Foi exatamente esse o caso de um rapaz nascido na Criméia (na época, território russo, mas hoje pertencente à Ucrânia), chamado : Eugênio Shamansky Kuznetsov. Ator; diretor e homem de teatro por excelência, foi um extraordinário professor para uma brilhante safra de atores brasileiros, além de participar ativamente dos movimentos teatrais no Brasil, ao emprestar todo o seu conhecimento. Conhecimento esse, que foi sólido, por ter sido o jovem Eugênio, um discípulo do grande Stanislavski, um grande mestre do teatro russo e responsável por iniciativas ousadas, como por exemplo, o chamado : "TAM" (Teatro de Arte de Moscou).
Todavia, no Brasil dos anos vinte, quando aqui aportou, este país também não era nenhum paraíso onde pudesse ele exercer a sua arte com a dignidade profissional que merecia. Dessa maneira, teve que improvisar, com diz-se popularmente e decorrente dessa premissa, ele sobreviveu alguns anos como comerciante, ao levar a atividade teatral como um diletante, antes de finalmente poder mergulhar em sua real vocação profissional.
Somente em 1951, sob um convite de outro imigrante, o polonês Ziembisnki, Kusnet integrou o elenco do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), em São Paulo e assim, mediante a sua bagagem extraordinária como ex-aluno de Stanislavski, pode ser usufruída pela classe teatral paulista e brasileira. Daí em diante, Kusnet trilhou o seu caminho, a atuar como ator e a ministrar as suas valiosas aulas, no TBC, mas logo a seguir também em outras companhias teatrais, como o Teatro de Arena; Teatro Maria Della Costa e Teatro Oficina.
Com sede de conhecimento, volta à Russia no início dos anos sessenta, onde participa de um curso ministrado na Escola Estúdio do Teatro de Arte e também na Escola Teatral de Stuchkin (ligada ao teatro Vakhtangov), onde novos desdobramentos do "Sistema Stanislavski", são apresentados para ele. De volta ao Brasil, atuou com muito sucesso de crítica e público, em duas montagens de textos de Máximo Gorki e também, em "Marat-Sade", de Peter Weiss, sob direção de Ruy Guerra. Ao final dos anos sessenta, lançou dois livros que são considerados fundamentais por estudantes de arte dramática : "Iniciação à Arte Dramática" e "Introdução ao Método da Ação Inconsciente". Algum tempo depois, ambos foram fundidos em um único livro, chamado : "Ator e Método".
Kusnet tinha horror aos exageros de atores que deixavam-se levar excessivamente pela emoção. Para ele, o ator deveria observar o ponto de equilíbrio, onde a emoção jamais suplantasse o lado racional, portanto, personagem e pessoa real deveriam conviver em igualdade de condições. "O ator deve ter consciência de seu real ser e saber que está no palco", foi uma de suas máximas.
No início dos anos setenta, ele ministrou aulas na USP e na Fundação das Artes de São Caetano do Sul, além de ter oferecido suporte à montagem da Ópera-Rock, Jesus Christ Superstar. Eugênio Kusnet faleceu em 1975, e deixou-nos um legado incrível de conhecimento no campo da dramaturgia.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário