sábado, 10 de agosto de 2013

14 Hour Technicolor Dream - Por Luiz Domingues



A Era psicodélica avançara sobre o planeta, desde 1966, mais perceptivelmente a observar-se. Entretanto, sinais foram emitidos antes, principalmente em suas grandes matrizes, isto é : Estados Unidos da América e Europa. No caso da Europa, sem dúvida que foi na Inglaterra o seu maior centro irradiador.

Muito por conta da explosão do Rock, ainda que na Ilha, a bipolarização entre o movimento Mod e o Rock norteamericano, pudesse sugerir subdivisões irremediáveis, o fato é que, pelo contrário, só precipitou uma onda de euforia, que tornaria a capital britânica, Londres, em 1967, a chamada : "Swingin' London" do dito desbunde psicodélico. Há diferenças sutis entre a percepção da psicodelia britânica e a norteamericana, ainda que houvesse uma raiz comum, certamente. Se ficara óbvia a adesão de setores universitários interessados no viés político ou na profusão de estéticas artísticas & comportamentais no sentido avantgarde, no caso dos britânicos, a preocupação sociopolítica parecia mais centrada no avanço da segunda hipótese citada.

Nessa época, havia uma casa noturna que promovia shows de Rock de diversas bandas emergentes em Londres, chamada : "UFO". Nessa casa, mais que um espaço para divulgar o trabalho e brigar por um lugar ao sol no mercado da música, houve uma atmosfera que privilegiava bandas que experimentavam novos caminhos, além do Rock'n Roll tradicional.


Entretanto, o clube mantinha instalações tímidas para um evento desse porte, pois não tratar-se-ia de um simples show de Rock, ainda que privilegiado por conter ares de Festival e assim a  apresentar diversas bandas interessantes.

A ideia foi mesmo realizar um grande "happening", com intervenções; performances; instalações e muitas projeções de luzes, ao garantir a porção psicodélica ideal ao evento.

Surgiu então a ideia para usar-se um grande galpão, na verdade um hangar, chamado : Alexandra Palace, que entre os londrinos, é normalmente chamado de uma forma carinhosa. como : "Ally Pally". E dessa forma, em 29 de abril de 1967, o evento aconteceu, com o nome : "14 Hour Technicolor Dream", ao prometer ser uma experiência sensorial, sem precedentes, por unir o elemento Rock, às artes plásticas de vanguarda, mediante a atuação de poetas; projeções psicodélicas; dançarinos e performances teatrais. A lista inicial das bandas anunciadas, foi enorme, mas nem todas  apresentaram-se, contudo.


Nomes como Pretty Things; Soft Machine; John's Children; The Move; Graham Bond Organization; Savoy Brown; Champion Jack Dupree; Purple Gang; The Crazy World of Arthur Brown; Donovan; Alexis Korner; Tomorrow; The Cat, Denny Laine e muitos outros. O Mothers of Invention do guitarrista, Frank Zappa, estava agendado, mas de última hora, cancelou a sua participação.

O número performático do cantor, Arthur Brown, ao interpretar o seu sucesso, "Fire"(sempre a usar uma coroa incandescente à cabeça), foi um dos que mais marcou o happening, e foi muito citado entre as pessoas que lá estiveram presentes. E o Pink Floyd, culminou e ser a banda que mais beneficiou-se do evento, quando tornou-se uma lenda, a sua participação.


Ao viver um momento excepcional por conta de seu recém lançado LP de estreia, a banda do louquíssimo guitarrista, Syd Barrett, apresentou-se às cinco horas da manhã, quando o delírio já era enorme dentro do hangar.

Cerca de dez mil pessoas transitaram pelo evento e em sua maioria absoluta, a fazer uso de drogas alucinógenas, principalmente o LSD. Daí a experiência assemelhar-se aos "Acid Tests" que os hippies norteamericanos já promoviam na Califórnia.

Apesar de cansados, pois estavam a chegar de um show realizado na noite anterior, na Holanda, e por conta de uma logística conturbada ter chegado ao "Ally Pally", por volta das 3:00 horas da manhã, eis que a banda fez um show muito performático, pleno de experimentalismos psicodélicos, como era de sua praxe, principalmente nessa fase inicial de sua história, com Syd Barrett à guitarra.

Entre inúmeros artistas plásticos e performáticos presentes, estava a japonesa, Yoko Ono. Mesmo que nessa época ainda não fosse admitido publicamente, estava a namorar o Beatle, John Lennon, apesar deste ainda estar casado oficialmente com Cynthia Lennon.


Lennon foi certamente a maior celebridade presente no evento, ao despertar a atenção de jornalistas e do público em geral.



Uma das intervenções de Yoko Ono no evento, foi a performance da garota que deixa-se desnudar, com a participação de qualquer pessoa do público, disposta a cortar peças de seu vestuário, munidos de uma tesoura cedida pela artista. 

Essa performance silenciosa e muito impressionante pelo fator psicológico com a qual revestiu-se, já havia sido realizada em diversas outras oportunidades (existe até em vídeo oficial, com uma performance de Yoko, em 1965, em Nova York, chamado "Cut Piece"). Todavia, pelo caráter de multidão ali representada, mais o alto volume provocados pelos shows e projeções psicodélicas pelas paredes, não foi um ambiente propício para isso, e a garota que submeteu-se à experiência, passou um certo sufoco, com aquele bando de doidos alucinados e uma enorme tesoura às mãos...

Há relatos de que houve projeções de filmes de arte em vários momentos. Películas do cineasta, Kenneth Anger, por exemplo.


Nem tudo foi perfeito, todavia. A reclamação sobre a acústica do local, foi geral e convenhamos, o fato de ser um enorme hangar, com o teto muito alto, é claro que não favoreceu a equalização ideal para shows musicais.



Um palco menor foi montado para performances de poetas e danças. Entre inúmeros grupos de dança, um chamado : "The Tribe of the Mushroom", ilustra pelo seu próprio título, o espírito do happening. Por muitos anos, circulou uma fita em formato VHS, entre colecionadores, a conter apenas a performance do Pink Floyd, todavia, a mostrar algumas cenas gerais do evento, principalmente a presença de John Lennon. 
Porém, felizmente, um DVD mais completo foi lançado em 2008, com muito mais material disponível e a contar com bons extras, onde depoimentos esclarecedores de quem lá esteve in loco, faz a diferença, como é o caso de Roger Waters e Nick Mason, baixo e bateria do Pink Floyd, por exemplo, além do guitarrista, Phil May, do Pretty Things, e algumas pessoas ligadas à produção de evento.

"14 Hour Technicolor Dream", entrou para a história da psicodelia, como um dos maiores eventos públicos e ilustrativos do espírito dos anos sessenta.




Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2013, com republicação na Revista Gatos & Alfaces nº 2, em 2014.

2 comentários:

  1. Parabéns,baita reportagem do Mestre Luiz Domingues, a matéria que aborda o espetáculo "14 Hours Technicolor Dream", em que o Pink Floyd participou.

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  2. Parabéns,baita matéria Mestre Luiz Domingues, que aborda o espetáculo "14 Hours Technicolor Dream", em que o Pink Floyd participou.

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