quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Abilio Pereira de Almeida - Por Luiz Domingues


Nada melhor para um autor, do que saber exatamente do que fala, ou seja, com propriedade, justamente por ser um membro do mesmo grupamento social que enfoca normalmente em seus trabalhos. Esse foi o caso de Abílio Pereira de Almeida, um dramaturgo; ator, e produtor de teatro e cinema, que deixou uma significativa obra no cenário artístico paulista e brasileiro.
Nascido em 26 de fevereiro de 1906, na cidade de São Paulo, Abílio foi membro de uma família abastada e burguesa da sociedade paulistana. Formado em direito como esperava-se de um bom menino burguês, tinha contudo, grande interesse pelas artes e notadamente pelo teatro.

Iniciou a sua aproximação com esse universo, ao atuar como ator em montagens amadoras, todavia, logo percebeu que não só poderia ser ator, como despertou-lhe o interesse em escrever, ao tornar-se então, um dramaturgo. Em 1943, ele montou com amigos frequentadores da Livraria Jaraguá, tradicional ponto de intelectuais, um grupo teatral denominado : GTE (Grupo de Teatro Experimental).
O seu primeiro texto autoral foi encenado em 1946, através de um espetáculo chamado : "Pif-Paf" e não demorou muito, já estava envolvido na fundação do TBC, o Teatro Brasileiro de Comédia, onde atuaria com desenvoltura como ator; diretor; autor e produtor.  O seu texto, "A Mulher do Próximo" foi o primeiro êxito autoral do repertório do TBC, já em 1948, ao dar o estopim para uma carreira de sucesso estrondoso.
Já em 1949, tornou-se o braço direito do produtor, Franco Zampari, e assim, daí em diante, participou de todo o processo da criação dos estúdios cinematográficos, Vera Cruz, um super ambicioso sonho de Zampari. Paralelamente, peças de sua autoria, tais como : "Paiol Velho"; "Santa Marta Fabril S/A", e "Rua São Luis 27, 8°andar", foram sucesso de crítica e público nas salas do TBC.
Em linhas gerais, ele enfocava em seu texto, aspectos da burguesia, como as antigas aristocracias fazendeiras de São Paulo (Paiol Velho, por exemplo); o processo de industrialização paulista e a hipocrisia inerente dessa burguesia, (Rua São Luis 27, 8° andar, retratava o endereço de uma garçonnière).  Na Vera Cruz, atuou como ator em filmes como : "Caiçara"; "Terra é Sempre Terra"; "Angela"; "Tico-Tico no Fubá"; "Apassionata", e "Sai da Frente" (este último, um grande sucesso de Mazzaropi).
Como produtor, participou de filmes também fora da produtora, Vera Cruz, entre os quais : "Moral em Concordata", "Estranho Encontro" e "O Sobrado". Trabalhou também com a atriz, Dercy Gonçalves, por ter escrito a peça, "Dona Violante Miranda", posteriormente adaptada para o cinema, igualmente.
Foi um grande incentivador da carreira da atriz, Odete Lara, ao ter bancado a sua participação no filme : "Moral em Concordata". Fora do TBC, também colaborou com outras companhias teatrais, como o TMDC (Companhia do Teatro Maria Della Costa); Companhia Nydia Licia / Sergio Cardoso; Pequeno Teatro de Comédia (PTC); e Teatro Cacilda Becker (TCB). Abilio sempre teve a fama de ser bom de bilheteria, mas incompreendido pela crítica.
Uma das queixas dos críticos em relação à sua obra, foi por enfocar sempre os seus trabalhos no ambiente da burguesia paulistana, da qual era oriundo, pessoalmente. Os seus detratores acusavam-no de ser regionalista e repetitivo, mas na verdade esse manancial de informações teve diversas matizes e Abílio sabia extrair ao máximo essas sutilezas comportamentais da sociedade, para transportá-las para os palcos e telas, com desenvoltura. Outra crítica, foi concernente a uma certa dose de moralismo. De fato, ao assistirmos o filme, "Moral em Concordata", é fácil para detectar-se tal questão, mas devemos levar em consideração os valores dessa época e ao utilizar esse filtro histórico, faz sentido, é claro.
Já ao final dos anos sessenta, ele escreveu : "Os Donos da Verdade", para criticar o momento político mundial de uma maneira geral, sem no entanto tomar uma posição firme, seja de direita ou esquerda. Apenas ao mostrar defender os pais, diante de uma juventude rebelde que não sabia aonde iria parar, pelo menos na ótica dessa época. Esse trabalho permaneceu inédito, no entanto. Ele deixou ainda um livro de memórias inacabado, chamado : "Confissões de um Anjo da Guarda", no início dos anos setenta e afastou-se da criação artística nos seus últimos anos de vida, vindo a falecer em 12 de maio de 1977.  

Abílio Pereira de Almeida contribuiu decisivamente com o teatro e o cinema, para deixar-nos um grande legado artístico e cultural.

Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu e republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012.

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