sábado, 10 de janeiro de 2015

Os Nossos Melhores Cérebros... a Serviço dos Outros - Por Luiz Domingues

A expressão: “Brain Drain”, criada pelos norte-americanos, reflete e explica muito de sua grandeza como super potência, ou melhor, a maior potência do Planeta. O que faz com que um país, seja considerado membro do seleto rol do “Primeiro Mundo?
São muitos os indicadores, naturalmente. Os óbvios (economia & lastro; instituições fortes, poderio bélico, organização social, tecnologia, educação, setores produtivos), e também os mais sutis, que ficam na retaguarda de toda a sociedade, caso dos ditos “melhores cérebros”, ou a trocar em miúdos, profissionais altamente gabaritados sob o ponto de vista intelectual e consequentemente, com o melhor nível de capacitação, prontos, portanto para dar o melhor de si para a cadeia produtiva, pública ou privada. 
 
Essa é uma das chaves para o sucesso de uma nação e o óbvio investimento em educação de máxima qualidade é um caminho para se chegar até esse ponto.
Todavia, o outro lado, o “dark side” (não o do Pink Floyd, que mediante um prisma torna-se multifacetado), mas a se revelar um dispositivo bastante comum e aceitável dentro dos parâmetros do megacapitalismo: não basta formar grandes cérebros, mas é preciso cooptar os cérebros brilhantes alheios, também. Não acho isso um demérito, em tese, mas é assim que o mundo funciona desde as cavernas e cabe a quem não concorda, ter ao menos espaço para protestar, que fique claro. Na prática, quem reúne as melhores condições, culmina em contratar os melhores profissionais.
Quando éramos crianças, escolhíamos os nossos times de futebol nas aulas de educação física, mediante o sorteio de par e ímpar, e a cada escolha do adversário, escolhíamos o próximo jogador para o nosso time, baseado no critério evidente de buscarmos a melhor qualificação possível, e assim reforçar o nosso time com os melhores jogadores. Essa é uma visão a apontar para um equilíbrio mais justo de forças, ao não promover o absoluto massacre do mais forte sobre o mais fraco.
Porém, na vida social comum, esse fator de equilíbrio não existe e na selva de pedra a que somos forçados a viver e aceitar tais regras, vence o instinto de sobrevivência. Nessa linha de raciocínio, não é considerada como uma ação antiética a postura de atrair os melhores cérebros do planeta para reforçar os quadros da pesquisa tecnológica de ponta, e com tal contingente de gênios a trabalhar em equipe, não há como uma nação não se impor no cenário mundial, com postura de liderança. Assim é a selva e neste caso, cabe aos que se opõem a esses paradigmas, quebrá-los.
Na prática do mundo desigual, o grande dilema para os países mais debilitados, é o de criar mecanismos para que os seus melhores cérebros fiquem e trabalhem em seus respectivos países. Ao falar especificamente do Brasil, sempre foi gritante a relação do descaso com a educação, ao longo da história e assim, um governo que verdadeiramente se esforça para quebrar esse panorama de descuido tem sido algo muito notável. No entanto, a reação tem sido grande da parte de quem sonha em fazer do Brasil novamente uma fazenda colonial nos moldes do século dezenove.

É importante ter em mente que os grandes cérebros a serem trabalhados, começam na tenra infância, e não apenas na graduação final dentro das universidades. E essa preocupação está na pauta desde que temos visto uma abordagem da parte de quem pensa na frente e não para trás.
A base, na cadeia educacional, começa pela pré-escola, com uma capacitação excelente no desenvolvimento cognitivo das crianças, desde o berço, mentalidade que é comum para um país sob alto grau de desenvolvimento, como o Japão, por exemplo. Não obstante os esforços e avanços bons dos últimos anos, o ensino fundamental precisa se aperfeiçoar ainda mais e dessa forma, merece receber mais ações de ajustes na sua reformulação pedagógica, a passar pela reformulação da didática, conteúdo, estímulo à capacidade criativa e reflexiva das crianças e adolescentes etc.
Nas universidades, o estreitamento da relação entre elas, instituições de ensino, com a sociedade, tem que ser total. Já avançamos muito, mas a margem para melhorar é enorme .De forma tímida, existe tal conexão, via associações de indústria e comércio, como Fiesp e Fierj, por exemplo, mas fica a enorme ressalva de que tais instituições pensam muito mais em seus interesses, portanto, fazer com que a inteligência alimenta as cadeias produtivas é uma meta, entretanto, a se estabelecer um equilíbrio sadio no sentido de que todos ganhem e não apenas o "Deus mercado". 
 
Se houver um ponto de equilíbrio, onde os senhores rentistas entendam que acumular e especular precisa ter um limite e que a contrapartida razoável precisa apontar para uma sociedade que forneça oportunidades para os menos favorecidos, isso pode e deve ser multiplicado à décima potência. Nesse sentido, o governo pode dar mais ouvidos aos think tanks, para buscar essa inteligência sociológica e logística, na condução de sua política estratégica.
Já temos ótimos exemplos de polos de tecnologia de ponta, em que gente brilhante vem a trabalhar e agregar, caso de cidades como Recife e Campinas, por exemplo, mas em um país das dimensões e potencialidades do Brasil, isso precisa multiplicar-se de forma epidêmica, para espalhar-se por todos os quadrantes, do Oiapoque ao Chuí, literalmente. Formar, capacitar e estimular os melhores cérebros a ficar no país e usar a sua capacidade dentro de nossa economia e não a serviço de nações estrangeiras, faz-se mister.
E tudo começa e acaba na grande chave do desenvolvimento de uma nação: a educação, mas subentendido que sem manipulações a pender para privilegiar interesses escusos. 
 
O restante, em termos de necessidades, vem por dedução óbvia, com indústria; comércio e agricultura de ponta (neste aspecto, é preciso haver o equilíbrio também no sentido do agro-investidor ganhar a consciência de que precisa ter maior responsabilidade social, pois o maior produtor de alimentos do mundo não pode ser o mesmo país no qual grande contingente de pessoas, passa fome), instituições fortes, economia sólida, democracia inabalável e blindada contra radicalismos totalitários, investimento maciço em cultura, ações concretas de cidadania, ecologia e sustentabilidade, forças armadas bem equipadas, com o máximo de inteligência tecnológica e motivadas para trabalhar pela nação e jamais serem usadas para manobras políticas golpistas perpetradas por radicais infiltrados em suas fileiras, reforma fiscal, política, do código criminal etc.
Essa é a cartilha que impulsionou a grandeza das nações de primeiro mundo, e antes que me considerem um ingênuo, pois é óbvio que existe também o “dark side” (aí sim, o lado obscuro, mesmo), com corporativismos, intervenções invasivas na autonomia dos países pobres via belicismo, reserva de mercado, sanções econômicas e pressão política de toda sorte e geralmente antiética.

É fato que tudo isso foi gerado graças aos cérebros privilegiados. Um exemplo clássico, deu-se no término da Segunda Guerra Mundial, quando os melhores quadros da inteligência que servia ao nazismo pelo lado da ciência, foram convidados a trabalhar para os norte-americanos, vide Van Braun e outros tantos. Cérebro privilegiado move o mundo para frente, portanto, o desafio é não deixar que os nossos melhores saiam, para trabalhar em favor dos outros.
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2014.  

2 comentários:

  1. Que post maravilhoso,amigo!
    Muita informação mesmo!
    eu já acreditei que nosso país um dia chegaria a ser Desenvolvido, mas não tenho mais esperança,amigo!
    educação?
    saúde?
    Inteligência?
    bjus
    http://www.elianedelacerda.com

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  2. Muito obrigado, amiga Elyane !!

    Está difícil mesmo acreditar que daremos esse salto para o primeiro mundo, com tanto descaso na base que é a educação e nesse sentido, não é de se espantar que nossos melhores cérebros prefiram prestar seus serviços para outras nações.

    Uma lástima !

    Grato por participar e um abraço !!

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