Banda preocupada em resgatar os valores do Hard-Rock clássico dos anos setenta e oitenta, mas aberta a abraçar aspectos modernos do estilo outras vertentes do Rock, igualmente, "A Quadrilha" tem outros valores agregados além desses citados para fazer dela uma banda consistente sob o ponto de vista musical e ao mesmo tempo, eclética.
Por exemplo, a determinação explícita de se colocar como uma banda que valoriza e se orgulha da sua origem, eu interpreto como uma grande virtude agregada. E tal postura vai além da autoestima, pois a realidade da periferia ao se falar sobre o que acontece nos extremos da zona leste de São Paulo, representa um poderoso caldo cultural que a banda expressa nas suas letras, mediante conteúdo contundente.
Outro mérito d'A Quadrilha é certamente a sua qualidade musical, que é devidamente assegurada através de seus componentes, todos ótimos músicos.
O fato de uma banda ter bons instrumentistas e cantores, não significa que automaticamente haja um poder de criação criativo, pois não basta tocar bem e estudar teoria musical com dedicação para garantir composições inspiradas, no entanto, eis aí mais um mérito d'A Quadrilha, pois as composições são muito boas na sua concepção, ou seja, os rapazes também são bons compositores, letristas e arranjadores.
E mais um dado importante, a banda se preocupa com o seu produto, pois caprichou bastante na concepção do áudio, ao gravar o seu disco em um estúdio de alto padrão, sob a supervisão de um grande amigo meu que especializou-se para ser produtor e além do mais, cercou-se de técnicos do maior gabarito, portanto, toda a engenharia de áudio foi meticulosa para fazer do CD "Confusão", um álbum muito bem gravado, mixado e masterizado.
Finalmente a se destacar, o aparato visual também recebeu bastante atenção da parte da banda. Sob uma ilustração muito criativa, a carregar inclusive, uma forte dose de alusões na sua concepção geral, trata-se de uma arte de capa a conter beleza estética enquanto traços de desenho, bom gosto no escolha das cores pelo ponto de vista da pintura e como eu já mencionei, forte ao trazer a metáfora urbana e perfeitamente condizente com a proposta artística da banda.
Há um bom encarte incluso sob versão digipack, a conter as letras das canções, além da ficha técnica generosa, porém, sem fotos da banda, nem que fosse uma promocional ao menos, o que teria sido bom na minha visão, mas por outro lado, creio que foi uma opção deliberada dos artistas, a demarcar um conceito.
Sobre as músicas, vale a pena me alongar um pouco mais.
"Ansiedade" abre o álbum. Ouça abaixo enquanto lê esta resenha:
Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=TiT6kSyTFYo
Sob uma bela introdução de piano, o riff inicial entra com forte apelo Hard-Rock e por que não(?), insinua o Prog-Rock, pois o apoio do órgão Hammond e o bom uso de caixa leslie na guitarra inevitavelmente remete ao Rock Progressivo dos anos setenta.
Impressiona o poderio de alto calibre da "cozinha", com uma firmeza gigantesca, ou seja, a solidez é enorme e as respectivas linhas criadas pelo baixista Fabio Rodriguez e pelo baterista Marcelo Ribeiro, são de muito bom gosto e tudo sob um esmerado trabalho de produção, pois os timbres impressionam. Todas as intervenções de guitarras de Artur Lacerda são excelentes e claro que o meu amigo que produziu o disco e tocou teclados, trouxe uma contribuição espetacular, o que não me surpreende pois o conheço há décadas e fui companheiro dele através de duas bandas pelas quais atuamos juntos, inclusive.
E cabe destacar a voz rasgada de Fabiano Sá, com uma rouquidão bem peculiar que lhe serve como uma marca pessoal muito interessante. Ele canta com muita convicção, o que é um adendo muito bom em termos de interpretação e quando o artista canta visceralmente, a acreditar no que canta, a música ganha muito mais força, naturalmente.
"Confusão", canção homônima ao nome do álbum, vem a seguir.
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=gWk6XAnS8ZU
Mediante um riff forte que lembra bastante o trabalho de algumas bandas setentistas que praticavam uma linha Hard-Rock mais áspera, tal tema tem na sua condução rítmica uma força extraordinária. O Rock Progressivo é insinuado em alguns trechos, a borrifar um sopro muito rico nesse arranjo.
Gostei bastante do arranjo das guitarras perpetrado por Artur Lacerda, incluso estratégicos duetos abertos em harmonia, muito bem colocados no decorrer da música, e com a observação de se evitar repetições, portanto a parcimônia foi muito bem calculada.
"O Caminho certo", é a terceira música do CD.
Eis o link para escutar no YouTube:https://www.youtube.com/watch?v=HTTSb80xC1E
Nesta música, a veia do Hard-Rock oitentista fica proeminente, pois a presença do "Golpe de Estado" como uma inspiração é explícita e saudável no sentido de que A Quadrilha sempre foi fã do time formado por Aguirra-Brito-Zinner-Catalau.
Bem ao estilo de uma mescla de Hard-Rock com balada mais swingada, a música flui com muito balanço e peso simultaneamente. E mais uma vez a letra direta que é proposta, dá margem para o que o vocalista Fabiano Sá converse coloquialmente com o ouvinte, ou seja, ele usa a mesma boa estratégia que Catalau soube usar com maestria nos anos oitenta e noventa, a bordo do "Golpe de Estado".
"Corra e não faça de conta que não é com você/veja sua vida passando, você não pode perder", diz um trecho da letra e o recado é absolutamente direto, como um conselho sincero da parte de um amigo leal que realmente deseja o seu bem-estar.
"Sem tempo a perder", vem a seguir.
https://www.youtube.com/watch?v=4Sz0fJROlnQ
Hard-Rock bem mais moderno e pesado, lembra o som do Golpe de Estado pós-anos 2000, sem dúvida. São ótimos os riffs e as convenções bem concatenadas, além da bateria sob ritmo acelerado e a conter muitas viradas extremamente bem feitas.
Com um solo de guitarra poderoso e baixo igualmente muito bem tocado, há um cuidado no tratamento do áudio mediante timbres espetaculares, e sendo assim, este tema também chama a atenção.
"No fio da navalha" é a próxima faixa e tem o blues como mote central, mas sob uma roupagem Hard-Rock e concepção moderna.
Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=NyswRkESyYA
A rouquidão na voz de Fabiano Sá lembra bastante a linha vocal de Nasi a bordo dos "Irmãos do Blues" e assim ele avança com um tipo de interpretação super urbana do Blues, a insinuar elementos subliminares contidos nos conceitos do teatro marginal e na literatura beat, a convergir para uma mesma direção.
"Tarde demais" é a sexta faixa do CD.
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Npk2J9RNeN0
O Blues-Rock surge com força. Claro, a roupagem é Hard-Rock na pegada, no entanto, o piano de saloon aparece para trazer o elemento clássico do gênero e enriquece essa dual maneira de atuação.
É bem bacana o solo de guitarra, melódico e com uma pitada Southern-Rock deveras interessante.
"Submundo" é a próxima canção.
https://www.youtube.com/watch?v=2zziFsI3lEo
Essa faixa é bem versada pela estética dos anos oitenta, a lembrar o som do "Barão Vermelho" em alguns aspectos. Com uma proposta de baixo e bateria na condução super linear das partes vitais do mapa da música, é uma peça típica para levantar o público em shows com grandes multidões, ou seja, evoca a estética "AOR" para ser usada em estádios de futebol lotados.
"Formação de quadrilha" é a oitava faixa do álbum.
https://www.youtube.com/watch?v=2DU9demu6kI
Eis um tema com forte influência da linha Jazz'n' Blues, a lembrar uma banda de Rock que se liga no som de New Orleans, o que se mostra salutar. Mas não é uma imersão explícita, pois o elemento Hard-Rock se faz presente o tempo todo em termos de peso.
Na letra, a brincadeira estabelecida com o próprio nome da banda é criativa. No trecho: "Essa não é uma banda normal/não vá cair na armadilha/juntando todo esse pessoal/ já configura formação de quadrilha", isso fica explícito. Neste caso, trata-se de uma ótima gangue a trabalhar em prol do Rock, eu afirmo.
"Praça da Paz", é a nona canção do disco.
https://www.youtube.com/watch?v=hFWGyEv_b3o
Mediante riff e convenções bem típicas dos anos 1970, mas com uma pegada oitentista, lembrou-me mais uma vez o trabalho do "Golpe de Estado", mas com influência do "Deep Purple", praticamente explícita. Claro, fica a ressalva que se trata de uma impressão pessoal minha e talvez a banda nem tenha se inspirado em tais artistas que eu citei.
E assim, o tema se mostra vigoroso, com ótima intervenção de todos os instrumentos, com direito a momentos de brilho individual para cada um ao longo do tema e tudo feito com muito bom senso, a favor da música, sempre.
"Recado para a morte" fecha o trabalho.
https://www.youtube.com/watch?v=LkgUHEBItl8
No melhor estilo do slow-blues a mostrar uma densidade forte, esse tema abre caminho para um belo solo de guitarra, amparado pelo processamento de seu áudio feito com maestria.
A melancolia expressa na letra e na sua consequente forma de interpretação, dá a dose certa de carga emocional para que Fabiano Sá mergulhe no Blues mais soturno, a lembrar mais uma vez o trabalho de "Nasi & Os Irmãos do Blues" e assim, a canção soa forte.
Para encerrar, reforço a ideia de que "A Quadrilha" é uma banda que valoriza muito as suas raízes e assim, tem tocado muito pelos bairros mais periféricos da zona leste de São Paulo, como uma forma de valorizar a cultura local, no sentido de se colocar como um grupo fortemente comprometido com o ativismo cultural e isso é notável.
Porém, é também uma banda da cena geral e pronta para atuar em qualquer outro lugar e aliás, esse grupo merece toda a expansão possível pelo ótimo trabalho que desenvolve.
Faltou falar que o meu amigo que tocou atuou como músico convidado, foi também o produtor do disco: Marcello Schevano.
A Quadrilha:
Fabiano Sá: Voz
Artur Lacerda: Guitarra
Fabio Rodriguez: Baixo e guitarra
Marcelo Ribeiro: Bateria
Músico convidado:
Marcello Schevano: Piano, órgão Hammond, violão e backing vocals
CD "Confusão"
Gravado, mixado e masterizado no estúdio Orra Meu - São Paulo - Entre 2022 e 2023
Mixagem por Gustavo Barcellos
Masterização por José Maron
Arte de capa/encarte: Juh Leidl
Foto: Um pouco mais de arte
Produção por Marcello Schevano
Lançamento em 2023
Orra meu discos
Para conhecer melhor o trabalho da banda, acesse:
Facebook:
https://www.facebook.com/QuadrilhaBanda
Canal de YouTube:
https://www.youtube.com/channel/UCCeqmfDgNzlsYvNiCHKNH6A
Contato direto com a banda:
quadrilhasp@gmail.com