domingo, 22 de dezembro de 2019

Filme: Slade in Flame - Por Luiz Domingues




O Slade é uma banda britânica que foi fundada em 1966, inicialmente batizada como: “The N Betweens” e propunha-se a tocar Rhythm and Blues. Passado algum tempo, mudou o seu nome para “Ambrose Slade” e tentou engajar-se em uma cena Folk-Rock, a seguir no vácuo de artistas como Donovan e Fairport Convention, entre outros, mas isso durou pouco, pois rebatizada definitivamente como “Slade”, foi que a sua carreira começou a ganhar notoriedade enfim ao ser marcada pelo trabalho em torno do Blues-Rock e Rock’n' Roll visceral. Apesar de não poder rivalizar com outras bandas nesse campo, mais famosas e muito mais consistentes, musicalmente a falar, a fama da banda veio em crescente ascensão, graças principalmente ao lançamento do seu álbum ao vivo de 1970, chamado: “Slade Alive”. 

O famoso disco da capa vermelha, impressiona pela contundência de uma banda que apesar de não ostentar nenhuma técnica exuberante, longe disso, por outro lado, parecia um trator a passar avassaladoramente pelo palco e alucinar, literalmente, os seus fãs. 

Logo que a década de setenta iniciou-se, o Slade incorporou-se por osmose na cena do Glitter Rock, ao adotar um visual bastante espalhafatoso para os seus componentes e aí a sua fama multiplicou-se. O som continuou versado pelo Rock cru, visceral, mas com direito a boas baladas e então destacou-se outras características não observadas inicialmente, como a versatilidade do baixista, Jim Lea, que também tocava teclados e violino, a voz rouca e muito marcante de Noddy Holder, a boa guitarra solo de Dave Hill e a bateria muito firme de Dom Powell. E mais uma marca registrada da banda, o forte sotaque, “cockney”, a fala do povo mais humilde da Inglaterra; o linguajar da gente simples da dita classe operária e acentuado inclusive pelo uso e abuso de palavras cantadas/faladas/escritas, com um inglês sofrível, que faz a família Real britânica, enrubescer. 

Apesar de estar consolidada no cenário do Rock setentista, o empresário da banda, Chass Chandler (ex-baixista do The Animals e ex-empresário de Jimi Hendrix), insistiu que a banda precisava de uma nova injeção publicitária e isso dar-se-ia com um filme longa-metragem. Em princípio, os componentes não entusiasmaram-se, ao argumentar que outras bandas já haviam usado de tal expediente, todavia, Chas Chandler estava convencido que tal veículo publicitário faltava à carreira da banda e assim insistiu com os rapazes. Mesmo assim, a desconfiança não cessou por aí, pois os membros da banda preocuparam-se com que tipo de roteiro trabalhariam. 

Sugeriu-se, inicialmente, um tipo de abordagem em tom de comédia, mas apesar da banda ter uma dose de irreverência em sua temática e performance ao vivo, normalmente, ponderou-se que seria algo caricato em demasia. Partir para algo autobiográfico ou mesmo sob tom documental, também não lhes agradou. Uma terceira ideia estapafúrdia surgiu, ao propor-lhes um tipo de roteiro inspirado no filme de terror, “The Quatermass Experiment”, um clássico do cinema britânico dos anos cinquenta, porém isso foi descartado, prontamente por ser uma hipótese absurda.

Foi quando chegou em suas mãos o roteiro escrito por Andrew Birkin, a propor que fosse contada uma história fictícia em torno de uma banda de Rock sessentista, sobre a sua ascensão, fama e encerramento abrupto. A banda teria o nome: “Flame” e os músicos do Slade usariam nomes fictícios, como personagens. 

Apesar dos rapazes não possuir formação como atores, o desafio agradou-lhes e claro, haveria o apoio de um elenco com atores profissionais. Para reforçar, contratou-se, David Humphries para escrever os diálogos e Richard Loncraine, para dirigi-lo. 

Um outro expediente que a banda considerou importante, antes de iniciar-se as filmagens, foi em torno da proposta que os produtores do filme, roteiristas e o diretor, viajassem com a banda pela América do Norte, onde os ingleses cumpririam uma turnê, para acompanhar os bastidores e sentir na realidade o que era uma banda de Rock, a funcionar no seu cotidiano pela estrada. 

Fora isso, muitos relatos foram anotados, com histórias sobre o próprio Slade e também sobre inúmeras bandas com as quais eles conviviam, portanto, algumas situações reais foram incorporadas ao filme, para dar maior veracidade e também enriquecer-se a película com gags de humor. 

Mais uma particularidade e a conferir uma estratégia ousada, a banda lançou o disco com a trilha sonora do filme, antes mesmo do filme ser lançado e como um álbum regular da sua discografia, portanto, quando o filme chegou às salas de cinema, os fãs já tinham o disco em mãos e conheciam o seu repertório, ou seja, a empatia natural garantiu-se. Assim, “Slade in Flame”, foi para a tela.


Nesses termos, o filme começa com os primórdios de uma banda a tocar em uma festa familiar, formada por Paul (interpretado por Jim Lea); Berry (interpretado por Dave Hill), um baterista tecnicamente bem fraco (interpretado por um ator não creditado na ficha técnica), e um vocalista risível, Jack Daniels (interpretado por Alan Lake), a imitar de uma forma grotesca, os trejeitos de Elvis Presley. A festa acaba em tumulto quando o namorado de uma garota percebe que Berry, o guitarrista, O personagem interpretado por Dave Hill), está a ultrajá-la, enquanto toca. 

Concomitantemente, mostra-se cenas da personagem, Charlie (Don Powell), que deseja ser um músico profissional, no entanto trabalha em uma siderúrgica. Da fábrica à sua rotina caseira, a morar em um bairro simples e a lidar com a sua família, chega-se ao ponto onde vai fazer um teste para ser baterista daquela banda que tocara na festa. Pois além de dispensar o seu baterista ruim, esta também sonhava em ascender na carreira. 

Tocam então em um festival com outras bandas e uma delas é formada por rivais de longa data, uma banda chamada: “Undertakers”. 

E no caso, essa banda usa e abusa dos efeitos visuais a forjar uma teatralidade em tom macabro, pois além do visual dos músicos a evocar tal atmosfera, o seu vocalista, chamado: “Stoker” (interpretado por Noddy Holder), entra em cena a cantar dentro de um caixão. Ele o faz e canta com desenvoltura, mas ao final, o combinado seria ele sair do sarcófago e encerrar a performance livre pelo palco, mas por uma sabotagem perpetrada por Jack Daniels, da banda rival, ele foi trancado ali mediante um cadeado. Bem duas observações: primeiro, sempre foi comum as histórias de bastidores a revelar ações de sabotagens de uma banda em relação às demais, mesmo que fosse em título de brincadeira, muito sem graça, por sinal. E segundo, de fato, o vocalista, Screami’ Lord Sutch, famoso na Inglaterra nos anos 1960, foi alvo dessa mesma brincadeira do caixão trancado, portanto, é óbvio que tais ideias foram oriundas das conversas que os músicos do Slade tiveram amplamente com os produtores do filme, ao contar-lhes tais ocorrências da vida real.

Uma confusão, aí sim em ritmo de pastelão, ocorre e após tantas trapalhadas, o vocalista/guitarrista, Stoker, adentra o “Flame” e bingo, eis o Slade completo a atuar como banda, enfim, no filme. Daí em diante, mostra-se uma trama a envolver alguns personagens dos bastidores, como o roadie, Russell (Anthony Allen), e os empresários, Ron Hardling (Johnny Shannon), Tony Devlin (Kenneth Colley) e Robert Seymour (Tom Conti). O clima entre os empresários é tenso por conta da disputa entre eles sobre definir-se quem comandararia os negócios da banda e nessa luta motivada pela ganância, existe uma trama policialesca a ser tratada não caricaturalmente, mas com ares de filmes sobre mafiosos. 

Segundo consta na biografia do Slade, os rapazes quiseram trazer tal elemento ao filme, para mostrar que não ocorriam apenas fatos engraçados nos bastidores, mas pelo contrário, havia esse lado sujo do negócio empresarial. 

Uma cena significativa, mostra a banda em uma ação de divulgação. Trata-se de uma entrevista que vai conceder em uma emissora radiofônica e como foi muito comum na Inglaterra, durante as décadas de sessenta e setenta, emissoras clandestinas eram montadas em locais muito improváveis, como em embarcações em alto mar, exatamente para burlar as regras rígidas da legislação britânica, a dificultar ao máximo a ação dessas emissoras e formar-se assim um lobby gigantesco para a emissora estatal, BBC, ter um monopólio absurdo das comunicações. 

Portanto, ver o “Flame”, na verdade o Slade, a viajar em uma lancha em alto mar para subir em uma plataforma marítima onde tal emissora instalara-se, foi o tipo de imagem muito fidedigna do que aconteceu no Reino Unido nessas décadas citadas, com cabeludos a navegar para baixo e para cima. O DJ Tommy Vance, interpreta Ricky, apresentador do “Ricky Storm Show”. Tudo caminhava para um entrevista rotineira, quando a plataforma marítima é atacada por uma horda de piratas e a banda foge mediante o uso de um helicóptero. Desconheço qual tenha sido, mas certamente alguma banda da vida real passou por isso e o pessoal do Slade fez questão de inserir tal cena.

A banda na ficção, atinge uma alta popularidade e faz shows. Rapidamente mostra-se tal momento glamoroso e com o camarim abarrotado por garotas e tudo embalado por bebedeiras sem fim, com exceção da participação do baixista, Paul (Jim Lea), que recluso e fiel à sua esposa, prefere continuar a viver modestamente em uma típica casa de tijolinhos e bem pequena, dos subúrbios operários, cheios de fumaça por conta das chaminés das fábricas. Além de mostrar uma nuance diferente, através dessa personagem avesso ao sucesso, sob o ponto de vista da sua inerente futilidade, é notável o uso de tomadas muito bonitas desses bairros simples, a caracterizar uma espécie de documento verdadeiro sobre a vida cotidiana dos súditos mais simples de Sua Majestade. 

Segue o filme com mais cenas de shows ao vivo e também da banda a gravar em estúdio. Nas cenas ao vivo, a energia do Flame está garantida com o Slade real no palco, todavia, na ficção, mostra-se desavenças entre os componentes no camarim, quando discutem feio diante de testemunhas ali presentes e o baixista, Paul, chega a jogar o seu baixo no chão, com raiva. Também se sucedem cenas da banda a gravar no estúdio e há mais tensão no ar, a lembrar um pouco o clima pesado observado em “Let it Be”, filme/documentário dos Beatles. 

E para encerrar, cenas surpreendentes no sentido dramático, ao mostrar a guerra mafiosa entre os empresários que brigam pela banda, com direito a cenas fortes a envolver até violência desmedida e uma chocante passagem onde a residência de um dos empresários é invadida e a sua família é aterrorizada em represália, com uma inscrição feita possivelmente com sangue, que mostra-se na parede do seu quarto : “Rock a Bye, Baby”.

A cena final é chocante, pois denota uma ruptura brusca, visto que um dos empresários comunica ao vocalista, Stoker, que o outro empresário desistiu da peleja e a guerra entre eles acabou, mas o cantor diz apenas: -“a banda acabou” e o filme encerra-se. 

Muitos críticos queixam-se que não ficou bem para a resolução da história, não haver uma explicação plausível para entender-se o final das atividades da banda. No entanto, houve o caso de outros, que adoraram tal final enigmático. Para estes, o filme tinha tudo para ser apenas uma peça publicitária para atender aos anseios do Slade e satisfazer os seus fãs, mas que surpreendera pela trama, ao ponto em tornar-se um filme respeitável. Houve até quem exagerasse (e muito), caso do crítico de cinema da BBC, Mark Kermode, ter afirmado, muitos anos depois, em 2007, que “Slade in Flame”, foi o “Citizen Kane” (“Cidadão Kane”) dos Rock Movies.

Sobre a parte musical, não há o que dizer, pois o Slade, apesar de ser uma banda simples, sem grande sofisticação musical, sempre foi intensa e os seus principais compositores, Noddy Holder e Jim Lea, muito bem inspirados. Basta analisar o bojo da obra desse grupo e verificar quantos sucessos a banda coleciona, além do quanto influenciou e ainda influencia bandas que surgiram depois. 

O LP “Slade in Flame”, de 1974, que alimenta a trilha do filme, é muito bom e contém canções, memoráveis, tais como: “How Does it Feel”, “So Far, So Good”, “Summer Song”, “Far, Far Away”, “This Girl”, “Standin’ on the Corner” e outras. Portanto, contém Rocks acelerados; muitas baladas muito boas, além de uma generosa dose de R’n’B.

A ideia em deslocar a história para os anos sessenta, foi proposital para não ficar o ranço de documentário a falar sobre si mesmo. Se fosse ambientado no calor do que viviam, metade dos anos setenta, talvez não conseguissem desvincular-se da imagem real em detrimento de encenar uma banda fictícia. No entanto, eu devo observar que não houve um grande capricho na direção de arte; figurinos e outros artifícios cinematográficos para caracterizar-se bem ser a década anterior. Talvez tenha faltado verba, isso eu entendo, mas foi bastante incomum, ao tratar-se de uma produção britânica, que a priori, nunca deixa de observar esse fator com detalhes. Portanto, fica um tanto quanto difusa a ideia dessa história ter sido vivida nos anos sessenta, pois muitos detalhes setentistas ficam no ar, para deixar a sensação de dubiedade ao espectador mais observador dos detalhes.

O álbum foi lançado em novembro de 1974, e o filme, em janeiro de 1975. Noddy Holder declarou muito anos depois, que a banda gosta do filme, mas lastima o tempo que perdeu em filmá-lo, pois uma turnê foi cancelada em decorrência disso e em seu entender, a banda perdeu fôlego na carreira, ao arrastar-se da segunda metade dos anos setenta em diante e só a recuperar o terreno perdido, no início dos anos oitenta, quando uma nova geração de fãs surgiu, ao descobri-los por conta de bandas mais modernas e pesadas que regravaram muitos dos seus sucessos e assim, o Slade ganhou uma sobrevida. 

Para encerrar, creio que trata-se de um filme que contém os seus atrativos, como por exemplo, alguns diferenciais que eu citei anteriormente, tais como: a boa música do Slade, a brincadeira do trocadilho do álbum a batizar a banda fictícia (e a própria película), e também a surpreendente atuação de Don Powell e Jim Lea, como atores que não eram, na verdade, mas que no resultado final, é possível até afirmar-se que eles demonstraram potencial, se fosse o caso, mas claro que isso não aconteceu e eles seguiram a sua carreira musical a serviço do Slade, por muitos anos depois disso. 
O lançamento do filme em fevereiro de 1975, foi em alto estilo, com a banda a chegar em um carro de bombeiro e holofotes a iluminar o céu da noite de Londres. Várias personalidades do Rock britânico estiveram presentes na plateia, a destacar-se: Roy Wood (The Move), todos os membros do "Sweet", Suzi Quatro, Gary Glitter, Alan Price (tecladista do The Animals), a cantora, Kiki Dee, Chas Chandler (o empresário do Slade), os membros do The "Troggs" e muitos outros. 
Apesar de uma boa performance nos cinemas britânicos e um pouco em outros países, não pode-se afirmar que tenha sido um grande êxito em termos de bilheteria. Na TV, o filme foi exibido com reprises no Reino Unido, Estados Unidos e Austrália, principalmente e em alguns países europeus e no Japão, mas sinceramente, eu desconheço que tenha sido exibido no Brasil em algum momento, e nem mesmo em canais de TV a cabo. É claro, eu posso estar redondamente enganado, mas o fato é que eu nunca notei isso e somente pude assistir o filme no You Tube, muitos anos depois, embora soubesse da sua existência, desde os anos setenta. 

A crítica recebeu o filme até com estupefação, ao elogiar a história e ressaltar a surpreendente atuação dos membros do Slade como atores, como algo inesperado e acho que também penso dessa forma
Escrito por Andrew Birkin, com os diálogos por David Humphries. Direção de Richard Loncraine. Lançado em janeiro de 1975

O filme tem cópia disponível no You Tube, neste momento de 2019, é achado também em versão DVD/Blue Ray, mas raramente tem sido reexibido na TV, nem mesmo nos canais fechados do cabo. Recomendo a sua audiência, visto ser um documento curioso e com muitos méritos da parte do velho Slade. 
Esta resenha faz parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n'Roll", devidamente publicada em seu volume I, a partir da página 405

Os Kurandeiros - 22/12/2019 - Domingo / 18 Hs. - 1º Festival de Rock da Vila Pompeia - São Paulo / SP


Os Kurandeiros

22 de dezembro de 2019  -  Domingo  -  18 Horas

1º Festival de Rock da Vila Pompeia
Rua Ministro Ferreira Alves (entre as Ruas Caraíbas e Tucuna)
Vila Pompeia
Estação Barra Funda do Metrô
São Paulo - SP

Entrada Gratuita
Som Mecânico a partir das 10 horas da manhã
Bandas a partir das 12 horas

Os Kurandeiros :
Kim Kehl : Guitarra e Voz
Carlinhos Machado - Bateria 
Nelson Ferraresso : Teclados
Phill Rendeiro : Guitarra e Voz
Luiz Domingues – Baixo

domingo, 1 de dezembro de 2019

O Poder da Flor - Por Luiz Domingues


Em meio a séculos de história regida pela mentalidade beligerante, a simples ideia do pacifismo soa antagônica, como algo provocativo. Mais que isso, denota aos que pensam na força opressiva como algo natural, como um sinal de fraqueza a denotar fragilidade, covardia e muitas vezes associado à feminilidade enquanto uma depreciação da condição feminina. 

Visto por outro aspecto, a questão do ideal pacifista é também associado a um tipo de ideário utópico, quixotesco, pois a grosso modo, uma pessoa que considera-se racional, tende a achar que faz parte da natureza humana a luta pela sobrevivência, tal qual os animais na natureza portam-se e nesses termos, a força bruta, em sua concepção, seria uma espécie de sustentáculo natural e aceito moralmente como algo legítimo. Portanto, o pacifista é considerado como um lunático, alguém fora da realidade e que não entende o funcionamento do mundo, sob o ponto de vista sociopolítico e da vida, por conseguinte, em sociedade.

Há ainda o ponto de vista mais pragmático da parte de quem pensa ser a violência, a forma mais segura para manter-se a paz, no sentido de que a geopolítica do mundo é regida pelo medo e quem estiver mais armado é que domina e faz o que deseja para manter as peças do tabuleiro ajustadas ao seu bel prazer. Nesses termos, talvez não a use nunca, mas é vital manter as mais poderosas armas em permanente posição de ataque, apontadas para os inimigos e assim, garantir a submissão dos mais fracos, mediante a ameaça e sobretudo a fomentar o medo intermitente, como fator psicológico.

Uma figura como Gandhi a pregar a paz em meio a uma postura fragilizada, a usar vestimentas paupérrimas que o remetia a um pedinte de rua, são sumariamente rechaçadas e ridicularizadas. O mesmo raciocínio é usado para desdenhar-se dos hippies sessentistas, que rapidamente foram relegados ao posto de idiotas, considerados vagabundos contumazes e hedonistas, portanto, devidamente reduzidos como párias. Nesses termos, qualquer pensamento pacifista que veio da parte desse grupo, foi rapidamente destruído pela opinião pública manipulada.

O mundo evolui, a civilização avança e a percepção das pessoas, seja pelo espectro cultural seja por outros campos do pensamento, também seguem em frente. Chegará um dia em que a tal da geopolítica não será exercida com essa beligerância vergonhosa. A raiz desse tabuleiro em ser regido dessa forma, é a usura, não resta dúvida. Um dia, isso cairá por terra abaixo, simplesmente pelo fato da mentalidade humana mudar e assim, não fazer mais nenhum sentido o apreço pelo acúmulo e pela posse. Sem fronteiras e sem motivo para guerras, como dizia um rapaz que usava longos cabelos e um par de óculos com lentes redondas. Aliás, devidamente odiado por quem o considera um “hipócrita” por defender a paz. 

Um dia, essa mentalidade do culto à violência e às armas, vai ruir. E sem revanchismo, pois somos pacifistas, e assim, não regozijar-nos-emos com isso, tampouco haverá a menor intenção de nossa parte em tripudiar para com os que anteriormente cultuavam as armas. Pois não haverá vencedores e vencidos, mas simplesmente uma mentalidade una, que sobressairá, em torno de uma só fraternidade e onde as armas, não farão nenhum sentido.