terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O Mercantilismo Natalino - Por Luiz Domingues

Não trata-se de um texto mal-humorado, para destruir o sonho das crianças, mas a cada ocorrência dessa data natalina, a reflexão é inevitável: o caráter mercantilista da festividade, em contraponto diametral ao que deveria ser a evocação da data, ou seja, a mensagem crística sobre a fraternidade entre os membros da humanidade, o amor impessoal e incondicional e a compaixão. 

Em suma, a absoluta consciência de que pensar exclusivamente sobre os bens de consumo e o acúmulo de riqueza, não pode ser considerado como a meta primordial da vida, mas em tempos obscuros onde toda a concepção que opõe-se ao pensamento ultra capitalista, é logo tachado como uma tentativa para impor valores oriundos da mentalidade marxista e execrado de pronto, em prol do mercantilismo selvagem. Repartir é uma palavra feia nos dias atuais, e na contrapartida, estimular o ultra consumo e o materialismo exacerbado que o advém, é considerado como um pensamento avançado, compatível a um modelo político e sociológico que supostamente comprova-se como mais acertado, e por conseguinte, o empreendedorismo do livre mercado, eleito como o difusor do avanço da civilização. Entretanto, é óbvio que toda a beleza desse pensamento, em que somos levados a crer que o mercado rege o mundo e o dinheiro é a energia que deve circular livremente, cai por terra na página dois do manual do pensamento conservador & liberal em prol do capitalismo, pois esbarra rapidamente no egoísmo humano, mediante a sua inerente sede por poder e a trazer a reboque, a vaidade, orgulho, prepotência, arrogância e claro, a inveja, pois a medida de cada pessoa passa a ser: "o quanto o vizinho possuir, eu vou querer ter mais, para suplantá-lo". 
Antes que o leitor que tenda a antipatizar com a minha linha de pensamento, por julgar-me precocemente como um pensador versado pela orientação "socialista", deixo claro que não acredito na utopia marxista, pois acho um horror o comunismo monocrático e mesmo os seus derivados mais brandos, no sentido de que a experiência soviética que espalhou-se por outras tantas nações ao redor do mundo, revelou-se em um retumbante fracasso, pelo autoritarismo. 

E não estou a ser contraditório, pois se no início afirmei que a mensagem de Jesus Cristo (e que coaduna-se com outros avatares, tais como Budha e Krishna, somente para citar os mais famosos, igualmente), versa pelo ideal do amor fraternal, mas o comunismo que encantou idealistas em prol de um mundo mais justo para todas as pessoas, na realidade passou ao largo das revelações espiritualistas, pois falhou miseravelmente e pelos mesmo motivos pelos quais o capitalismo selvagem também falha, ou seja, a suposta igualdade humanitária, esbarra no completo egoísmo. Na teoria, tudo é para todos, mas na prática, aos "normais", fica designada a fila para apanhar o pãozinho bolorento, o salário ínfimo e confiscado, o toque de recolher toda noite... e para a cúpula do partido, as delícias das farras regadas a muitas bebidas e luxos secretos, ao melhor estilo da "decadência ocidental".

Entretanto, a mensagem de Cristo, que é a mesma dos avatares citados e embasada por filósofos, artistas, intelectuais e idealistas ao longo da história, revela-se na verdade acima da dualidade direita & esquerda. 

Sim, a República de Platão, o renascimento e o iluminismo, o sonho menosprezado da Utopia de Thomas Morus, a fuga libertária dos Beatnicks pelas estradas da América do Norte (sem pontuação e regras ortográficas no sentido literal e metafórico), o delírio psicodélico dos Hippies e a sua ingenuidade em sonhar com um mundo fraternal, sem mesquinharias, sem imposição da força pelo poderio das armas e por não acreditar que a força criadora do universo concebeu algumas poucas criaturas melhores em relação a outras, talvez personifique mais adequadamente o que realmente deveria ser refletido em uma festa dessa natureza, a homenagear a aparição de um avatar. 

Em suma, dar um presente para alguém que você nutra um alto grau de consideração pessoal, ou reunir a família em torno de uma mesa de refeição, não pode ser menosprezado como algo que seja "errado", mas todo o mercantilismo em torno desses costumes, é uma afronta ao princípio que rege a verdadeira raiz do pensamento crístico, isto é, a extirpação total do egoísmo e consequente estabelecimento de um mundo mais humanitário, regido por valores mais espiritualizados.
 

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