quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

EP For Export / Juliana Galdeano - Por Luiz Domingues



Juliana Galdeano, apesar de ser bem jovem, detém uma sólida formação musical, tendo estudado piano e teoria com afinco. A sua aproximação natural é com o Jazz, sob múltiplas vertentes (e inclua-se nesse rol, a Bossa Nova), mas neste trabalho, o EP “For Export”, ela investe em uma sonoridade Pop, a buscar um maior espaço midiático, naturalmente. 

Ao trabalhar com canções mediante apelo R’n’B, sob uma audição geral, mas a transitar pelo Folk com desenvoltura, igualmente, o EP “For Export” mostra uma roupagem moderna, com áudio bastante processado, que busca certamente um padrão para soar bem em pistas de dança de casas noturnas e de certa forma até a poder flertar com o público que acompanha e aprecia a música eletrônica.

No quesito letras, a temática investe forte em questões mais sutis sobre a relação homem/mulher, mas foge dos clichês e apelações, tão comuns nesse tipo de abordagem poética. E há uma outra questão importante, que é a opção pelo uso da língua inglesa em 99% do tempo, com um pequeno excerto em português, apenas. Com tal determinação, Juliana deixa claro que busca o mercado internacional, acima de tudo. 

E nos arranjos, apesar da robustez de sua base teórica, Juliana não abusou desse trunfo ao optar por um instrumental comedido, sem grandes voos instrumentais, e assim investir mais em um tipo de acompanhamento a valorizar o aspecto Pop das canções, ou seja, algo claramente deliberado de sua parte e coadunado com os seus objetivos artísticos. 

Sobre o conteúdo do disco, trata-se de um EP, a conter apenas cinco canções, sendo a última delas: “You Know What I Mean”, que foi lançada anteriormente como single (junto a uma outra canção, “Hope You Agree”). Então, o álbum traz uma boa coleção de composições, das quais falarei a seguir.

 
 “Danger !”, abre o disco e trata-se da peça mais “Techno” do álbum, com uso e abuso de muitas camadas de teclados sobrepostos e bateria eletrônica, ao dar a impressão do flerte com a música eletrônica (acrescente-se uma certa influência da Disco Music dos anos setenta e o Techno Pop dos anos oitenta, nessa receita), que citei parágrafos atrás. 

Gostei dos fraseados sob efeito de contra-solos de alguns sintetizadores, até agressivos pelos timbres usados, ao conferir uma certa dose de ousadia, eu diria. 

Achei a voz demasiada alta na mixagem final. Mesmo ao levar-se em conta que o objetivo é buscar o espectro Pop, como resultado prático, mesmo assim, creio que ficou além um pouco do aceitável, mesmo ao se pensar no velho padrão da MPB, onde produtores exageravam nesse quesito, principalmente no caso das cantoras, no afã de dar maior ganho para as vozes femininas.

“Ballad” é uma canção muito interessante, gostei muito da sua proposta sonora, embora tenha uma metragem bem curta, quase ao ponto de caracterizá-la como a uma vinheta. Há uma forte influência do Folk-Rock e como Juliana tem formação Jazzistica, em tese, ouso dizer que por associação, essa canção lembrou-me o trabalho da maravilhosa, Joni Mitchell, quando de seus flertes com o Jazz.

“Dyllan”, sob uma explicação ofertada em conversa informal que tive com a própria artista, contém um duplo sentido. Sim, tem a ver com a admiração que ela nutre pelo astro do Folk-Rock/Protest Song, norte-americano, Bob Dylan, mas também é uma homenagem a um cão de estimação que ela teve e que foi brutalmente assassinado, lastimavelmente (daí, “Dyllan” com dois “L”). É uma balada Pop bem construída, e denota na sua melodia, a emoção que Juliana soube passar na sua interpretação vocal.

"Jogos Perigosos” é a canção que tem trechos em português, a mesclar-se ao inglês, idioma usado de forma predominante no álbum. A sonoridade geral dos instrumentos, ao optar pelo som seco, sem muito tratamento no processamento geral, agradou-me bastante. Isso destoa do conceito Pop do bojo do disco, mas por isso mesmo, é interessante, pois denotou um diferencial. Gostei muito da voz, pelo fato de que Juliana mostra que além de ser uma tecladista de classe, é também uma cantora com bastante potencial. E o eco da grande, Carole King, também ressoa como influência nítida e muito bem vinda, certamente.

A faixa bônus, “You Know What I Mean”, é fortemente calcada no R’n’B moderno, mas no bom sentido do termo, ao lembrar o Jazz Pop de artistas como Nora Jones e Diana Krall, ou seja, Juliana Galdeano investe firme na sua vocação mais forte que é manter-se no tripé: pianista/cantora/compositora, tal como as suas colegas internacionais que citei. 

Gostei de alguns acentos mais sutilmente comprometidos com o Blues, ao lembrar o som de Nina Simone, mas claro, impressão pessoal minha, nem tenho certeza que Juliana possui tal influência em seu cabedal cultural.

Em suma, Juliana Galdeano mostra-se uma artista jovem, portanto com muita margem para o crescimento, além de ostentar bastante embasamento técnico e teórico, condição rara nos dias atuais e digno de enaltecimento, portanto. Além disso, apresenta criatividade, boas influências como compositora e dotes vocais muito interessantes. É também multi-instrumentista, pois tocou baixo nas faixas, além de pilotar piano e diversos sintetizadores. Demonstrou igualmente que tem potencial poético como letrista. Ao acrescentar ainda mais, ela assinou a produção gráfica de capa e encarte do disco.

Por falar nesse quesito da arte gráfica, achei a capa simples, contudo bem funcional, pois privilegiou a foto da artista, uma prática mercadológica antiga no mundo fonográfico, mas certeira para artistas novos que precisam “mostrar a cara e a coragem”, literalmente, em trabalhos iniciais. Todavia, não posou com uma foto convencional em estúdio fotográfico, mas sim a fazer uso de uma postura de sutil perfil, levemente inclinado e a mostrá-la com o olhar para cima, mediante o semblante leve, mas determinada, quando mira para o alto, muito provavelmente a sugerir uma intenção recôndita de percepção do futuro. Qual futuro? Fica a resposta a cargo de cada observador da foto. Eu penso que ela enxerga a projeção de sua própria carreira, que espero, seja ascendente. 

O encarte é bem funcional, com as letras das canções disponibilizadas (sempre cai bem quando o artista usa desse dispositivo), além de uma ficha técnica bem caprichada e também acho que em todo disco, deveria constar tais informações, com fartura de dados.

Juliana Galdeano já excursionou pelos Estados Unidos, ao ter se apresentado em um circuito de casas de espetáculos, muito interessantes, principalmente na costa leste daquele país, portanto, tal bagagem internacional muito rica que ostenta, engrandece a sua obra e muito contribui para a construção de uma carreira sólida, assim espero.


Gravado nos estúdios “Armazém” e Fillipe Sibioni’s Studio

Produção geral: Fillipe Sibione                  

Técnico de gravação; mixagem & masterização: Fillipe Sibione

Fotos: Daniela Schwery

Arte Gráfica: Juliana Galdeano

Juliana Galdeano: Voz; Teclados e Baixo

Músicos Convidados:

Bento: Guitarra e Bateria Eletrônica

Gabriela Gaspar: Violão e Guitarra

Alex Marques: Bateria

Henrique Polak: Bateria

Produção independente, lançado em 2017


Para ouvir o EP “For Export” na íntegra e conhecer melhor o trabalho de Juliana Galdeano, acesse:




Canal de You Tube:
https://www.youtube.com/user/julianagaldeano 

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