sábado, 26 de maio de 2018

Livro: O Primeiro Milhão de um Homem / Marcelino Rodriguez - Por Luiz Domingues


O título desse livro, mais um da extensa bibliografia do prolífico escritor, Marcelino Rodriguez, pode enganar o leitor desavisado, ao considerar tratar-se de mais um livro produzido dentro do nicho da “autoajuda”, esse campo minado da literatura moderna, onde tais obras e autores podem ser classificados entre os equivocados bem intencionados e os picaretas assumidos. 

De fato, “O Primeiro Milhão de um Homem”, pode tranquilamente ser confundido com uma espécie de manual de como “vencer na vida”, bem naquele tipo de visão materialista a tratar o acúmulo de bens e os luxos supérfluos da vida fútil, como uma meta paradigmática e obrigatória para todo Ser Humano. 

Todavia, por tratar-se de um escritor do quilate de Marcelino Rodriguez, é claro que não representa nada disso e assim, o título e a sua respectiva ilustração da capa frontal, mais buscam a visão crítica de tal modelo, pela via da ironia. De fato, logo no prefácio, o próprio autor deixa claro que a amálgama do livro é a posição contrária em relação ao ditame citado, ou seja, ele quer provocar no leitor, a necessidade em pensar sobre o conceito da riqueza sob um parâmetro diametralmente oposto, isto é, como uma conquista interior, exclusiva, fruto de um intenso mergulho em seu próprio Ser, à procura das chaves que levam a tal tesouro, certamente mensurado por um valor incalculável.

Então, se trata de um livro religioso ou com conotação esotérica/filosófica? Não abertamente, porém, tais ferramentas interessam, sim, ao autor e ele as usa, ainda que com muita parcimônia, é bom frisar, pois não há nenhuma intervenção dogmática, tampouco doutrinária em sua expressão.



Marcelino é eclético como escritor, ao usar várias linguagens diferentes dentro da literatura, para expressar-se em seus livros, mas certamente que a crônica é o seu estilo principal. E assim, “O Primeiro Milhão de um Homem”, traz ao leitor, mais uma bela compilação com crônicas curtas (misturadas a alguns poemas, também), sendo preciso em seus recados, duro em algumas colocações, mas sem perder a ternura jamais, pois há em seu bojo, muita candura, através de algumas reminiscências que evocam a infância, a vida cotidiana e prosaica das pessoas simples, e até uma dose de erotismo em contrapartida com o seu clássico inconformismo com a política educacional e cultural dos governantes brasileiros, uma briga ferrenha com a qual ele empenha-se em enfrentar, através de seus livros, e depoimentos em entrevistas por diversos veículos da mídia, nos quais participa, costumeiramente.



Portanto, de crônica em crônica, Marcelino dá os seus recados concisos, sob o formato de pequenas gotas, não aforismos propriamente ditos, mas por lampejos, que justificam a ideia por ele mesmo propagada, a dar conta de que ler (e prestar atenção no que se lê), é o fundamento para um povo sair da sua miséria terceiro-mundista indecente e achar, de fato, o seu “primeiro milhão na vida”. Eis alguns trechos significativos entre as diversas crônicas publicadas nesse livro:


Em “A certeza dentro do Frio”, ele diz pelo enfoque de uma personagem que leu um de seus livros anteriores: “Lê-lo foi um alento... o único momento, naquela semana, onde suas palavras me tiravam de mim, transportando-me para o mundo invisível das buscas eternas. Com as palavras dela, saio de gelo do inferno e sinto que é verdade: o poeta deu certo”. 

“A Praia da Consciência” traz outro recado direto: “Deveríamos ser para os outros, um universo acolhedor. Deveríamos ser amigos. O que conseguimos, de forma muito tímida, quase uma ilusão, é sermos conhecidos de rosto. Nada mais, no essencial, somos invisíveis. Comunicação verdadeira acontece somente entre corações abertos e cultura tem muito a ver com reverência”.

Crítico das relações sociais efêmeras construídas através das Redes Sociais da Internet, em “Dos Amores Virtuais”, Marcelino criou esse conceito: “Não existe felicidade nenhuma no egoísmo. A felicidade suprema está em dar amor, mais ainda do que receber”.


Tanto discute-se a dicotomia entra razão e emoção, e nesse contexto, Marcelino vem com essa, em “Razão e Sentimento”: “A razão não vê o buraco negro da alma, nem o coração que chora o filho morto, o amor traído”... 

Livro com apenas 78 páginas, é curto em extensão, mas rico em ideias, a prender a atenção do leitor, pela diversidade de temas expressos, mediante alguns momentos lúdicos, até, mas é preciso ficar atento às chaves propostas pelo autor e elas existem, praticamente em todas as crônicas ali encontradas.


Para conhecer a bibliografia e ideias do autor, consulte seu site oficial:




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