domingo, 1 de dezembro de 2019

O Poder da Flor - Por Luiz Domingues


Em meio a séculos de história regida pela mentalidade beligerante, a simples ideia do pacifismo soa antagônica, como algo provocativo. Mais que isso, denota aos que pensam na força opressiva como algo natural, como um sinal de fraqueza a denotar fragilidade, covardia e muitas vezes associado à feminilidade enquanto uma depreciação da condição feminina. 

Visto por outro aspecto, a questão do ideal pacifista é também associado a um tipo de ideário utópico, quixotesco, pois a grosso modo, uma pessoa que considera-se racional, tende a achar que faz parte da natureza humana a luta pela sobrevivência, tal qual os animais na natureza portam-se e nesses termos, a força bruta, em sua concepção, seria uma espécie de sustentáculo natural e aceito moralmente como algo legítimo. Portanto, o pacifista é considerado como um lunático, alguém fora da realidade e que não entende o funcionamento do mundo, sob o ponto de vista sociopolítico e da vida, por conseguinte, em sociedade.

Há ainda o ponto de vista mais pragmático da parte de quem pensa ser a violência, a forma mais segura para manter-se a paz, no sentido de que a geopolítica do mundo é regida pelo medo e quem estiver mais armado é que domina e faz o que deseja para manter as peças do tabuleiro ajustadas ao seu bel prazer. Nesses termos, talvez não a use nunca, mas é vital manter as mais poderosas armas em permanente posição de ataque, apontadas para os inimigos e assim, garantir a submissão dos mais fracos, mediante a ameaça e sobretudo a fomentar o medo intermitente, como fator psicológico.

Uma figura como Gandhi a pregar a paz em meio a uma postura fragilizada, a usar vestimentas paupérrimas que o remetia a um pedinte de rua, são sumariamente rechaçadas e ridicularizadas. O mesmo raciocínio é usado para desdenhar-se dos hippies sessentistas, que rapidamente foram relegados ao posto de idiotas, considerados vagabundos contumazes e hedonistas, portanto, devidamente reduzidos como párias. Nesses termos, qualquer pensamento pacifista que veio da parte desse grupo, foi rapidamente destruído pela opinião pública manipulada.

O mundo evolui, a civilização avança e a percepção das pessoas, seja pelo espectro cultural seja por outros campos do pensamento, também seguem em frente. Chegará um dia em que a tal da geopolítica não será exercida com essa beligerância vergonhosa. A raiz desse tabuleiro em ser regido dessa forma, é a usura, não resta dúvida. Um dia, isso cairá por terra abaixo, simplesmente pelo fato da mentalidade humana mudar e assim, não fazer mais nenhum sentido o apreço pelo acúmulo e pela posse. Sem fronteiras e sem motivo para guerras, como dizia um rapaz que usava longos cabelos e um par de óculos com lentes redondas. Aliás, devidamente odiado por quem o considera um “hipócrita” por defender a paz. 

Um dia, essa mentalidade do culto à violência e às armas, vai ruir. E sem revanchismo, pois somos pacifistas, e assim, não regozijar-nos-emos com isso, tampouco haverá a menor intenção de nossa parte em tripudiar para com os que anteriormente cultuavam as armas. Pois não haverá vencedores e vencidos, mas simplesmente uma mentalidade una, que sobressairá, em torno de uma só fraternidade e onde as armas, não farão nenhum sentido.

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