sábado, 11 de maio de 2019

CD Brick in a Tie / Stringbreaker & The Stuffbreakers - Por Luiz Domingues


Ao tratar-se do grupo, Stringbreaker & The Stuffbreakers, creio que eu já gastei o meu repertório de elogios efusivos ao seu trabalho, quando tive o prazer de resenhar os seus dois primeiros trabalhos, ambos, excelentes. Portanto, é óbvio que mediante tais trabalhos pregressos tão bons, gerou-se uma pressão natural (e muito boa, ao meu ver), sobre os componentes da banda em relação aos seus trabalhos do porvir. Manter tal padrão de qualidade, tornou-se uma adorável obrigação para tais artistas, e superá-la, então, um desafio audacioso, embora certamente prazeroso para eles, enquanto desbravadores da criação.

Eis então que o terceiro trabalho chegou e cheio de estilo, pois veio para confirmar que esse Grupo de Rock não está para brincadeira e sim, empenha-se para superar-se, sempre. E se uso a expressão: “Grupo de Rock”, é algo proposital, pois remete a um tipo de nomenclatura que foi muito usada nas décadas de 1960 e 1970 e naturalmente que cabe como uma luva para este trabalho, que tão bem dignifica as influências que o marcam, oriundas dessas duas décadas de ouro para a história do Rock. 

Em “Brick in a Tie”, o seu terceiro álbum, o Stringbreaker & The Stuffbreakers, mantém a sua pegada forte, mediante o uso e abuso de influências nobres do Rock setentista (e sob diversas vertentes professadas naquela década, é bom frisar), além de marcar presença pelo aspecto da tomada de posição, via manifesto ou “statement” como queira o leitor, visto que a ideia de um “tijolo na gravata” (“Brick in a Tie”, o nome do álbum), tem a força simbólica e mastodôntica de quem denuncia o peso que atravanca-nos enquanto sociedade, e entenda-se isso por diversos aspectos da opressão sistemática pela qual estamos todos submetidos, diuturnamente.

O trabalho segue a linha dos álbuns anteriores na opção pela música instrumental. Outro desafio e tanto, a valorizar ainda mais o esforço desses artistas em lutar com tanta dignidade para fazer um obra deveras bonita e que na contramão de toda a expectativa da difusão mainstream, fechada há anos em suas convicções equivocadas em prol da anticultura de massa, este grupo insiste no Rock, na raiz setentista e ainda por cima a expressar-se pela música instrumental, ou seja, faz tudo ao contrário do que os vampiros que comandam a difusão mainstream preconizam e ao enxergar pelo lado estritamente artístico, isso é de uma coragem e honestidade a toda prova. 

Perfeito, que danem-se os sabichões que escolhem músicas para tocar nas novelas de TV, programas populares etc, pois o Stringbreaker and the Stuffbreakers tem o seu compromisso com o Rock verdadeiro e ponto final. Ainda bem.

Sobre a capa, eu gostei muito de sua concepção gráfica. A ilustração da capa principal mostra o tijolo devidamente envolvido pela gravata em questão, aludida no título e no seu desenho interno, sugere-se uma anatomia humana, discreta. E tudo isso sob um fundo sob uma matiz marrom, bem leve. 

No encarte, observa-se ótimas ilustrações em ritmo de Comics/HQ, muito bem desenhadas e temáticas a reforçar alguns títulos de canções. Contém também a foto da banda posada, e bastante informações técnicas sobre o álbum. Tal arte gráfica é um belo trabalho de Ricardo Bancalero, com foto de Marco Gaiotto.


A respeito das faixas, observo algumas particularidades, a seguir, aliás, ouça abaixo o álbum, enquanto continua a ler esta resenha: 

Eis abaixo, o link para escutar diretamente no You Tube : 



“Acts of Desperate Men”

Trata-se de um Blues-Rock com peso. Apresenta um riff central muito bom, bem ornado por uma cozinha firme, mediante a boa base de guitarras e a contar com o reforço discreto de um órgão Hammond, porém eficiente ao extremo. Gostei do uso de pausas e do final brusco, proposital do arranjo.

“Take #25”

Esta faixa apresenta uma linha de baixo belíssima. Além disso, destaca-se o seu timbre robusto, sob extremo bom gosto. Apreciei a boa desdobrada em determinado ponto, que recordou-me toda a pompa do Pink Floyd em: “Breath”. 

“Money Waltz”

Como sugere o título dessa canção, trata-se de uma valsa, sob a clássica estrutura rítmica em fórmula de compasso, 3/4. Mas a canção não segue tal linha até o seu final e na verdade, mostra algumas transformações em seu decorrer. 

É de uma uma atmosfera sombria e melancólica, mas muito bonita igualmente, pela sugestão de sua linha melódica. Existe uma abrupta opção pelo Blues-Rock, bem marcado e vibrante, para em seguida voltar-se ao tema inicial. 

A linha de bateria é muito caprichada, assim como a linha do baixo e a base é bem robusta da parte da guitarra. Os solos excelentes são observados e uma surpresa boa, uma rápida inserção em tom de homenagem é encaixada em meio ao solo, quando o grupo executa um trecho da canção: “Lazy”, do Deep Purple, sob uma rápida e incisiva ação, diga-se de passagem.
“Stone Rule”

Eis um Funk-Rock ultra setentista, com um balanço incrível, a lembrar-nos com saudade dos filmes ao estilo "Blaxpoitation" produzidos naquela década. É literalmente impossível não ter vontade de dançar com um tema desses, ainda mais quando tocado com esse brilhantismo todo, da parte dos três instrumentistas do grupo.

“St Patrick Aerostat”

Mais um Blues-Rock vigoroso, com a felicidade de ser composto por um riff muito forte. Adorei o uso do cowbell na bateria. Ao fugir do trivial, o arranjo feito para tal acessório de percussão, fez uso de desenhos rítmicos muito criativos, para provar que o percussionista não basta ser bom, tecnicamente, mas ao empreender criatividade, mostra um diferencial e tanto. É muito boa uma frase em efeito "looping" do baixo, ainda mais valorizada pelo uso de um timbre poderoso. 

“The Long and Short of It”

Gostei muito dessa música, com um balanço muito forte a insinuar uma intenção Pop, mas no melhor sentido do termo. Contém violões muito bons a pontuar a base, junto às guitarras.

“Ending Drizzle”

A faixa mais singela do álbum, com uma delicadeza muito grande no arranjo. Mais uma melodia muito feliz executada pela guitarra e em certo aspectos, os climas propostos, remetem a uma certa evocação do oriente, embora não seja algo explícito, porém, sutil.

“Stutering Five”

Aqui, temos um tema mais pesado, a lembrar mais o Hard-Rock, embora contenha um balanço muito forte, igualmente, a sugerir o Funk-Rock, sem cerimônia. Há um solo de baixo muito bonito, melódico, e que despertou-me a lembrança de John Entwistle.

“The Undertaker”

A faixa mais densa do disco, certamente. É o sentido mais pesado do Hard-Rock setentista e que o Black Sabbath tão bem utilizou em sua carreira no início, naquela década. Advém ao final, uma parte mais calma e a conter mais um ótimo solo de baixo.

“Unwearing”

Eis uma balada com um arranjo muito bonito com cordas acústicas e apoio do órgão Hammond.

“Tuxedo Run Over”

Trata-se de um Blues-Rock mesclado ao R’n’B, com apoio pontual do órgão Hammond. Gostei da parte final com acordes secos em sentido rítmico de "staccato", a passar pelas frações na fórmula de compasso, com acentos quebrados. Um toque de Rock Progressivo, portanto, certamente a remontar ao som do King Crimson.

Sobre o áudio dessa produção, eu digo que apreciei demais os timbres de todos os instrumentos, certamente a buscar referências vintage e a lograr êxito, sem dúvida alguma. Tenho uma observação negativa apenas, e trata-se de uma opinião versada pelo meu gosto pessoal tão somente, portanto não pode ser entendido como um demérito da produção, todavia, achei que há um excesso de reverber na mixagem como um todo e acentuadamente na bateria.

A recomendação deste álbum, de minha parte, é automática, visto tratar-se do terceiro trabalho desse grupo que eu analiso e do qual, tem a minha admiração total, desde o seu início. É uma banda que persevera e evolui a cada trabalho, portanto, peço ao leitor que também a prestigie com entusiasmo. E que venham mais obras desse alto calibre, de sua parte!

Gravação de cordas e teclados: Spilacktag Estúdio

Estúdio Gravação de bateria: Estúdio Toolbox 68

Captura / mixagem e masterização: Guilherme Spilack

Capa (criação e lay-out): Ricardo Bancalero

Fotos: Marco Gaiotto

Produção: Guilherme Spilack
Stringbreaker & The Stuffbreakers:

Guilherme Spilack: Guitarra; Violões e Teclados

Sérgio Ciccone: Bateria

Dilson Siud: Baixo

Para conhecer melhor o trabalho da banda, acesse:

Canal do You Tube: 



Página do Facebook:



Site:



Contato direto com a banda: 
info@stringbreakerrock.com

6 comentários:

  1. Interessante os comentários e análise feita p cada música.
    Ajuda a quem é tecnicamente leigo no assunto a ver com mais profundidade o trabalho,e a procurar ouvir mais os detalhes da composição já q como leigos a gente apenas ouve e fala se gostou do som ou não.
    Legal tbm o lado da interpretação dada p o tijolinho engravatado como representando o peso da vida em sociedade marcada d forma sistemática, sendo neste sistema os compromissos e correria representado pela gravata e o peso imposto pela sociedade representado pelo tijolo
    Parabéns aos músicos por mais um trabalho d qualidade, tão sério, profissional e prazeroso....de um som "de peso", mas com sutileza e elegancia.

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    1. Olá, Luciene !

      Antes de mais nada, quero agradecê-la por ter visitado o meu Blog; lido com atenção a resenha do álbum e comentado com direito a elogios, que aliás, muito incentiva-me a prosseguir nesta missão.

      Exatamente o que você observou, a intenção de minha parte é escrever resenhas com maior profundidade do que geralmente jornalistas profissionais tratam as obras que analisam em seus veículos, por conta do pouco espaço que dispõe. Como aqui o espaço é livre, busco uma análise mais pormenorizada, para valorizar os muitos aspectos que uma obra contém, seja um álbum musical; livro ou filme, que são geralmente os campos em que eu busco analisar.

      Sobre a observação a respeito da capa, fico muito contente por você ter identificado-se com a minha visão da obra e demonstrar que pensou em sintonia comigo. De fato, o peso da sociedade competitiva e agressiva, é um fardo na vida de todos os seres humanos. Libertar-se desse modus operandi é uma necessidade urgente para todos nós.

      E finalmente a respeito da banda, certamente que ela está de parabéns pela obra, que é magnífica.

      Volte sempre ao meu Blog e um grande abraço !

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  2. O prazer foi todo meu em ler este artigo .Se todos dessem a atenção, o valor e o incentivo p bandas autorais, ou qq trabalho feito com seriedade e profissionalismo como o destes musicos nosso país teria uma boa qualidade musical e cultural, mas infelizmente sao poucos q param para analisar e prestigiar tais trabalhos.
    Temos muitos artistas bons, muita música boa sendo produzida graças a determinação e coragem daqueles q acreditam em seus sonhos e lutam dia a dia p conseguir um espaço

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    1. Tomo como um grande elogio o seu depoimento expresso acima. Concordo inteiramente contigo, falta aos artistas genuínos, caso do Stringbreaker & The Stuffbreakres, uma abertura mínima que seja, para que possam expandir o seu trabalho a um público maior. Também concordo que o Brasil tem artistas bons em enorme profusão e isso só não mostra-se como algo evidente justamente pela falta de espaço midiático para que eles apareçam. Nesses termos, dou o meu máximo para que eles tenham um pouco de divulgação; respeito à sua obra e determinação em trabalhar.

      Grato por demonstrar o seu apoio !

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  3. Eu q agradeço o apoio e incentivo q vc da a estes músicos! Bom trabalho!

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    1. Perfeito, tomo as suas palavras como um grande incentivo para que eu prossiga nessa missão. Viva o Rock Brasileiro !

      Abraço, Luciene !

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