sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Monterey Pop Festival 1967 - Por Luiz Domingues


O Flower Power, uma denominação inventada como decorrência da explosão contracultural, já estava em plena expansão, a ocorrer na costa californiana, desde 1966. Todavia, para efeito de visibilidade midiática, foi a partir de eventos pontuais tais como o advento do  Human Be-In; Acid Tests e inúmeros shows de Rock a acontecer por diversas cidades (que inclusive, tratou em promover muitos artistas geniais), o ano de 1967, ficou realmente marcado como o seu auge criativo.

Foi quando um evento em especial, tratou em significar tal ano, como o seu principal agente  difusor dessa cena, em maior escala. Foi no auge do "verão do amor", que aconteceu portanto, o Festival de Monterey, para tornar-se o símbolo dessa Era psicodélica. Ocorrido entre os dias 16 e 18 de junho de 1967, no Monterey County Fairgrounds, um espaço para eventos localizado naquela pacata cidade litorânea, tal evento entrou para a história, também  pela quantidade de artistas importantes que ali apresentou-se, porém, muito mais pelo aspecto subliminar que representou para o movimento Hippie.

O nome oficial do evento, foi pomposo (Monterey International Pop Music Festival), e de fato, a ideia inicial dos seus organizadores, foi agrupar artistas sob várias nacionalidades, além dos norteamericanos. Lou Adler e Alan Pariser, produtores musicais, associaram-se à John Phillips, o lider da banda : "The Mamas and the Papas", e este, foi decisivo como produtor associado, ao auxiliar com muito empenho pessoal, e assim garantir que o festival pudesse acontecer.
Tal empenho custou cerca de três meses de trabalho intenso da parte de John, tanto que comentou-se à boca pequena, que ele teve que cancelar ensaios com a sua banda, ao gerar reclamações de seus três colegas no âmbito interno da banda.

Outra personalidade importante nessa produção, foi Derek Taylor. O publicitário inglês, que era mega conhecido no meio musical, por ser o assessor de imprensa dos Beatles...apenas isso... Informalmente, esses quatro produtores associados, contaram com conselheiros importantes. Paul McCartney, dos Beatles e Brian Jones, dos Rolling Stones, estiveravam entre esses ilustres apoiadores.

Da parte de McCartney, é atribuída a indicação para que fosse incluída a participação de um guitarrista negro, que estava a causar furor na Inglaterra, embora este rapaz fosse norteamericano. Um caso muito curioso o deste guitarrista, aliás, pois em sua terra natal era desconhecido do grande público, por ter sido sido apenas side-man de artistas como Little Richard e Everly Brothers. Sob uma improvável força do destino, ele fora para a Inglaterra e lá encantou os britânicos, ao tornar-se uma sensação instantânea. Ele formou então uma banda com o acréscimo de músicos britânicos e iniciou uma carreira meteórica, doravante.

Pois se não fosse McCartney em ter isnistido em sua escalação, os norteamericanos teriam perdido a oportunidade em "experimentá-lo"...bem, ficou óbvio, falo sobre Jimi Hendrix. Grande McCartney, que indicou o artista certo, no lugar certo, simplesmente porque permitiu-se experimentar...

The Jimi Hendrix Experience foi um dos pontos mais altos do Festival e decididamente impulsionou a carreira de Jimi Hendrix, após a sua performance incendiária no Festival, literalmente...

Monterey Pop entrou para a história como o primeiro grande festival de Rock da história, mas na verdade, foi muito além disso. Primeiro pelo fato de não ter sido fechado no Rock, ou melhor a explicaro, por não existir tal conceito em torno de separatismo por segmentos; tribos e nichos, naquela época.


Dessa forma, diversos artistas a professar estilos diferentes, uns dos outros, apresentaram,-se e todo mundo foi aceito co me ntusiasmo ou seja, o conceito "Rock", em 1967, fora muito mais amplo e encaixara-se como uma luva no espírito a sonhrar-se com um mundo regido por coceitos como a "fraternidade; peace & love", pilares do movimento Hippie. Outra constatação e dentro desse mesmo conceito, Monterey Pop Festival foi a primeira manifestação com grande porte (a exceptuar-se o Human Be-In), que agrupou hippies vindos de diversas cidades da Califórnia, e muita gente oriunda de outros estados. da América

Dessa maneira, muitos espantaram-se ao sentir-se em meio à milhares de jovens iguais à eles mesmos, em uma comunhão de ideias & ideais. Muitos, destes, vindos de pequenas cidades interioranas, estavam por ser vítimas de sistemático bullying social, essa é uma verdade. Ostentar cabelos longos e usar roupas não tradicionais na América do Norte, sob o viés conservador, não foi nada fácil.

Conheço, por ter lido a respeito, o relato de um jovem que esteve no Festival. Ele chama-se :  Stan Delk, e pussuía apenas dezessete anos de idade naquela época. Não foi músico ou artista, mas estava envolto naquele turbilhão hippie, assim como outros milhares de jovens de sua idade. O seu relato está publicado no Site : "Memórias do Rock Brasileiro", comandado perlo produtor musical, Antonio Celso Barbieri, que o traduziu para o português.

Leia o relato de Stan Delk, no Site de Celso Barbieri, "Memórias do Rock Brasileiro" :

http://www.celsobarbieri.co.uk/index.php?option=com_content&view=article&id=136:mont...


Esta dissertação é emocionante sobre sd suas lembranças do festival. E no documentário oficial, ele aparece bem rapidamente, deitado na relva e acompanhado de uma amiga, que usava uma casaca igual à farda dos Beatles, na capa do LP Sgt° Peppers. Tanto que o apelido da moça era mesmo, "Sgt° Pepper", segundo consta do relato de Stan Delk.


Esse curioso registro ocorre no momento 3:22'', ou seja, logo no início do vídeo. O vídeo, aliás, é outra das incríveis contribuições do documentarista americano, D.A. Pennebacker, ao Rock mundial. Grande nome dos documentários, Pennebacker fez e cobriu a História, literalmente.

Otis Redding, um dos maiores nomes da Soul Music de todos os tempos (e um dos meus artistas prediletos, sem dúvida), estava escalado para o festival mas confidenciara à pessoas mais próximas, que sentiu-se temeroso, previamente.


Em sua dúvia em tom de preocupação, ele pensou : como seria a experiência em apresentar-se para uma platéia formada por garotos brancos e cabeludos ? Ledo engano do mister Soul, que saiu ovacionado do palco, na realidade. O seu público extrapolara os limites da tradicional platéia negra e consumidora de Soul Music & R'n'B, e quando ele percebeu, o seu trabalho mostrava-se como uma referência para a juventude, Peace & Love, também.

Uma lástima que poucos meses após essa apresentação, esse grande artista tenha deixado-nos por conta de um acidente aéreo.

O Big Brother and the Holding Company, vislumbrava-se como mais uma banda integrada por  freaks em San Francisco, mas tal banda detinha um diferencial ainda pouco explorado antes do festival, a tratar-se da sua cantora, uma desajeitada menina vinda do Texas, chamada : Janis Joplin.

Quando essa menina texana subiu ao palco e soltou aquela voz inacreditável, revelou-se ao mundo, para tornar-se então, ao lado de Jimi Hendrix, um grande ícone do Rock sessentista, em âmbito mundial e de uma maneira indiscutível.

A melhor expressão do desbunde absoluto que foi a sua performance bombástica, foi capturada pela lente de Pennebacker, quando este intercalou na edição, a expressão facial revelada da genial cantora, Mama Cass Elliot (vocalista maravilhosa, integrante ótimo grupo, "The Mamas and the Papas"), quando esta emitiu uma clara expressão verbal ao afirmar : "Wow" ! (uau !). A leitura labial de Mama Cass nesse momento, expressa exatamente o que foi Janis Joplin no Festival.

O The Who foi bombástico, e mesmo ao mostrar-se um grupo ultra-britânico até a medula, apresentava um contingente composto por muitos fãs na América. A propagada rixa entre Pete Townshend e Jimi Hendrix, se verdadeira ou não (há a suspeita não confirmada que a rusga fora combinada para reverter em publicidade para ambos), sem dúvida trouxe expectativa. O The Who tocou antes, e Townshend trucidou a sua guitarra, literalmente, com a fúria da destruição a ser seguida de imediato, pelo lunático baterista, Keith Moon, a causar furor.

O que Pete não esperava, foi que Hendrix inovaria, e a seguir em seu show, resolveu incinerar a sua guitarra, ao mostrar-se ainda mais espetacular que o ato perperatdo pelo quebra-quebra protagonizado por Townshend & Cia. A lenda Rocker conta que na coxia, Keith Moon estava ensandecido, ao afirmar para Townshend : -"Pete, demo-nos mal, o "Zulu" acabou conosco, ao colocar fogo na guitarra" ! Será que foi essa a verdade ?

Houve uma boa expectativa pela apresentação de Eric Burdon. Ele recém havia reformado a sua antiga banda, The Animals, mediante uma nova formação a contar com músicos norteamericanos e rebatizara a banda como : "The New Animals". Toda a expectativa valeu a pena, com a nova banda a apresentar muito mais pegada psicodélica, diferente do R'n'B britânico do "antigo" The Animals...

A dupla Folk, Simon and Garfunkel, apresentou a sua docilidade soft-folk, assim como o The Mamas and the Papas (apesar de John Phillips haver ausentado-se nos ensaios...). Como não encantar-se com as vozes maravilhosas de Mama Cass e Michelle Phillips ? Isso sem contar o fato concreto de que Michelle representara um sex-symbol Hippie, isrto é, a grande musa do verão do amor, com aquela beleza incrível.

Scott MacKenzie transformou-se em um homem dotado de muita sorte, por causa do advento do festival. Ele recebera das mãos de John Phillps, uma composição de presente, e tratou rapidamente em gravá-la, quando sob um passe de mágica, a canção tornou-se um sucesso mundial instantâneo, ao permanecer para sempre atrelada à imagem do festival.

Chamada como : "San Francisco (Be sure wear some flowers in your hair)", eis abaixo um trecho de sua poesia :

"If you're Goin' to San Francisco...
Be sure wear, some flowers in your hair"...

Com essa canção folk; doce e plena em imagens a reforçar o conceito "Peace & Love", eis que ela retratou bem o espírito fraternal da época. A pergunta cuja resposta nunca foi plenamente respondida : por quê será que John Phillips não a gravou com sua banda, o The Mamas and the Papas ?  Enfim, sorte de McKenzie...


Country Joe and the Fish, fora uma das bandas mais loucas da psicodelia norteamericana. A sua apresentação foi surreal, no entanto, para ir além, houve uma dose extra de crítica política em sua apresentação. O inconformismo com a estupidez da guerra do Vietnã, sempre norteou as suas performances, e não foi diferente em Monterey.

Jefferson Airplane, a estupenda banda a ostentar a presença da mulher com "olhar de gêlo" (Grace Slick), e o The Grateful Dead (a genial banda mais hippie do planeta, do grande : Jerry Garcia), deram os seus recados à altura da expectativa criada por suas respectivas performances. The Byrds; Quicksilver Messanger Service; e Buffalo Springfield, trouxeram os seus trabalhos influenciados pelo Country-Rock, com muita qualidade. Pela turma do Blues, atuou : Paul Butterfield e The Blues Project, com a propiedade que coube-lhes

Canned Heat com o seu Blues-Rock, também teve destaque no documentário oficial. O genial, Booker T. and the MG's, com seu Power Blues acrescido de acentos jazzísticos; The Stevie Miller Band; The Electric Flag, e Hugh Masakela, foram responsáveis por explosões sonoras a oferecer um tremendo verniz ao festival.

Conta-se que Laura Nyro saiu a chorar do palco, por ter sido hostilizada pelo público, contudo, essa informação nunca foi confirmada oficialmente. A versão mais confiável é a de que teria decepcionado-se consigo própria, pela fraca apresentação que cometera, em sua concepção.


Ravi Shankar foi um estouro. Não poderia ter sido mais propício o convite para que ele apresentasse-se naquele momento.

O incrível músico indiano, estava a ser incensado pela juventude ocidental, graças à propaganda natural que o Beatle, George Harrison (leia neste Blog, texto anterior quando eu comento sobre a influência da música indiana no Rock, via George Harrison), estava a realizar naturalmente, desde 1966. Existe algumas reclamações da parte de algumas pessoas que estiveram presentes no festival, contudo, em relação à duração da apresentação de Ravi Shankar.

De fato, ele fora escalado para tocar por quatro horas, durante uma tarde inteira. A intenção dos organizadores deve ter sidoem fazer dessa apresentação, uma larga preparação do público para as apresentações noturnas, e da parte de Shankar, acostumado a lidar com a música sob outro viés, como uma tarefa espiritual e messiânica, faltou a percepção de que ao longo de quatro horas, mesmo diante de um público super interessado e com aquele astral sessentista, sem agressividades, seria demasiado. Bem, foi uma apresentação sensacional,contudo, muita gente debandou quando tornou-se longa demais e somente os espectadores que estavam a flutuar fortemente, pelo fato em ter ingerido LSD, deliraram até o final.

Outro momento muito feliz capturado pelo documentarista Pennebacker, deu-se com a reação do baterista do grupo, "The Monkees", Micky Dolenz, sob êxtase, a apreciar o som provido pelo grande mestre das ragas. No documentário, observa-se ainda o clima eufórico de uma autêntica Feira Hippie que norteou o festival. Pessoas tranquilas a passear pelo local, sem nenhuma preocupação, a não ser absorver integralmente aquela vibração maravilhosa. Segundo relatos de muitas fontes, o clima com o aparato policial foi muito amistoso, sem ocorrências e até a conter surpreendentes reações brincalhonas dvindas de alguns policiais, com muitos desses agentes a colocar flores nos seus capacetes...


Brian Jones, dos Rolling Stones, caminhava tranquilamente com Paul McCartney e Jimi Hendrix, pelas cercanias, em imagens sensacionais dos bastidores. Algo mágico como documento histórico. Toda a renda foi destinada para uma fundação de amparo à pessoas carentes e até hoje, esta recebe dividendos sobre a venda dos vídeos; discos e material de merchandising referente ao Festival.

A minha ligação com o Festival é óbvia pela admiração, mas devido à minha idade cronológica, tenho poucas lembranças de sua repercussão à época. Fora comentários discretos na Rádio Excelsior de São Paulo, e alguma menção superficial na TV, eu só fui mesmo mergulhar na sua história, anos depois, ao assistir o documentário, já no avançar dos anos setenta. 

Em 1968, eu era muito fã de Otis Redding e The Mamas and the Papas, e sabia que tais artistas haviam participado do festival, mas no auge de meus sete anos de idade, em 1967, eu não reunia nenhuma condição para discernir corretamente sobre a dimensão  desse fato histórico, evidentemente.

Monterey Pop '1967 foi o primeiro grande festival do Rock. E sem dúvida, um dos mais queridos da história.
Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2013.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

TV Paulista : Na Determinação e no Improviso - Por Luiz Domingues

A TV Tupi de São Paulo iniciou as suas atividades em setembro de 1950, e as pessoas tendem a considerar a TV Record, fundada em 1953, como a segunda emissora criada na cidade de São Paulo, mas na verdade, desde 1952, outra emissora já estava no ar. Tratou-se da TV Paulista, canal 5, que fora inaugurada oficialmente em março de 1952.

Fruto do esforço pessoal do deputado, Oswaldo Ortiz Monteiro, ao contrário da TV Tupi, que teve todo o empenho do mega empresário das comunicações, Assis Chateaubriand e da TV Record, com outro magnata das comunicações, Paulo Machado de Carvalho, a TV Paulista nasceu de uma forma muito improvisada e com parcos recursos financeiros, que não pode dar-lhe o respaldo para investir em melhores instalações; equipamento e tecnologia. Por exemplo, os primeiros tempos de atuação da emissora, foram muito difíceis, com as transmissões realizadas sob condições precárias, nas dependências de um apartamento residencial, localizado na Rua da Consolação.

Nesse improviso, a cozinha do apartamento foi o laboratório de revelação do celulóide e na sala de estar instalou-se a redação / produção e também o micro estúdio para o telejornal. A garagem do edifício, foi usada como estúdio, igualmente, além de um salão no térreo, onde funcionava uma loja, anteriormente. Mesmo assim, em condições precárias, a TV Paulista pôs-se bravamente a crescer, mesmo diante da TV Tupi, com estrutura muito maior e mesmo com a fundação da TV Record, que entrou no ar, com estrutura operacional em alto nível.
Em 1955, o deputado, Ortiz Monteiro vendeu a emissora para Victor Costa e aí, a TV Paulista teve os seus melhores dias, ao ter podido concorrer com dignidade, contra os seus concorrentes gigantes. Nessa altura, a emissora já possuía instalações mais confortáveis, instaladas na Rua das Palmeiras, em Santa Cecília, bairro da zona central da capital paulista. Muitos artistas; técnicos e jornalistas importantes da TV brasileira, tiveram passagem pelos quadros da TV Paulista. Mesmo antes da Era das telenovelas diárias entrar para valer no cotidiano do telespectador brasileiro, a TV Paulista investiu bastante nesse setor, ainda que tal tipo de atração não fosse exibida com a periodicidade diária, como já observei.

Como foi praxe nos primórdios da TV, nessa emissora também foram muitos os programas a investir em teleteatros ao vivo, com grandes nomes do teatro nacional.


Artistas do calibre de Cacilda Becker e Nicete Bruno, só para citar duas grandes atrizes, atuaram nos teleteatros da TV Paulista, que fez história.

O "Circo do Arrelia", famoso programa infantil e "A Praça da Alegria", histórico humorístico popular, foram atrações da grade da TV Paulista, assim com a "Sessão Zás-Trás", outro famoso da linha infantil. O comunicador popular, Silvio Santos, também deu os seus primeiros passos na TV, via TV Paulista e Hebe Camargo também teve passagem pelo velho "canal 5". Na linha musical, o programa "Hit Parade", trazia o melhor da MPB nos anos cinquenta, com nomes fortes tais como : Elizete Cardoso; Cauby Peixoto e Agostinho dos Santos, entre muitos outros, ao emprestar as suas respectivas vozes privilegiadas para trazer muita musicalidade ao canal 5.

Uma marca registrada no estúdio, foi a existência de um palco giratório e uma piscina. Convenhamos, nos anos cinquenta e início dos sessenta, mostrava-se como um cenário luxuoso para os padrões da TV brasileira. dessa época. Para a
proveitar esse recurso, surgiu o programa : "Maiôs em Passarela", que intercalava números musicais com desfiles com belas mulheres a exibir maiôs, ou seja, para atrair uma audiência masculina e causar a inevitável celeuma em uma época ainda a observar-se uma sociedade bem conservadora.

No campo do telejornalismo, o "Mappin Movietone" marcou época, ao ostentar tal nome, obviamente por conta da loja de departamentos mais tradicional da cidade, o Mappin, ter sido o seu patrocinador exclusivo.

Em vários livros sobre a história da TV brasileira, consta que o "Programa Silveira Sampaio" foi o primeiro "Talk Show" da TV brasileira.


O mote do programa fora montado na verdade, por um elemento fictício. O apresentador falava sobre fatos políticos ou sociais do momento e era interrompido por um telefonema. Então, o tom esquentava, por ele conversar com uma suposta fonte que alimentava-lhe com notícias de última hora. Curiosamente, muitos anos depois, o jornalista Ferreira Neto usou o mesmo recurso, quando falaria ao telefone com o personagem fictício, "Leo", que  dava-lhe informações supostamente privilegiadas e ele as repercutia com cinismo e muita ironia. Não tão curioso assim, pois Ferreira Neto fora da produção do Programa Silveira Sampaio...

Outro programa que entrou para a história, foi : "o homem do Sapato Branco", liderado por Jacinto Figueira Junior. A sua linha era popularesca e passava fácil pela barreira do mau gosto, ao enfocar casos de pessoas comuns envolvidas em conflitos pessoais e absolutamente prosaicos, e que geralmente terminavam em pancadaria e xingamentos nos estúdios. Infelizmente inaugurando assim, uma linha que perdura até hoje na TV, como uma fórmula. A parte engraçada disso, foi que o Jacinto era um sujeito carismático e estabelecia uma tremenda mise-en-scené, com o seu indefectível "sapato branco". Ele agia na linha de um mediador de conflitos, que na verdade queria mesmo, era ver o circo a pegar fogo...

Na TV Paulista, houve também uma boa grade formada por seriados; desenhos animados e filmes de longa metragem, internacionais. Todavia, como foi uma espécie de praxe nefasta nos anos sessenta, essa emissora foi vítima de um incêndio muito suspeito, que culminou em um prejuízo irreparável. Muito estranho...

Em 1965, ao estar em situação financeira dificílima e ao amargar derrotas na briga pela audiência, ante outras emissoras rivais (e nessa altura, já existia com muita força também, a TV Excelsior,) aceitou-se a proposta do jornalista, Roberto Marinho, que recém havia inaugurado a TV Globo no Rio de Janeiro, e assim, a TV Paulista passou a ser uma afiliada da Globo em São Paulo.


Em princípio, foi uma afiliada ainda a manter a sua identidade e grande parte de sua programação tradicional, mas aos poucos, a Globo colocou-se a cortar a sua participação própria a daí assumiu-se como a TV Globo de São Paulo, canal 5. Já em 1968, após o estranho incêndio, a TV Globo de São Paulo desistiu em usar a estrutura da TV Paulista e então deslocou toda a sua produção para o Rio. O velho estúdio da Praça Marechal Deodoro, ficou obsoleto e doravante usado apenas para prover poucas peças do jornalismo Global, como o Jornal Hoje, por exemplo, até que a Globo criasse enfim a sua nova estrutura paulistana, no bairro do Brooklin, na zona sul de São Paulo e muitos anos depois. 

Há muita controvérsia sobre a venda da TV Paulista e processos correm na justiça, movidos pela família de Oswaldo Ortiz Monteiro, contra a venda da emissora, perpetrada pelo segundo dono, Victor Costa para a Rede Globo, em 1965.

Segundo o que defende, a sua tese é a de que a venda fora efetuad  de uma forma fraudulenta, com várias falsificações das assinaturas, incluso a de pessoas falecidas oficialmente, portanto ao caracterizar uma grave fraude, mediante falsidade ideológica. Bem, é mais uma dúvida que paira sobre a construção do império que a Rede Globo construiu a partir de 1965.

A TV Paulista nasceu de uma forma muito improvisada e isso denotou a vontade em precipitar algo positivo a acontecer, a despeito da escassez de recursos com a qual lidou em seu início. A emissora teve os seus momentos importantes para marcar uma posição na história da TV brasileira e foi um bom celeiro ao revelar o talento de artistas; técnicos e jornalistas.

Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2013.