domingo, 13 de dezembro de 2015

Sem o Shopping / City News, os Domingos Paulistanos Nunca mais Foram os Mesmos... - Por Luiz Domingues



O jornal de bairro sempre teve muita força na cidade de São Paulo, exatamente pelo fato de que em uma mega cidade, os bairros também observam uma extensão territorial gigantesca e por conseguinte, a conter infraestrutura própria, para atender em muitos casos, a mesma população em número, de cidades grandes interioranas. Dessa maneira, com muitas notícias locais; interesse comercial em anúncios, e vida sociocultural própria, foram inúmeros os jornais fundados, sendo que em bairros mais populosos, houve época em que várias publicações existiam, a estabelecer até concorrência entre si. E entre tantos jornais e revistas focados na vida dos bairros, um em particular, marcou no imaginário do paulistano, por ter alcançado um status como “jornal grande”, exatamente por ter alcançado uma impressionante marca em torno de setecentos mil exemplares como tiragem, além de manter como padrão gráfico, uma brochura grossa, quase semelhante a jornais mainstream da cidade, como “O Estado de São Paulo” e “Folha de São Paulo”. Falo sobre o “Shopping / City News”, que circulava aos domingos, sendo distribuído gratuitamente em milhares de lares paulistanos.
Fundado em 1953, por Rubens Prestes Mattar, ligado ao grupo DCI (Diário do Comércio e Indústria), o Shopping News teve no entanto, uma vocação cultural e comunitária, diferente do jornal de leitura pesada e focado no mercado financeiro e indústria & comércio, a vocação natural do DCI. Sobre o Shopping News, a publicação teve dois nomes (chegou a ter um terceiro, "Jornal da Semana"), mas tratava-se do mesmo conteúdo, na verdade.
Como forma para setorizar zonas de distribuição, teve nomes diferentes, mas isso em nada prejudicou a sua imagem. Outro grande mérito da publicação, foi o fato de seu sustento ser provido exclusivamente da parte de seu espaço publicitário. Os exemplares eram distribuídos gratuitamente pelos lares, e por ter crescido muito, naturalmente atraiu o interesse de anunciantes e para todos os bolsos, pois desde grandes empresas e lojas do comércio, até pequenos anúncios sobre profissionais liberais, procuravam divulgar as suas marcas; produtos & serviços, através das páginas do Shopping / City News. Mas havia mais um atrativo, e ao meu ver, o mais forte : a qualidade editorial do jornal, era muito boa. 

Ao contrário da maioria dos jornais de bairro, que tem um jornalista experiente para oficializar a publicação, mediante o “MTB” (o registro oficial dos jornalistas), e valer-se de colaboradores diletantes e / ou estudantes de jornalismo como estagiários, o Shopping News conseguiu arregimentar uma equipe de profissionais do jornalismo, sensacional, com colunistas da pesada a assinar ótimas matérias.
Com isso, a qualidade do texto, e a diversidade do jornal, esteve sempre assegurada.
Em seus anos de ouro, o Shopping News teve como editor chefe, o jornalista, Luiz Del Nero Neto. Como exemplos bons nesse sentido em possuir grandes colunistas, cito a grande, Dulce Damasceno de Brito, uma experiente jornalista cultural, e especialista em Cinema.
Dulce foi por anos, uma correspondente brasileira em Los Angeles, a cobrir a movimentação em Hollywood. Aliás, salvo engano de minha parte, foi a primeira correspondente brasileira, oficialmente a cobrir Hollywood.
São históricas as suas entrevistas com grandes diretores; atores; roteiristas e produtores, a cobrir os lançamentos de alguns filmes que tornaram-se históricos a posteriori e por escrever resenhas sobre diversas películas. Por anos, a sua coluna dominical, publicada no Shopping News, foi um farol para cinéfilos, sedentos por novidades e conteúdo.

Maria Aparecida Saad, colunista social que foi famosa nesse nicho, também mantinha coluna nas páginas desse semanário. Deise Sabag, jornalista especializada em Moda, era outro exemplo interessante, ao atingir o público feminino.
E não posso deixar por destacar a presença do escritor / cronista / jornalista e editor, Ignácio de Loyola Brandão, que por anos, publicou as suas crônicas sobre o cotidiano da metrópole de São Paulo, sempre com aquele sabor de conversa de padaria, no pleno ato da degustação do cafezinho. No entanto, os tempos tornaram-se difíceis e ao perder força, o jornal passou por dificuldades, e desse imbróglio financeiro, não conseguiu evitar o seu fechamento. Algum tempo depois, a sua massa falida foi absorvida pelo grupo DCI (Diário do Comércio e Indústria), então de propriedade do falecido governador do Estado de São Paulo, Orestes Quércia.

A partir de 2008, o Shopping News tornou-se um encarte do DCI, com tamanho bem reduzido, mas a tentar manter o seu charme do passado. Claro, sob um espaço modesto, e encartado em um jornal sisudo, onde seu público leitor padrão só esperava notícias sobre economia & negócios, o velho "Shopping News" não teve mais como retomar o seu embalo de outrora, infelizmente.
Um aspecto é certo : entre 1953, quando foi lançado, e nos meados dos anos 1990, quando saiu de cena, o Shopping / City News angariou a simpatia de muitos paulistanos. Os domingos paulistanos, principalmente vividos nas décadas de 1950 a 1980, que sempre marcaram por alguns signos típicos, podem contabilizar também tal publicação entre eles. Domingo era dia de acordar com o sino da igreja católica mais próxima de casa, a badalar para chamar os fiéis para a missa; o aroma do molho de tomate que ultrapassava as fronteiras das cozinhas caseiras , e espalhava-se pelas ruas; os radinhos de pilhas por todos os cantos, com a voz dos locutores esportivos em frenesi para narrar as partidas do futebol, e a presença do entregador do Shopping News, a jogar exemplares nas portas dos lares, antes mesmo de acordarmos.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2015

9 comentários:

  1. Luiz,

    Excelente. Eu ainda tenho recortes do Shopping News principalmente de Turismo.



    Abraços
    Noeli

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    1. Olá, Noeli !

      Antes de mais quero agradecê-la pela visita ao meu Blog e postagem de comentário com elogio !

      Maravilha, os exemplares antigos do Shopping News que você guardou, hoje certamente tem um valor considerável como relíquia.

      Visite sempre o meu Blog, tenho outras matérias a enfocar vários aspectos da cultura paulista / paulistana das quais tenho certeza, você irá gostar !

      Grande abraço !!

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    2. quem escrevia o caderno de turismo era Vilar San Juan grande jornalista e um dos fundadores do Shopping news

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    3. Excelente adendo !

      Grato por citar o profissional, Vilar San Juan.

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  2. Prezada Noeli, você tem recortes da coluna de aviação do jornalista Ernesto Klotzel? preciso para uma pesquisa. Poderia me responder em remigedeaguia@bol.com.br? No aguardo, grata!

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    1. Olá, Solange !

      Eu não conheço a leitora Noeli e portanto, não tenho como avisá-la sobre a sua pesquisa. Resta-nos torcer para que ela leia a sua solicitação e a procure.

      Uma sugestão : copie e cole a sua intervenção, exatamente como você a postou, exatamente abaixo da postagem dessa leitora. Há um ícone, bem abaixo da manifestação dela, chamado "responder". Você posta ali e talvez, se ela ativou a possibilidade em ser avisada sobre outras respostas à postagem que fêz, haverá por notar a sua e ajudá-la, assim espero.

      Grato pela visita ao meu Blog !

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  3. Bom dia. Adorei ler sobre o jornal Shopping News aqui. Trabalhei como contato publicitário no início dos anos 90 nesse jornal, mas sai quando comecou o declínio.

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  4. Bom dia!
    Adorei essa matéria. Eu adorava ler o Shopping News aos domingos.
    Uma vez me deleitei com uma matéria sobre uma discussão entre um locutor de rádio e um vendedor de ovos em uma vila de casas se não me engano, em Moema ou Brooklin. O locutor levou microfone e alto falante pra casa, e pelos seus respectivos “sistemas de som”, os dois discutiram. Um só queria trabalhar e o outro, tendo trabalhado a noite toda em uma rádio, só queria dormir. 😊😊😊😊😊. Me arrependo de não ter guardado um recorte disso!
    Terezinha

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  5. Sou neta do Rubens Prestes Mattar, fundador do jornal, quem nunca conheci pois faleceu jovem, aos 48 anos. As memórias dele e do jornal foram passadas pela mim através da minha avó, meu pai e meu tio. Obrigada por manter viva essa fagulha da história da minha família!

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