sábado, 29 de maio de 2021

CD Brizio/Fabrizio Micheloni (Brizio) - Por Luiz Domingues

Eu conheço o baixista, Brizio (Fabrizio Micheloni), há muitos anos e sempre o considerei um músico excepcional. Dono de uma técnica tremenda, é um virtuose do instrumento, ao se mostrar criativo, exuberante em sua performance ao vivo e munido de uma personalidade forte o suficiente para defender com veemência as suas opiniões.

Eclético, ao mesmo tempo que detém inúmeras influências boas do panteão do Rock clássico, ele também é versado pelas novidades em voga, inclusive as advindas de searas do Rock mais pesado.

Famoso por sua passagem vitoriosa pelo grupo pesado, “Carro Bomba”, Brizio deixou a banda e lançou esse seu primeiro álbum solo com grande expectativa gerada da parte de seus muitos fãs, certamente, e como boa nova nesse sentido, o disco não apenas atendeu tal demanda, como eu tenho certeza de que superou qualquer dedução mais otimista.

Com sonoridade moderna, mas a evocar diversos signos sonoros de épocas remotas, "Brizio" apresenta uma coleção com oito boas músicas, a mostrar virtuosismo (não apenas de sua parte, o próprio, como baixista, mas também de seus convidados), além da criatividade e força significativa de suas ideias expressas através das letras por ele elaboradas.

É bom salientar que apesar de possuir uma destreza tremenda ao instrumento, o seu disco não está fundamentado nessa prerrogativa e não se trata, portanto, de um disco versado por temas instrumentais exclusivamente dedicado à exibição da sua técnica, mas na verdade é um disco regular de carreira, feito por um artista que nos mostra as suas composições e demonstra querer emitir recados taxativos através das letras que escreveu.

Sobre a capa do disco, eu gostei do tom sóbrio, a mostrar o artista na capa a envergar o seu instrumento, no caso o baixo e nada mais. Há um encarte com várias lâminas a conter as letras das canções, uma medida ótima e também a apresentar fotos do artista e de seus convidados.

Nesse quesito, destaca-se a presença do guitarrista virtuose, Demian Tiguez, famoso na seara do Heavy-Metal, ao tocar com o grupo, “Symbols”, que também operou a gravação e mixagem deste disco. E igualmente a se realçar a persona sensacional de Fernando Minchillo, experiente baterista com passagem pelos grupos, “Baranga” e “Carro Bomba”.

Em síntese, se trata de um trabalho forte, bem gravado e que mostra a volúpia de um artista que sempre se portou de uma forma exuberante através da sua atuação em prol do "Carro Bomba", e agora em carreira solo, ele mantém a mesma determinação. 

Sobre as músicas em si, eis mais algumas considerações da minha parte:

Eis o link de "Deixa Rolar a Canção" para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=MjVr9UtIv08

A primeira faixa, chamada: “Deixa Rolar a Canção” começa com um poderoso riff a la Hard-Rock setentista, mas a roupagem é bem mais moderna a trazer no seu bojo, vertentes do Heavy-Metal, Punk-Rock e até contém ecos do Hip Hop, principalmente na linha melódica a se manter no limite da declamação.

A canção é permeada por convenções bem intrincadas e impressionam bastante os solos de baixo e guitarra, alternadamente.

Em termos de mensagem, a letra é bastante contundente, com Brizio a mostrar com singularidade as suas opiniões fortes sobre a vida, a demarcar que na sua ótica, a instituição da música é uma ferramenta eficaz para se quebrar paradigmas. Nesses termos ele diz em um certo verso:

“Onde jaz a redenção/e a música é a única religião/onde não vale o nome/se for só pose/nem loucura ou morte/por overdose” 

Eis o link de "Vá se Rebelar" para escutar no You Tube:

https://www.youtube.com/watch?v=BgQGPCQRXww

Entra a segunda faixa e o ímpeto não recrudesce. “Vá se Rebelar” é um tema fortemente influenciado pelo Punk-Rock, mas fica a ressalva que pelo fato cabal de ser executado por grandes músicos, tal virtuosismo implícito faz com que o estilo em si, que sempre primou pela rudeza absoluta, neste caso seja bastante valorizado pela roupagem musical muito enriquecida.

Por conta dessa realidade, se trata de um tema acelerado, porém extremamente bem instrumentalizado.

A linha melódica, aí sim mais gutural, fica mais próxima da tradição do Punk-Rock, mas neste caso, vem a calhar com a proposta da letra, e esta a se revelar como uma autêntica palavra de ordem contra a mesmice das pessoas que reclamam da crueza do sistema, mas não se manifestam para encorpar o coro dos que enxergam as mazelas do mundo, porém não contribuem para gerar um quórum mínimo, que seja o suficiente para que se possa nutrir esperança por mudanças. Eis um trecho da sua revolta expressa na letra:

“Novo milênio/velhos desgostos/mitos falidos/livro relido/o tempo perdido/e todos unidos para chegar/no fundo do poço”

Eis o link para se escutar "O Junkie na Vala" (Cocaetileno Shuffle):

https://www.youtube.com/watch?v=QRWK-ey8XEc

“O Junkie na Vala” (La Cocaetileno Shuffle) é também bastante agressiva em sua formulação, a revelar tendências mais modernas do Heavy-Metal e que tais. Impressiona a precisão dos instrumentos em meio a uma série de convenções bem alinhavadas.

Nesta faixa, Brizio toca guitarra base também e com firmeza, ao lembrar vagamente o som do Black Sabbath, embora o solo virtuosístico tenha sido feito por Demian Tiguez.

Eis o Link para escutar "Meus Dias de Infância", no You Tube:

https://www.youtube.com/watch?v=RNjFNN9MXDk

“Meus Dias de Infância” é um Rock mais melódico com estilo setentista. O riff primordial é muito bom, a soar com uma certa insinuação do estilo Glitter-Rock setentista, como se fosse uma peça de um disco do saudoso, Lou Reed, ali direto dos anos setenta.

Em sua letra, a reflexão é interessante, quando propõe questionar se não devemos rever com um maior apuro certos comportamentos típicos da infância, mesmo no curso da vida adulta, permeada por uma obrigação desmesurada pela seriedade em demasia. Pois é, por que não? Eis um trecho interessante sobre tal questionamento que ele fez na letra:

“Será que eu cresci/ou será que me perdi/será que eu cresci/o que será que perdi e por que/por que?”

Eis o link de "O Homem Azul" para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=Qm-JW_kcRKo

“O Homem Azul” é uma canção que se inicia de uma forma bem amena, com introdução ao violão, a evocar as sonoridades do Folk-Rock sessenta-setentistas.

Mas que o leitor/ouvinte não se engane, pois a docilidade silvestre da canção não amenizou a verborragia incisiva da parte do Brizio, que mais uma vez destila a sua revolta ao sistema, com ternura, mas sem perder a contundência, jamais.

Ele faz afirmações tais como:

“Quero ver arte nas ruas/escolhas suas armas e vá brigar em paz/pra detonar toda a estrutura/e o castelo de cartas desmoronar”

A canção é bela, tem uma boa melodia, o solo de guitarra é excelente, os violões-base são ótimos e o arranjo geral é muito bem engendrado, inclusive a apresentar um final com um efeito bem interessante, ao deixar as cordas acústicas sobrarem além do “fade out” final, ou seja, é um fator que lhe garantiu um verniz todo especial.

Eis o link para escutar "Assim que te Querem" no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=CzgiJMl34ks

A sexta faixa, “Assim que te Querem” é um Rock vibrante, com certo sabor Hard que me fez recordar do som do bom grupo britânico, UFO, nos anos setenta, talvez pelo belo fraseado feito pela guitarra e baixo, com muito vigor e senso melódico.

E na performance vocal, o Brizio impressiona pela capacidade de comunicação direta com o ouvinte, algo raro e que nos anos oitenta teve em Cazuza e Catalau, dois cantores que souberam usar desse recurso, muito bem.

Eis o link para escutar "Cadê o Amor, Porra" no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=N3qZ7E_S_Go

Vem a sétima faixa e com ela, a volta do peso, agressividade e da modernidade expressa nas primeiras faixas. Em “Cadê o Amor, Porra?”, a sonoridade é bem metálica, com rapidez, peso e timbres modernos. O solo é muito técnico, ao gosto dos que apreciam tais vertentes e na letra, para fazer jus ao seu título, Brizio vai firme na sua crítica às mazelas da sociedade e do comportamento humano tão inebriado pelas distrações múltiplas do cotidiano.

Coloquial, mas bem duro no recado, ele afirma:

“Não aguento mais/discórdia ou paz/aprender pela dor/ou dar chance ao amor”

Eis o link para escutar a canção "Recomeçar", no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=ZLb0y_tOUH4

E o álbum chega ao seu final, com uma canção que possui um certo apelo Pop, porém sem fazer concessões ao sistema, pois prevalece a estrutura Rock na harmonia e melodia. Falo sobre "Recomeçar" a oitava faixa do álbum. 

Gostei bastante da base a usar com bastante felicidade o efeito da caixa Leslie. Em alguns momentos, a condução harmônica me fez recordar o som do Power-trio setentista: “West/Bruce and Lang”. Gostei muito do solo de Demian Tiguez, mais uma vez a executar com maestria o seu instrumento.

Interessantíssimo, ao final, envolto ao “looping” em tom de mantra, eis que surge uma locução com a voz do saudoso e profundo filósofo indiano, Jiddu Krishnamurti, que foi acrescida para abrilhantar a obra.

E ao finalizar, a guitarra desaparece, o baixo sobra e também vai embora a seguir, para finalmente a bateria permanecer sozinha por alguns compassos e sumir no alto falante do ouvinte. Em suma, tal predisposição de arranjo garantiu que o tema seja enviado diretamente ao subconsciente do ouvinte, portanto, foi uma ideia muito boa.   

Em síntese, este primeiro trabalho solo do extraordinário baixista, Fabrizio Micheloni, popular Brizio entre os seus amigos e admiradores, nos legou um apanhado de canções que transitam em perfeita harmonia entre a modernidade do som pesado e as boas influências do Rock, Folk e Blues do passado, com brilhantismo instrumental de sua parte mediante o seu poder de fogo que é imenso como um virtuose ao instrumento e também a revelar virtude na sua criação como compositor e letrista, boa comunicação como cantor que emite bem o recado e tem o que dizer, aliás, um predicado importante da parte de um artista que enxerga adiante e aponta caminho, a se revelar um guia.

O álbum está disponível para ser adquirido e ouvido em diversas plataformas de música e também em versão física para a aquisição.

CD Brizio/Fabrizio Micheloni

Gravação e mixagem: Estúdio Tiguez

Masterização: Estúdio Daga Music House

Técnico de som na captura e mixagem: Demian Tiguez

Técnico de som na masterização: Adriano Daga

Capa e encarte/criação: Fabrizio Micheloni e Andrea Solé

Capa e encarte/diagramação & lay-out: Marco Tonalezzi

Fotos: Andrea Solé, Washington Santos e Jordana Oliveira

Fabrizio Micheloni: Baixo, guitarra, violão e voz

Músicos convidados:

Demian Tiguez: Guitarra e voz

Fernando Minchillo: Bateria e voz

Para conhecer melhor o trabalho do artista, visite:

Brizio – Canal do YouTube:

https://www.youtube.com/channel/UCNAOoPrPhL6KEMPB0At2IKw

Facebook:

https://www.facebook.com/bassbrizio/

E contato direto pelo e-mail:

briziobass@gmail.com

sexta-feira, 14 de maio de 2021

CD Preso por Querer/Ronaldo Estevam - Por Luiz Domingues

Ronaldo Estevam é um artista dotado de um talento múltiplo, a se computar o fato de que ele se mostra super competente em inúmeras frentes. Mais do que isso, impressiona o fato dele ser prolífico artisticamente, pois não para de criar uma obra atrás da outra no campo da música, seja ao lançar discos da sua carreira solo, seja através de bandas em que foi ou ainda é componente (Modelo T, Picles, Rony Barba & Mary Lou e outros trabalhos).

Entretanto, como se isso tudo não bastasse, é fato que ele se mostra versátil como um multi-instrumentista e muitos dos seus discos são inteiramente gravados apenas por ele sozinho, a tocar todos os instrumentos, cantar solo e cobrir os backing vocals, compor todas as canções, escrever as letras, arranjar e produzir os seus discos, ou seja, ele demonstra conter talento por todos os poros.

Ronaldo mantém uma gravadora própria e cuida de todos os trâmites burocráticos a assumir a função de produtor fonográfico e também a providenciar a parte de arte e lay-out das capas dos seus discos.

Em paralelo à carreira musical, Ronaldo é ator formado, diretor de cinema e já lançou muitas peças audiovisuais muito significativas, tais como documentários, filmes curta-metragem, além de haver dirigido e atuado em uma infinidade de vídeoclips, como peças promocionais a favor das bandas em que atuou/atua e a promoverem a sua carreira solo, igualmente.

Ele também é escritor e já lançou três livros no mercado editorial (“Manual do Candidato a Pop Star”, “O Resgate da Alma” e “As Aventuras de Espigão e Pepino”), Sobre o primeiro livro citado, este já foi objeto de uma resenha da minha parte e que está disponível para a leitura através do meu Blog 1. Eis o link abaixo para que o leitor acesse:

http://luiz-domingues.blogspot.com/2014/02/manual-do-candidato-pop-star-de-ronaldo.html

No campo da música, a amplitude da sua criação é extensa. Ele tende a centrar a sua obra no Pop-Rock, normalmente, mas ao escutar a sua discografia como um todo, é perceptível como ele apresenta diversas influências em sua música. O Rock em diversas variantes, do Pop já citado ao som mais pesado do Rock’n’ Roll e a flertar com o Hard-Rock, da Psicodelia ao Rock Progressivo, das vertentes Indie-Rock mais modernas ao Soft-Rock que insinua o apelo pela Folk-Music, ou seja, não resta dúvida que o ecletismo de sua parte é bem grande em termos musicais. 

E ele vai além, ao abraçar a MPB oriunda de várias vertentes, da Bossa Nova tradicional ao romantismo popular de Roberto Carlos, e sim, ele também é um excelente violonista, ao ponto de ser professor e dono de escola especializada no ensino do referido instrumento (Violão & Cia, localizada em São Paulo).

Nesta resenha em específico, eu trato do seu álbum: “Preso por Querer”, recentemente lançado e a representar a sua produção solo.

Mais uma vez, Ronaldo cuidou de toda a linha de produção ao gravar todos os instrumentos e vozes, compor e arranjar as canções (há apenas um parceiro, Dudê, que assina conjuntamente a autoria da faixa: ” Homem Romântico”), em seu estúdio particular, que leva o nome da sua gravadora, Lambreta Records.

Em seu bojo, se trata de um conjunto de canções que trafegam pelo Pop-Rock mais eletrificado e igualmente a conter baladas mais emocionais, tudo com desenvoltura e assim, a audição me despertou a impressão que muitas delas poderiam tranquilamente fazerem parte de trilhas de novelas e a tocarem na programação das emissoras tradicionais de rádio, no espectro do dial FM, dado o seu apelo popular.

Criativo também para compor o lay-out das capas de seus discos, e leve-se em conta que a sua verve como ator e diretor de cinema lhe confere o apuro para caprichar na parte visual de suas obras, neste álbum em específico, Ronaldo aparece em pessoa na capa frontal estilizado como se estivesse a posar para uma foto de identificação criminal em uma delegacia norte-americana da cidade de Rochester-NY, a estabelecer conexão óbvia com o título do álbum (“Preso por Querer”) e certamente também a relembrar uma infinidade de astros que passaram por tal situação na vida real, tais como: Elvis Presley, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis, Jim Morrison e Frank Sinatra, entre muitos outros, portanto é também por isso, uma grande intenção criativa.

Destaca-se igualmente a produção da foto em si, ao ter sido envelhecida a sua configuração e realçado pela escolha de figurino e corte de cabelo, a provocar a ideia de ter sido tal foto capturada em décadas passadas, anos 1940 ou 1950, provavelmente e, portanto, a denotar o elo com um passado igualmente romantizado.

No encarte, se observa a parcimônia no texto, sem uma ficha técnica mais pormenorizada, mas eu sou músico também e por conhecer bem os meandros da produção independente, sei exatamente o quanto encarece a produção se houver um encarte mais recheado a conter as letras das músicas na íntegra, ficha técnica pormenoriza e muitas fotos. Portanto, o encarte funcional desse disco cumpre com galhardia a função e mesmo sem um texto mais robusto, há fotos, sim, inclusive com uma boa profusão no encarte, contracapa e até no espelho que sustenta o CD na caixinha de acrílico.

Então, ante o título proposto para o disco, vem a pergunta que não quer calar: “Preso por Querer”, como assim?

Sim, o título do disco traz a sutileza proposta pelo artista, no sentido de expressar a sua determinação para defender as suas convicções de uma forma abrangente, a determinar o seu modo de vida e certamente com ênfase no quesito dos relacionamentos românticos.

Sobre o teor do álbum, eu tenho mais algumas observações a serem feitas.

Ouça abaixo a música “Preso por Querer”:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=67u3XrcOpA0

A primeira faixa do álbum, homônima, aparenta ser bastante influenciada em termos de melodia e sobretudo na temática da letra, pela "Jovem Guarda" sessentista, mas contém um arranjo bem mais pesado do que imaginar-se-ia ser possível naquela época remota da década de sessenta, logicamente e assim, se mostra como um Rock vibrante, com o devido peso a garantir o toque de contemporaneidade com o momento presente de 2021.

Há a presença de detalhes muito interessantes, como um interlúdio feito em duo por guitarras, que é curto em suas intervenções bem pontuais, mas se tornou marcante pela sua feliz resolução melódica.

No mais, a linha de bateria e baixo montou um autêntico trem que passa firme e segura a música nos trilhos com muita contundência.

Ouça abaixo a canção “A Certeza dos 16”:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=GkAInsJ19_s

Em “A Certeza dos 16”, Ronaldo fala da perspectiva de alguém que passa por tal idade, normalmente regida pela tomada de consciência de como funciona o mundo externo fora do seu quarto e a chegada da vida adulta que assusta em muitos aspectos, mas também traz uma energia incrível de quem está a se tornar adulto e deseja se tornar o comandante do seu próprio destino.

Sobre o som em si, a opção é por um Rock mais moderado, no entanto com forte apelo Pop. Destaque mais uma vez para a boa interpretação vocal e também para o solo de guitarra com senso melódico e bom timbre, bem encorpado.

Ouça abaixo a faixa: “Homem Romântico”:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=-WmGbJkQGTA

“Homem Romântico” também lembra o eco sessentista da Jovem Guarda, mas a roupagem detém apelo mais recente (mas nem tanto), ao lembrar o Pop-Rock dos anos oitenta. Destaque para um solo super melódico ao sintetizador e que conduz a música ao seu final em efeito “looping”.

Ouça abaixo a música: Relembrar”:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=G43r8v-YDPk

“Relembrar” é uma música que contém uma levada de baixo e bateria muito boa. Gostei do peso do baixo, inclusive, que torna inevitável a tendência do ouvinte em desejar dançar. Se mostra muito boa a intervenção do teclado a elaborar uma linha de apoio base intermitente e isso realçou bastante a harmonia da canção. Há uma intervenção de sintetizador bastante exótica ao se pensar em música Pop em geral, mas como é sabido que o Rock Progressivo setentista faz parte das influências musicais do artista, fez sentido tal inclusão e veio muito a calhar para tornar o arranjo muito criativo.

Ouça abaixo a canção “Lira de Orpheu”:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=A1sQoT_qSlA

“Lira de Orpheu” é uma balada lenta, com uma melodia muito boa. O violão segura a intenção harmônica e rítmica da canção e os demais instrumentos vão atrás na condução com a devida parcimônia.

Ouça abaixo a canção: Tóxicos”.

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=Jt90n0cyf-8

“Tóxicos” fala sobre as relações difíceis, um assunto que nem todo mundo gosta de abordar quando se fala de amor, portanto, gostei da coragem para trazer à tona esse viés que gera desconforto, mas precisa ser colocado na mesa de discussões, sem dúvida.

Sobre a parte musical, a opção é pelo Pop-Rock e desta vez remete mais ao som oitentista a grosso modo. É muito bom o solo de guitarra, com bastante senso melódico.

Ouça abaixo a canção: ´Fantástico Mágico”

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=nevhRay0nSA

A próxima faixa, “Fantástico Mágico” é uma balada mais amena, conduzida ao piano e a apresentar os demais instrumentos a surgirem a posteriori e assim a se imprimir ao arranjo, uma densidade muito grande.

Ronaldo trabalha com a dinâmica, ao intercalar momentos amenos com outros mais intensos e assim, a canção se mostra rica na transição entre as partes A, B e o refrão. Gostei muita da adição do órgão Hammond e do curto, porém bonito solo de guitarra. E a letra busca a reflexão mais introspectiva do homem em busca do sentido da vida.

Ouça abaixo a música: “Trágico Moderno”:

Eis o Link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=jrBrWieYflY

“Trágico Moderno” apresenta um som Pop a tender para o R’n’B com bom gosto, e tal peça tocaria tranquilamente em emissoras de rádio FM. Gostei da levada e arranjo geral, com o teclado discreto, baixo e bateria a buscar o balanço, guitarra base bem agradável e coadunada com o estilo. Além de mais um curto solo de guitarra, com timbre "limpo".

Escute abaixo a música: A Estrada Ia Te Trazer”:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=7gM4riSbxhc

“A Estrada Ia Te Trazer”, vem a seguir e neste caso, eu gostei do trabalho dos violões. Bateria e baixo discretos, só adornam a condução que realça o trabalho dos violões.

Há uma intensidade um pouco maior a seguir. A melodia do refrão é muito bem desenhada e o arranjo elaborado para a sobreposição com mais vozes, ficou excelente.

Ouça abaixo a música: “Sonho 9”:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=HoCIpLGGI1g

“Sonho 9” é a décima faixa e tem um certo sabor Folk em sua formulação harmônica e melódica. É agradável a melodia de uma forma geral, mas aí vem uma inesperada metamorfose, com a canção a acelerar e adotar doravante uma roupagem praticamente sob a égide do Hard-Rock, inclusive com uma guitarra base pesada a ditar o ritmo, portanto, a se tratar de uma solução inusitada e certamente criativa da parte do autor.

Isso sem contar que neste caso, a temática da letra mudou o tom e buscou uma reflexão mais introspectiva a respeito da vida, a destoar do tom romântico das canções anteriores.

Eis abaixo a música: “Repressão do Medo”:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=oqSH0445Oas

“Repressão do Medo” é um Rock vigoroso, quase no limite do Hard-Rock oitentista e o riff primordial de guitarra é muito bom. Chama a atenção igualmente que Ronaldo se adapta bem em qualquer situação no campo vocal e assim, para cantar um Rock mais incisivo, ele rasga a garganta como um vocalista de Hard-Rock, sem nenhuma cerimônia e claro, o faz bem.

Ouça abaixo a canção: “You”

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=ESO7-PLqDLc

“You” é cantada em inglês, como sugere o seu título e se trata de uma bela balada com sentido bluesy, a conter harmonia e melodia dotada de muito sentimento. Lembra, de certa forma, o trabalho do grupo oitentista Pop/R'n'B, "Simply Red".

Ouça abaixo a música: “Vai Acontecer”:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=6MxAUs3P-4s

“Vai Acontecer” é um Pop-Rock ameno em seu início chama a atenção pelo seu bom balanço. Lembrou-me, mesmo que não tenha sido uma intenção do artista, o som noventista de bandas egressas do movimento de "Grunge" de Seattle.

Ouça abaixo o tema: “Sempre”:

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=976ftP2OONk

Como bônus, o disco nos brinda com mais duas peças. A primeira delas é: “Sempre”, mais uma balada bem construída.

Gostei muito da base de guitarra toda arpejada com trêmulo e a intervenção de teclados e que em certos trechos evocou o som do Rock Progressivo do grupo britânico, “Genesis” pela delicadeza dessa junção harmônica e ao mesmo tempo, o som do grupo, “Marmalade”, super Pop sessentista pela indução do trêmulo bem exagerado na guitarra. E na parte mais pesada, sobressai a influência de artistas mais contemporâneos dos anos noventa para cá.

Ouça abaixo a faixa "Baixel":

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=tb5aeZYq5xI

“Baixel” é o último bônus a encerrar a obra. Se trata de mais uma balada mais tranquila. Gostei da mudança da parte “A” para “B”, a garantir um colorido todo especial para a música. Um bonito e bem singelo micro solo ao piano elétrico, provou que Ronaldo tem essa economia estratégica em termos de solos, não apenas para esta composição, mas em todo o disco, como um trunfo que chama a atenção, ao contrastar com uma fase em que vivemos a tropeçar em artistas obcecados pelo virtuosismo instrumental e ele aponta para o caminho inverso, sabiamente ao propor a música em primeiro lugar.

Para encerrar, eu preciso dizer que o álbum apresenta um conjunto de canções bem compostas e arranjadas, em que o fator Pop predomina na parte musical, no entanto a trazer algumas influências extras e no âmbito das letras, tende para a abordagem romântica no sentido de expressar a temática da relação homem/mulher, porém, com algumas temáticas diferentes e colocadas pontualmente.

Trata-se de uma boa produção de áudio e apresentação visual no tocante à capa/encarte, a se observar criatividade e bom gosto.

O mérito do artista em produzir, criar, arranjar e executar tudo, absolutamente sozinho, é enorme e tal prerrogativa soma muito para elevar o conceito da obra.

CD Preso por Querer - Ronaldo Estevam

Gravado no Studio Lambreta Records entre junho de 2020 e janeiro de 2021

Ronaldo Estevam: Todos os instrumentos e vozes

Produção geral: Ronaldo Estevam

Gravadora: Lambreta Records

Distribuição: Tratore

Lançamento: 2021

Para conhecer melhor o trabalho do artista, em meio à sua enorme discografia, mediante bandas autorais e carreira solo, livros lançados e atividade audiovisual, acesse o site:

https://www.ronaldoestevam.com.br

Gravadora Lambreta Records - YouTube:

https://www.youtube.com/channel/UCRzQ7D4P6isphjdauTT9xPg

Escola Violão & Cia. Sob direção de Ronaldo Estevam:

https://ronaldoestevam8.wixsite.com/violao-e-cia