A questão das faixas horizontais (na verdade fora uma velada inspiração no pavilhão norteamericano), significou, segundo Julio, a representação do tempo, com dia e noite a intercalar-se e assim criar a história brasileira ininterrupta. E a faixa preta nas bordas, como uma estratégia para realçar a delimitação territorial.
Entretanto, mesmo com a vitória dos republicanos e o inevitável final da monarquia em 1889, esse formato não vingou e a nova bandeira brasileira oficial seguiu quase o mesmo parâmetro dos tempos da monarquia, com pequenas modificações (o uso da expressão de origem positivista, "Ordem e Progresso", por exemplo, para seguir a moda criada pelo filósofo francês, Auguste Comte, idolatrado pelos republicanos daquela época). Dessa forma, a bandeira concebida por Julio Ribeiro, ficou popularmente conhecida como : a "bandeira paulista". E tornou-se apócrifa, pois não foi reconhecida oficialmente pelo governo federal.
Quando da Revolução Constitucionalista de 1932, a bandeira ganhou força nas manifestações populares, ao tornar-se um símbolo da luta, não pela emancipação de São Paulo, mas pela reivindicação de uma nova constituição para o Brasil (ao menos é que acredita-se em primeira avaliação superficial, visto que há controvérsia). Contudo, somente em 1946, por decreto presidencial, a bandeira foi reconhecida oficialmente como o estandarte legítimo do Estado de São Paulo.
Então, outras explicações foram adaptadas ao simbolismo de seu desenho. Por exemplo, a questão das faixas a simbolizar o dia e noite, passou a ser a representação dos dias e noites que os bandeirantes usaram em suas expedições expansionistas, segundo a opinião de alguns teóricos. O vermelho do retângulo superior esquerdo, seria a representação do "sangue" derramado por tais homens, derramado em prol da construção do estado. O azul representaria a pujança do estado, com o seu progresso e abundância de recursos. E as quatro com estrelas amarelas, não tem um simbolismo formal, ainda que no projeto inicial, fosse associado à questão da localização geográfica do estado, dentro do Brasil.
Aliás, a presença do mapa do Brasil denota a ideia de que São Paulo orgulhava-se em ser membro da federação, simbolismo que frustra os entusiastas da ideia separatista, certamente, pois denota uma incômoda subserviência ao Brasil, que é contraditória aos seus anseios. Outra curiosidade muito interessante a cerca da bandeira paulista, foi que o seu autor, era mineiro de nascimento. Mais ou menos como o jogador de futebol, Pelé, que nasceu em uma cidade do interior de Minas Gerais, mas é considerado paulista, por ter sido criado na cidade de Bauru e feito a sua fama em Santos, Julio Ribeiro nasceu em Sabará, Minas Gerais; morou no Rio de Janeiro, mas construiu a sua vida profissional e familiar em São Paulo. Julio Ribeiro era filho de um norteamericano (George Vaughan), e foi escritor (o seu livro mais famoso foi : "A Carne"); filólogo; membro da Academia Brasileira de Letras; ativista político e agitador cultural. Foi adepto do naturalismo, um movimento cultural criado por Émile Zola. O seu livro, "A Carne", causou escândalo na sociedade da época, por abordar de uma forma revolucionária no romance, a história de uma mulher sexualmente livre. Com isso, angariou uma antipatia declarada com a Igreja Católica, e dali em diante, muitas farpas foram trocadas publicamente entre Julio e alguns membros do clero. A sua herança literária frutificou na família, pois é avô de Elsi Lessa; bisavô de Ivan Lessa & Sergio Pinheiro Lopes e trisavô de Juliana Foster, todos escritores. Está aí a história do pavilhão paulista...
Matéria publicada no Site / Blog Orra Meu, em 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário