sábado, 19 de janeiro de 2013

Sábado Som - Por Luiz Domingues

Foi em um sábado de abril de 1974, que um fenômeno inimaginável para os padrões da época, ocorreu na TV brasileira, no horário das 16:00 horas. Ao estabelecer uma mudança em sua programação habitual, a Rede Globo de televisão colocou no ar um programa chamado: "Sábado Som", produzido e apresentado pelo jornalista, Nelson Motta, com o objetivo de exibir o melhor do Rock internacional, daquele momento. De queixo caído, Rockers, Freaks e Hippies tupiniquins não acostumados com tal tipo de tratamento cultural inclusivo, comemoraram a oportunidade incrível e improvável até então.
E logo de início, a estreia foi para lá de especial, com a exibição do documentário: "Live at Pompeii", uma produção de 1971, com o Pink Floyd a tocar ao vivo, nas ruínas da extinta cidade romana de Pompeia.
Um espetacular estreia de programa, portanto, com este especial, pleno de clima lúgubre e sob a aura de um Pink Floyd em grande fase da carreira. Foi inacreditável estar a assistir tal peça audiovisual na TV, em um sábado a tarde, pois não éramos norte-americanos ou europeus, acostumados a ter esse tipo de suporte nos meios de comunicação, com a devida regularidade.
Até então, havia sido rara a oportunidade para a exibição de material de grupos de Rock internacionais, salvo pequenas intervenções sazonais. Tomo como exemplo a minha experiência pessoal que deve ter se repetido para muitos aficionados da minha faixa etária, em termos de reação e repercussão desse programa inicial. Na segunda feira posterior, às 7:00 horas da manhã, no portão da escola, o assunto não foi outro entre os freaks do colégio. 
A expressão, "você viu" (?), foi repetida muitas vezes nas rodas formadas entre amigos e tornou-se o assunto da semana, sem dúvida alguma, tanto quanto um ano antes, houvera sido com a primeira exibição em larga escala dos Secos & Molhados, no programa "Fantástico", que deixou todo mundo estupefato, igualmente. E assim se sucedeu, sábado após sábado, vídeos inacreditáveis a exibir a performance de artistas que eram muito distantes para nós, a ser exibidos.
O material que alimentava o programa, foi proveniente de boas fontes das TV's norte-americanas e europeias: Don Kirshner's Rock Concert, "Midnight Special", "In Concert", "Old Grey Wistle Test"; "Top of The Pops", "Rockpalast", "Beat Club", "Ratatata", "Musikladen" etc. Sendo assim, por meses a fio, o horário das 16:00 horas, aos sábados, tornou-se sagrado para nós.
O mundo podia desabar, mas ninguém tirava-nos da sagrada poltrona da sala de estar nesse dia e horário da semana. Entre tantas pérolas que ali vislumbramos, causou furor a exibição da banda holandesa, Focus, e ouso dizer que a enorme popularidade que tal banda angariou no Brasil, iniciou-se ali no Sábado Som. 
Ninguém nunca mais se esqueceu daquela banda espetacular, com um tecladista/vocalista alucinado, que em meio a um Hard/Prog-Rock muito bem tocado, a estabelecer malabarismos vocais a la "yodol", um falsete exótico e dificílimo para cantar-se, típico do folclórico europeu, e dessa forma o Focus deu o seu recado com enorme força em torno de sua canção: "Hocus Pocus!"
The Allman Brothers Band, Alice Cooper, Poco, Chuck Berry, Triumvirat, Greenslade, Uriah Heep, Gentle Giant, Slade, David Bowie, T.Rex, Suzi Quatro, Johnny Winter, Black Oak Arkansas, Average White Band... foram inúmeros os artistas norte-americanos e europeus, oriundos de várias vertentes do Rock, que ganharam exibições memoráveis para o nosso total deleite.
O programa gerou frisson entre os Rockers, de tal forma, que permito-me contar aqui uma experiência pessoal: a minha professora de português na ocasião (eu cursava a dita "7ª" série do ensino fundamental, à época), preocupada em fugir do conteúdo pedagógico óbvio, gostava de inserir tópicos culturais nas brechas do programa didático tradicional e maçante que era obrigada a ministrar. Entre um tópico de gramática e outro de ortografia, ela gostava de estimular discussões no âmbito cultural e claro que isso foi positivo, eu devo admitir.
Todavia, como ninguém é perfeito, segundo os seus parâmetros pessoais, o Rock representava algo menor, talvez um produto da subcultura inferior, em sua opinião e portanto, um substrato que ela nutrisse desprezo, posso imaginar. Motivada pela repercussão do "Sábado Som" e pela recente visita de Alice Cooper ao Brasil, que gerara uma repercussão enorme, eis que ela propôs uma redação a ser elaborada pelos alunos, onde o tema designado foi: "quem é melhor, Alice Cooper ou Hermeto Pascoal?"
É claro que a sua intenção foi buscar argumento em nossas redações infantojuvenis, para corroborar a concepção dela, de que Alice Cooper seria supostamente inferior, por ser na sua visão preconceituosa, um artista enlatado do Rock norte-americano e cujo trabalho denotaria mau gosto por conta da sua teatralidade mórbida, de fato, etc. e tal. 
 
No entanto, através da minha redação, eu argumentei que não enxergava nenhuma disparidade entre esses artistas e pelo contrário, gostava de ambos, a começar pelas diferentes particularidades apresentadas pelos dois, e ao ir além, incluí o The Allman Brothers Band, como um exemplo a mais de sonoridade diferente e pautada pela extrema excelência artística.
Assim éramos nos anos setenta, sem preconceitos, sem tribos fechadas em nichos... tudo era divino e maravilhoso, sem divisões. Ao final de 1974, o "Sábado Som" exibiu um especial condensado do Festival "Califórnia Jam", ocorrido poucos meses antes. Para os padrões da época, foi inacreditável assistir alguns artistas participantes desse festival, ao vivo, com o frescor, dessa proximidade temporal.

E assim, ficamos petrificados nas poltronas ao ver Keith Emerson a tocar em um piano de calda, suspenso, a girar no ar como se fosse um número circense (e o foi, na prática), Ritchie Blackmore a destruir o palco sob uma fúria ensandecida, em meio às chamas, o Black Sabbath a propagar os seus temas pesados à luz do dia, ao estabelecer um contraste quase ideológico perante a sua própria obra, marcada pelo caráter soturno etc. 

Contudo, o sucesso comercial de tal empreitada Rocker talvez não fosse proporcional ao nosso entusiasmo setorizado e assim, a Rede Globo tirou o programa do ar, ainda no começo de 1975, para substituí-lo por um seriado chamado: "Star Lost"
O "Sábado Som" marcou época e gerou repercussão diluída em pequenas ações. Conheci lojas de discos e até de artigos sem relação com a música, diretamente, que abriram as suas portas com tal denominação, certamente para aproveitar a sua repercussão.
E também um selo com essa denominação, que chegou a lançar diversos artistas, principalmente bandas do chamado, "Krautrock" (uma vertente do Rock alemão sessenta/setentista, muito interessante, formada por artistas com tendência a praticar o Rock progressivo e experimental). Esse selo lançou bandas tais como: "Nektar", "Embryo", "Amon Düll II", "Guru-Guru", "Karthago", entre outras, no mercado brasileiro. 
 
Em meados de 1976, a Rede Globo repaginou o programa e o relançou sob o nome de: "Rock Concert", sem a presença de Nelson Motta, no entanto, contudo, essa é uma outra história, como diria o meu amigo, Charles Gavin... 
Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2012

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Comprimido do Vestibular - Por Luiz Domingues

Uma lenda urbana começa geralmente de forma sorrateira. Nem todas vingam, mas uma ou outra logra êxito ao espalhar-se e ganhar assim uma notoriedade. Não sabe-se quem foi o autor, mas o fato é que espalhou-se o boato de que um medicamento vendido normalmente em farmácias, embora tenha função medicinal completamente diferente, auxiliaria na concentração mental, ao estimular o foco e a memória e para ir além, potencializaria a inteligência.

Dessa forma, tornou-se uma coqueluche entre vestibulandos e "concurseiros" em geral, o seu uso indiscriminado, sem critério científico e evidentemente ao assumir os riscos de efeitos colaterais indesejáveis. O Metilfenidato, cuja finalidade medicinal é coibir o transtorno do déficit de atenção, através da hiperatividade, em nada ajuda as pessoas a ter desempenho melhor nos estudos. Contudo, como tal prática começou a sair do controle, as autoridades de saúde preocuparam-se e assim, um estudo mais aprofundado precisou ser feito. Para poder ser comprovada (ou não), essa lenda urbana, a psicóloga, Silmara Batistela, da Universidade Federal de São Paulo, empreendeu uma série de experiências e chegou à conclusão de que o medicamento não promove nenhuma melhora cognitiva. A questão do foco, relatado por estudantes impressionados com os seus supostos resultados, segundo os estudos, fora motivado pela coibição do sono. 
Efeito esse, evidentemente promovido pela anfetamina e não muito diferente dos efeitos de certas drogas usadas com objetivos recreativos. Claro, o perigo assumido pelo consumidor é grande, pois o medicamento pode desencadear problemas cardíacos graves, arritmia, por exemplo. Por ser um medicamento de uso psiquiátrico, faz-se necessária a apresentação de uma receita.
Tirante o famoso e execrável "jeitinho brasileiro", tem ouvido-se relatos de jovens que tem procurado consultas psiquiátricas e a simular sintomas de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), perante os doutores, com o objetivo torpe em obter uma receita. Nesse caso, não dá para deixar de lamentar que exista pessoas com talento para a dramaturgia, que desperdiçam a sua vocação, por uma causa tão pobre. Também é alarmante como a saúde pública é gerida, quando dados revelados pelo sindicato das indústrias farmacêuticas, indicam que tal medicamento teve acréscimo de 50% em sua vendagem, nos últimos quatro anos. Para encerrar, não existe remédio para aumentar a inteligência... o jeito é estudar mais...
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica e posteriormente republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2013.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Kim Kehl & Os Kurandeiros - Dia 16 de janeiro de 2013 - 21:30 h. - Magnolia Villa Bar - São Paulo / SP


Kim Kehl & Os Kurandeiros
Dia 16 de janeiro de 2013
Quarta-Feira  -  21:30 h.

 Magnolia Villa Bar

Rua Marco Aurélio, 884 

Lapa

São Paulo  -  SP

KK & K :
Kim Kehl - Guitarra e Voz
Carlinhos Machado - Bateria e voz
Nelson Ferraresso - Teclados
Renata Martinelli - Voz
Phil Rendeiro - Guitarra e voz
Luiz Domingues - Baixo
Participação especial :  Alexandre Rioli - Teclados


sábado, 12 de janeiro de 2013

Livro : Retratos Inesquecíveis - Por Luiz Domingues

Quando vemos no cinema, livros ou na mídia em geral, histórias a envolver relatos sobre órfãos, geralmente reagimos com consternação. Comovemo-nos, emocionamo-nos e sobretudo, solidarizamo-nos com os envolvidos, porém, a manter uma barreira regulamentar, como a estabelecer uma divisória clara.
Isso não é uma regra geral, ainda bem, e existe no mundo inúmeras pessoas absolutamente altruístas que divide o seu amor de forma visceral, em prol de crianças que não tiveram a sorte em ter um lar estruturado, com papai e mamãe carinhosos; irmãozinhos e vovós adoráveis. Nesse caso, quando deparamo-nos com essas pessoas, cujo prazer na vida é doar amor, de forma equânime entre diversas crianças, sem nenhum laço sanguíneo que una-os, percebemos claramente o quanto é relativo o conceito de amor, para variar conforme fatores culturais, tão somente. Posto isso, digo que chegou às minhas mãos um livro autobiográfico, escrito por uma amiga chamada, Elizabete Rodrigues Lima.


O nome da obra é "Retratos Inesquecíveis", onde ela, a autora, narra com muita poesia e também uma certa pungência, sobre a sua criação, dentro de uma instituição de abrigo à crianças órfãos, na cidade de Lins, interior de São Paulo. Tal livro, muito bem escrito e documentado, impressionou-me positivamente, por vários aspectos.

Em primeiro lugar, a reflexão imediata que provocou-me, foi no sentido para repensar alguns conceitos referentes à orfandade. Com um relato desses, percebemos claramente que aquele conceito de que órfão sucinta pena, pode ser muito equivocado. É claro que o ideal seria que todo mundo, sem exceção, nascesse em um lar estruturado, com a criação sendo feita sob o teto e o amor de uma família biológica tradicional. Não trata-se portanto em discordar desse conceito social.

Contudo, tirante as instituições mal administradas e / ou mal intencionadas, acredito que em sua maioria, as instituições que abrigam tais crianças carentes, tem o objetivo sério e caridoso, principalmente se levarmos em conta que a maioria é administrada por grupos religiosos, com objetivos morais concatenados com a ética espiritual. Existe inúmeras instituições católicas e protestantes, mas é destacada a ação dos espíritas Kardecistas nessa área, pois a caridade é um pilar básico da doutrina e exercê-la é ponto pacífico entre os seus seguidores. E foi o caso de Elizabete, que teve a sorte por ter sido conduzida à uma instituição espírita, denominada : "Lar Antonio de Pádua", localizada na cidade de Lins, noroeste do Estado de São Paulo.
 

Logo no início da narrativa, Elizabete deixa claro que há um mito geral arraigado, ao dar conta de que todas as crianças conduzidas à tais instituições, não tem pais ou parentes próximos. Isso não é verdade, na medida em que muitas crianças são conduzidas à tais estabelecimentos, por outros diferentes motivos. Por exemplo, muitas crianças são levadas pela total impossibilidade de suas famílias biológicas poder arcar com o seu sustento; outras tantas por conta de ausências decorrentes de internações e /ou encarceramentos de pais e responsáveis, e muitas são "filhas da prostituição", como eufemisticamente a autora colocou. Outro ponto, foi o do relato carinhoso de Elizabete ao referir-se às pessoas que administravam o Lar que a abrigou.


É com minha emoção que escreve diversas passagens sobre uma funcionária muito amorosa, chamada : Dinah, a quem as crianças, Elisabete incluso, chamavam carinhosamente como : mãe Dinah. Através dessas passagens, onde descreve diversas facetas ocorridas por muitos anos e envolvendo a mãe Dinah, Elisabete deixa claro que naquele lar, teve todo o amor necessário à sua formação. E com muita capacidade narrativa, ela descreve muitas lembranças, da tenra idade ao fim da adolescência, onde como regra da casa, aos completar dezoito, as crianças precisavam sair, mas amparadas mesmo assim, com o estudo fundamental concluído, e encaminhadas para prosseguir os estudos em faculdades e preparadas para a vida social adulta, plena.

Com riqueza de detalhes, Elizabete traz em suas reminiscências, muitos aspectos : a rotina da instituição; as lembranças das amigas; as brincadeiras das amigas; algumas travessuras; os primeiros contatos com a socialização fora da casa; doenças infantis; tarefas, o aprendizado de preceitos sociais etc. E segue adiante, ao cumprir um apanhado da transição para a adolescência, mediante as suas atribuições inerentes, tais como a descoberta da sexualidade, interesse pela escolha de uma profissão etc. E um fato que considerei pungente : com a proximidade da data limite para a saída do Lar, a preocupação em ter que deixar a casa e a família que tanto amava.


Com isso, ficou claro a mensagem da obra, a exprimir que nem todo órfão é um carente em potencial, e que o amor não precisa ser exercido necessariamente entre pessoas unidas pelo vínculo biológico, tão somente. Finalmente, o último ponto positivo ao meu ver, foi a riqueza de detalhes, tanto nas lembranças descritas, quanto na farta documentação de fotos; manuscritos e impressos guardados com muito carinho por ela e publicados no livro.
Elisabete Rodrigues Lima é uma pessoa feliz e grata pela criação que teve. Fora do Lar Antonio de Pádua, trabalhou; casou-se e teve dois filhos. Fica a dica para o sr. Oceano Vieira de Melo, famoso produtor de filmes com teor Kardecista, para que preste atenção e  com carinho no livro : "Retratos Inesquecíveis", que na minha opinião, rende um bom e emocionante filme sobre o amor imaterial. Hoje, Bete é uma avó muito orgulhosa e passa aos seus, o amor que teve da mãe Dinah, e também de outras pessoas com as quais conviveu e recebeu muito carinho, como os "tios" Gil e Aurora Moura, e tantos outros citados no livro.


Da maneira como Elisabete estruturou a sua autobiografia, parece um roteiro pronto para o cinema.

Para contato direto com a autora, aquisição da obra e /ou sugestões, contato pela página do livro "Retratos Inesquecíveis", no Facebook :


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Leny Eversong, Um Furacão em Las Vegas - Por Luiz Domingues


São muitos os exemplos de artistas que caem em completo esquecimento, neste Brasil sem memória. Pouco tempo atrás, por exemplo, eu escrevi sobre a Tuca, uma grande artista musical brasileira, e a despeito da qualidade de seu trabalho artístico, inclusive com alcance internacional, no qual existiu a parceria com a estrela francesa, Françoise Hardy, com composições e duos vocais e que foi notória, infelizmente a Tuca caiu no esquecimento. 
 
O caso de Leny Eversong é muito parecido, por se tratar de uma grande intérprete, que fez carreira internacional, gravou muitos discos e desapareceu sem deixar vestígios, com pouquíssimas pessoas a se lembrar dela hoje em dia. 

Leny nasceu em Santos, litoral paulista, no dia 1º de setembro de 1920, mas o seu nome de batismo, na verdade, foi: Hilda Campos Soares da Silva.

Com apenas 12 anos de idade, ela venceu um concurso de talentos mirins promovido pela Rádio Clube de Santos e foi imediatamente contratada como artista do elenco fixo da emissora, apesar de ser uma menina. 

A sua especialidade inicial foi cantar o estilo "Fox", uma vertente jazzística norte-americana e neste caso, chamava a atenção o fato dela, mesmo sendo pequena na ocasião, cantar em inglês com perfeição, sem sotaque. Mas calma, leitor, que nesse aspecto existe uma história boa para contar, que eu vou deixar para os próximos parágrafos.

Inevitavelmente, ele mudou-se para São Paulo em 1937, e tornou-se "crooner" em casas noturnas da capital paulista. Paralelamente, também tornou-se cantora fixa de emissoras de Rádio da capital. 

O seu repertório foi sempre majoritariamente calcado no cancioneiro norte-americano e também no francês, em que também os elogios à sua pronúncia, mostraram-se efusivos. Nessa fase, entre os anos trinta e cinquenta, Leny já havia visitado e encantado o público argentino, igualmente.

Em 1952, a artista gravou seu maior sucesso, o Fox, "Jezebel", que tocou bastante nas rádios e que proporcionou-lhe muitas oportunidades ainda maiores para o desenvolvimento da sua carreira.
 
Como por exemplo, Leny excursionou pelos Estados Unidos no final da década de cinquenta. E nessa primeira ida à América, gravou um disco: "Leny Eversong na América do Norte", acompanhada da orquestra do maestro Neal Reafti. Daí em diante, Leny não parou mais de viajar à América.
 
Ficara óbvio que ela encantaria os norte-americanos pelo seu talento, mas certamente pela ótima pronúncia que os confundia ao ponto de não perceberem que ela era brasileira, latina-americana, portanto. 
Agora, eu posso enfim revelar a sua incrível habilidade a pronunciar sem sotaque os idiomas inglês e francês. Leny não entendia absolutamente nada que cantava em tais idiomas! 
 
A sua capacidade auditiva era incrível, pois conseguia memorizar a fonética das palavras ao ponto de cantá-las com pronúncia perfeita, sem sotaque, de uma maneira que norte-americanos ou franceses não desconfiassem que ela fosse estrangeira e como agravante, não compreendesse os dois idiomas. 
 
Isso gerou diversas situações engraçadas em sua carreira, contudo. A estratégia que ela adotou para não se embaraçar, foi no sentido de não conceder entrevistas para os jornalistas internacionais, com o seu empresário apenas a responder as perguntas em seu nome.

Leny respondia laconicamente apenas: "Yes", "All Right", "OK"... Algo inusitado, portanto e deveras hilário! Claro que após tantas viagens, já nos anos sessenta, ela culminou por dominar o idioma inglês, principalmente. E foram muitas as suas viagens, de fato! 
Na década de sessenta, Leny esteve em cartaz em Las Vegas, por oito vezes. E também cantou em muitas ocasiões em Nova York e Paris. Muitos críticos chegaram a dizer que Leny era invisível no Brasil, apesar de ter tido a proeza de ficar famosa na América e sem colocar cesto de frutas na cabeça, em uma alusão à Carmem Miranda. 
 
Ela gravou vários discos: "Em Foco", "A Voz de Leny Eversong", "Ritmo Fascinante", "A Fabulosa", "A Internacional" etc.
Leny excursionou por toda a América Latina, também e nos anos de ouro dos musicais na TV brasileira, durante os anos sessenta, tornou-se uma presença recorrente na tela. 
 
Aliás, são desses programas sessentistas, as minhas mais vívidas lembranças pessoais sobre Leny Eversong. Mesmo eu sendo criança nessa década e por conseguinte não ter nessa época um senso crítico nada apurado, eu simpatizava muito com ela, pois a achava muito carismática, com aquele vozeirão a la Diva do Jazz, ao cantar em um idioma estrangeiro, e a encantar a plateia. 
 
Saudade da Leny, portanto, uma artista que manteve algo além do talento vocal: ela possuía uma simpatia contagiante.
Pelo lado de sua vida pessoal, Leny era bem obesa e por conta disso, contraiu diabetes, o que colaborou para minar a sua carreira, a partir do início dos anos setenta.  
 
Entretanto, o fator que alavancou a decadência de sua carreira e de sua vida, infelizmente, foi outro. Conhece aquela clássica piada do marido que fortuitamente diz à esposa que vai comprar um maço de cigarros e desaparece? 
Pois infelizmente foi o que ocorreu com Leny, pois o seu marido foi buscar um cigarro, sabe Deus aonde e nunca mais voltou para a casa. 
 
Amigos queridos dela, como Luiz Vieira e Adelaide Chiozzo deram-lhe apoio, mas foi o cantor, Agnaldo Rayol, o seu melhor amigo, quem deu-lhe o ombro, ao hospedá-la em sua residência, no momento agudo da depressão em que ela mergulhou, por volta de 1970. 
 
Todavia, nem com esse apoio de amigos, Leny conseguiu driblar a tristeza e dessa maneira, pôs-se a definhar, largou a carreira e morreu esquecida, sob ostracismo, em 1984, derrotada pela diabetes. Eu lamento muito o mau hábito do brasileiro em geral, em não dar valor aos seus artistas.
Não é a primeira matéria em que eu resmungo essa minha desilusão com essa característica negativa do nosso povo, e por isso mesmo, faço o que posso, ao meu alcance, para reverter esse quadro de injustiça. 
 
Leny Eversong é mais um exemplo de artista super talentosa e que ficou condenada ao limbo da história. Mas se depender da minha vontade, no entanto, essa situação começa a mudar a partir desta matéria.
Matéria publicada inicialmente no Site/Blog Orra Meu, e republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012. 

Nota do editor: como uma adendo posterior, uma leitora postou o seu comentário a trazer uma versão diferente a dar conta sobre a razão real do desaparecimento do marido de Leny Eversong. Agradeço à leitora Anna Paula, pelo adendo enriquecedor à matéria e cujo teor da sua informação está publicado nos comentários abaixo.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Kim Kehl & Os Kurandeiros - 9 de janeiro de 2013 - Quarta-Feira - 21:30 h. - Magnolia Villa Bar - São Paulo


Kim Kehl & Os Kurandeiros

9 de janeiro de 2013

Quarta-Feira

21:30 h.

Magnolia Villa Bar

Rua Marco Aurélio, 884

Lapa

São Paulo - SP

KK & K :

Kim Kehl - Guitarra e Voz

Carlinhos Machado - Bateria e Voz

Nelson Ferraresso - Teclados

Phil Rendeiro - Guitarra

Luiz Domingues - Baixo

Convidado Especial : Alexandre Rioli (Teclados)

Entrada : R$ 15,00

sábado, 5 de janeiro de 2013

Orelhões Revigorados pela Internet - Por Luiz Domingues



Uma grande ideia já está por ser viabilizada para salvar um ícone urbano das cidades brasileiras. Já em testes avançados na cidade do Rio de Janeiro, os antigos orelhões, cabines telefônicas típicas do Brasil, poderão ganhar sobrevida, ao modernizar-se.
A meta é que sejam usados doravante como postos de acesso à internet wireless, ao deixar de lado a velha função da telefonia que entrou em franca decadência, com a mega popularização dos telefones celulares. Claro que ainda tem pessoas que utilizam as velhas e combalidas cabines de telefonia pública, mas sob uma conta generalizada, esse número de usuários caiu drasticamente nos últimos anos e as operadoras de telefonia só as mantém nas ruas por respeito às decisões governamentais.
Mesmo assim, a constituir-se em uma fonte de prejuízo gigantesco pelo pouco uso e também pelos problemas decorrentes do contumaz vandalismo perpetrado pelo povo brasileiro (lamentável isso...), as operadoras pressionavam o governo para aliviar as sanções e retirar os orelhões das ruas. Agora, não só ganham sobrevida, como adequam-se aos novos tempos, para ganhar uma outra utilidade.
A ideia seria o usuário comprar um cartão a conter uma senha e determinar dessa forma um tempo de uso, parecido com o dos cartões telefônicos atuais, netos das velhas fichas de antigamente (a super usada expressão "caiu a ficha" para designar uma lembrança de algum fato ou tomada de posição, veio daí). Ao relembrar um pouco a história, os primeiros telefones públicos surgiram no Brasil nos anos vinte do século passado.
Os primeiros foram instalados na cidade de Santos, no litoral paulista. Em princípio eram instalados em repartições públicas, e a seguir aparecerem em restaurantes; bares; farmácias, padarias etc.
Por incrível que pareça, só no início dos anos setenta, foi que as autoridades passaram a instalar cabines nas ruas, como já era comum há décadas nos países europeus e nos Estados Unidos. A ideia original foi instalar cabines semelhantes às de Londres, nas calçadas de São Paulo e do Rio, mas a incrível falta de educação do povo, inviabilizou o projeto, devido às depredações e também pelo uso das cabines para atos obscenos e / ou a servir como esconderijo para bandidos. Dessa forma, por volta de 1972, surgiu a ideia da cabine oval e aberta, criada por uma engenheira sino-brasileira, chamada : Chu Ming Silveira, que era funcionária da CTB, a velha Companhia Telefônica Brasileira. Segundo a criadora, a cabine aberta ocupava menos espaço nas calçadas e por ser aberta, inibia atos de vandalismo ou ações obscuras feitas por pessoas mal intencionadas. Logo o formato ovalado caiu nas graças do povo e recebeu o apelido de : "orelhão", uma alusão ao seu formato e também pela sua função em servir à telefonia.
Em São Paulo, houve também um outro tipo de orelhão, de mesmo formato, porém menor e feito com material acrílico cor de abóbora transparente, que foi usado em terminais de ônibus e na antiga rodoviária da estação da Luz. Era chamado como : "orelhinha" e também foi outra criação de Chu Ming Silveira. Mas ela teve problemas com a patente de seu invento, ao culminar em processo na justiça que levou anos para reconhecer a sua invenção e o devido protocolo no INPI.

Um fato curiosíssimo ocorreu, que se o dramaturgo, Dias Gomes, soubesse, renderia uma novela tão surreal como : "O Bem Amado" ou "Saramandaia", duas de suas geniais criações dentro do estilo do realismo fantástico. Foi o seguinte : Sob uma declaração da engenheira, Chu Ming Silveira, publicada em um jornal, ela afirmou que "inspirou-se na forma ovalada, por ser um círculo e essa forma era perfeita". Uma juíza indignou-se com tal declaração e processou Chu Ming Silveira, ao afirmar que só Deus era perfeito. Nos autos do processo, questionava-se se a engenheira com tal pensamento teria tido a ousadia em querer ter "inventado" Deus, entre outras asneiras.
E como suposto argumento "sério", alegou-se que os orelhões seriam máquinas para engolir fichas, com a intenção deliberada em lesar os consumidores. Pasmem, tamanha discussão durou ao longo de vinte anos nos tribunais, ao entrar para o rol do folclore jurídico brasileiro. Mesmo sendo duramente maltratado pelos vândalos, os orelhões ajudaram a salvar vidas, por propiciar chamar ambulâncias; bombeiros e polícia nas situações de emergência.
Ajudou milhões de pessoas nas mais diversas situações e agora ganham a sobrevida pós-massificação dos celulares. E fora a nova função como ponto de inclusão digital, os orelhões ganharam recentemente o caráter em tornar-se verdadeiras instalações de artes plásticas. Em São Paulo e já a espalhar-se por diversas outras cidades, os orelhões tornaram-se atrativo para turistas, graças às intervenções criativas da parte de diversos artistas plásticos.
É muito comum ver turistas estrangeiros a filmá-los e fotografá-los devido à essa repaginação criativa, que os tornou objetos de arte. E que assim permaneçam, como simpáticos e úteis equipamentos urbanos.
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica e republicada posteriormente no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012.