domingo, 13 de julho de 2014

CD Live Sessions at Mosh/Tony Babalu - Por Luiz Domingues

Guitarrista, compositor e produtor musical de enorme experiência na cena musical paulista e brasileira, Tony Babalu acaba de lançar mais um trabalho solo a revelar uma grande qualidade, o que aliás, vindo de sua parte, é a praxe. 
 
Em “Live Sessions at Mosh”, Tony Babalu nos apresenta seis temas instrumentais sob grande qualidade técnica, com inspiração e sobretudo a demonstrar um ecletismo estilístico ímpar, que faz desse álbum uma oportunidade para termos uma agradabilíssima audição.
A concepção foi baseada na ideia de uma sessão de gravação ao vivo, com Tony Babalu e banda a tocarem juntos, ao vivo, como em uma apresentação regular com público presente. Em tal tipo de gravação (estou a falar sobre metodologia de trabalho), se perde a precisão e o foco de uma abordagem tradicional de gravação de disco, mas se adquire o calor humano, com a música a ser conduzida pela vibração daquele momento único em que o artista tem em uma apresentação ao vivo e foi essa a intenção de Tony Babalu para ficar eternizado nesse trabalho.
Ao ouvi-lo, se constata que Tony Babalu logrou êxito, por que não são poucos os climas exclusivos criados pela banda, em momentos a conter forte inspiração e criatividade. 

O primeiro tema do disco, “Valsa à Paulistana”, é de fato uma valsa na acepção do termo, pois se apresenta conduzido pela fórmula de compasso típica desse ritmo, em ¾. 
 
Gostei muito do timbre limpo da guitarra Fender Stratocaster, de uma beleza incrível. O piano elétrico a preencher os espaços com acordes sofisticados deu uma consistência excelente à música. 
 
O tema avança e ganha ares brasileiros acentuados, ao parecer um Samba-Jazz, com muito groove e sob um belo solo de guitarra, onde Babalu buscou as suas bênçãos com Carlos Santana, certamente.

A faixa seguinte, “Pompeia’s Groove” é um Jazz-Rock funkeado daqueles bem setentistas, com "punch" Rocker. Gostei muito da pegada forte do Franklin Paolillo, um dos maiores bateristas da história do Rock brasileiro, sem dúvida.
Tirante isso, me chamou a atenção o belo riff Rocker na parte central do tema, com o piano a assumir um papel importante na sua condução e o solo final do Babalu, que traz à tona uma lembrança muito bem vinda do mestre Jeff Beck.

Antes de ouvir “Suzi”, a próxima faixa, eu conferi a sua metragem e pensei de imediato como é longo o tema e dessa forma, ao se considerar ser um disco instrumental e não versado pelo Rock progressivo (estilo pelo qual músicas de tamanho avantajado são normais), como poderia ter sido desenvolvido dentro do conceito da música instrumental?
Bastou escutar os primeiros segundos para eu suspender a minha perplexidade e mergulhar no suave blues, com um poder quase hipnótico que não nos deixa pensar em mais nada e aí, os tais nove minutos se diluem e quando a canção termina, fica a sensação boa de “quero mais”. 
 
É muito bom o timbre da guitarra de Babalu nessa faixa, condizente com a sua atmosfera quase mântrica. Remeteu-me ao som do Eric Clapton em seus primeiros discos solo, dos anos setenta.

“Brazilian Blues” também me surpreendeu positivamente. Por tratar-se de um slow blues, gostei bastante da atuação do tecladista, Adriano Augusto, com um solo muito bom ao órgão.
Na metade da música, um clima mais tenso me agradou bastante, ao me proporcionar lembrar da canção: “Yer Blues”, dos Beatles e ao final, eu gostei muito da intervenção de um solo muito melódico do Tony Babalu.

A quinta faixa, traz a música: “Halley 86”, uma explícita referência à passagem do famoso cometa pelo céu de nosso planeta, naquela ano de 1986.  Nessa canção, a brasilidade se fez presente, com um tema claramente calcado no ritmo do baião nordestino, com muita ginga.
O baixista, Leandro Gusman, fez um solo de baixo muito técnico e melódico, realmente notável, ao lembrar o estilo do baixista, Itiberê Zwarg, que acompanha Hermeto Paschoal há anos. Babalu também deixou a sua marca, com um delicado solo a la George Harrison.

O último tema, chamado: Vecchione Brothers”, é um Rock com pegada e emoção. Outra homenagem pessoal (“Suzi” é uma homenagem à esposa de Babalu), desta vez Babalu evocou as suas raízes Rockers ao lado dos fundadores do Made in Brazil e vizinhos do bairro da Vila Pompeia, em São Paulo. 
 
Gostei do Riff, que tem a intenção Rocker de bandas clássicas como o Foghat e Status Quo, por exemplo. Musicalmente, como já salientei, o disco é bastante eclético, ao passar por vários ritmos.
A banda é sensacional e o Tony Babalu brilha como guitarrista, compositor, arranjador e produtor.
A capa é bastante estilosa. A lendária guitarra Fender Stratocaster de Tony Babalu, se destaca sob uma paisagem noturna e difusa, para imprimir um astral de urbanidade, que particularmente muito  me agrada. 
 
O encarte vem recheado com fotos da banda a gravar nas dependências do estúdio Mosh de São Paulo. Existe uma filmagem no CD que pode ser vista no computador, um bônus sensacional que recomendo, certamente.
Para encerrar, afirmo que para quem acha que disco de música instrumental interessa somente aos músicos, se engana em relação a este trabalho. Ele cai bem em qualquer momento e pode agradar pessoas que teoricamente somente ouvem músicas vocalizadas e com três minutos de duração, no padrão Pop radiofônico.

Para conhecer este trabalho e a carreira de Tony Babalu, acesse:

10 comentários:

  1. Luiz, a resenha está formidável, a ponto de me fazer meio que "ouvir ou sentir" o som, a cada palavra sua. Eu ainda não ouvi o disco, mas estarei em busca dele. Você, além de ser ótimo no contrabaixo é excepcional nas palavras.
    Walter Possibom

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    1. Mas que sensacional que tenha curtido a resenha, amigo Possibom !

      O disco está muito bom e vale a pena escutá-lo com atenção e tê-lo na coleção.

      Agradeço muito a sua visita ao Blog, e claro, a postagem desse rico comentário. Muito legal saber que minha resenha o tenha motivado a conhecer essa obra do guitarrista Tony Babalu. Eu a recomendo, logicamente.

      E muito grato pelos elogios ao texto e em específico á minha pessoa !!

      Deixo-lhe o convite para enfocar o novo trabalho do Tony Babalu em seu prestigiado Blog Planet Caravan !!

      Abração !!

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  2. Muito obrigado pelas palavras, Luiz, você captou todo o conceito e objetivo do trabalho com absoluta precisão, como se estivesse lá com a gente, algo só possível vindo de alguém que segue o mesmo caminho na vida, dedicando-se integralmente à música e passando pelas dificuldades que sabemos existir nessa área de difícil sobrevivência... Fiquei muito feliz com essa resenha e com sua generosidade !!! Sucesso sempre, meu amigo !! Tony Babalu

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    1. Que honra para mim saber que o próprio artista enfocado na resenha tenha ficado satisfeito com o texto e as impressões que este blogueiro teve de sua obra !!

      Muito bom o trabalho, Babalu, com técnica, bom gosto e muita inspiração de fino trato, portanto, só falei a verdade sobre ele.

      Grato por tê-lo lançado, trazendo luz musical de qualidade em meio às trevas em que a música mainstream está mergulhada desde muito tempo e agravando-se cada vez mais nos últimos anos.

      Muito legais as suas considerações sobre a minha resenha e pessoa em particular. Sinto-me lisonjeado !!

      Grande abraço e muito sucesso, sempre !!

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  3. Como o Walter disse, você nos fez "ouvir" o disco com a sua resenha e, lógico aguçou a vontade de conhecer o novo trabalho desse grande músico e com o Franklin Paollilo nas baquetas, sensacional!

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    1. Que legal que gostou, Jani !

      Como fico gratificado quando o leitor ma diz que o texto despertou-lhe a vontade de conhecer a obra que estou enfocando, seja um livro, filme, exposição ou neste caso, um álbum musical.

      De fato, o Franklin é um mestre do qual só tenho admiração.

      Grato por ler, comentar e elogiar !!

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  4. Excelente trabalho! O casamento de guitarra e teclados na música Pompeia's Groove é muito bom e Suzi é uma composição belíssima que me lembrou bastante o estilo melodioso de Eric Johnson do maravilhoso álbum Tones, que por sinal tenho como um dos meus preferidos orientado para guitarra. Ótimo texto, Luiz!

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    1. Grande Diógenes !

      Que prazer para mim ter sua visita no meu Blog !!

      Fiquei bastante feliz por constatar que você já conhecia o disco, pelas citações positivas que fez. De fato, é um belo trabalho, concordo contigo, é lógico.

      Gostei das referências novas que trouxe. Suas comparações, diferentes das minhas, só trazem adendos enriquecedores à visão da obra.

      Grato por visitar o Blog, comentar e elogiar, fora o apoio que sempre É bem vindo à causa da boa música !!

      Abração !!

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  5. mais otima materia aqui no seu blog .Fico feliz por ter comprado esse discao do grande Babalu .Muito legal suas palvras descritivas para a gente entender melhor ao ouvir o cd.Como vc disse a 6º musica um '''rockão a La Made , no qual graças a Deus tive a oprtunidade de ve tocar nos 70(sim ja to velho old schooool com 59 klm rodados de puro adrenalina do bom e velho rockrolll...e esta muscia fala exatamente isso para mim ....parabens ao grande Guitar tony Babalu e a voce ,nos vemos no futuro em agosto se tiver vivo kkkkkkkk.

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    1. Excelente que tenha gostado, amigo Oscar !

      De fato, o Tony Babalu é um artista de muita história e tradição no Rock Brasileiro e merece todo o nosso apoio.

      Valeu !!

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