sábado, 1 de junho de 2019

Compacto Simples "Ciclorama" / Vento Motivo - Por Luiz Domingues


O Vento Motivo é um dos mais perseverantes grupos de Rock do Brasil, ao lançar novidades sistematicamente, e mais que provar ser obstinado, mostra-se na verdade criativo e compromissado com a qualidade, pois não lança discos por lançar, mas sobretudo, por ter o que dizer, artisticamente a expressar. 

Desta feita, tal material que já faz parte do novo CD (que chama-se: “Obras Cruéis), proporciona aos seus fãs um compacto duplo como opção em anexo, a conter uma canção inédita, chamada: “Ciclorama”, acompanhada de uma versão de “A Serpente e a Estrela”, clássico da Country Music norte-americana (de autoria de Terry Staford e Paul Fraser, originariamente intitulada, “Amarillo by Morning”), que foi adaptada ao português pelo letrista, Aldir Blanc e imortalizou-se na interpretação do nosso grande menestrel Folk, Zé Ramalho.

Em Ciclorama, a canção de Fernando Ceah mostra uma forte carga em prol do Pop Rock (como aliás é uma marca registrada do trabalho da banda), mas não canso-me em explicar, a despeito do termo “Pop Rock” ter sido conspurcado ao longo do tempo (ao ponto de ter adquirido uma carga deveras pejorativa, a designar música de baixa qualidade, produzida em escala industrial para ser usada e descartada rapidamente), no caso do Vento Motivo, a velha conotação do termo, realça-se, pois qualidade musical e poesia, são pilares típicos de tudo o que essa banda produz. 

Ouça abaixo as duas canções do compacto, enquanto continua a ler a resenha. Eis o link para escutar diretamente no You Tube:

https://www.youtube.com/watch?v=qqSGhbpEIGI  

Trata-se de uma canção vibrante, com um arranjo muito bem concatenado, com direito a uma linha de baixo e bateria muito criativa, bases harmônicas de guitarra e sobretudo em relação à melodia, é tudo muito bem caprichado. 

Muito destacado também é o trabalho de uma segunda guitarra a produzir belos desenhos no sentido de contra-solos pontuais e que garantiu um colorido especial à canção. Portanto, a peça tem o poder Pop da empatia automática a ser provocada para o ouvinte em geral e sobretudo, faz uso de poesia, algo muito raro no panorama da música brasileira em geral nos dias atuais, onde apelações chulas podem até agradar a patuleia manipulada, mas eu tenho certeza de que uma parcela significativa da população anseia por uma retomada da poesia e se há um artista no âmbito do Pop Rock brasileiro, que cumpre tal tarefa com muito brilho, este é Fernando Ceah, como compositor, letrista e poeta, na acepção da palavra.

Fernando Ceah profere alguns conceitos interessantes em seu canto, tais como: “todas as cores perdem o brilho / diante do nosso intenso contraste / em nossa casa de tons pastéis / somos artistas de obras cruéis / eu quero colorir a vida lá fora, a foto em preto e branco que tiramos agora / eu quero as cores vivas do mundo que eu quis para mim”.

Ou seja, ao pensarmos que o “ciclorama“ trata-se de uma grande tela clara, quem coloca-se a desenhar e colorir o que desejar, somos nós mesmos, visto que a vida de cada um de nós, é um ciclorama pessoal e intransferível. Portanto, eis aí um recado direto aos que esperam sentados por toda a vida, por algum “milagre” externo a esmo, mas que na verdade, não percebem que a criação da trajetória é livre e o fruto a ser colhido, uma atribuição pessoal de cada um.

Sobre a versão de “A Serpente e a Estrela”, a opção do Vento Motivo pelo Rock é óbvia, mas sente-se uma boa influência da Country-Music norte-americana, a reaproximar a canção da sua versão original, no entanto, é claro que o Rock predomina na versão do Vento Motivo. 

A linha de baixo e bateria é muito criativa e no caso do baixo, impressionou-me alguns fraseados muito swingados, certamente inspirados no R’n'B/Soul Music e que coloriu demais a canção, isso sem contar certos "glissandos" estratégicos e muito oportunos, portanto, destaque para Ivan Soldi e Binho “Batera”. 

Gostei da ardência da guitarra base e também dos contra-solos e a interpretação vocal do Fernando Ceah, mostra-se muito boa, pois não basta ser um grande poeta e compositor inspirado, mas Ceah toca e canta bem, isso é um fato.

Sobre o áudio, este mostra-se muito agradável, com bastante brilho e pressão sonora, e sobretudo por realçar ótimos timbres de todos os instrumentos, a observar um caráter vintage, muito interessante, muito embora não seja essa uma bandeira proposital levantada pela banda em sua determinação artística, mas ao fazer uso desse tipo de sonoridade clássica, torna-a ainda mais atrativa ao meu ver. Em relação à capa, a ilustração oficial do CD “Obras Cruéis”, que já foi lançado, inclusive, mostra um botão de rosa incandescente, uma imagem forte. Para compor este compacto, uma imagem alternativa é utilizada, a manter o mesmo fundo e desta feita a mostrar o vulto de uma mulher sobre a ação de uma contra-luz.
Esta é uma terceira resenha que escrevo sobre um trabalho do Vento Motivo (anteriormente eu já pude comentar as minhas impressões sobre o CD “O Voo do Marimbondo” e o EP “Sol Entre Nuvens"), portanto, a minha confiança nesse grupo é total, para recomendá-lo, sempre aos meus leitores.

Gravado e mixado no estúdio Curumim de São Paulo.
Técnico de captura: Fernando Ceah
Técnico de mixagem: Guilherme Canaes
Capa (Criação e Lay Out): Caio Bars
Produção Geral: Fernando Ceah

Vento Motivo:
Fernando Ceah: Guitarra e Voz
Binho “Batera”: Bateria
Ivan Soldi: Baixo

Para conhecer melhor o trabalho do Vento Motivo, acesse o seu site oficial: 

https://www.ventomotivo.com.br/ 

Canal da Banda no You Tube: 

https://www.youtube.com/channel/UCVXCakCDc8gFU7wDtHmcQDQ 

Página do Vento Motivo no Facebook: 

https://www.facebook.com/profile.php?id=100007592445099 

E a banda disponibiliza os seus fonogramas em todas as plataformas digitais atuais.

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