A ideia
primordial do livro: "Luz; Câmera & Rock'n ' Roll seria em princípio centralizar-se em torno da análise de filmes lançados sob a identificação clássica em torno do padrão em longa
metragem, entretanto, desta feita eu abrirei uma exceção para incluir nesse seleto rol,
um curta-metragem, pois dada a sua relevância e sobretudo a maneira criativa
pela qual foi produzido, fica mais do que justificada a sua inclusão.
Falo sobre a
película: “Turn me On, Dead Man”, baseada em uma história inspirada
diretamente na biografia dos Beatles, porém a tratar-se de algo não relatado em
sua história oficial, portanto, a mostrar-se altamente amparada em uma lenda
urbana, por conter um episódio completamente fora de propósito, como premissa.
Faz-se mister explicar-se a lenda construída em torno dos Beatles,
anteriormente, para que este curta metragem possa ser compreendido melhor pele
leitor.
Pois bem, em
1966, conta-se que os Beatles estavam a ensaiar em um determinado dia, e por conta de uma briga
ocorrida e motivada por diferenças surgidas em torno do arranjo para uma
música, Paul McCartney teria saído furioso do ensaio e ao dirigir o seu carro sob
forte estado de emoção, e em meio à chuva, sofreu um acidente e veio a falecer.
Por tal suposto caso ter ocorrido durante a alta madrugada, deu tempo para que
os demais companheiros e sob a liderança do empresário, Brian Epstein, pudessem
abafar o caso e rapidamente tomar providências para colocar um sósia perfeito
em seu lugar, e assim, a banda pode tocar a carreira adiante, como se nada
houvesse ocorrido.
Tal lenda urbana cresceu muito naqueles anos posteriores, ao
ponto de arregimentar uma enorme lista de supostos sinais secretos que estariam
presentes nas letras das músicas e através de sinais inseridos subliminarmente
em fotos e capas de discos. Um desses sinais, cita a questão do personagem,
Billy Sheers, mencionado na letra da canção, “Sgtº Pepper’s Lonely Hearts Club
Band”. Pois bem, esse Billy Sheers teria sido em tese, o rapaz contratado para
substituir Paul MacCartney na banda e na vida, digamos assim. Outro dado
interessante, e só vou citar mais este, pois tem a ver diretamente com este
filme: no LP “White Album”, de 1968, consta no repertório de tal disco, uma faixa chamada: “Revolution Number 9”. Na verdade, não é uma música
propriamente dita, mas uma faixa inteiramente experimental a conter rajadas de
metralhadoras, permeadas por gritos, palavras proferidas de uma forma incompreensível,
muitos efeitos sonoros louquíssimos e um trecho marcante, a conter uma locução
monocórdica a repetir intermitentemente a expressão : “Number 9; Number 9;
Number 9”... pois nessa faixa altamente
polêmica, segundo consta em mais uma lenda urbana, quando o ouvinte fazia com que
a agulha da vitrola girasse no sentido anti-horário, seria possível ouvir-se a
expressão: “Turn me On, Dead Man”, o que em tradução livre seria algo como: “Deixe-me
ligado, Homem Morto”. Ou seja, a tal “backwards messanger” a denotar ser mais
uma alusão subliminar e não confirmada, logicamente, a corroborar a ideia de
que Paul McCartney houvera falecido em fevereiro de 1966, e desde então, um
sujeito chamado, Biilly Sheers, estaria como um impostar a ocupar a sua
identidade e por conseguinte, posto na banda.
Pois foi
nessa premissa absurda que construiu-se o argumento para esse curta-metragem,
denominado: “Turn me On, Dead Man”. Ao contrário da clássica comédia, “The
Rutles”, onde a sátira é explícita e toda a paródia construída inspira-se
abertamente na biografia e sobretudo na obra dos Beatles, no caso de “Turn me
On, Dead Man”, não fala-se em momento algum que seja inspirada nos Beatles e
nem mesmo as músicas executadas são paródias que lembram as canções originais.
Entretanto, tudo é montado para remeter aos Beatles.
Não se usa o
nome da banda, tampouco dos nomes de seus componentes, mas é óbvio que está a
retratar-se o Fab Four, ainda que os nomes sejam diferentes e as canções
apresentem outras formulações melódicas. No entanto, a estética musical e toda
a orientação do figurino, visual dos personagens; ambientação de época, nos
anos sessenta, e outros detalhes desta produção, remete aos Beatles em 100 %.
A história
começa com uma notícia chocante que é dada no estúdio onde essa banda ensaia.
Um dos componentes sofreu um acidente e o clima torna-se desolador,
naturalmente. Corte brusco e um flashback mostra a mesma banda em situações
vividas poucos anos antes, com um sucesso retumbante a justificar o delírio da
parte de fãs ensandecidas, cenas da banda a descer de aviões e receber a ovação
de fãs ali presentes para recepcionar os rapazes, peças de portfólio a ilustrar
o sucesso retumbante da banda etc. O filme segue com a mesma perspectiva, ao
mostrar os rapazes a conceder coletivas de imprensa e também a apresentar-se em
shows ao vivo. Tudo muito rápido, mas eficiente a mostrar ao espectador uma
sequência coerente e mais que isso a deixar clara a alusão implícita aos
Beatles em sua trajetória real. Isso reforça-se com a cena a mostrar a banda a
conceder a coletiva de imprensa e ali, as respectivas personalidades dos
músicos, tanto pelas respostas que formulam, mas também pelos trejeitos
apresentados, deixa clara a representação dos Beatles. Mostra-se o empresário
da banda a receber dinheiro, o que é um fato subliminar importante para
descrever um ponto futuro do filme.
Bem,
volta-se na narrativa ao momento de 1966, um pouco antes do acidente com o
baixista da banda. Mostra-se o clima tenso no ensaio e o momento da discussão
mais acalorada, quando ele abandona o trabalho e sai furioso do local. Ele
entra no carro e sai a dirigir com bastante imprudência, devido ao nervosismo
pela situação anteriormente criada e isso ocorre na calada da noite e sob a
ação de um chuva intensa.
Subitamente, ele freia bruscamente para não atropelar
uma garota que surge em meio à estrada. Assustado, ele a aborda para saber como ela está e
oferece-lhe uma carona para levá-la para a sua residência. No entanto, no
decorrer desse novo trajeto, a garota comporta-se de uma forma estranha e
parece estar propensa a provocar um acidente verdadeiro. O artista (chamado,
Blake), de fato perde a direção do automóvel e o acidente ocorre, ao mostrar-se
fatal para ele. A garota sai na chuva, e não dá a entender ter machucado-se, e
nem mesmo a importar-se com o ocorrido. Naturalmente que a metáfora é a
explicação para a participação de tal personagem expresso em torno da moça e
que veio para justificar a morte inevitável do músico, Blake.
Bem, a
notícia chegou aos seus companheiros e o empresário mostra o seu lado frio e
antes mesmo que eles caiam aos prantos, propõe a ideia de montar-se uma farsa,
com a imediata busca por um sósia e assim não gerar nenhum prejuízo à carreira
da banda, que prosseguiria na mesma rotina mantida pelo sucesso e consequente
possibilidade para angariar-se muito mais dinheiro do que a banda já havia
ganho. Em princípio, alguns chocam-se com tal proposta absurda, mas o escrúpulo
e a comoção pela perda do companheiro, logo passa e assim, acham um sósia
perfeito e a banda segue os seus planos normalmente, sem que nenhum fã ou
jornalista, perceba tratar-se de uma farsa em torno de haver um impostor a
passar-se pelo Blake. Há uma menção explícita sobre a faixa “Revolution Number
9”, neste instante, pois o tal sósia ganhara uma prosaica premiação em uma
feira provinciana, por conter o número “nove” de uma rifa ou coisa que o valha.
A saga da
banda prossegue e daí, pontos cruciais da trajetória dos Beatles são insinuados
em fatos decorridos em 1967 & 1968, para avançar-se até o final da banda em
1970, com o tal sósia de Blake a viver normalmente, como se fosse ele e
certamente inspirado diretamente na trajetória de Paul McCartney. O filme
encerra-se a marcar a ideia de que o verdadeiro Blake, falecera em 1966, a
reforçar a lenda urbana fomentada e uma cena a mostrar uma perspectiva toda
montada para remeter ao efeito das ditas “backwards messangers”, que grupos de
Rock inseriam em seus álbuns para ser ouvidas subliminarmente (não apenas os
Beatles brincaram com esse efeito), quando os discos eram tocados ao contrário
na pick-up das vitrolas, mostra uma voz a afirmar, por reiteradas vezes a frase: “Blake is Dead”.
Muito bem,
esta obra tem muitos pontos positivos. Primeiro, pelo capricho da produção,
pois esmerou-se em ter uma direção de arte, figurino, maquiagem & cabelo,
iluminação & fotografia, mas sobretudo por conta de sua trilha sonora, a
apresentar uma ótima qualidade. Gostei muito também do roteiro, igualmente,
muito bem engendrado, a condensar de uma maneira muito eficaz a história em
torno de parcos vinte e poucos minutos de duração deste curta-metragem. E
também gostei da direção, pois a trama toda tem um distanciamento interessante,
em que as emoções são mostradas, é claro, mas o tempo todo, fica a impressão de
haver um filtro usado para nunca deixar o espectador envolver-se em demasia,
algo bastante incomum em qualquer audiovisual, certamente.
Joe Reegan
interpretou Blake, Dave Moscow interpretou, John. Brian Gattas interpretou Sam,
Luke Edwards interpretou Charlie, Brian Ruppenkamp interpretou Ryland, Duke
Straud interpretou Jack Fowler, Kalia Fullerton interpretou Adelia/Kalia
Pamela, Patrick Holland, interpretou Giles.
Sobre a
parte musical, uma banda gravou a trilha, chamada: “Rock Ensemble”. Roteiro
escrito por Adam Blake Carver e Tyler Knell. Direção de Adam Blake Carver. O
filme foi lançado em junho de 2009.
Inicialmente
exibido em festivais e salas de cinema de arte, teve uma repercussão em canais
de TV a acabo, notadamente em programas ligados à música e certamente repercutiu
fortemente em meio aos fãs dos Beatles com bastante repercussão em mídias
geridas por fã clubes e afins.
Não tenho informação sobre a existência de um
DVD desse curta ou mesmo que ele esteja inserido em algum DVD coletânea ou em outro
meio. Existe um livro com o mesmo título, no entanto, e que nada tem a ver com
esta produção cinematográfica, mas trata da questão da lenda urbana em tono da
suposta morte de Paul MacCartney, em 1966. Foi escrito por Andru J. Reeve.
Esta peça
pode ser assistida no YouTube, dividida em duas partes, e tal divisão
mostra-se até incompreensível, visto tratar-se de um curta metragem com apenas
vinte e dois minutos de duração, mas tudo bem, o importante é que esteja
disponível.
Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" e está disponível para a leitura através do seu volume II, a partir da página 259.
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