Guitarrista fortemente versado nas tradições clássicas do Rock’n’ Roll e do Blues, Márcião Pignatari é mais do que um ótimo músico, compositor e cantor, mas é também um artista que se comunica com grande desenvoltura e bom humor espirituoso com o público, ou seja, assisti-lo ao vivo é sempre muito prazeroso pela alta qualidade sonora e igualmente pelo astral bom que ele irradia de uma forma muito natural, por conta da sua personalidade.
Artista que já participou de vários projetos, ele mantém a sua banda em atividade, Márcião Pignatari & Os Takeus, sempre cercado por músicos de grande qualidade artística, além dele mesmo ser solicitado para atuar com outros artistas em gravações e apresentações ao vivo, dado o fato de que a sua presença em estúdio ou no palco, sempre abrilhanta o trabalho de quem quer que seja.
Neste caso, o objeto desta resenha é o CD Blues Quasar, um trabalho solo que esse artista oriundo de Osasco-SP, lançou com bastante desenvoltura. A sonoridade é rica ao longo de todas as faixas, com um instrumental de alto padrão, obtido com uma formação bem básica, o clássico Power-Trio a conter guitarra, baixo e bateria. E como sempre ocorre nesse tipo de formatação, os três músicos se desdobram e preenchem todos os espaços com muita criatividade e uma força incontestável.
A respeito do aparato gráfico que acompanha o disco, ele se mostra bem simples, contudo, de bom gosto a mostrar uma ilustração frontal com a foto de um “Quasar”, literalmente, ou seja, um fenômeno astronômico observado pela ciência, a se caracterizar como um núcleo galáctico ativo, maior que uma estrela, porém menor que uma galáxia e no caso da capa, a se mostrar azul com uma esfera exterior amarelada e sob o fundo preto do espaço sideral.
Na contracapa, se vê uma montagem de uma foto do artista e de seus músicos convidados, com o tom dourado a predominar como fundo. Em relação ao encarte, mostra-se uma foto a se destacar a presença da guitarra e dos amplificadores do Márcião, que insinuam a formação do “quasar” e assim a justificar o título do disco. Seguem fotos dos músicos e uma breve ficha técnica.
Sobre a música proposta pelo Márcião Pignatari, se trata de um conjunto de treze faixas e sobre as quais tenho a pontuar algumas observações.
Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=FfEHKRNQ2q0
“68 Blues” é um tema instrumental a mostrar sonoridade muito agradável e que lembra muito o som de John Mayall & Bluesbreakers, bem ali na metade dos anos sessenta, com uma linha de Blues-Rock direta e reta, mediante uma timbragem bem limpa de todos os instrumentos, principalmente pela guitarra que destila o som puro da Fender Stratocaster.
A condução geral, tanto no aspecto harmônico, quanto na divisão rítmica é pautada pela linha tradicional do Blues e para enriquecer, há a presença de convenções pontuais.
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=rnqb2u5szgE
A canção “Às Vezes” mostra um Blues-Rock balançado a pender para o R’n’B. Márcião mais uma vez desempenha com a sua guitarra mediante grande desenvoltura e os seus convidados, Marcos Soledade “Pepito” e Douglas Silva, vão juntos na mesma predisposição a acompanhar muito bem a intenção da canção.
Na parte cantada, Márcião lembra o estilo de interpretação do saudoso Celso Blues Boy e no aspecto da letra, a fina ironia se faz presente, ao discorrer sobre o fardo que é ter que conviver com um tipo de pessoa que se julga dotada da sapiência que na realidade não possui.
Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=jEcrYRiEJv0
“Celebrar a Vida” tem uma pegada Blues com sabor Country-Rock, a la Southern Rock, que é muito interessante. É muito bom o solo e o refrão também é bem convidativo para se cantar junto à banda e afinal de contas, o mote da letra é mesmo celebrar a vida, ou seja, uma dádiva.
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=_0_6FjNfk9Q
“De onde eu Venho” é um Blues-Rock vigoroso, a lembrar o som de Robin Trower, Cream e de seus contemporâneos. É muito bom o riff e a parte melódica, que é cantada com ênfase.
Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=2H2a3TPOP-M
“Aquilo Lá” é um tema que pela timbragem e estrutura harmônica lembra bastante o som da Surf Music bem típica das décadas de cinquenta e sessenta, praticada por bandas instrumentais como The Shadows e The Ventures e por centenas de similares, inclusive no Brasil (Jet Blacks, The Spark’s, The Clevers etc). Tema gostoso de se escutar, mostra bem o desempenho preciso do Marcião à guitarra, sob fraseados mais rápidos.
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=KAsSdOgbBcg
Em “Cowboy do Salão”, o estilo do Blues texano se faz presente com proeminência. A letra brinca com os clichês oriundos das tradições dos bares de música ao vivo, não só do estado do Texas como de outros estados do sul e oeste dos Estados Unidos, onde os músicos se acostumam a tocar em meio às brigas com garrafas que são arremessadas a esmo, inclusive sobre eles mesmos no palco.
Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=8LYbp3FalaQ
A sétima faixa, “Um Tempo Bom (Puteiro em Maislaqui)” tem o jeito brejeiro do Blues de New Orleans e como sugere o seu título, contém uma letra bastante satírica a descrever o ambiente de um prostíbulo.
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=1I-tUQnYvXk
“Cigana” vem a seguir, com uma irresistível pegada a la Carlos Santana, com muita ginga mexicana na forma latinoamericana/hispânica para interpretar o Blues.
Marcos Soledade, o grande “Pepito”, além de baterista é um excelente percussionista e assim, a sua contribuição nas congas e outros instrumentos de apoio, foi providencial.
É ótimo o solo de guitarra e a inclusão de um violão também agregou bastante para encorpar a canção, além de brilhar no solo final a encerrar o tema, via efeito de fade out.
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=wfilIp26DxQ
Chega a nona faixa, “Pronto para Viagem” e a proposta é um estilo de Blues a pender para o Pop, embora a proposta instrumental remeta levemente à Surf Music sessentista, inclusive pelo bom uso do trêmulo na guitarra.
Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=erQkwQ3vwTA
“De Galho em Galho” tem o seu riff bem orientado pelo Rock’n’ Roll na sua estrutura e lembra bastante o som dos Rolling Stones nos anos setenta. Trata-se de um som que produz o apelo à dança, portanto, é uma peça bem agradável.
Há um final falso que serve para criar uma atmosfera interessante como interlúdio e assim a música volta subitamente ao seu refrão para terminar enfim no embalo total.
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=3l0Xvi2OFBk
“No Silêncio” é uma música que tem uma proposta de letra mais densa, o que me fez recordar do trabalho de Itamar Assumpção, com uma abordagem de poesia urbana. Eis um pedaço de um verso que me pareceu emblemático:
“No Silêncio sentir o dom de respirar/No silêncio a vida que se tem”
Na parte musical, a canção tem a pegada dos bons discos solo do Eric Clapton no início da década de setenta, em meio a um som orientado pelo R’n’B, bem balançado.
Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=TzSI51OstiA
A décima segunda faixa é: “Só Pessoas”. Neste caso, se trata de um blues bastante ritmado e na sua letra, Márcio enfatiza o fato de que as pessoas são absolutamente iguais e dessa forma, a arrogância movida à exaltação das posses materiais e/ou em relação à posição social mais elevada, são meras ilusões que os prepotentes tem em mente para subjugar as demais pessoas. Eis um trecho da letra:
“Nus em frente ao espelho somos só pessoas”
Recado em tom de crítica social a parte, a música empolga por si só, ao se mostrar como um embalo de primeira qualidade.
Ao final, Márcio recita com ênfase: -“venha para a luz”, ou seja, que a prepotência dessa gente esnobe permaneça nas trevas...
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=E0FzPzvQKgw
“Feitiço de Áquila” fecha o disco e em grande estilo ao evocar a presença de Jimi Hendrix subliminarmente em seu estilo. Trata-se de um tema instrumental de uma beleza rara em termos de melodia, toda desenhada pela guitarra com bastante senso emotivo a alternar intensidade na dinâmica.
É belo o final ao se chegar no limite da saturação do amplificador e usar do recurso do “feedback”, bem ao estilo Hendrixiano.
E “O Feitiço de Áquila” em questão é uma lenda com teor medieval que fez grande sucesso como filme no ano de 1985 (“Ladyhawke”, título original em inglês, com direção de Richard Donner), a dar conta de uma maldição lançada por um feiticeiro inescrupuloso a um casal que ele almejou se vingar por ciúmes, no sentido de lhes impor que de dia a moça se transforme em um falcão e a noite, o rapaz se torne um lobo, para que assim, nunca se encontrem como humanos e consumam o seu amor.
Para encerrar, eu recomendo bastante a audição do CD “Blues Quasar” do guitarrista, compositor e cantor, Márcião Pignatari, por considera-lo um bom disco a trabalhar com a base do Blues e Rock’n’ Roll e igualmente flertar com diversas variantes dessas correntes.
Gravado no Estúdio 500 de São Paulo
Técnico de som (captura): Mauricio Pastori
Mixado no estúdio Big Rec
Técnico de mixagem: Mauricio Pastori
Capa/encarte: Case 21 Designer
Produção Geral: Márcião Pignatari
Banda:
Márcião Pignatari: Guitarra, violão e voz
Marco Soledade “Pepito”: Bateria e Percussão
Douglas Silva: Baixo
Para conhecer melhor o trabalho do Márcião Pignatari, acesse:
Facebook:
https://www.facebook.com/adrian.pigblues
YouTube:
https://www.youtube.com/channel/UCXMaRA5uXPV8jtsWPoGaM6g
Spotify:
https://open.spotify.com/album/7n6JgtMplV6KuwO5K71Twd?si=Zrgky1j4R9qtqscm4l-rGA&nd=1
Instagram:
https://www.instagram.com/marciaopignatari/
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