sábado, 18 de outubro de 2014

Antonio Peticov - Por Luiz Domingues



Paulista da cidade de Assis, Antonio Peticov é reconhecidamente um dos mais criativos artistas plásticos brasileiros. A sua atuação é multifacetada, com atuações destacadas como pintor; gravurista; escultor, e desenhista, e por ostentar como um grande mérito extra o fato de ser um autodidata.
Segundo consta em sua biografia, Peticov iniciou a sua carreira aos doze anos de idade, ao ter como base, livros e revistas, de onde inspirou-se; motivou-se e estudou por conta, ao visar vir a tornar-se um artista, igualmente. Em princípio, escolas estilísticas tais como o surrealismo; dadaísmo e experimentalismo fascinaram-lhe fortemente, e por esse caminho colocou-se a desenvolver a sua criação ao final dos anos cinquenta, e início dos sessenta.
Entretanto, sua antena estava sempre aberta a captar as novidades e claro que a efervescência dos anos sessenta, tratou por arrebatar-lhe por completo. Com o Rock a pegar-lhe em cheio, a Art-Pop e a psicodelia fluíram de uma forma intensa e já a partir da metade daquela década, para fazer com que Peticov, voasse em sua criação.
Ele de fato mergulhou de cabeça na experiência do Flower Power, Peticov foi um dos primeiros artistas a abraçar a causa hippie em São Paulo, por ligar-se ("turn on; tune in and drop out" !) em artistas que também estavam a engajar-se em tais ideias e estética, para que ele viesse a tornar-se um quase ativista, pode afirmar-se.
A sua ligação com os Mutantes, que davam os seus primeiros passos para o sucesso, foi importante para ambos, como impulso artístico para uma cena que lutava contra o tradicional atraso tupiniquim para absorver as ideias vanguardistas.
Ele também ligou-se nos tropicalistas, naturalmente, e essa associação salutar de certa forma foi uma continuação lógica da semana de 1922. Já a mostrar-se como uma referência, as suas ilustrações incríveis extrapolavam o mundo das galerias de arte e exposições, e convites para criar cartazes e cenários para shows não paravam de chegar ao seu atelier.
Em 1967, ele apareceu em pessoa em uma cena de um filme do diretor, Walter Hugo Khouri (“As Amorosas”), em meio a uma apresentação dos Mutantes, através de uma cena filmada em uma casa noturna que localizava-se na Galeria Metrópole. Em tal cena, o espírito Flower Power foi um verdadeiro desbunde, sob um absoluto rompante de vanguarda.
Peticov abriu logo a seguir, uma loja de posters com o objetivo de decorar ambientes, a grande mania que arrebatou São Paulo e o Brasil na época, mas antenado 100 % na contracultura. Por ter tido um problema com os sócios, infelizmente, isso o tirou do negócio a seguir, mas a sua fama construída já havia feito da loja, “Poster Shop”, na rua Augusta, um dos endereços considerados mais avançados da cidade. Ele foi embora para para Londres em 1969, e fixou residência em Milão, a seguir. A barra pesara no Brasil com o endurecimento do governo autoritário, ao tornar o ambiente hostil para um artista livre e avantgarde como ele apresentava-se.
Nos anos oitenta, Peticov foi morar em Nova York. Nessa época, ele realizou inúmeras exposições individuais pela Europa e Estados Unidos, e após um longo período, veio a estabelecer novamente o seu atelier em São Paulo, em 1999.
O irmão mais novo de Peticov, André, também é um grande artista plástico e ligado em Rock e contracultura das décadas de sessenta e setenta. Este foi aliás, um dos primeiros, senão o primeiro a prover projeções psicodélicas em shows de Rock, na cidade de São Paulo.
Capas de discos antológicos do Rock Brasileiro, de bandas como :  O Terço e Apokalypsis, também enriquecem o seu currículo que já mostrava-se muito recheado.

Tive o prazer de conhecer ambos, Antonio e André Peticov, no início dos anos 2000, quando eu fui membro da Patrulha do Espaço. Compareci juntamente com Rolando Castello Junior, certa vez em 2001, ao atelier de Antonio Peticov, e fiquei muito impressionado com tudo o que vi.
Já sabia que ele era um grande artista e ligado nos ideais aquarianos do Flower Power sessentista, por ler a respeito; ouvir pessoas a comentar e claro, pela imagem dele no filme do Khouri. No entanto, confesso que o meu conceito sobre ele, aumentou em 100 % ao conhecer o seu atelier; as suas obras em plena execução e um pequeno exército de pupilos a trabalhar sob a sua supervisão, e a todo vapor.
Alto-falantes instalados no atelier tocavam clássicos do Rock das décadas de 1960 & 1970 e todo mundo trabalhava com uma energia incrível sob tal ambientação tão auspiciosa. No livro : “A Divina Comédia dos Mutantes”, a biografia da banda, assinada por Carlos Calado, Antonio Peticov é citado muitas vezes, inclusive com  a menção àquela história que é uma verdadeira lenda urbana sobre Peticov e Arnaldo Baptista, a respeito de um foguete interplanetário. Leia no livro, não vou contar aqui para não estragar a surpresa. Hilário. 

Recomendo a visita ao seu site oficial, recheado de informações e ilustrações de suas obras :



http://www.art-bonobo.com/peticov/antoniopeticov.html

Para quem mora em São Paulo ou vem à capital paulista para passear, a recomendação é visitar uma instalação sensacional que orna a parte interna da Estação República do Metrô, onde Peticov homenageou o literato, Oswald de Andrade e o manifesto antropofágico, criado por tal artista inquietante. Denominado : “Momento Antropofágico com Oswald de Andrade”, trata-se de uma enorme e belíssima instalação permanente, a fazer uso da técnica da anamorfose, sob um resultado impressionante.
Antonio é ainda jovem e deverá brindar-nos com muita arte incrível, nos próximos anos, certamente.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2014. 

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