segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Teatro e Cinema : Jesus Christ Superstar - Por Luiz Domingues


Mais um caso de um filme que foi produzido a dar vazão a um musical teatral amparado pelo extremo êxito, "Jesus Christ Superstar" carece ser explicado em seu nascedouro, ou seja, como uma peça teatral, mas sobretudo, como deu-se a criação dessa obra, para que seja possível analisar-se o filme em sua decorrência natural. Dessa maneira, eu retroajo aos anos sessenta para iniciar a narrar tal história. Andrew Lloyd Weber e Tim Rice conheceram-se em Londres, nos anos sessenta. Como dupla, começaram a escrever canções e sua ideia original fora apenas vendê-las à cantores e bandas Pop como o Herman's Hermits, por exemplo. Todavia, foi uma oportunidade ocasional e totalmente amadora que levou-os para um outro direcionamento artístico, ao fazê-los enveredar pelo caminho dos musicais teatrais.

A pedidos, montaram um pequeno musical a ser exibido por crianças de uma escola suburbana de Londres. Criaram então, "Joseph", uma obra a retratar a saga bíblica do escravo hebreu, que tornou-se um protegido do Faraó do Egito, por decifrar os seus sonhos, no cativeiro em que padecia. Daí, foi um salto para Tim Rice que escrevia letras e textos, tivesse a ideia em escrever algo maior, ainda que a basear-se no espectro bíblico, novamente.

Segundo Rice, desde criança ele questionava a história oficial de Jesus Cristo, não por duvidar exatamente da sua veracidade histórica, mas por achar estranho não dar-se crédito para outras visões, como a de Judas Iscariotes e Pôncio Pilatos, por exemplo.

Para seguir essa determinação, propôs então a Lloyd-Weber que ambos começassem a trabalhar nesse tema e dessa forma, é que foram a ser compostas as primeiras canções desse libreto novo.

A palavra, "Superstar", surgiu ao acaso. Rice estava a ver um anúncio do novo álbum do cantor Pop ,Tom Jones, onde a legenda dizia : "Tom Jones, o Superstar n° 1". E o conceito reforçou-se quando várias pessoas próximas a ele, disseram-lhe que aquilo tinha um "quê" de Andy Warhol. Em princípio, não pensavam em montagem teatral, por achar inviável produzir cenários caros e recrutar um elenco enorme a necessitar da presença de atores / cantores e músicos. Com alguns contatos que possuíam no meio musical / fonográfico, produziram um compacto inicial com a música, "Superstar", cantada por Murray Head, ao final de 1970.

O compacto não foi nem percebido na Inglaterra, mas fez enorme sucesso em mercados impensáveis para a dupla, como o Brasil, por exemplo e na Holanda, tornou-se um hino "gay", por mais bizarro que isso possa parecer... e assim, com esse sucesso inesperado, animaram-se a gravar o álbum duplo com todas as músicas da peça, e finalmente montaram-na, em Londres.

Com a entrada em cena do empresário, David Land (por incrível que pareça, este sem grande experiência musical e pasmem... ele era empresário do Harlem Globetrotters, aquela trupe de jogadores de basquete / malabaristas ), a peça abriu caminho para cruzar o oceano Atlântico e ir parar na Broadway e dali, alavancou-se verdadeiramente ao sucesso e entrou para a história. E além do mais, ao contratar o diretor, Tom O'Horgan, que dirigia a peça teatral, "Hair", com enorme sucesso, sedimentou-se enfim, o caminho para o êxito.

No disco oficial da montagem, a voz de Ian Gillan, a interpretar Jesus Cristo, é marcante. Na época, Gillan estava no auge de sua forma como vocalista, à frente do grupo de Rock britânico, Deep Purple, e a sua presença certamente agregou um enorme séquito de seus fãs e da sua banda, para a peça. E o álbum oficial da Ópera-Rock, estourou em 1971, quando chegou ao topo das paradas inglesa e norteamericana. É impressionante a qualidade das músicas, a versar pelo melhor do Rock; R'n'B e Soul Music, em doses maciças. Canções como "Heaven in Their Minds"; "Superstar"; "Everything is Allright" e "What's the Buzz"; ganharam vida própria, fora do contexto do espetáculo teatral e do filme, ao atingir as paradas de sucesso e a receber regravações da parte de muitos artistas ao redor do mundo. Uma balada do quilate de "I Don't Know How to Love Him", na voz de uma tremenda cantora como Yvonne Elliman (e que no filme atuou como atriz a interpretar Maria Madalena), é um primor de tão linda que ficou.
A estética Hippie e anacrônica a retratar a paixão de Cristo, chocou a Igreja Católica e também a outros setores religiosos e dessa forma, houve inúmeras tentativas para gerar-se o cerceamento do espetáculo. Na África do Sul, por exemplo, a peça foi proibida. Sucesso absoluto, a peça finalmente chegou às telas no início dos anos setenta. Foi então em 1973, que o diretor de cinema, Norman Jewison, lançou Jesus Christ Superstar em versão cinematográfica e no celuloide, obteve um grande êxito. As locações dividiram-se entre cenários reais, israelenses e estúdios norteamericanos.


Norman queria Ian Gillan para interpretar, Jesus, no filme, mas este recusou a oferta, por estar em turnê com o Deep Purple (a tour do LP Machine Head, coroada com o lançamento do LP Made in Japan, ao vivo, logo a seguir).  E além do mais, Ian Gillan era um vocalista de Rock e sem experiência como ator. Os produtores cogitaram então dois atores que eram músicos, também, casos de Michael Dolenz (ex-baterista do "The Monkees") e David Cassidy (ator / cantor que fora ídolo dos adolescentes, graças ao seriado de TV : "The Partridge Family", ou em português, "A Família Dó-Ré-Mi"), mas Jewison acabou por contratar, Ted Neeley.


O filme fez enorme sucesso, ao reproduzir de forma fidedigna o espírito do libreto original, ou seja, a ideia de Tim Rice em "desdemonizar" (com o devido perdão pelo neologismo que eu criei), as figuras de Judas Iscariots e Pôncio Pilatos, por retratá-los como apenas pessoas comuns que estiveram atônitas com os reais propósitos de Jesus Cristo, sob o ponto-de-vista político e não como agentes demoníacos, como a visão religiosa os retrata, normalmente. 

No Brasil, assim como "Hair", a montagem foi imediata. A tradução do texto ficou a cargo de Vinicius de Moraes e para interpretar Jesus Cristo, convocou-se o ator, Antonio Fagundes e posteriormente, o eclético e saudoso, Eduardo Conde (que também encenou, "The Rocky Horror Show").

Particularmente, lembro-me inclusive, de um bizarro "debate" ocorrido na TV, especificamente no programa da apresentadora popular, Hebe Camargo, em 1971, com conservadores presentes a mostrar indignação, incluso com a intervenção de um bispo da Igreja Católica, a atacar veementemente a produção da peça no Brasil, ou seja, o normal para a mentalidade provinciana e conservadora da época.

A história seguiu o texto bíblico a mostrar os momentos imediatamente anteriores ao martírio de Jesus Cristo na cruz. Nesse contexto, mostra-se a ambientação a conter Jesus e os seus apóstolos em meio às pregações e nesse ínterim, a preocupação de seus algozes, a revelar-se em dose dupla, a envolver os dominadores romanos, que não queriam conturbação social para não haver nenhuma margem para criar-se motins, a atrapalhar os seus planos para explorar a Judeia e da parte dos hebreus, as suas próprias questões religiosas ao não aceitar a uma conturbação em seu meio religioso / dogmático. Chega-se à conclusão que Jesus precisa ser contido e os romanos ao perceber que a grande inquietude é por motivações religiosas, apenas deixam-nos à vontade para aplicar o castigo que achar devido, desde que não interfira com o andamento dos planos do Império Romano. Desta maneira, um julgamento fraudulento é realizado e Jesus é condenado injustamente para ser torturado e morto na cruz.
É claro, a seguir o libreto, todos os atores parecem hippies, incluso os soldados romanos, que ao invés de lanças e espadas, usam metralhadoras. As coreografias são ótimas e a cantoria, espetacular, pois não obstante o material musical ser excelente, há o apoio de uma banda de Rock muito afiada na parte musical e as vocalizações são para arrepiar. Emoção é o que não falta com tanta musicalidade e na interpretação, o que narra-se ali a priori, visão religiosa à parte, é a história de um idealista que enxerga milhas adiante dos demais, a sinalizar um mundo regido por uma proposta muito mais avançada, e pautada pela fraternidade; compartilhamento; desapego e sobretudo pelo amor incondicional. Mais revolucionário e hippie em sua essência contracultural, impossível. Portanto, se visto sem amarras religiosas, a mensagem é o ideário aquariano proposto pelos hippies, portanto, não poderia haver uma outra estética mais adequada para ambientar a história.
Por ser uma história tradicional, não ousou-se no entanto propor alguma modificação alternativa em sua estrutura narrativa. Dessa forma, é claro que a paixão de Jesus Cristo consome-se e a solução encontrada para que tal história contivesse ao menos um diferencial em relação ao texto bíblico, em sua cena final mostra-se todos os atores a caminhar lentamente e embarcar em um ônibus que evade-se do local usado como set para a encenação, ou seja, fica a ideia de que teria sido uma trupe de teatro com o objetivo em encenar tal espetáculo. Aliás, o início também marca o ônibus a chegar ao local e levantar a poeira do deserto (foi filmado em Israel e também nos Estados Unidos).

Diversas montagens teatrais sucederam-se posteriormente, em vários países do mundo. Uma montagem recente na América (2011),  contou com o vocalista da banda, "Hard-Rock" (também conhecida como Hard-Farofa), oitentista, Skid Row, Sebastian Bach, como Jesus. Essa produção deve ter gasto muita verba com cabeleireiro e maquiadores no camarim...

Um novo filme foi feito em 2000, mas os produtores optaram por uma estética visual mais "modernosa", a inspirar-se em Sci-Fi, e assim deixou o caráter Hippie, original do libreto, de lado. Apesar disso, não é ruim, a contar com bons atores e cantores, mas na dúvida, fique com o original de 1973, onde Ted Neeley; Yvonne Elliman, e Carl Anderson, dão show de vocalização / interpretação.


Sobre o elenco, então, como já citei três atores acima, Ted Neely (a interpretar Jesus Cristo); Yvonne Elliman (como Maria Madalena) e Carl Anderson (como Judas Iscariots), cabe acrescentar também : Barry Dennen (como Pôncio Pilatos); Bob Bingham (como Caifás); Josh Mostel (como Herodes); Larry Marshall (como Simão Zelote); Kurt Yaghian (como Annás); Phillip Toubos (como Pedro) e outros. 

A crítica massacrou na época, ainda embalado pelo mesmo furor negativo que a peça recebera em 1971. Os judeus acusaram o filme em ser uma propaganda anti-semita e os cristãos, notadamente os católicos e protestantes, acusaram-no em ser blasfemo. Sinal dos tempos, muitos anos depois do seu lançamento, houve uma exibição especial para o Papa João Paulo II, que assistiu a obra ao lado do seu diretor, Norman Jewison e teria dito que gostara muito da película, ao enxergar a real possibilidade de atrair a atenção dos jovens pela mensagem de Jesus Cristo, pela via do Rock e que uma canção em específico, "I Don't Know How to Love Him", encantara-o, ou seja, foi o que eu afirmei anteriormente, é realmente difícil não apreciar a beleza melódica dessa canção.
Escrito por Norman Jewison e Melvyn Bragg, baseado no libreto escrito por Tim Rice e musicado por Andrew Lloyd-Weber. Direção de Norman Jewison. Foi lançado em junho de 1973. Foi um estouro nas bilheterias de cinema, a retroalimentar mais montagens pelos palcos ao redor do mundo e como já disse, a sua trilha sonora espetacular, vendeu milhões de cópias. Foi bastante exibido na TV aberta, e na TV a cabo, igualmente. Teve versão em VHS; em DVd e Blu-Ray. Na Internet, atualmente (2012), é encontrado com facilidade, na sua versão integral e gratuita.
Matéria publicada inicialmente no Blog do Juma, em 2011.

Posteriormente, essa resenha foi revista e aumentada, para ser publicada no livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll", em seu volume I, a partir da página 46.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Teatro e Cinema: Hair, Deixe a Luz do Sol Brilhar - Por Luiz Domingues

Quando a Lua estiver na sétima casa e Júpiter alinhar-se com Marte... 

Essa conjunção planetária, que representa o estopim para a entrada da Era de Aquário nos ditames da astrologia, inspirou uma geração a buscar respostas advindas das estrelas, a provocar um turbilhão de mudanças que explodiram na década de 1960, tendo como resultado imediato, um libelo pela liberdade sob o sentido de fraternidade e uma rara euforia generalizada em torno de ideais considerados utópicos pelos céticos de plantão, como meta para quebrar-se a velha ordenação civilizatória, construída ao longo de milênios sob paradigmas fechados no egoísmo absoluto, portanto a gerar um esforço em prol de um único significado. Divagação meramente filosófica ? Pois essa é a temática que serve como mote principal para um filme a narrar uma bela história, que exprime bem como foi a ambientação contracultural sessentista em torno do Movimento Hippie. Mais que isso, tal filme denota um algo a mais pois extrapola em si a simples condição de uma obra a tocar em tal assunto, entretanto, é por si só, uma peça icônica dentro do espectro contracultural. Portanto, é impossível falar sobre o filme apenas, sem antes falar da peça teatral da qual ele derivou, tamanha a sua importância como obra artística seminal, por inúmeros fatores. Vamos entender o que motivou a criação de um espetáculo teatral, nesses termos. 

James Rado e Gerome Ragni foram dois atores que conheceram-se em 1964. Ao somar as suas experiências teatrais, notaram que tinham em comum a perspicácia para observar a sociedade com lentes sutis e assim enxergar novas tendências. Por volta de 1967, ao caminhar pelas ruas do East Village, em New York, Rado e Ragni perceberam que o emergente movimento hippie representava mais que um modismo passageiro em torno de rapazes a usar longos cabelos e a trajar roupas coloridas, pois perceberam uma enorme gama de significados contraculturais a explodir pelas ruas, através de uma força epidêmica, e diante dessa realidade, uniram-se para escrever uma peça teatral, a retratar esse momento único que pairava no ar.

Pois então, entraram em contato com o compositor, Galt MacDermot, e este artista gostou da sinopse apresentada. Daí em diante, Galt trabalhou intensamente na composição das canções. Nasceu aí, a primeira "Ópera Rock Tribal" ou como falou-se à época, e dito pelos seus próprios criadores, "The Tribal Love Rock American Musical".
Sem dinheiro, nem patrocinadores em vista, foi procurado um pequeno empresário teatral, com o qual associaram-se, chamado, Joseph Papp, que era proprietário do desconhecido teatro, "Public Theater", onde encenaram a peça pela primeira vez, em 23 de outubro de 1967. Nesses primeiros tempos, as apresentações contavam com pouca divulgação, portanto a contar com um diminuto público e os relatos dão conta de reações negativas por parte do público. Pessoas tampavam os ouvidos a reclamar do volume perpetrado pela banda de Rock que fornecia o suporte instrumental à peça, e chocavam-se com aquele bando de hippies no palco, em meio à sua mensagem cheia de afrontas ao establishment. 

Porém, a sorte de Rado e Ragni mudou quando em uma dessas primeiras apresentações no Public Theater, um sujeito chamado, Michael Butler, esteve presente na plateia a assistir e para a sorte deles, mostrara-se fascinado pela história; músicas e sobretudo pela força da mensagem contida no texto. Milionário; apaixonado por teatro e entusiasmado pelo espetáculo, dispôs-se a associar-se nessa produção, ao empregar o seu dinheiro e prestígio social, para alavancar a peça. A sua primeira ação como produtor, foi transferir a peça para um palco mais categorizado. Sendo assim, a produção deslocou-se para o Biltimore Theater, no circuito da Broadway e a primeira apresentação em tal nova casa, deu-se em fevereiro de 1968.
Nessa altura dos acontecimentos, Butler não mediu esforços para profissionalizar o espetáculo, ao trazer o experiente produtor associado, Bertrand Castelli, e também pela presença do diretor, Tom O'Horgan. 
Mediante tal salto de qualidade, a peça explodiu, ao tornar-se rapidamente, no espetáculo mais comentado de New York em 1968. Personalidades muito importantes começaram a frequentar as cadeiras do teatro e o caráter "cool" que a peça adquiriu, ficara cada vez mais acentuado. Por outro lado, da mesma forma que artisticamente, revelava-se como um estouro, houve igualmente as reações contrárias da parte dos retrógrados. Ameaças de boicote por parte das autoridades e perseguições da ordem pública, tornaram-se uma constante.
O produtor, Michael Butler, chegou a contratar um advogado para permanecer sob plantão, toda noite na coxia do teatro, e com U$ 10.000 disponíveis em dinheiro vivo em sua pasta, para eventualmente pagar fianças, caso a polícia viesse com mandado de prisão para atores ou membros da produção. 

Logo que explodiu, "Hair" ganhou a atenção do sisudo periódico, New York Times e seu crítico teatral, Clive Barnes, publicou a seguinte crítica :

"Boas referências são feitas aos benefícios expansivos das drogas; a homossexualidade não é desaprovada.

Uma das letras, fala de práticas sexuais misteriosas, mais familiares às páginas do Kama Sutra do que nas páginas do New York Times. Bem, vocês foram avisados... e a propósito, eles também distribuem flores." 

No tocante à parte musical em si, o LP a conter a trilha do espetáculo, com todas as canções, subiu rapidamente ao topo das paradas de sucesso, para chegar ao primeiro posto e ao considerarmos ter sido uma época em que o nível musical proporcionado por grandes artistas em voga foi altíssimo, nem preciso estender-me nessa explicação / comparação, quero crer. As músicas, belíssimas, e munidas por letras muito fortes, caíram no gosto popular, com vida própria, assegurada fora da peça. Dessa forma, outros artistas interessaram-se em gravá-las, a aumentar ainda mais a sua repercussão.

Um desses artistas que regravou canções da trilha de "Hair", foi o quinteto vocal, orientado pela Soul Music / R'n'B, "Fifth Dimension", que fez uma excelente interpretação de duas músicas, curiosamente a primeira e a última do espetáculo, ao lançá-las em um compacto simples, a conter então : "Aquarius" e "Let the Sunshine in". Logo a seguir, a banda, "Cowsills", lançou a sua versão da música homônima, "Hair", com direito a um promo para a TV ("promo" é uma corruptela da palavra "promotional" / promocional em português, e constituía-se de uma filmagem em curta metragem para promover uma música, ou seja, foi a pré-história do vídeoclip), com os seus membros a exibir cabeleiras enormes. O cantor Pop, Oliver, lançou a seguir a sua versão para a balada : "Good Morning Starshine" e o "Three Dog Night", lançou "Easy to be Hard".
O LP oficial da versão teatral, ganhou o prêmio Grammy, como melhor do ano, em 1969. 

Uma bela definição sobre o que representara "Hair", ocorre quando pensamos que o conceito das pessoas a  unir-se; amar-se, incondicionalmente, sem ter nada a ver com diferenças raciais; culturais e tudo mais, foi a captura daquele momento mágico, onde por um instante inédito na história da humanidade, permitiu-se sonhar com um mundo fraterno. Talvez só tenha comparação com as pregações de Jesus Cristo em torno do mesmo ideal, mas mesmo assim, dá-se o desconto de ser mais uma pregação isolada da parte de um profeta e infelizmente não teve muito eco imediato para quem o escutou, portanto, euforia mesmo em proporção coletiva, só mesmo em meio àqueles sonhadores cabeludos da década de sessenta. Arrolo abaixo, algumas curiosidades sobre o espetáculo teatral, "Hair" :
 

1) Figura forte do presidente Nixon, o secretário de estado, Henry Kissinger foi assistir e achou uma maravilha, mesmo sendo ele, um elemento chave de um governo regido por um partido muito conservador e apoiador contumaz da causa pela manutenção da famigerada guerra do Vietnã, um dos maiores focos antagônicos ao libelo da paz, proposto em "Hair"...

2) Os astronautas,James Lovell e John Swigert, que participaram da Missão Espacial da Apollo 13, em 1970, e quase morreram no espaço (na década de 1990, Tom Hanks protagonizou um filme a respeito e sobre tal episódio, foi de onde saiu a emblemática frase : "Houston, nós temos problemas"), foram assistir e causou manchetes no dia seguinte, pelo fato de ambos ter abandonado o teatro, revoltados com o que consideraram "antipatriótica" a essência do espetáculo.

3) Quando o ator, Lamont Washington, faleceu vitimado por um incêndio, o produtor, Michael Butler, recusou-se a desmarcar uma matinê no dia de seu enterro. O elenco revoltou-se ao exigir não trabalhar naquela tarde, mas Butler endureceu, ao ameaçá-los todos, de demissão. Os atores negros recusaram-se a participar, mesmo diante da ameaça de demissão sumária e o espetáculo foi encenado apenas pelo elenco formado pelos atores brancos que quebraram a greve, pressionados por Butler. Com esse fato, começou a ruir a boa relação que mantinham com Butler e dali em diante, nunca mais o clima foi igual nos bastidores. E ele, Michael Butler, acusado por insensibilidade e tirania, alegou que era uma praxe do teatro, jamais parar, mesmo em caso de morte...

4) Gerome Ragni, o autor e principal ator, queria sempre agregar novidades. Certa vez, sem avisar ninguém, nem mesmo o diretor, Tom O'Horgan, resolveu testar uma nova entrada em cena, ao vir inteiramente nu, da rua, e assim entrar pela frente do teatro, em meio ao público.
Não contente com isso, realizou em um outro dia, o mesmo artifício, porém, a  ostentar uma flor, introduzida em seu orifício anal. Isso foi a gota d'água para Michael Butler o demitir sumariamente, e também a James Rado, o outro ator e coautor da peça, que solidarizara-se com Ragni. Esse ato entrou para a história do teatro norteamericano, pois nunca antes um produtor havia demitido dois atores principais e que, pior ainda, fossem os próprios autores da peça !

Dias depois, persuadido pelos outros atores e pelo diretor, recontratou-os...

5) Mais que um elenco, eles consideravam-se uma "tribo". Até hoje, qualquer ator que tenha participado de "Hair" é conhecido como "Membro da Tribo".

6) Certa vez em Acapulco / México, a polícia prendeu todo o elenco e produtores, ao alegar subversão e atentado aos "bons costumes", que certamente deve ter ofendido o povo azteca e devoto de Nossa Senhora de Guadalupe... 

7) Em uma certa apresentação em Boston / Massachusetts, políticos locais processaram a produção, ao alegar que na cena em que um hippie chora a morte da personagem, George Berger, na guerra do Vietnã, enxugara as suas lágrimas na bandeira norteamericana, e aquilo fora considerada uma afronta. Na Suprema Corte, os juízes deram ganho de causa à produção, ao assegurar-lhes o livre direito da expressão e o processo foi arquivado.

8) O cantor, Meat Loaf, que anos mais tarde tornar-se-ia um astro real do Rock, foi membro da tribo entre 1970 & 1972.
 
A sua contratação foi das mais curiosas. Ele era manobrista na porta do teatro e como tinha visual hippie, com cabelo pela cintura, foi convidado a fazer um teste e aceito, imediatamente, pois já tinha os seus dotes vocais bem desenvolvidos, naturalmente. Aliás, James Rado e Gerome Ragni costumavam abordar hippies que achavam interessantes pelas ruas, e assim convidar-lhes para testes, sempre prontos a renovar o elenco, ou melhor, a tribo... 

9) A cantora, Donna Summer, que ao final dos anos 1970, tornou-se uma estrela da Discothèque, foi membro da tribo na montagem alemã. Ela permaneceu por cinco anos no elenco, a emprestar a sua potente voz e interpretação. Mesmo caso das cantoras do grupo Pop sueco, "ABBA", que estiveram na montagem sueca ao início dos anos 1970. Na Holanda, a banda de Rock Progressivo, Focus, acrescida com outros músicos de apoio, foi a banda base, da montagem holandesa.
10) A última apresentação oficial, com a tribo original e Michael Butler e Tom O'Horgan no comando, ocorreu em 1°de julho de 1972. De 1967 até essa última encenação, foram 1750 encenações registradas.

11) Em 1976, os direitos da peça foram vendidos ao diretor de cinema, o tcheco, Milos Forman, que lentamente começou daí a elaborar a pré-produção para a versão cinematográfica. Ele passou o ano de 1977, praticamente inteiro, a realizar testes com atores.

Uma garota novaiorquina com origem italiana e completamente desconhecida, foi recusada no teste de Milos Forman, que a considerou inexpressiva, uma tal de Madonna Ciccone...
 

O cantor / guitarrista e compositor, Bruce Sprinsgteen, foi convidado a fazer teste para interpretar o personagem, George Berger, mas recusou prontamente ao alegar o óbvio : ele não era um ator, ou seja, foi uma sábia decisão de sua parte... 

Ainda a falar sobre o filme, ele foi produzido em 1978 e lançado em 1979. A crítica até que foi boa, mas o fracasso de público foi evidente. Nesse caso, são cabíveis algumas considerações em relação ao filme :
 

1) Ele demorou demais para ser lançado. Isso por que ao somente vender os seus direitos em 1976, Rado e Ragni cometeram um erro de avaliação, pois toda a euforia do Flower Power sessentista, já havia diluído-se. Pior ainda, foi Forman em sua lentidão, pois quando o lançou, em 1979, o ambiente mostrava-se completamente desfavorável ao ideal hippie, e pelo contrário, na inversa proporção, estava muito hostil, pois por um lado a Disco Music abriu o caminho para uma nova geração de Yuppies, pessoas sob mentalidade anti-hippie e totalmente pró-establishement e pelo outro, a mentalidade do niilismo punk que explodira em 1977, enraizou um sentimento de repúdio à tudo o que "Hair" pregava. Portanto, o filme foi muito mal lançado. 
2) Assim que vendeu-se os direitos, Rado e Ragni prontificaram-se a elaborar um roteiro com a adaptação para o cinema. Milos Forman recusou-o e mesmo com várias tentativas para modificações propostas pelos autores originais da peça, Forman recusou definitivamente tal pressão da parte deles, ao alegar ser uma adaptação que quase o induzia a filmar a apresentação teatral e cinema era uma outra realidade (pela questão meramente técnica do que seja elaborar um roteiro para cinema, Forman tinha razão e deve ter sido essa a premissa em que baseou-se para ignorar o clamor de Rado & Ragni). De fato, se o argumento dele teve sentido, por outro lado, a verdade é que o filme diluiu e muito o espírito original da peça. Portanto, se você viu o filme, pode achá-lo bom, mas tenha a certeza que a peça era muito melhor.

3) Rado e Ragni ficaram ainda mais enfurecidos ao saber que Forman nem cogitava usá-los como atores nos papéis que interpretaram por tantos anos no teatro. Dessa forma, ambos romperam com o diretor e recusaram-se doravante, a apoiar o filme. 


4) A atriz, Beverly D'Angelo, foi a única no elenco do filme, que houvera sido membro da tribo no teatro, onde encenou por anos, a peça.

5) O ator, Treat Williams, estourou com o filme ao tornar-se um bom profissional doravante, bastante requisitado para filmes e séries de TV, aliás, até hoje. Treat é um admirador confesso de Gerome Ragni e sempre considerou, abertamente que o "George Berger" deveria ter sido feito por Ragni, no filme.

6) A minha experiência pessoal com o filme é engraçada. Eu providenciei o ingresso para a pré-estreia e quando a luz de serviço acendeu-se na sala de cinema, ao final da exibição, eu era o único cabeludo no recinto... a provar que, definitivamente, 1979, não foi um bom ano para esse filme ter sido lançado. 

"Hair" teve inúmeras montagens franqueadas em várias partes do planeta. No Brasil, cabe acrescentar que também foi um marco e causou muita polêmica, ainda mais ao considerar-se que estávamos em plena fase de endurecimento do regime autoritário.

O produtor teatral, Ademar Guerra, teve a ousadia em produzir o espetáculo, em pleno ano de 1969. O teatro Aquário, localizado no bairro da Bela Vista (também conhecido como "Bexiga"), em São Paulo, foi o palco dessa montagem histórica.

O ator / produtor, Altair Lima, foi o produtor artístico da montagem e no elenco, jovens atores como Nuno Leal Maia; Sonia Braga; Edyr Duque (esta artista futuramente tornar-se-ia membro d'As Frenéticas); José Luis Penna (futuramente membro da banda de Rock, "Papa Poluição", parceiro de Belchior e há anos na política, já tendo sido inclusive, presidente nacional do Partido Verde); Armando Bogus; Denis Carvalho; Bibi Vogel; Antonio Pitanga e Ney Latorraca entre outros, além das já experientes Ariclê Perez, Aracy Balabanian e do próprio, Altair Lima.

Foi inacreditável a habilidade de Ademar Guerra e Altair Lima ao convencer os censores, aquelas pessoas regidas por mentes preocupadas em manter tradições rígidas, a liberar a peça, inclusive com a polêmica cena do nu coletivo do elenco, ao final do primeiro ato.

A única restrição imposta pelos senhores censores, foi para que os atores devessem permanecer imóveis durante essa cena, com uma faixa a tapar as genitálias e os seios da mulheres, além da luz ficar obrigada a estabelecer um "fade out" (ato em diminuir a sua intensidade paulatinamente), até apagar-se completamente.


Apesar da pressão exercida pelos órgãos repressores a serviço do regime, a peça foi um estrondo de sucesso, a repetir o élan alcançado pela montagem norteamericana. Tal montagem entrou para a história do teatro brasileiro e também tornou-se um marco para os apreciadores da contracultura sessentista, certamente. 

O ator e produtor, Altair Lima remontou a peça em 1978, e dessa vez eu pude assistir, enfim, no alto de meus dezoito anos de idade.  Encontrei-me com um amigo na porta do teatro Procópio Ferreira, na Rua Augusta, em São Paulo, e ele profetizou: -"Te dou dez cruzeiros, se você aguentar dez minutos da peça. Está uma droga essa montagem". Entrei e assisti. Infelizmente, ele teve razão, pois o espetáculo não continha vida, mostrava-se insosso, com um elenco fraco; uma banda a economizar nos arranjos, e assim a tocar burocraticamente; figurino a tentar "modernizar-se" ao deixar a estética hippie de lado, e até pelo supremo sacrilégio em mudar a sinopse, pois o mote em torno da guerra do Vietnã foi mudado, no afã para enquadrar-se à realidade de 1978, portanto, falava-se sobre o conflito insípido da Nicarágua, em voga naquele instante, ao tentar atualizar a linguagem... e eu perdi dez cruzeiros naquela noite...
Soube de outras versões encenadas esporadicamente ao longo dos anos, mas ouvi dizer que essa mais moderna, que fora montada no Rio de Janeiro e São Paulo, em 2010, honrou a tradição desse grande musical. 

Gerome Ragni, um dos autores e ator principal na montagem clássica, e que interpretou o hippie, George Berger, faleceu em 1991, vítima de câncer.
Sobre a história, o mote é o choque de realidade entre um rapaz que é convocado para servir o exército norteamericano, oriundo do interior e completamente alheio ao que ocorria nas ruas das grandes cidades em termos de contracultura a gerar o Movimento Hippie. Ele apresenta-se então na junta militar da cidade grande e conhece uma turma de hippies na rua. Sem entender toda aquela movimentação, fica com eles nas horas em que antecedeu-se a sua apresentação ao exército e ali observa a maneira livre pela qual vivem; experimenta drogas e fica alucinado etc. Nesse ínterim, ele ajuda uma bela moça burguesa que estava a cavalgar pelo parque e cujo cavalo ela não conseguia controlar a contento. Rapaz interiorano e experiente com questões rurais por excelência, ele domina o cavalo como um autêntico cowboy e salva a moça, que mostra-se agradecida e mais que isso, um parece ter simpatizado com o outro. Mas ela vai embora e tudo parece ficar apenas circunscrito ao momento efêmero.
Os Hippies queimam documentos de alistamento, a denotar a desobediência civil e o bom rapaz interiorano e criado sob os rígidos valores conservadores, não entende tal atitude, descabida em seu modo de enxergar a sociedade. Em uma confusão, eis que os seus novos amigos hippies são presos e um deles convence o bom rapaz do interior a pagar a sua fiança, pois uma vez nas ruas, ele prontificara-se a arrumar mais dinheiro e pagar a fiança dos seus companheiros. Isso ocorre e após todos estarem libertos, eis que por acaso, o líder desse pequeno grupo hippie, descobre que aquela moça burguesa vai casar-se e haverá uma festa em sua mansão. Os Hippies, em sinal de gratidão, resolvem ajudar o rapaz do interior a encontrar a moça, antes do seu alistamento militar e assim, invadem a sua festa ao escandalizar os convidados e ser expulsos, não sem antes protagonizar muitas confusões pautadas pelo puro deboche. Não satisfeitos, sequestram a moça que nesta altura já declara estar apaixonada pelo interiorano e eles passam algumas horas juntos. O rapaz apresenta-se à junta militar e o seu destino parece estar traçado, com a iminência em morrer em alguma floresta vietnamita; voltar gravemente ferido / aleijado ou, em uma remota hipótese, voltar vivo e intacto, mas no âmbito físico tão somente, visto que no aspecto psicológico, o estrago seria inevitável. A moça burguesa larga a sua vida materialista e junta-se aos hippies, que arquitetam uma nova ideia para promover um último encontro do casal, antes que o interiorano parta para o Vietnã : o líder impetuoso desse grupo rouba um uniforme militar; corta a cabeleira e invade o quartel. Ele encontra o seu amigo e propõe que eles troquem de uniforme, pois o farsante entrara no quartel vestido como um oficial e assim, fica combinado que o amigo saia, encontre a moça, passe algumas  com ela e volte a tempo para refazer a troca, com o hippie a sair do quartel em segurança. Mas nesse ínterim, uma súbita convocação ocorre e o batalhão é obrigado a ingressar em uma aeronave militar, imediatamente, portanto, o hippie é confundido com o soldado interiorano e embarca para a morte certa.
Ao final, de uma forma dramática, a criticar a estupidez das guerras, os hippies e com o interiorano entre eles, cantam a lastimar a morte acidental do hippie, em frente à sua tumba e a registrar-se o nome trocado por conta da confusão gerada. Ou seja, tanto faz quem morreu, pois ninguém deveria perder a vida por conta de manobras geopolíticas traçadas por pessoas que não saem de seus gabinetes refrigerados; não arriscam-se e nem arriscam a vida de seus próprios filhos, mas sim, os filhos dos outros. Essa é a mensagem maior a revelar o libelo pela paz e a esperança da construção de um mundo realmente fraterno.
A despeito de eu ter deixado bem claras as circunstâncias pelas quais este filme ficou aquém da força extraordinária que a montagem teatral obteve e por anos a fio, o filme não pode ser considerado ruim se analisado por um contexto diferente, ou seja, desassociado da peça teatral. É na verdade um filme bem produzido, a conter um ótimo elenco; a fotografia e direção de arte é muito boa; a coreografia é muito bonita e a trilha sonora é magnífica, apesar da roupagem ter sido levemente modificada em termos de arranjos e sonoridade, no quesito do áudio de estúdio. Ao imprimir-se um acento levemente a pender para a Black Music, privilegiou-se a pegada mais Funkeada, quase a esbarrar na então em voga, Disco Music, não posso deixar em observar que revela-se interessante em certas canções, até empolgante se já pendiam para a Soul Music em sua versão original, no entanto, ainda assim, prefiro os arranjos originais e que podem ser escutados no álbum oficial que cobre a versão teatral dos anos sessenta.
São muitas as cenas notáveis, a destacar-se o choque do interiorano ao ver os Hippies a dançar em um parque público de Nova York; o contato com a mentalidade dos Hippies da parte desse rapaz simples; as viagens alucinógenas; a questão do preconceito da sociedade conservadora versus desapego e deboche da parte dos hippies; a questão da sexualidade a mostrar-se totalmente livre ao ponto em haver a personagem feminina que engravida, não saber dizer se o seu filho nascerá branco ou negro, em face ao fato de que mantém relações com dois rapazes de raças diferentes, regularmente; a questão do uso dos cabelos longos e o quanto a incompreensão da sociedade tendia a considerar um sinal de homossexualismo da parte dos rapazes em usar longas cabeleiras e daí o nome da peça e do filme, ser "Hair" e finalmente, a questão da guerra que denota o militarismo como força bruta a impor vontades no campo da geopolítica e assim dispor de vidas humanas a esmo para servir como mero aríete em tais predisposições marcadas pelos interesses políticos. Nesse aspecto, o movimento Hippie a mostrar-se uma força a propor a paz em torno da fraternidade e daí a força que essa peça e consequentemente, filme, sempre terá.
Sobre o elenco, destaca-se : Claude (interpretado por Joh Savage), que foi o interiorano que ao final teve a vida poupada em detrimento da morte, por ironia, de um Hippie pacifista; Berger (interpretado por Treat Willians), o líder do grupo de Hippies e que por engano morre com a identidade trocada, na guerra do Vietnã; Sheila Franklin (interpretada por Beverly D'Angelo), a moça burguesa que apaixona-se pelo recruta do interior e junta-se aos Hippies; Jeannie (interpretada por Annie Golden); a hippie grávida; Hud (interpretado por Dorsey Wright), o hippie negro; Woof (interpretado por Donnie Darcus), o hippie branco e que na vida real é um músico (guitarrista e cantor), com um currículo gigantesco dentro do Rock e música em geral; Cheryl Barnes a interpretar a noiva de Hud, sem nome no filme e muitos outros atores de apoio. Menção honrosa para Nicholas Ray, um diretor de cinema com grandes serviços prestados à sétima arte e que em "Hair", atuou como ator a interpretar um general alucinado, que ao discursar com muita virulência no quartel onde a personagem, Claude, está a ser treinado para atuar na guerra, fica enlouquecido quando alguém invade o sistema de som e coloca sob alto volume, um solo de guitarra pleno em distorção e microfonia produzida pelo uso de alavanca, a la Jimi Hendrix e manda metralhar o alto falante para interceptar o som a todo custo, o que é muito simbólico como metáfora.

Roteiro de Michael Weller, baseado no original de James Rado e Gerome Ragni; música de Galt MacDermont e direção de Milos Forman. Foi lançado em 1979. Nos anos oitenta, ganhou a sua versão em formato VHS, para tornar-se uma das fitas mais vendidas e alugadas. Passou pelo Laser-Disc; DVD e Blu-Ray. Foi exibido em canais de TV aberta e muito reprisado desde então, inclusive em canais de TV a cabo. Na Internet, é fácil achar muitos fragmentos no You Tube, mas a sua versão na íntegra e gratuita, mostra-se rara nos dias atuais de 2012.

Para encerrar, deixo o depoimento do ator, Andre De Shields, que foi membro da tribo entre 1969 / 1970 :
"Hair era vivo, um estado de consciência, um estado de ser".



E deixe a luz do sol entrar em seus coração...

Matéria publicada inicialmente no Blog do Juma, em 2011.

Posteriormente, tal resenha foi revista e aumentada,para ser publicada no livro: "Luz; Câmera & Rock'n'Roll", em seu volume I e encontra-se a partir da página 32.