terça-feira, 7 de maio de 2013

As Curvas da Estrada de Santos - Por Luiz Domingues



Os portugueses finalmente interessaram-se em começar a colonizar aquela terra inóspita, onde em 1500, Portugal havia apenas simbolicamente tomado posse, a partir de 1532, quando Martin Afonso de Souza veio com uma comitiva e fundou a cidade de São Vicente, no litoral paulista. Todavia, os índios daquela região, já há muito tempo, construiram uma trilha aberta na Serra do Mar, que dava acesso ao planalto paulista, onde hoje fica a capital de São Paulo e as cidades do ABC paulista.
Foi através dessa trilha aberta pelos índios, que dois padres jesuítas (José de Anchieta e Manoel da Nóbrega), subiram, anos depois e em 1554, fundaram enfim, a cidade de São Paulo. Tal trilha continuou a ser usada por muitas décadas e conforme o seu movimento aumentou consideravelmente, motivou a coroa portuguesa a oficializá-la como uma estrada propriamente dita.
Dessa forma, por ordem do Governo da Capitania de São Vicente, em 1661, surgiu a Estrada do Mar. Em 1789, houve uma melhoria na pavimentação, com a introdução de lajes de granito, no trecho conhecido como : "Calçada do Lorena".
Em uma viagem de Santos à São Paulo, em 1822, o Imperador Pedro I, culminou em prover um evento com relevância histórica, pois em sua chegada à São Paulo, decretou a independência do Brasil, às margens do córrego Ipiranga, no que viria a tornar-se o simpático bairro paulistano com o mesmo nome.  

Uma grande reforma foi promovida na primeira metade do século XIX, para mudar o nome da estrada para : "Estrada da Maioridade", sob uma alusão ao fato do segundo Imperador, Pedro II, estar a viver o processo em emancipar-se para assumir o poder.
Em 1862, a via passou por nova reforma e assumiu outro nome, desta feita, "Estrada do Vergueiro".  No início do século XX, um novo processo de modernização se fez necessário, com a necessidade em adequar a estrada aos tempos modernos, na crescente aparição de automóveis e logo a seguir, dos caminhões. E voltou a ser chamada como : "Estrada do Mar"...
Foi o ano de 1913, e a "Estrada do Mar" tornou-se a primeira estrada asfaltada da América Latina.  Já em 1922, por ocasião do centenário da Independência do Brasil, a estrada já não suportava o tráfego, tamanho o movimento.
Mas só em 1947, surgiu a primeira pista de uma estrada paralela, com o objetivo de apoiar a velha "Estrada do Mar". Surgira então a "Via Anchieta", moderníssima para os padrões da época, com os seus grandes túneis.
Finalmente concluída em 1953, a "Via Anchieta" passou a receber o tráfego mais pesado, para desafogar bastante a velha, "Estrada do Mar".
Nesse momento, a velha estrada passou a ganhar um charme extra, como uma estrada mais turística do que utilitária.
Mesmo ao entrar em acentuada decadência, devido ao relaxo governamental, a "Estrada do Mar" continuou a existir e motivou Roberto Carlos a compor um de seus maiores sucessos na década de 1960 : em "As Curvas da Estrada de Santos", ele usou a metáfora da estrada para falar da solidão amorosa e encantou os seus fãs.

Em 1974, o governo estadual inaugurou o primeiro trecho de uma nova via, a "Rodovia dos Imigrantes", onde a seguir o padrão anterior, visou desafogar a saturada, "Via Anchieta", com a chegada de mais uma estrada, tremendamente mais moderna e segura.
Todavia, o término dessa obra arrastou-se de uma maneira inacreditável e assim, somente nos anos 2000, a estrada ficou 100% pronta. Em 2004, o governo estadual paulista decretou então a velha, "Estrada do Mar", como um polo ecoturístico.
Proibida em ser usada por automóveis, a centenária trilha tornou-se um espaço destinado às bicicletas; práticas esportivas e caminhadas, tão somente.
A despeito de estar descuidada como estrada oficial, a paisagem deslumbrante da Serra do Mar, recheada com mirantes; monumentos históricos e a natureza, pareceu ser o cenário ideal para essa preservação ecoturística.
No entanto, o tempo pôs-se a passar e o governo na contrapartida, a relaxar em sua manutenção, ao inibir em muito o seu uso por esportistas e turistas em geral.
Neste momento (2013), o governo está envolto em um imbróglio burocrático para decidir o que fazer dela.
Boatos na imprensa mainstream, dão conta de que o governo deverá subordiná-la à Fundação Florestal, um órgão dentro da Secretaria Estadual de Meio Ambiente. Seja lá qual for o órgão que irá responsabilizar-se doravante, fica o meu voto de que faça o máximo para preservar a mais antiga estrada do país, onde muitos eventos históricos ocorreram.  Enquanto torço, faço um exercício de imaginação :
Entro dentro de um Karman-Ghia conversível e a dirigir na sinuosa "Estrada do Mar". Vou a assoviar a velha canção do Roberto e ao apreciar a paisagem, em meio a uma aprazível tarde de sábado...
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2013

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