quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Os Kurandeiros - 31/8/2018 - Sexta-Feira - 21 Horas - Santa Sede Rock Bar - Tucuruvi - São Paulo / SP


Os Kurandeiros

31 de agosto de 2018  -  Sexta-Feira  -  21 Horas

Participação especial de um membro da Grã-Ordem Kavernista !

Santa Sede Rock Bar

Avenida Luiz Dumont Villares, 2104
200 metros da Estação Parada Inglesa do Metrô
Tucuruvi
São Paulo - SP

Os Kurandeiros :
Kim Kehl : Guitarra
Carlinhos Machado : Bateria e Voz
Luiz Domingues : Baixo

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

CD Death and Life / Chico Suman - Por Luiz Domingues


Eis que eu fico a saber que o excelente guitarrista, cantor e compositor, Chico Suman, preparava a produção de um trabalho solo, autoral. O álbum mal começara a ser preparado e eu já deduzi que seria ótimo. 

Conheço Chico Suman, há muitos anos, já havia compartilhado shows com sua ótima banda, o The Suman Brothers, em três ocasiões (por duas vezes, quando eu toquei no “Pedra” e uma com “Kim Kehl & Os Kurandeiros”), e tocamos diretamente uma vez, quando eu fui componente da Magnólia Blues Band” e ele foi o guitarrista especialmente convidado para uma das nossas apresentações. Em síntese, eu já sabia há tempos, que Chico Suman trata-se de um guitarrista da pesada, versado pelas melhores tradições do Rock, com diversas especializações em vertentes múltiplas a transitar pelo Blues, Black Music, Folk e Country Rock e sob diversas nuances clássicas desses gêneros citados e muitos outros, em um alcance a atingir principalmente a faixa temporal contida entre os anos cinquenta a setenta do século anterior, ou seja, a sua base de inspiração vem da nata da nata. 
Além de ser também um cantor com muita qualidade, Chico Suman igualmente compõe muito bem e por ser um aficionado da poesia Folk de Bob Dylan e congêneres, Chico gosta de caprichar nas letras que escreve. E para completar, é claro que cercar-se-ia de uma turma de músicos da melhor qualidade para acompanhá-lo, muitos dos quais eu conheço muito bem e sei da sua genialidade ímpar. 

Portanto, como poderia um disco que eu sabia de antemão que seria ótimo, surpreender-me em algum aspecto, no sentido de superar a minha expectativa inicial? Pois é... algum tempo depois, eis que mediante uma audição proporcionada, através do nosso amigo em comum, Cleber Lessa, ouço o álbum na íntegra, como som ambiente da casa de espetáculos, Santa Sede Rock Bar, em São Paulo, e impressiono-me com a sua audição. Mas foi mesmo quando recebi em mãos uma cópia do álbum, que pude enfim mergulhar em sua sonoridade e constatar, que sim, ele é bem melhor do que eu deduzira anteriormente, por incrível que pareça. 

Para início de conversa, Chico Suman é um raro artista no panorama do Rock brasileiro (refiro-me à atualidade de final da década dez, do século XXI), que professa um compromisso verdadeiro, umbilical e sem nenhum receio, com as mais belas tradições do Rock, Blues, da Black Music em geral e do Folk-Country Rock e sem que isso seja necessariamente uma bandeira desfraldada em torno de um acintoso resgate vintage, retrô ou a estabelecer uma ponte proposital com o passado, mas simplesmente, por Chico viver intensamente essa realidade em sua expressão artística, de uma maneira absolutamente natural, ao revelar-se alheio ao que demarcaria uma opção confessa em prol do passado. 

Na verdade, ele simplesmente vibra por tais moléculas e nesse sentido, pouco importa em que época atue, pois a sua verdade é essa e ponto final. Dessa maneira, não vejo uma melhor forma em atuar, do que ser atemporal e acaso o seu trabalho soe como algo que remeta aos anos cinquenta a setenta da década anterior, é melhor pensar que isso não importa pelo ponto de vista do “hype”, como raciocinam os críticos obtusos e/ou mal intencionados, sempre obcecados em decretar o que entra e sai da moda, mas muito pelo contrário, queiram admitir ou não, foi nesse espectro da história, onde criou-se uma excelência artística inquestionável e se Chico bebe dessa fonte, revela mais que um bom gosto pessoal, porém, acima de tudo, que possui uma base sólida, indestrutível.
E assim, o passeio que esse disco faz entre vertentes, estilos e tendências dessa fase de ouro da música em geral e do Rock, em específico, é muito bonito. Chico conduz o ouvinte ao âmago do Blues e da Folk Music, passa pelo Country-Rock e R’n’B, insinua o Blues-Rock; mergulha-nos nas águas sagradas do Rio Ganges onde as ragas espalham luzes multicoloridas e típicas dos anos sessenta. Dessa forma, voamos para bem longe, o suficiente para constatarmos que Chico conseguiu estabelecer o “religare” e de fato, a boa música está aqui, de volta, e basta apenas que liguemo-nos, entremos em sintonia e que caiamos fora do baixo astral da anticultura, que está lá fora...

Sobre as canções em específico, o álbum inicia-se com: “Morning Sunshine”, sob uma atmosfera Country Rock muito alvissareira. Ouvir tal canção, é como viajar dentro de uma Pick up, em um manhã ensolarada a trafegar de Minessota para Ohio, digamos assim. Gostei muito da pureza dos timbres dos instrumentos, principalmente na bateria, a soar com seu som natural, sem muito processamento, principalmente no tocante ao exagero do reverber, ato falho comum para nove entre dez técnicos de áudio em estúdio. Noto a presença do orgão Hammond, com pontuais desenhos bem agradáveis e dois solos de guitarra com timbres diferenciados e muito bonitos, ambos. Tem violão bem tocado e uma linha de baixo agradável. Apreciei o refrão com um sentido sob contraponto no backing vocals, que lembrou-me bastante o trabalho do "Lovin Spoonful". A letra reforça a ideia do espírito livre, que a música evoca: 

“Let my hair blow free / let my spirit guide me”...

A segunda faixa, apresenta: “Livin’ Alone”, a embalar um Folk-Rock muito melódico. É muito bom ouvir o som da gaita, com a vassourinha a desenhar na caixa da bateria, os belos desenhos de guitarra a propor contra-solos emotivos, violão batido, órgão Hammond a harmonizar e ao seu final, até o cântico de pássaros para fechar a canção. É como ouvir um bom disco de Bob Dylan e lembrar que o Rock tinha e precisa voltar a ter poesia, também. 

“Time has come to be alone / Dissapear like a rolling stone / sadness is eating up my heart”...

“Band of Brothers” vai fundo no Blues-Rock, com muito vigor. Solos e contra-solos de guitarra são excelentes e a banda faz uma base poderosa, com bateria, baixo, e órgão Hammond, sob forte pegada. Certas partes faladas a esmo, são bem sessentistas, a garantir uma boa dose de loucura, que é sempre essencial. Uma interessante passagem da letra, despertou a minha atenção:

“When I first started playing the blues / more than 15 years ago / never tried to make any money / ‘cause that’s something I don’t know / just tried to bring some happy hours / when my friends come home home from work”...


Pois é... música que vem do coração não é produto para vender na gôndola do supermercado, mas algo verdadeiro, ou seja, um fator observado fartamente por quem militou na senda artística musical daquelas décadas de ouro na música, e certamente que Chico Suman faz parte dessa estirpe, por falar a mesma linguagem.

“A Small Part of You” é um Slow Blues dos mais inspirados que tenho escutado nos últimos tempos. Tem uma carga emocional fortíssima, envolta em sutilezas múltiplas a conferir-lhe uma beleza incrível. Ao ouvir tal melodia linda, amalgamada por uma bela poesia, é impossível não lembrar-me que um dia tivemos a "The Band", a atuar neste planeta e certamente que o mundo foi muito melhor enquanto ela esteve a brindar-nos com a sua plena magnitude artística. A mencionar o arranjo em si, tudo soa muito belo. Teclados, "cozinha" (baixo e bateria) espetacular, e um trabalho de guitarras, magnífico. São arpejos e desenhos pontuais (clap guitar, sensacional, no melhor estilo de Steven Cropper), a marcar de forma indelével a base e com solos para arrepiar. 

O trabalho vocal destaca-se muito nessa faixa, igualmente. Trata-se de uma interpretação muito emocionante, cuja entrega total, muito lembrou-me o mestre, John Lennon, em seus momentos mais exasperantes. Tem muito do grito primal nessa construção vocal, com a inclusão de uma segunda voz, muito boa e várias intervenções a esmo, nesse sentido. É forte, intenso e muito emocionante. 

“You gave me your view about this world while all of your friends / were watching you eyes wide open so you wouldn’t cry again"...


Em resumo, trata-se de uma canção fortíssima, e memorável.

A quinta faixa: “Keep the Light on“, investe no balanço, com um sentido mais próximo do R’n’B. Tem um riff muito bom e a banda imprime um balanço forte, para fazer o ouvinte levantar de sua confortável poltrona e balançar-se. Gostei muito das palmas, um recurso pouco usado nos dias atuais, mas que é funcional ao extremo para gerar uma interação contagiante com os ouvintes. A canção contém peso, com aquela pegada Rocker. E há também, uma chave para revelar a ideia que norteia o título do álbum, quando Chico diz: 

“Hey brother! / Don’t pay your troubles no mind, because / Death and life walk together”

A canção seguinte, é na verdade um mantra, literalmente. “Ganges”, investe na sonoridade da Índia, mas sob aquela estimulante roupagem ocidental e sessentista, quando o Rock mergulhou em suas águas sagradas e escreveu uma das páginas mais belas de sua história (grato, Mahatma Harrison, jai jai!). 

Sob uma batida tribal, a cítara canta solta, e em certos momentos lembrou-me o trabalho do grupo de Rock britânico, "Kula Shaker" que tentou fazer esse religare nos anos noventa e embora a raiz cultural fosse outra, também lembrou-me o trabalho do Aphrodite’s Child em “Babylon” (essa banda era grega e sessenta-setentista). Adorável a menção ao recurso do solo de guitarra em estilo “backwards”, outra marca típica dos anos sessenta. E o mantra entoado dispensa maiores explicações:  

“Namah Parvati pathaye / Hare Hara Shankara Mahadev / Hare Hare Hare Mahadev / Hare Hare Hare Mahadev / Namah Parvati pathaye / Hare hare mahadev / Namah Parvati pathaye”... 

“Capricorn” é um tema instrumental e muito belo. Brilha muito o baixo, com um solo espetacular e que busca o sentido melódico, sobretudo. Gostei muito da harmonia e da melodia central, proposta pela guitarra, que contém uma beleza muito grande. A base com a presença do órgão Hammond, empolga por não nos deixar respirar, mediante a ação contínua da caixa Leslie, ao espalhar-se aos quatro ventos, pela sua ventoinha. É muito bonita também a presença de um violão batido, com lindo timbre e várias camadas de guitarras a desenhar por todos os lados do pan do estéreo. Se o leitor ouvir essa canção com fone de ouvido, há de apreciar tais detalhes meticulosos.
E o disco chega ao seu final, com: “Time to Say Goodbye”, uma balada belíssima, super sessentista, pela sua construção harmônica, melódica e rítmica. Adorei a concepção da linha de bateria, com inspiradíssimas passagens pelos tambores. O efeito "staccato" em algumas partes, evoca o trabalho de bandas como, The Beatles, The Kinks, Small Faces e congêneres britânicos, mas tem também um lado norte-americano muito efusivo, quando esbarra forte no som de Crosby; Stills; Nash & Young. 

Há, paralelamente, muitos estímulos sutis nessa canção, proporcionados por todos os instrumentos que constam em sua constituição. É uma canção muito bem arranjada e tudo sob belos timbres. Inclusive ao conter um solo em duo, que abre vozes para as guitarras. A canção termina com um enigmático efeito ao teclado, a sugerir a presença de uma ventania, a levar tudo embora e de fato, a vida e a morte são manifestações do mesmo sopro vital que traz e leva... leva e traz...


Gostei dessa parte da letra:

“Don’t be afraid to fall on / The moment you’ve been waiting for / The future in a minute will be gone / Take pictures of your new life / Grow stronger from the inside / our love will live forever in this song”... 

A respeito da capa, “Death and Life” investiu na sobriedade. O artista com a sua guitarra sobre um fundo bege e nada mais. No encarte e na contracapa, mantém o conceito, com fotos do mesmo ambiente a lembrar uma ambientação urbana mas bem rústica, com a porta de uma residência antiga, bem do início do século passado e além do artista, há uma foto com dois gatos a observar a paisagem. 

O encarte tem uma explicação do trabalho, assinada pelo próprio, Chico Suman, em pessoa, mas sob uma forma bem poética, quase a caracterizar um manifesto de sua parte. Além de conter as letras das canções e uma boa ficha técnica.

A opção por cantar no idioma inglês, tem tudo a ver com as influências que calam mais forte na construção da personalidade artística de Chico Suman, e nesse sentido, não cabe questionamentos sobre estratégias de marketing, adotadas por ele.

Um promo com a música “Capricorn”, disponível no You Tube:




Death and Life – Chico Suman


Gravado no Estúdio Gallo de São Paulo

Técnico de Som e mixagem: Bruno Mulinario

Assistente de áudio: Sidiney Souza

Assistência de Luthieria: Ivan Pieri

Arte de capa / lay-out: Geraldo Bezerra

Fotos: Gabriela Piragibe

Chico Suman: Guitarra; Violão; Voz; Harp


Músicos convidados:

Rodrigo Ramos:  Bateria e Percussão

Rafael Stranguini: Baixo (faixas 1; 6 & 7) e Órgão Hammond (faixa 4)

Daniel “Kid”: Baixo (faixas 3; 4 & 5)

Rodrigo Hid: Órgão Hammond (faixas 1 e 5)

Adriano Grineberb: Órgão Hammond (faixas 3 e 6)

Luiz Bueno: Cítara elétrica (faixa 6)

Kleiton Sabaini: Baixo (faixa 8)

Maurício Pilksuc: Baixo (faixa 8)

Collins Freitas: Órgão Hammond (faixa 7)

Mateus Schanoski: Órgão Hammond (faixa 8)

Leandro Lantin: Órgão Hammond (faixa 2)

Simone Dantas: Guitarra (faixa 8)

Victor Mulinario: Backing Vocals (faixa 1)

Fernando Olivo: Backing Vocals (faixa 1)

DJ Sgrufs: Scratch (faixa 5)


Composições; letras; arranjos e produção geral: Chico Suman



Para conhecer melhor o trabalho de Chico Suman, acesse:


chicosuman.com


Página no Facebook:



Para escutar o álbum “Death and Life”, na íntegra, acesse na plataforma, Spotify:



Eis aí um trabalho que eu sabia que ficaria bom, mas que na verdade, ficou ainda melhor do que previ. Recomendo o álbum, “Death and Life” e a arte de Chico Suman!