O filme
“Rock, Rock, Rock!”, conhecido no Brasil como “Ritmo Alucinante”, foi um dos
primeiros lançados nos anos cinquenta a ter o Rock como pano de fundo. E se na
parte musical o filme apresenta muito mérito, por conter a participação de
artistas sensacionais, em contrapartida, a parte dramatúrgica da obra é
fraquíssima. No entanto, leve-se em consideração que a questão do Rock a
assumir um protagonismo como instituição, fora completamente impensável na
época, portanto, fez sentido que fosse tratado como um mero modismo passageiro
e absolutamente restrito ao campo musical, sem nenhuma implicação maior.
Sobre a
trama, a história montada também não pode ser condenada, e se a sua fragilidade
é patente, por outro lado, a sua singeleza é até charmosa enquanto analisada
pelo viés do distanciamento histórico, portanto, não é cabível uma crítica mais
dura, ao meu ver, mas sim, a compreensão de que há mais de sessenta anos atrás
(1956-2019), a sociedade era regida por parâmetros sociais muito diferentes e
dessa forma, o que vê-se ali encenado, trata-se de um espelho da realidade do
que viveu-se à época.
Ainda a
mencionar a história, trata-se de um ambiente de jovens que desejam apenas
dançar o Rock’n’ Roll em salões e eventualmente participar de programas
televisivos ou radiofônicos, onde a música ao vivo era executada por muitos
artistas da época. A protagonista, Dori Graham (interpretada pela então muito
jovem e belíssima atriz, Tuesday Weld), deseja comprar um vestido para o seu baile
de formatura (o popular “prom” entre os norte-americanos), e o seu pai reluta em
ceder-lhe o dinheiro (Mr. Collins, interpretado por Jack Collins), por achar o
valor cobrado pela loja, alto. Paralelamente, ela gosta de dançar o Rock’n’
Roll com os seus amigos e o namorado, e por conseguinte, o seu pai também não
considera que isso seja bom para a sua filha.
Entre idas e
vindas, Dori Graham empreende os seus esforços para providenciar tal montante e
aí são mostradas cenas da moça a consultar o gerente de uma agência bancária e
nesse aspecto é engraçado notar o quanto era normal na época (e ainda o é
assim, atualmente, embora sob uma graduação bem menor), tratar-se a juventude com desdém, e
sobretudo, pela questão machista, muito mais acintosa naquela ocasião, ou seja,
jovem e menina ainda por cima, era vista como criança, ou seja, absolutamente
irrelevante para a sociedade.
Ela chega a cogitar fazer uso de dinheiro
emprestado por agiotas, mas choca-se ao tomar conhecimento do alto valor
cobrado como taxa de juros, ou seja, algo engraçado ao tratar-se do contexto
capitalista. Nesse ínterim, os números musicais intercalam-se e aí sim,
temos a melhor parte do filme, com
aparições muito boas de astros de primeira grandeza, tais como Chuck Berry; The
Flamingos; The Moonglows e outros não tão grandiosos, mas significativos da
cena cinquentista (nota-se também alguns veteranos ainda mais remotos da década
anterior, 1940), casos de The Three Chuckles, Johnny Burnette Trio, La Vern
Baker, Jimmy Cavallo and His House Keepers, Cirino and The Bowties, Frankie
Lymon and The Teenagers, The Coney Island Kids, Alan Freed and His Rock’n’Roll
Band, Teddy Randazzo e uma curiosidade, a atriz, Tuesday Weld, a interpretar a
personagem, Dori Graham, canta, mas na verdade pratica uma dublagem e a sua voz
na performance, foi provida pela cantora, Connie Francis.
Ao final,
tudo esclarece-se entre Dori e o seu pai, com o vestido do “Prom” devidamente
adquirido e melhor ainda, com a moça a encontrar o seu namorado e ao som do Rock’n’Roll.
Portanto, o final é singelo e feliz com direito ao inevitável beijo do casal e
muita dança da parte de todos no salão, inclusive com a participação de Alan
Freed (o famoso radialista, considerado por muitos, como o maior incentivador
do crescimento do Rock’n‘ Roll na América do Norte, nos anos cinquenta), a
sinalizar com a sua devida aprovação pelo desfecho da película.
Uma
curiosidade desse filme, é a presença de uma adolescente a constar na encenação
apenas como uma figurante nas cenas em que o jovens dançam, mas que muitos anos
depois, tornar-se-ia uma atriz famosa no mundo da TV, ao interpretar a
personagem, Rhoda Morgenstern, no seriado: “Mary Tyler Moore” e que
posteriormente teve o seu seriado próprio, em regime de “spin-off” (uma série que
é derivada de outra), “Rhoda”, ambos lançados nos anos 1970.
“Rock, Rock,
Rock!” teve a clara intenção em ser uma peça institucional a serviço das
gravadoras, sem dúvida e apesar desse caráter mercantilista subliminar, tem o
seu valor, certamente por ser considerado hoje em dia (assim como outras
produções de mesma época e construídas sob a mesma intenção) uma importante
peça, a revelar-se como um documento da história, principalmente pela inserção
dos artistas musicais genuínos daquela ocasião. E convenhamos, somente por
Chuck Berry e The Flamingos, para citar os mais proeminentes, e sem contar a
presença de um personagem histórico para a história do Rock, Allan Freed, a
película merece ser assistida.
Mais alguns
atores envolvidos, que vale a pena mencionar: Fran Manfred (como Arabella),
Teddy Randazzo (como Tommy Rogers), Jacqueline Kerr (como Gloria Barker), Carol
Moss (como Mrs. Graham), Eleanor Swayne (como Miss Silky) e outros.
Filmado em preto e branco, teve direção de Will
Price, e foi lançado em dezembro de 1956. A repercussão foi morna da parte da
crítica, mas a obra teve um bom desempenho na bilheteria, certamente
impulsionada pela música ali contida. Passou bastante na grade dos canais de TV
aberta, principalmente ao final da década de cinquenta e por boa parte da
década de sessenta, mas desapareceu da TV, desde então, salvo raras exibições a
atender a programação temática em específico, em algum canal de TV a cabo,
esporadicamente. Está disponível em edição dupla, aliás, na versão DVD e no YouTube, é facilmente encontrado.
Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll", através de seu volume II e está disponível para a leitura a partir da página 255.
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