É
inacreditável, eu sei, mas em pleno 2017, com quase todo mundo a destilar
lamúrias pelas redes sociais, em tom de crítica pela anti música que ocupa o espaço da difusão cultural mainstream (e na contrapartida não haver espaço algum para artistas do underground), eis que nos confins da zona leste de São Paulo, uma turma
jovem, ultra dinâmica e entusiasmada, vai na contramão, por nadaro contra a maré do baixo astral
generalizado e alheia ao pessimismo dos perdedores (e por quê não, dos perdidos,
também...).
O fato, é que esse grupo de artistas está a produzir uma música profundamente influenciada pelos anos 1960, e assim a resgatar inúmeros aspectos revolucionários daquela década memorável. É uma turma muito boa que produz shows; festivais, não quer nem saber de crise e sem “frescuras”, produz o seu agito contracultural onde houver espaço, e nem importa-se se não houver infraestrutura adequada, por que se não existir, eles mobilizam-se e fazem acontecer.
Só por agir com tal mentalidade, já merecem todo o enaltecimento, mas não fica só nessa boa vontade extrema, pois trata-se de um celeiro de artistas talentosos, que tem o que dizer, portanto, agregue-se tal valor. E entre esses rapazes obstinados, muitos tem duas, três ou mais bandas mantidas em simultaneidade, e todos os amigos dessa fraternidade interagem, nem que seja em participações de uns nos discos dos outros.
O fato, é que esse grupo de artistas está a produzir uma música profundamente influenciada pelos anos 1960, e assim a resgatar inúmeros aspectos revolucionários daquela década memorável. É uma turma muito boa que produz shows; festivais, não quer nem saber de crise e sem “frescuras”, produz o seu agito contracultural onde houver espaço, e nem importa-se se não houver infraestrutura adequada, por que se não existir, eles mobilizam-se e fazem acontecer.
Só por agir com tal mentalidade, já merecem todo o enaltecimento, mas não fica só nessa boa vontade extrema, pois trata-se de um celeiro de artistas talentosos, que tem o que dizer, portanto, agregue-se tal valor. E entre esses rapazes obstinados, muitos tem duas, três ou mais bandas mantidas em simultaneidade, e todos os amigos dessa fraternidade interagem, nem que seja em participações de uns nos discos dos outros.
Hoje, quero tratar de mais uma banda dessa cena (já abordei o Capitão Bourbon, anteriormente), desta feita chamada: “Os Subterrâneos”.
Grupo de Rock profundamente influenciado por bandas de garagem dos anos sessenta, não necessariamente famosas e daí, realça-se a extrema originalidade dessa banda em buscar sonoridades perdidas no tempo e no espaço, sendo que em realidade, tal estética jamais poderia ter sido obscurecida, nem mesmo pela ação do tempo. Contudo, muita coisa aconteceu na história do Rock e até o vilipêndio usado como arma, em forma de ação de marketing, tratou de obscurecer tal corrente histórica e agora, uma banda como "Os Subterrâneos" está a cumprir o seu trabalho arqueológico e ao mesmo tempo mágico em reatar o fio-da-meada perdido, ou seja, o efeito “religare” no Rock, um fato que Rockers genuínos aos quais incluo-me, sonham em ver acontecer, há décadas.
Os Subterrâneos tem em sua formação como quarteto, os seguintes membros: Eduardo Osmedio (Guitarra e Voz); Ronnie Pedroso (Órgão/Gaita/Guitarra e Voz), Guilherme Torquato (Baixo) e Rogério Antônio (Bateria e Voz).
O seu EP, homônimo, foi lançado em 2017, a conter quatro faixas. A sonoridade da banda, em termos de áudio, soa bastante rústica, ao assemelhar-se a um padrão de bootleg concebido em poucos canais, sob a égide do mundo antigo das gravações (leia-se analógico), e isso é sensacional enquanto fidedignidade às influências que eles seguem, com dedicação. Até a foto da banda na capa do álbum, com os rapazes trajados como se estivessem em 1966, em meio ao “fog” de Londres, é incrível. E fica ainda mais interessante se levarmos em conta que são paulistanos da zona leste e que estão fazendo isso em 2017...
Sobre as quatro faixas, ouvi-las no headphone é um mergulho direto aos anos sessenta, uma autêntica viagem no Túnel do Tempo, quiçá na companhia de Anthony Newman e Douglas Phillips, absorto em cambalhotas num Kaleidoscópio psicodélico e muito louco e com as bênçãos de Irwin Allen.
A primeira faixa, “Ruas de Soweto”, contém um som de órgão bastante hipnótico. É aquele timbre agudo e maravilhoso desses teclados tipicamente sessentistas como os órgãos das marcas, Voz e Farfisa, inigualáveis pela suas respectivas características no tocante aos timbres.
Gostei muito dos backing vocals ao fundo, quase sombrios, a repetir frases proferidas pela voz principal e a lembrar muito o som de diversos artistas egressos da Jovem Guarda e estes por sua vez, que beberam forte no Pop francês e italiano, principalmente, naquela década. É muito boa uma parte desdobrada em compasso 3/4, a insinuar uma valsa lisérgica. Gostei também do solo de guitarra e o timbre do baixo, quase sem o uso do "sustain", com aquele timbre anasalado, também muito usado naquela época.
“Borboleta Branca” é a segunda canção e apresenta-se com forte orientação do Acid Rock sessentista. Nessa faixa, um músico convidado tocou guitarra, Jun Santos. A letra investe forte na loucura psicodélica, por buscar imagens surreais. Eis um trecho:
"Era uma borboleta voando mais branca que a neve / sobrevoava o jardim colorido a procura das tulipas negras"...
A terceira faixa, “Dia Lindo”, detém em sua parte inicial, uma divisão rítmica fragmentada, sob compasso 2/4, muito interessante. Convenções duras ocorrem em diversos trechos a oferecer um peso incrível. Tem muito do som da pouco conhecida banda sessentista norte-americana, “The Music Machine” (aliás, uma influência confessa dos rapazes).
Gostei do solo de guitarra executado pelo artista convidado, Uly Nogueira, outro músico com forte participação nessa cena, por tocar em várias bandas irmãs dessa mesma cena e também a produzir e ofertar apoio como ilustrador de capas de discos e cartazes de shows a evocar a psicodelia sessentista, sendo um talento um artista com talento individual, impressionante. E não obstante ser um baterista ótimo em outras bandas, aqui contribuiu com um belo solo de guitarra ao pisar no pedal “Fuzz”, sem parcimônia.
“Jardim Psicodélico” fecha o EP e eu não pude deixar de enxergar o “Iron Butterfly” a flutuar fortemente como influência ótima para os rapazes. Trata-se de uma viagem psicodélica, uma autêntica "good trip". Ouvir essa faixa de olhos fechados pode levá-lo diretamente aos bastidores do Auditório Fillmore West, em algum momento de 1967, quando em meio a tal epifania, a vontade de não voltar para a realidade do século XXI em curso, será imensa, tenha essa certeza.
Gostei muito da condução da bateria, a evoluir com bastante criatividade nos tambores, e também do solo de guitarra, muito bonito. A letra investiu forte no surrealismo explícito, na melhor tradição dos ditos, lindos sonhos delirantes.
"acordei, mas ainda estava a sonhar / encontrei o jardim psicodélico dos sonhos meus"...
O disco foi gravado no estúdio: “Corações de Pedra”, em São Paulo. Jonas Morbach foi o técnico da captura de gravação e mixagem & masterização. Foto e arte da capa a cargo de Fernanda Heitzman (é um trabalho muito bom da parte dela, por sinal).
Em postagens que vejo pelas Redes Sociais a anunciar os seus shows, percebo que gostam de brincar com o fato de que são da zona leste de São Paulo, ao referir-se a ela como: “Zona Lost”, ao gerar uma alusão ao seriado de TV, que fez sucesso, anos atrás. Mas creio que esses artistas na verdade não perderam nada, mas ao contrário, estão a achar um caminho muito interessante a resgatar as raízes remotas do Rock, ou seja, fazem um trabalho notável, nesse prospecção.
Recomendo o
bom trabalho d'Os Subterrâneos, tanto a acompanhá-los ao vivo, aonde quer que
estejam, quanto pela audição de seu EP, aqui analisado. E que venham mais
trabalhos nessas características. E viva a psicodelia sessentista!
Ouça o EP na íntegra, abaixo:
Ouça o EP na íntegra, abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=CGM15yIrH24
Também
disponível na plataforma BDG do Uol:
https://bdg.uol.com.br/artist/os-subterraneos
Para saber
mais informações sobre a banda, acesse sua página na Rede Social Facebook:
https://www.facebook.com/OsSubterraneos/?ref=page_internal
Interessante o destaque que está dando a bandas desconhecidas como esta. Sempre há surpresas a serem descobertas em música. Parabéns pela matéria. Gostei muito de saber sobre esta banda.Sucesso sempre !
ResponderExcluirOlá, Vinicio !
ExcluirQue bacana que tenha observado a intenção do Blog em abrir espaço para artistas que não tem abertura na grande mídia e que na inversa proporção, apresentam qualidade artística inquestionável. Tenho muito prazer em apoiar artistas valorosos assim, e somando esforços, como o seu e seu site / blog / página de Facebook, vamos dando espaço para talentos desconhecidos do grande público.
Maravilha ter seu apoio e eis aí mais uma banda que eu recomendo e que tenho certeza de que você vai gostar.
Grande abraço !!