatos reais, é muito interessante, a configurar uma ocorrência sui generis.
E mais do que isso, por extensão, abriu campo para a exploração de nuances, muito ricas em termos de aspectos psicológicos e culturais, enquanto traços paradigmáticos em relação ao personagem protagonista, mas também observados em personagens paralelos, portanto, este filme traz em seu bojo uma riqueza subliminar, mesmo que a grosso modo, seja considerado apenas como um drama leve, com um certo romantismo e uma discreta dose de comédia, a produzir-se inclusive, boas piadas sobre os maneirismos do mundo do Heavy-Metal, sobretudo.
Aliás, cabe deixar claro, a corroborar o que afirmei no parágrafo anterior, que esta obra teve como título inicial o termo: "Metal God", a demarcar bem o espectro pelo qual pautara-se e sobretudo, para quem pretendia dirigir-se em termos de audiência. No entanto, por pressões óbvias, advindas da indústria cinematográfica, resolveu-se buscar uma maior abrangência e na sutileza contida em torno do novo título, "Rock Star", ao não restringir por conseguinte o interesse dos espectadores aos aficionados do gênero "Heavy-Metal", e assim buscar o público Rocker mais amplo, no entanto, que fique claro,  isso foi uma mera estratégia de marketing, pois a história centra-se  mesmo no universo do Metal.
Sobre a história em si, se a inspiração foi explícita em fatos verídicos, há também por salientar-se que as licenças poéticas foram usadas com constância, o que aliás é uma praxe na construção de qualquer roteiro cinematográfico, daí sempre ser frustrante para quem assiste cinebiografias ou filmes a retratar fatos históricos, pois é inevitável que sob a desculpa da inteligibilidade cinematográfica, mudanças estruturais sejam realizadas em histórias reais, a mudar completamente a sua cronologia até a imprimir distorções (algumas imperdoáveis). 

Neste caso em específico, conta-se que os membros do Judas Priest foram consultados e em específico, o vocalista, Tim Owens, cuja história de vida inspirara a construção deste roteiro. A produção do filme chegou a visitar a cidade natal de tim, Akron-Ohio, para aprofundar as suas pesquisas, portanto, esmerou-se. Entretanto, como eu já observei, no momento em que um roteirista começa a elaborar o seu texto, as mudanças são inevitáveis, pois ele não escreve livremente como se fosse uma peça artística literária, um romance, por exemplo, mas pelo contrário, obedece regras estabelecidas por fórmulas pré-concebidas, portanto, o trabalho consiste na verdade em adaptar uma história real ou fictícia, não importa, às regras do cinema.

 Nesses termos, como sempre ocorre em cinebiografias, gera-se a estupefação, e até revolta e/ou negação do filme da parte do próprio cinebiografado ou demais personagens citados e certamente da parte de fãs, caso trate-se de alguma personalidade artística esportiva, política ou a conter alguma proeminência dentro da sociedade; e também em relação aos admiradores em geral etc. Foi o caso deste filme, naturalmente, pois os membros do Judas Priest alegaram posteriormente, o seu desagrado com o resultado final desta obra.

Bem, Rock Star trata da aventura protagonizada por um rapaz chamado: Chris Cole (interpretado por Mark Wahlberg) que é um rapaz oriundo de Pittsburgh, na Pennsylnania, e que trabalha a consertar máquinas de cópias ao estilo "xerox", entretanto, é também vocalista de uma banda cover chamada, "Blood Polluttion", que faz tributo à fictícia banda: "Steel Dragon" (que é uma ficção no filme, pois na vidad real, fora o caso do "Judas Priest"). O ambiente é o do Heavy-Metal dos anos oitenta, com todos os seus exageros visuais e sonoros, típicos daquele estilo e década.
O filme começa com esses contrastes observados pelas ações da personagem principal, entre a vida simples que leva em família; o trabalho maçante e as pequenas apresentações da sua banda cover, "Blood Pollution". Chris Cole (Wahlberg ), parece ser o único a levar a sério o trabalho da sua banda cover e cobra dos companheiros a perfeição na execução das músicas do "Steel Dragon", que interpretam.
A sua namorada, Emily Poule (Jennifer Aniston, famosa por sua atuação na série de TV, "Friends"), é a produtora da banda cover, e sua principal incentivadora. Um dia, Chris recebe o telefonema do guitarrista do Steel Dragon, Curt Cuddy (interpretado por Nick Catanese), e é convidado a submeter-se a um teste para entrar na banda, visto que o vocalista antigo havia saído. Em princípio por ser algo tão irreal em sua percepção provinciana, ele não acredita, ao considerar ser trote perpetrado por algum amigo seu, visto ser público e notório,  por todos o quanto ele idolatrava tal banda, todavia fora a mais pura verdade, por conta de algum material da banda tributo ter sido analisado pelo pessoal do real, "Steel Dragon".  

A sequência a seguir é muito interessante, pois retrata o verdadeiro choque térmico que o personagem (e a namorada dele, também), sofrem ao deparar-se com o mundo musical mainstream. A começar pela mudança de seu nome artístico, que passou a adotar, ao chamar-se simplesmente: "Izzy", doravante, por uma sugestão da produção da famosa banda.
Uma das cenas que melhor retratam esse deslumbramento é quando Chris Cole/Izzy, vai posar para as suas primeiras fotos promocionais como o novo vocalista do "Steel Dragon" e coloca-se a sorrir, pois não consegue conter a sua euforia, em meio aos companheiros mais experientes, e a constituir-se de seus próprios ídolos, todos a seguir o estereótipo do "headbanger" padrão, a realizar a expressão facial tensa, a denotar agressividade. E no primeiro show, o ato falho desnuda o seu completo despreparo ao atuar sob um palco imenso, ao tropeçar assim que entra em cena, protagonizando um tombo feio, que só não arruinou tudo, por que ele continuou a cantar, com sangramento visível em seu figurino de show e tudo mais. 

E por conta dessa ocorrência tragicômica, os fãs demonstram apreciar tal atitude e daí constrói-se o primeiro elo de simpatia dele para com os fãs da banda. De fato, eis aí um aspecto muito interessante e que foi explorado subliminarmente, pois um novo membro a ingressar em uma banda consagrada, gera normalmente muita controvérsia entre os seus seguidores. A simpatia pelo ex-membro, mesmo que ele tenha retirado-se do grupo por vontade própria (a buscar carreira solo, por exemplo e isso ocorre com constância no meio musical), é algo difícil para ser rompido pelo membro novato  que o substituiu, ainda mais no espectro do Heavy-Metal, onde os signos são muito particulares e há uma agressividade inerente a tudo.

A ideia do vocalista novo e rejeitado por antecipação, começar de uma forma ridícula a sua participação na banda, ao cair de uma forma patética, somente poderia piorar e muito a sua imagem perante os fãs, no entanto, a ótima solução encontrada foi mostrar a sua superação, pois a reação dos fãs mudou completamente ao vê-lo levantar-se e a sangrar, seguir a cantar com determinação, como se nada houvesse ocorrido. E registre-se portanto, que nesse específico universo, tal tipo de ocorrência realmente é valorizada, certamente.  

Mostra-se a seguir as contingências típicas de um artista consagrado no patamar mainstream, ou seja, o forte assédio; festas malucas a acontecer no camarim, e farras pelos hotéis, a caracterizar em sua soma, um fator de deslumbramento e excitação para Chris Cole/Izzy, que agora canta com a banda que antes, idolatravatudo é deslumbramento e excitação para Chris Cole / Izzy, que agora canta na banda que antes, idolatrava.

Mas a pressão também começou a miná-lo, pois o clima na banda mostra-se opressivo, mediante cobranças e não há nenhum espaço para criar, apenas seguir as ordens do líder (o guitarrista, Kirk Cuddy), e do empresário da banda (Mats, interpretado pelo ator britânico, Timothy Spall, que também interpretou o baterista da banda, "Strange Fruit", no filme: "Still Crazy"). Por começar a tornar-se um contumaz "junkie & drunkie", Chris, ou Izzy, conforme a sua nova situação artística, dá mostras de decréscimo em sua performance artística e enfim percebe que tudo aquilo fora uma farsa e resolve então, providenciar uma guinada em sua vida.

O universo do Heavy-Metal em geral e principalmente o observado na década de oitenta, oitentista não é da minha predileção pessoal, mas eu gosto bastante desse filme, por vários aspectos. Primeiro, por discutir essa questão da idolatria sob os dois lados do mesmo espelho. E também pelas boas cenas a exibir shows, bastidores e loucuras generalizadas mediante festas regadas a groupies, e assim retratar bem o clima de uma banda em seu auge dentro do universo mainstream.

Uma grande ideia da parte da produção deste filme, foi recrutar músicos verdadeiros, oriundos dessa cena do Heavy-Metal, para interpretar os músicos da banda, "Steel Dragon" e também da banda cover, "Blood Pollution". Dessa forma, estão ali músicos como: Zakk Wylde; Jason Bonhan, Jeff Pilston, Nick Catanese, Blas Elias; e Brian Vander Ark, que são famosos  nesse espectro e cujas biografias podem ser investigadas  fartamente através de pesquisas pela Internet. 

E a voz do cantor de Heavy-Metal, do personagem Chris Cole / Izzy, foi emprestada por dois vocalistas autênticos: Miljenko Matijevic e Jeff Scott Soto, com um padrão de dublagem  muito bom, portanto, louve-se  a atuação do ator, Mark Wahlberg; e também da parte da direção e edição, ao estabelecer  a sincronia perfeita entre a voz dublada  por cantores verdadeiros e os lábios do ator a dublá-la. 
Cenas cômicas também acontecem parta trazer o alívio cômico ao filme. Por exemplo, uma groupie que faz parte da comitiva do Steel Dragon, mostra-se muito bem entrosada com todos, a excercer uma espécie de posição a denotar ser ali uma "iminência parda" dentro da estrutura da banda (Tania Asher, interpretada por Dagmara Domincyk). É engraçado no entanto, na medida em a despeito da impressão inicial induzida ao espectador fosse de levá-lo a crer que tal moça adotava uma agressiva intenção bisseual, ao investir fortemente em Chris e também em sua namorada, Emily, pois logo a seguir emm cenas  subsequentes, Chris descobre que a moça, que mostra-se muito bonita e sensual, na verdade trata-se de um travesti, fato que ele constata depois de vê-la a urinar em pé, assim que acorda em meio a um banddo de gente literalmente dfesacordada pela forte ressaca, proveniente da farra ocorrida durante a madrugada pelos quartos e corredores de uim hotel onde a banda e sua entourage estão hospedados.
Outra boa piada ocorre quando Chris/Izzy descobre que o antigo vocalista da banda (bobby Beers, interpretado por Jason Flemyng, e que ele tinha como um ídolo), sempre usou peruca por ter o seu canbelo natural ralo ao extremo, a caracterizar calvície em andamento e também por este haver revelado internamente que sempre foi gay, portanto, as namoradas deslumbrantes com as quais posava em festas, foram farsamntes arrumadas para manter uma imagem pública a mostrar-se viril. do artista em questão.
Independente de piadas dessa monta, o fato mostrado com maior ênfase, é que Chris desaponta-se com a vida de Rock Star, ao constatar que as farras lhe subtraíam a saúde e o carinhos das groupies, era tão efêmero quanto a sensação do prazer carnal instantãneo, desprovido de qualquer sentimento. Claro, isso ele percebeu quando fora abandonado pela namorada, Emily, que não suportara ter sido suplantada, por esse mundo marcado por frivolidades que o cegara completamente.
Além do mais, a parte musical, propriamente dita, também frustrara-o inteiramente, na medida em que inocentemente, ele levara uma fita demo caseira, a conter muitas composições suas, no intuito de oferecer tal material inédito para a banda aproveitar em um eventual novo álbum e o guitarrista, Kirk, prontamente descartou tal hipótese ao deixar claro que a composição do material a alimentar o repertório da banda, vinha sempre da parte dele, como uma praxe e nada que fosse mostrado por outros membros, seria aproveitado de forma alguma.

Pior ainda, a sua empáfia choca, Chris/Izzy, pois não obstante a rejeição sumária da sua colaboração, o guitarrista em questão desdenhara de sua pessoa de um forma muito deselegante, a caracterizar um tipo de tratamento vergonhoso que a boa educação sugere que não seja praticada contra ninguém, e ainda mais com um colega, companheiro de trabalho e certamente um sócio em um empreendimento que gera receita e neste caso, a tratar-se de uma fortuna.

Bem, foi mais um ponto que fez com que Chris/Izzy passasse a ponderar sobre a sua situação ali dentro daquela banda. Desapontado por conhecer os meandros de uma banda que antes idolatrava apenas pela atuação musical, mas não imaginava que o trato humano seria tão desagradável, ele enfim começa a nutrir a constatação de que era mais feliz anteriormente, ao atuar com os velhos companheiros da sua banda cover/tributo.
Ele recebe a discreta atenção mais humanizada  da parte do empresário da banda e do seu baterista, mas é pouco, visto que que eles também estão ali escravizados pelo sistema e ao contrário de Chris/Izzy, estão ressignados  com tal panorama que os mantém sob subserviência. No entanto, já bastante cansado por enfrentar tais dissabores, eis que em um concerto, o incentivo para que ele largue tudo, ocorre.

A cantar normalmente, em meio  ao show, eis que Chris/Izzy, observa que um rapaz específico em meio à multidão, que está a solar a voz em todas as músicas. Pela sua atitude, tal fã é a personificação de sua própria condição, quando anos atrás, fora também um fã que sonhava  em cantar com a sua banda predileta. Em pequenos hiatos sonoros possíveis entre uma canção  e outra, Chris/Izzy, percebe que o rapaz tem talento em relação à voz do vocalista original, que ambos idolatravam, certamente. Então, essa foi a gotad´qagua para que ele criasse coragem para adotar uma posição.

É simbólica a cena ao mostrar que Izzy incentiva o rapaz desconhecido para que continue a cantar e mais do que isso, subir ao palco e assumir o microfone, para a estupefação dos seus colegas. Enfim, a metáfora falou por si só, pois Chris/Izzy passou devidamente o bastão para o próximo sonhador da fila e sempre existirá um, essa é a mensagem subliminar embutida na cena e no filme como um todo.
Em cena subsequente, com os cabelos mais curtos e um visual despojado nas vestimentas, Izzy passa a cantar um som bem mais comedido, em apresentações intimistas na base da voz & violão, em um modestíssimo circuito de bares e casas noturnas suburbanas. Certos críticos interpretaram esse final do filme como um rompimento com o Rock, a denotar que o gênero se esgotara e a "nova realidade" fora apontada por tal tomada de consciência representada pela personagem.

Um exagero, certamente, pois assim como o Blues e o Jazz, o rock é uma instituição solidificada e mesmo que esteja em baixa no imaginário mainstream em algum momento, isso não significa dizer que foi extyerminado, como os apressados críticos e certamente não simpáticos ao gênero, preconizam sempre. Bem, e neste caso há a agravante do filme ter sido focado no universo Heavy-Metal, ou seja, uma vertente que em si, é considerada das mais resilientes. O mundo pode acabar, literalmente, mas para os fãs dessa escola peso pesado, nada abala as suas convicções, portanto, eu discordo da avaliação que certos críticos nutriram sobre o final desse enredo.
Chris, agora, "ex-Izzy", revela-se feliz por voltar a ter uma vida mais simples e cantar livremente; tudo melhora quando ele recupera o amor de Emily e o clássico final feliz instaura-se mediante a ideia que o amor suplanta a fama & riqueza.
Na época do seu lançamento, por incrível que pareça e a contrariar o que eu afirmei anteriormente, o filme foi um fiasco nas bilheterias. Talvez não seja uma contrariedade propriamente dita, no sentido de que o público Heavy-Metal tende a radicalizar a sua opinião e dessa forma, ao ter detectado falhas estruturais no roteiro em relação à verdade sobre a relação do fã, Tim "Ripper" Owens com o Judas Priest, ou seja, a inspiração declarada para que este filme fosse produzido. Não estou a afirmar essa questão, mas creio que seja uma explicaçãobastante palusível para o fracasso observado nas salas de cinema. Nesses termos, tratado como uma comédia romântico banal, não atraiu um público Rocker verdadeiramente, mas uma plateia habitual do cinema, à cata de entretenimento pura e simplesmente.
Martk Wahlberg esforçou-se para compor a personagem, isso precisa ser enaltecido. Além de ter deixado o seu cabelo crescer naturalmente e não usar peruca, simplesmente como um outro ator teria feito, tranquilamente, ele fez meses de aula com vocalistas dfe Heavy-Metal para aprender posturascênicas e técnica vocal para aprender a dublar com fidedignidade esse estilo de canto bastante agressivo. Além do mais, fez laboratório em campo, ao andar em pontos frequentados por adeptos do Heavy-Metal e assistir shows. Aliás, as cenas de shows foram filmadas em espetáculos verdadeiros, protagonizados por bandas como Metallica e Megadeth, em arenas lotadas.

Além dos atores já citados e os músicos que atuaram  como atores, cito igualmente: Stephan Jenkins (como Bradley), Michael Shamus Wiles (como Joe Cole, o pai de Chris), Beth Grant (como Mrs. Cole, mãe de Chris), Matthew Glave (como Joe Cole Junior, irmão de Chris), e outros.
"Rock Star" foi escrito por Stephen Herek e produzido por Robert Lawrence e Toby Jaffe.  Dirigido por Stephen Herek e com a trilha sonora assinada pelo guitarrista, Trevor Rabin (ex-Yes, fase oitentista). Tal obra foi lançada em setembro de 2001. Bem rapidamente ganhou a sua versão em DVD e a trilha sonora, apresenta além do som da banda, "Steel Dragon", devidamente gravada por músicos verdadeiros dessa cena e que atuaram como atores, ouve-se o som do Kiss, Def Leppard, AC/DC, Ted Nugent, Mötley Crue, Bon Jovi, Inxs, Culture Club, Frankie Goes to Hollywood, Trevor Rabin e outros.
Em suma, trata-se de um bom filme, a conter reflexões interessantes e como diversão pura e simples, também atende às expectativas menos exigentes. Objeto de muitas repetições em canais de TV a cabo, tal motivação certamente é mais pela presença dos atores, Mark Wahlberg e Jennifer Aniston. Na Internet, através do YouTube é difícil achar-se uma cópia gratuita e na íntegra. É encontrado, no entanto em outros portais onde a inscrição é obrigatória, tais como "Directv" e "Amazon".
Resenha publicada inicialmente no Blog do Juma, em 2011. 

Tempos depois, tal material foi revisto e aumentado para ser incluído no livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" e assim, consta em seu volume I, a partir da página 139.