domingo, 29 de janeiro de 2017

Corrupção, Essa Doença que Consome-nos - Por Luiz Domingues



A vergonhosa prática da corrupção é tão antiga quanta a existência humana. Eu diria que nasceu junto com o mais primitivo dos raciocínios dos primeiros humanos pré-históricos, impulsionada pela questão do instinto de sobrevivência. Por precisar comer e beber, mas também a preocupar-se em não transformar-se em alimento para os predadores mais fortes, os primeiros trogloditas começaram a raciocinar sob seus instintos básicos e animalescos, portanto, a privilegiar o seu bem estar pessoal sempre em primeiro lugar, a despeito do interesse coletivo. Tal paradigma persistiu, mesmo com a humanidade a avançar e começar dessa maneira a formatar as primeiras noções de civilização; grupamentos, tribos, clãs e família.
Mas inversamente aos progressos que a humanidade pôs-se a alcançar, em termos de ciência; artes e cultura, aquele sentimento instintivo de autopreservação, que em si não é nocivo e pelo contrário, tem o seu valor, pois tem muito a ver com a motivação pessoal em caminhar para frente, sofreu mutações ao longo do tempo. O que deveria ser uma força motriz da autoestima e fator de incentivo para cada indivíduo ter a clareza de propósitos para seguir em frente na sua busca individual pela evolução, adquiriu uma variante doente, degenerada, amoral, que alimenta o ego e transmite via neurotransmissores, quero crer, mensagens ao cérebro, do tipo: -"eu desejo obter prazer; quero levar vantagens sobre os demais" etc.

Intimamente ligada ao ego e corrosivamente contagiosa por natureza intrínseca, a instituição da corrupção vem das mais remotas lembranças pré-históricas da humanidade, portanto. Ancestral, é também endêmica e sistêmica ao mesmo tempo, por natureza, a espalhar-se de forma silenciosa e sorrateira por todas as brechas da sociedade. 
É de uma ingenuidade atroz achar portanto, que o mundo é gerido por mocinhos e bandidos, como os filmes de “Western” fizeram-nos crer, pois todos estão sujeitos à essa contaminação. Não está apenas na classe política e entre grandes empresários que beneficiam-se das negociatas que envolvem grandes obras estruturais de porte oficial.

Está no dia-a-dia da sociedade, com pequenas transações que ocorrem em todos os setores, até em ambientes inacreditáveis, onde jamais poder-se-ia imaginar haver motivações mesquinhas, como por exemplo no seio das religiões oficiais. Está em todas as classes sociais, não é fator apenas para os maiorais dos bairros nobres, ou humildes habitantes da periferia. Não isenta gêneros. Homens e mulheres cometem atos de corrupção o tempo todo. Não é racial; étnico. Espalha-se por todas as nações do planeta. Não tem nada a ver com ideologias. 
É errôneo achar que somente no capitalismo é passível de acontecer, pela obviedade de ser um sistema baseado no dinheiro e na ganância, mas vide a derrocada da utopia esquerdista, corroída por tantas distorções em seu âmago teórico com teor nobre pela questão da luta pela igualdade, que não derrubou apenas o muro de Berlim, mas toda a ilusão de conceber-se “fraternidade de fachada”, hipócrita; mentirosa; “na marra”, e na truculência. Corrupção envolve ego, que insufla, cega o ser humano. O prazer hedonista imediato obscurece os propósitos maiores do homem. 

Em suma, se assistimos com entusiasmo os esforços das instituições em combater a corrupção de forma implacável, é também importante que estejamos atentos às manipulações midiáticas. Seria auspicioso o momento em que vivemos no Brasil, com tantas investigações; provas sendo colhidas; pessoas sendo presas; julgamentos sendo feitos à luz da lei; e condenações que puniriam corruptos adequadamente e tratassem de recapturar os recursos surrupiados dos cofres públicos. Claro que entusiasmo-me também a o verificar esse esforço sem precedentes na história, mas faço uma ressalva: não seria todo esse mise en scené midiático, uma forma de corrupção tão sórdida quanto ao que supostamente diz investigar? 

O leitor não leva em consideração a hipótese de que seria um grande erro apoiar esse "endeusamento" de magistrados, como se fossem astros de cinema ou Rock Stars, só por que estão em evidência na mídia, a ser enaltecidos pelas suas ações, muito mais por que estão a minar adversários políticos exaltados em grande escala na imprensa e portanto, sob efeito de espetacularização a atender interesses pessoais e de alguns partidos, incluso a própria mídia (ou principalmente da parte dela mesma, a mídia)? 

É uma forma de corrupção, também, pensar e agir dessa forma. Primeiro, por que tais agentes da polícia e justiça, são funcionários públicos a cumprir as suas funções normais e o mínimo que esperar-se-ia de tais profissionais seria que exercessem com empenho e honestidade o seu trabalho. Não há nada excepcional em suas ações que mereça esse enaltecimento ridículo, a não ser que seja nítida a intenção de certos grupamentos em capitalizar tais resultados para lograr êxito em suas intenções político-partidárias e comerciais. 

Segundo ponto, o que uma pessoa dita "de bem" tem que esperar da justiça, é que seja equânime, “cega” como simbolicamente é retratada, no afã de mostrar a sua isenção. Portanto, investigar a corrupção faz-se mister e tem o meu total apoio, mas não vou sair na rua a usar camiseta com a estampa a ostentar a figura de algum juiz alçado à condição de um “super-herói”. Espero que a justiça seja de fato implacável e a expressão: “doa a quem doer”, seja praticada sem exceções, sem atender os interesses do grupo político ou empresarial, A, B ou C, ou por outro lado, a "engavetar-se" investigações, seja de quem for. 

E se isso ocorrer mesmo, comprovadamente, ficarei satisfeito como cidadão, mas não vou idolatrar figuras exponenciais da justiça. Terão o meu respeito e admiração pela lisura e profissionalismo, mas nada mais que isso, por que é um absurdo achar que o que fazem é algo excepcional, quando não o é. Tais profissionais apenas cumprem as suas funções com dedicação e honestidade, e sendo assim, isso é o mínimo que poder-se-ia esperar deles. 

E vamos com muita calma, pois ainda tem muito engavetamento e vista grossa por aí, portanto, aplaudir só quando inimigos políticos são desmascarados não é uma atitude ética a ser considerada, mas ao contrário, apenas quando não houver nenhum grão de pó debaixo dos tapetes, ou “tapetões” para ficar mais no clima, e as gavetas e arquivos completamente vazios, com todo corrupto a ser investigado; condenado e preso, independentemente de ser inimigo político ou da sua “turma”, aí sim, estaremos de fato a dar um salto na sociedade brasileira, para erradicar a corrupção.

 
Para encerrar, insisto em um ponto crucial ao meu ver, principalmente sobre o caso brasileiro, e que já enfoquei em matérias anteriores: o combate à corrupção tem uma erva daninha maldita em nossa cultura em específico, e que enquanto não for extirpada, sofreremos. Trata-se do famigerado: “Jeitinho Brasileiro”, esse maldito paradigma do povo brasileiro em arrumar maneiras de levar vantagem em qualquer situação, mediante o uso e abuso de falcatruas. Enquanto não erradicarmos isso de nossa alma, seremos eternamente uma republiqueta das bananas, com a pior classe política do mundo, formada por gente que nasceu a acreditar nesse modus operandi. E somente mais um adendo: nada pode ser mais odioso do que usar a justiça para forjar provas, falsos testemunhos, sabotagens ao direito amplo de defesa, arquivamento de provas cabais pró-réu, alinhavar delações fraudulentas para efetuar condenações sumárias, burlar prazos para dizimar as chances da defesa e sobretudo, condenar sem provas concretas, mas apenas por convicções mal explicadas, ou seja, o verdadeiro combate à corrupção passa por uma limpeza na máquina da justiça, inicialmente, para que garanta-se a completa idoneidade dos que investigam e julgam com isenção.

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