sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Massao Ohno, o Grande Editor - Por Luiz Domingues

Muito fala-se que o sucesso de um grande artista não depende somente do seu talento pessoal, e isso é verdade. No campo da música, muitas vezes nada daria certo, se não houvesse aparecido um empresário carismático, como o "Colonel" Tom Parker (Elvis Presley); Brian Epstein (The Beatles), ou Peter Grant (Led Zeppelin). No cinema, os exemplos sobre diretores; produtores; roteiristas, e atores que foram primordiais uns em relação às carreiras dos outros, preenchem um compêndio. Tal fenômeno estende-se igualmente no campo das Artes Plásticas (teríamos a genialidade de Van Gogh, sem o suporte do seu abnegado irmão, Theo ?); no teatro; na dança...

E na literatura, não haveria de ser diferente, com o escritor genial, a correr o risco em ter seus trabalhos engavetados, e condenados ao mofo do esquecimento, se não houvesse editores apaixonados pelos livros. Essa foi portanto, a sorte de muitos escritores brasileiros, que encontraram em suas respectivas carreiras, um editor paulistano chamado : Massao Ohno. Filho de imigrantes japoneses, Massao Ohno nasceu em São Paulo, no ano de 1936.

Formou-se como dentista, mas a sua paixão revelara-se clara pelos livros, e sendo assim, eis que ele abriu uma pequena gráfica em sua residência localizada na rua Vergueiro, bem no ponto onde hoje em dia fica o Centro Cultural São Paulo. Indo além da parte gráfica tradicional, Ohno tornou-se um inovador no campo das artes gráficas, e ao longo de décadas, produziu capas e formatos muito criativos para as obras que editava, ao dar-lhes um verniz visual, além do conteúdo das letras. No início, Massao usou a sua gráfica para produzir apostilas estudantis, principalmente para cursos pré-vestibulares. Mas logo tal atividade para gerar apenas o seu fomento, cederia espaço para lançamentos literários ousados.

Como editor independente, Massao Ohno fundou uma editora homônima, e lançou dessa forma, ao longo de cinco décadas, inúmeros autores que dificilmente teriam oportunidade em editoras tradicionais. Claro, depois que alguns desses escritores haveriam por tornar-se autores cultuados, certamente que seriam convidados a ingressar em editoras com um maior porte, todavia, em um momento inicial, isso seria quase impossível, exatamente como acontece, no mundo fonográfico, em relação aos artistas musicais desconhecidos. Graças à Massao Ohno, a cena formada por jovens autores do movimento Beat paulista, pode ser lançada.



Escritores do calibre de Claudio Willer; Roberto Piva; Álvaro Alves de Faria; Carlos Felipe Moisés; Eunice Arruda, entre outros, foram lançados na "Antologia dos Novíssimos", em 1961, ao abrir o caminho para todos eles.

Foi o caso da polêmica Hilda Hist, igualmente. Ohno editou diversos trabalhos da escritora, inclusive da sua fase dita "erótica", onde ele foi duramente criticada, e de certa forma execrada por outros editores conservadores. 

Eclético, Ohno não radicalizou a sua carreira em torno de sua condição independente, apenas. Ele colaborou com coproduções, muitas vezes, a trabalhar com outros editores, além de trabalhar em uma editora de porte maior, como a Editora Civilização Brasileira, onde sob uma parceria salutar, aproveitou a oportunidade para distribuir melhor os seus lançamentos provenientes de sua pequena editora.

Segundo José Mindlin, um dos maiores experts em livros do Brasil, Massao Ohno foi um brilhante artista gráfico, e que produziu muitos livros a criar inovadoras capas, através do uso de papel, e cortes na "faca"(para quem entende o jargão das artes gráficas, sabe o que significa). Por falar nisso, Ohno usou muitas vezes obras de grandes artistas plásticos para ornar capas. Artistas como Wesley Duke Lee; Arcângelo Ianelli; Manubu Mabi, e Aldemir Martins, entre outros, tiveram as suas obras divulgadas, além de ilustradores e cartunistas como Jaguar e Millôr Fernandes.

Ohno embrenhou-se também no mundo do cinema e produziu dois longas-metragem muito significativos nos anos 1960 : "Viagem ao Fim do Mundo", de Fernando Coni Campos, de 1967; e "O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, de 1968. Nada mau, portanto...

Como descendente nipônico, lançou um dicionário Português-Japonês, que tornou-se referência, em parceria com a Aliança Cultural Brasil / Japão. Além do dicionário, lançou também uma série de livros didáticos nesse intercâmbio educacional, nipo-brasileiro. Massao Ohno faleceu na cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo, em 2010. Faz muito falta um editor desse quilate, sobretudo pela coragem para bancar artistas novos, e muito talentosos da literatura, e com o requinte para proporcionar-lhes uma identidade visual criativa, e muito caprichada.

Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2013

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