O termo, “vandalismo”, vem da antiguidade, quando tribos de origem germânica, chamadas como,
“Vândalos”, invadiram Roma, e provocaram uma onda marcada pela destruição; pilhagem e agressões generalizadas. Obviamente selvagens, eram considerados bárbaros pelos
romanos e daí, a palavra, “vândalo”, ganhou conotação a designar pessoas dotadas com uma baixa
qualificação cultural, disposta a destruir o patrimônio público e / ou privado;
promover algazarras; agressões gratuitas contra pessoas inocentes a esmo etc.
Ao longo da história, tal conotação fortaleceu-se, e o
vandalismo tornou-se o termo para designar esse tipo de ato provocado por essa
gente. Bem, na antropologia; psicologia; semiótica; pedagogia, e
até na pediatria, existe teses as mais variadas para explicar a motivação por
trás desse tipo de atitude / mentalidade. Uma das mais usuais, é a de que no final da infância e
começo da adolescência, os hormônios
estão a explodir, e isso necessita de um ponto de vazão.
De fato, isso procede, mas se fosse um fato normal
buscar tal escape através da destruição, não haveria civilização, e nem as
pinturas rupestres teriam escapado nas cavernas, não acha ?
Outra boa explicação vem da psicologia. A explosão da
puberdade provoca a necessidade de autoafirmação para os meninos, através da
extrapolação da energia bruta, para demarcar território entre os machos;
e assim estabelecer lideranças entre grupos, na base do mais forte, ou a buscar sobressair-se pela inteligência bélica; para chamar a atenção das meninas. Como adendo à tese acima descrita, acrescento que nos
últimos tempos, mudanças de parâmetros socioculturais fazem com que as meninas
busquem o mesmo princípio, baseado na força bruta, com agressividade. Isso põe em cheque a tese de que as diferenças observadas em torno dos
cromossomos e hormônios sejam estáticas e indissolúveis. Pois o fato das
meninas possuir pouca quantidade de testosterona no seu organismo, não significa
que não possam deter um grau de agressividade parecido com o dos meninos.
Independente disso, se testosterona fosse desculpa para
destruir, recorro ao raciocínio expresso no primeiro item : não teríamos
construído uma civilização; cultura; ciência; arte etc. A semiótica também fornece a sua visão para o caso. Se tudo é
relativo na questão que estuda a relação entre significado e significante, obviamente que destruição;
sujeira; rabiscos; dejetos e que tais, são considerados como fatores “feios”, mas relativamente, pois poderiam
significar como elementos “bonitos”, sob outro ângulo. Claro, enquanto teoria meramente subjetiva, faz sentido,
mas na prática civilizatória, isso não pode ser interpretado dessa forma
simplista. Ninguém que tenha as faculdades mentais em ordem, rasgaria uma nota
de cem dólares sob a alegação de que sob uma visão paralela do universo, aquela
nota não contenha valor algum...
No campo da cidadania, é que os parâmetros para analisar
tal questão, parecem ser os mais sensatos, e que perdoem-me os que desprezam a
civilização, e sobre quais formatar-se as suas alegações em termos de ordem política;
ideológicas, ou sociológicas.
A forjar uma ideia básica de que a urbe é uma mera extensão de
sua habitação, o raciocínio perene é : você destrói sua casa; vive em um
autêntico chiqueiro; gosta de condições insalubres de higiene e segurança;
aprecia a feiura estética dos escombros ? Antes que alguém apresse-se em contra-argumentar, sim, eu sei
que existe pessoas que vivem assim, e entre elas, há as que gostem em viver
sob tais condições.
Tirante as pessoas acometidas de patologias de ordem
mental, quem realmente aprecia viver dessa forma ? Portanto, ao apelar para o bom senso da maioria, e
a excetuar-se alguns tipos de pessoas com comportamento não padronizado, tais
como : os prejudicados por doenças de ordem mental; os que sejam sociopatas; misantropos; adeptos de
seitas religiosas / filosofias radicais que preguem como norma o abandono das
normas sociais, com renúncia absoluta dos valores, normas e parâmetros da
sociedade moderna; os adeptos de sistemas políticos radicais baseados em
niilismo; os seguidores de estéticas niilistas que buscam no confronto com a dita
normalidade vigente, a sua razão de ser para expressar-se no mundo, e os simplesmente antissociais e dispostos a chamar a atenção pela excentricidade em portar-se como “do contra”,
a pergunta que não quer calar é : para que praticam o vandalismo contra o patrimônio
público e / ou privado ?
Primeiro ponto : tirante as pessoas situadas em setores “especiais”
das quais eu descrevi acima, a maioria, teoricamente, gosta de viver em casas
confortáveis; bem acabadas; bem decoradas ao seu gosto cultural, limpas e
organizadas.
Falei algo absurdo ? E salvo algum acidente doméstico, ou até mesmo um momento
de fúria esporádica, e motivada por uma briga familiar mais exacerbada, quem em
sã consciência sai a vandalizar o próprio lar, a quebrar objetos, móveis e
utensílios, espalhar sujeira e a pichar as paredes com rabiscos horrendos ? Reitero, nem percam tempo em contra-argumentar que
exista pessoas com tal mentalidade, porque de pronto digo-lhe : sim, sei que
existe, mas representam uma minoria ínfima.
Ao partir dessa premissa, se a cidade é uma extensão de
nossas casas, por quê devemos aturar a destruição sistemática dos equipamentos
urbanos; os monumentos; jardins & parques ? Por quê devemos acostumarmo-nos com o lixo espalhado nas ruas;
calçadas quebradas; lixeiras estraçalhadas pelos vândalos ? Por quê vivemos em meio a escombros; odores fétidos;
placas de sinalização rabiscadas ?
Enfim, por quê no Brasil ainda impera a mentalidade da
miséria urbana, como padrão ? Então chego ao último item que teria uma possível explicação
acadêmica : trata-se de uma questão cultural. Visto sob parâmetro sociológico, em países como a
Finlândia; Suécia; Japão; Alemanha, e Suíça, para ficarmos em poucos exemplos
apenas, a quase ausência de vandalismo em suas respectivas sociedades, denota
um outro tipo de mentalidade cultural generalizada, e que faz toda a diferença,
portanto. Em suma, como quase tudo o que envolve comportamento, a
chave é : educação.
Se desde pequeno, o cidadão for educado para não considerar
correto jogar a embalagem de uma bala no chão; não achar bonito rabiscar a
parede com canetinha; a respeitar as regras de trânsito, mesmo como pedestre, e
que os monumentos da cidade são objetos de arte, ao representar simbolismos
importantes da sua própria história, tanto quanto os seus álbuns de fotografias
de família, que ele não destruiria, acredito que em duas gerações, no máximo, a percepção mudaria. Portanto, o desafio educacional vai muito além da
erradicação do analfabetismo, tampouco no tocante à melhora da qualificação para o
“mercado de trabalho”. A grande tarefa é mudar a mentalidade de um povo que divide-se entre os que acham “bom” viver em um chiqueiro; e os que sentem
resignação por esse status quo, pois simplesmente não acreditam que o Brasil
possa ter outra qualificação sociocultural. De volta ao início da matéria, de onde vieram mesmo os
vândalos, aqueles trogloditas bárbaros que horrorizaram Roma ? E o que tornou-se a Alemanha, séculos depois, senão um
exemplo de organização social de altíssimo padrão civilizatório ? Pois é... a educação !
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2015
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