quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Só Bom Senso não Basta - Por Luiz Domingues



Meses atrás, o Brasil assistiu uma enxurrada de manifestações populares, ao clamar por mudanças estruturais. A pauta nem sempre foi clara e muita manipulação foi perpetrada por oportunistas de plantão, mas no seu âmago, o clamor parecia ter uma única raiz : desejo por mudanças...

Um dos mais monolíticos setores da sociedade, é o de organizações que regem os esportes, e notadamente o futebol. As federações estaduais e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), são entidades que trabalham sob uma linha conservadora, muito parecida com a condução que o Vaticano exerce ao conduzir o catolicismo.

A palavra, "mudança", causa calafrios nos sisudos e conservadores senhores que organizam o futebol profissional no Brasil, aliás, um microcosmo do que acontece no planeta, através da condução maior da Fifa, o órgão máximo que comanda o futebol, mundialmente, a falar. Eis que no espírito das manifestações ocorridas na metade de 2013, finalmente a classe dos jogadores de futebol resolveu unir-se e reivindicar dessa forma, mudanças muito importantes na regulamentação da sua profissão.

Chamado como movimento, "Bom Senso", tem em seu manifesto inicial, uma pauta com reivindicações que faz jus ao nome escolhido para a sua agremiação. O primeiro ponto, é o excesso de jogos. Ora, mesmo ao gostar de futebol e assim desejar acompanhar vários torneios ao ano, mesmo o mais radical dos torcedores há de convir que estamos a viver um calendário absurdo, onde o excesso está por gerar a possibilidade de muitos jogadores chegar à exaustão e daí a contundir-se com maior facilidade. Outro ponto, é sobre o horário dos jogos. Não é admissível jogar em certas regiões do país onde o calor é abrasador, em horários de sol a pique.

E de outro lado, não é mais possível que uma rede de TV tenha o monopólio total das transmissões ao vivo e nos jogos das quartas, determine que as partidas comecem no insalubre horário das 22:00 horas, com o seu término a ultrapassar a meia-noite e tudo por conta de tal emissora não abrir mão em exibir o capítulo da novela das "oito", que há anos, começa às "nove"...

O fato da arbitragem ser amadora e determinante no resultado dos jogos, é outro ponto a ser mudado urgentemente. Como podem os senhores árbitros e assistentes, errar tanto e simplesmente sentir-se isentos de seus erros, pelo simples fato da atividade ser considerada como um "hobby" ? É muita irresponsabilidade contar com uma uma arbitragem amadora a influir diretamente em uma engrenagem que gera milhões, quiçá bilhões de reais.

Aquele gol injustamente anulado, pode determinar o rebaixamento de um grande clube e o senhor árbitro, que no dia seguinte ao jogo, vai trabalhar como bancário ou dentista, não faz ideia de quantas famílias vão passar por sérios apuros, com o clube a absorver um prejuízo financeiro retumbante, por uma eventual queda de divisão. Outra fator, se olharmos os salários astronômicos dos grandes jogadores, parece até que não existem profissionais à míngua nessa atividade.

Imagine outra realidade, muito aquém do que jogadores como Neymar; Ronaldinho Gaúcho e os seus poucos pares. Qual é o salário de um jogador de um time do interior do Maranhão, que atua na segunda divisão daquele estado ? Nesses termos, a realidade no futebol é muitíssimo diferente do glamour observado na elite da categoria, porém, no imaginário popular, fica a impressão de que todos nadam em dinheiro e apenas desejam jogar menos, por que seriam preguiçosos...

As condições de trabalho, também estão na pauta do dia. Ainda a falar sobre o excesso de jogos, a total impossibilidade para realizar-se uma pré-temporada antes dos campeonatos oficiais iniciar-se, é uma prática abominável. Pois no período da pré-temporada, feita sob um prazo adequado, que os atletas preparam-se fisicamente para encarar os campeonatos e sem essa preparação adequada, a possibilidade de sofrer lesões é enorme. Portanto, não é uma "frescura", como certos dirigentes arcaicos andam a afirmar por aí.
E o direito a greve ? Por quê o jogador de futebol tem que tolerar os desmandos dos clubes mal organizados e que atrasam os seus salários ? Enfim, são muitas as reivindicações e em sua maioria, muito justas. Mudanças são importantes na estrutura do futebol e entre tantas, a mais importante é : o jogador tem o direito em ter a sua opinião ouvida, e por décadas, o principal artista desse espetáculo, esteve amordaçado, sem direito para expressar-se.


Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2013
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário