quarta-feira, 4 de abril de 2018

CD 10 Anos!/ Medusa Trio - Por Luiz Domingues




Conheço o guitarrista, Milton Medusa, há alguns anos. Sei que é um estudioso, professor de uma das mais prestigiadas escolas de música de São Paulo e do Brasil e que costuma envolver-se em inúmeros projetos musicais, a passear por muitos estilos musicais variados e sob circunstâncias ecléticas, Ao ir de trabalhos como “side-man” de cantores, a bandas tributo a artistas internacionais, direção e produção musical para outros artistas e gravações. Porém, ante tanta versatilidade, é claro que dedica-se ao seu trabalho solo, igualmente e com afinco. 

Neste caso, a sua banda, o “Medusa Trio”, está na ativa há muitos anos e recentemente lançou um CD, denominado: “10 Anos!”, justamente para celebrar a sua longevidade e não deixou por menos ao marcar a efeméride (iniciou atividades em 2007 e lançou esse trabalho ao final de 2017), sob altíssimo estilo.


Milton tem como base primordial de sua música, o Hard-Rock praticado na década de oitenta, predominantemente, mas é bem versado no Blues e mediante muito estudo, desenvolveu-se também no mundo do Jazz-Fusion, que tem as suas vertentes em ramificações variadas, mas a salientar a amálgama do virtuosismo instrumental, como um modus operandi. Contudo, eclético por natureza, ele também aprecia a música brasileira de uma forma geral, o Hard-Rock e o Progressive Rock dos anos setenta e claro, muita música instrumental, portanto, é por essa riqueza e bom gosto todo que o seu trabalho transita. 

Além de seus excelentes companheiros, Fernando Tavares (baixo) e Luis Pagoto (bateria), ambos igualmente instrumentistas de altíssimo padrão e professores famosos na mesma escola onde Milton leciona, o disco contou com muitos convidados ilustres nesse álbum, e dessa forma, enriqueceu-o sobremaneira. Entre tantas feras, o CD apresenta os guitarristas convidados, em participações super inspiradas: Robertinho do Recife (Metalmania; Fagner; Gal Costa), Sergio Hinds (O Terço), Mozart Mello (Terreno Baldio) e André Christovam (Fickle Pickle). 

O tecladista, Fernando Cardoso (Violeta de Outono), toca em várias faixas. Willie de Oliveira, ex-vocalista do Rádio Táxi, canta a única canção vocalizada e o excepcional guitarrista/tecladista, Daril Parisi (Platina), faz backing vocals nessa mesma faixa. 

O áudio do CD é de ótimo padrão, com mixagem caprichada a realçar muitas sutilezas nas sobreposições de guitarras, além de garantir não só à guitarra, mas também ao baixo e bateria, timbres muito bons, encorpados. Há uma concepção sonora mais próxima dos anos oitenta, é bem verdade, com um certo excesso de reverber, mas esse também é um aspecto Pop a ser observado, embora trate-se de um disco instrumental em 90% da obra, portanto, deduz-se que a banda não tenha tido tal preocupação comercial, mas a sonoridade foi uma questão de escolha pessoal. 

A capa do álbum é discreta, porém, bonita, traz a figura petrificada da medusa mitológica em pleno mar, com a água espumante do oceano a chocar-se com ela e na contracapa, segue o padrão com a continuidade dessa imagem. 

No encarte, eu apreciei a ficha técnica caprichada com muitas informações, inclusive a conter breves comentários escritos pelo próprio, Milton, a respeito de cada faixa, e nesse aspecto a se mostrar elucidativo e até poético em alguns momentos. Além de uma foto promocional da banda, posada, mas em postura de apresentação ao vivo, a empunhar instrumentos e sob uma bela paisagem do mar, visto que Milton é natural da cidade de Santos-SP, e toda a sua carreira foi construída primordialmente com tal bela cidade praiana a inspirá-lo. Falo a seguir, sobre as músicas dessa obra:


Sábado de Sol” é a primeira faixa do álbum e apresenta-se como um Blues clássico em sua estrutura harmônica e rítmica, a soar muito bem nas mãos de músicos virtuoses por natureza e preparo técnico, mas que tiveram o bom senso em estabelecer um arranjo comedido, sem extrapolar as tradições do gênero. Portanto, a tocar com extrema desenvoltura e bom gosto, mas ao mesmo tempo na observação das fronteiras tradicionais do Blues, o Medusa Trio faz aqui um Blues muito gostoso de se ouvir e por que não, até dançar, sem amarras ou constrangimentos, a estabelecer uma alegria natural, muito gostosa em saborear-se. Gostei dos solos mais ardidos e da base limpa de guitarra. 

Ondas Rolando no Mar”, vem a seguir. Aqui a aposta é no Pop oitentista com certa queda pelo Hard-Rock daquela década. Gostei muito da base feita sob belos arpejos, e também da linha de baixo na parte A, com efeito "looping" e apoio firme da bateria. Lembra bandas oitentistas que buscavam o Pop, em essência, e tinham influência Fusion, no estilo do “Toto” e demais contemporâneas.

Guitarras Brasileiras”, pelo seu título, já dá a ideia de que Milton faz uma linda homenagem a guitarristas brasileiros que tinham a forte influência da MPB sob múltiplas vertentes e também eram/são Rockers por excelência, casos gritantes de Pepeu Gomes, Armandinho, Paulo Rafael e Robertinho de Recife, entre outros. Ou seja, a se tratar de grandes feras e Milton não se fez de rogado, pois a sua atuação é espetacular nessa faixa, com balanço, solos e bases incríveis, incluso com a introdução de violões para dialogar com as guitarras. Gostei muito também de uma parte C, muito criativa. 

Anos Setenta”, é a quarta canção e nessa faixa, o Riff Hard-Rock, bem ao estilo dos anos setenta dá início aos trabalhos, mas é nítido que há uma boa influência do Blues-Rock, igualmente. Fernando Tavares brilha intensamente ao fazer um solo muito técnico e ao mesmo tempo, ultra melódico, a mostrar seu talento criativo e sob um belo timbre, devo registrar. Tem também nas partes B e C, atrativos muito interessantes e Milton mostra toda a sua técnica, inclusive no uso da alavanca, bem ao estilo de guitarristas mais contemporâneos seus, casos de Joe Satriani e Steve Vai. E o Riff final, sob uma convenção rápida e muito precisa, mostra a banda muito afiada. 

O Blues do Rock”, como o título sugere, recorre ao Blues como base, mas sob uma pegada quase a beirar o Country-Rock virtuose de uma banda como o Dixie Dregs, por exemplo. Fernando Tavares faz mais um solo espetacular de baixo e o baterista, Luis Pegoto, brilha, ao soltar frases muito pontuais, mesmo ao manter uma batida tradicional, na maior parte do tempo. 


Libertadora”, mostra um Hard-Rock em essência, daqueles baseados no estilo “AOR”, bem do final dos anos setenta/início dos oitenta, onde bandas como “Foreigner”, “Boston” e “Journey” foram os seus maiores expoentes, sem dúvida. Contudo, há uma pitada de Rock Progressivo setentista, pois como Fernando Cardoso tocou órgão Hammond nessa faixa, um ligeiro interlúdio desse estilo é notável, ao trazer lá pelo meio da canção, uma evocação do som do “UK” e dos discos solo do tecladista, “Rick Wakeman”, sem dúvida. Os solos de Milton impressionam não só pela técnica, mas pelos timbres, muito bonitos.


Ganhar e Perder” é a única faixa cantada e é super Pop Rock dos anos oitenta e não é para menos ao contar com a voz potente do ex-vocalista do “Rádio Táxi”, Willie de Oliveira. O refrão é bem "grudento", tem algumas convenções mais complexas que lembram o som do “Taffo”, uma referência óbvia e da qual acho não carecer nenhuma explicação adicional.


6 cordas e Muitas Alegrias”, antes mesma de ser escutada, tem no encarte uma explicação muito bonita do Milton, sobre sentir-se gratificado em ser músico e conviver com tantos músicos incríveis com os quais já tocou e toca na atualidade. E sobre a canção em si, trata-se de uma mini suíte, onde Milton construiu diversas partes distintas para dar vazão aos seus convidados poder atuar. Portanto, contém o trecho Progressivo, para que Sergio Hinds fizesse o seu solo; Hard-Rock para a atuação de Robertinho de Recife, Jazz-Fusion com Mozart Mello, a brilhar e finalmente e André Christovam, com o seu slide, fecha com o solo em ambientação Blues-Rock. E ao final, um trecho onde todos, incluso, Milton, solam sob revezamento. Uma faixa poderosa, portanto, com tantas feras juntas.


Trem Azul”, levou-me á reflexão de que quando pensei já ter ouvido todas as possibilidades dessa linda canção de Lô Borges & Ronaldo Bastos, sob múltiplas interpretações, incluso as clássicas, do próprio, Lô e de Elis Regina, eis que o Medusa Trio surpreende-me e apresenta-a sob uma vestimenta Blues, belíssima. Adorei a introdução bastante criativa e a levada vigorosa da banda.


O Blues do Medusa”, tem uma condução melódica na guitarra, espetacular, a lembrar, pelo estilo e timbre, o som de Jeff Beck. Aqui a base harmônica é bem Jazzy e a sobreposição de guitarras, solos e base, é muito bonita. Essa faixa foi gravada muitos anos atrás, em 2009, com o baixista, Ronaldo Lobo, na formação.


Gravado no estúdio Purosom, de São Paulo, em 2017, tendo como técnico de gravação; mixagem & masterização, Edson Paulino. 
As intervenções do órgão Hammond, foram gravadas no estúdio, Áudio Freaks, com o técnico, Renato Coppoli. 
Mozart Mello gravou sua guitarra em seu Home Studio, em São Paulo. 
Robertinho de Recife gravou no RR Studios - Polorio, no Rio de Janeiro.
André Christovam gravou no Music Studio em Glascow, na Escócia.

Direção de estúdio: Milton Medusa e Edson Paulino

Pré-produção de Milton Medusa e Fernando Tavares.

Direção de arte: Michel Camporeze Teér

Fotos: Deca Pertrini

Formação do Medusa Trio nesse álbum

Milton Medusa: Guitarra

Fernando Tavares: Baixo

Luis Pagoto: Bateria

(Faixa 10 – Ronaldo Lobo – Baixo)


Músicos convidados:

Fernando Cardoso: Teclados

Sergio Hinds: Guitarra

Robertinho de Recife: Guitarra

Mozart Mello: Guitarra

André Christovam: Guitarra

Willie de Oliveira: Voz

Daril Parisi: Backing Vocals


Agradeço muito ao Milton, pela amizade e inclusive por ter sido um dos maiores incentivadores para que eu empreendesse esforços para escrever o meu livro autobiográfico sob o foco da minha carreira musical e por ter apresentado-me ao Fernando Tavares, que foi o meu editor na revista Bass Player, no período em que eu fui colaborador desse veículo. E pela inclusão do meu nome na lista de agradecimentos aos apoiadores do seu trabalho, fiquei muito honrado e feliz por isso.


Para conhecer melhor o trabalho do Medusa Trio, acesse o seu site oficial:




O canal de You Tube da banda:




E a página da banda, no Facebook:



Eis aí um trabalho que eu recomendo, por apresentar música de alto quilate, feita por músicos virtuoses, mas que observam o bom senso acima de tudo, portanto, não é um trabalho feito para ser apreciado apenas por músicos, mas agrada a todos.

4 comentários:

  1. Adorei a análise detalhada e rica, com abordagem séria e profundamente técnica.
    Escutei o Cd e me encanto a cada releitura.
    Certamente, trata-se de trabalho primoroso dos músicos, que se agiganta com os comentários tecidos neste blog.

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    1. Olá, Adriana !

      Fico muito feliz por saber que leu, apreciou a resenha e que esta tenha surtido o efeito em aguçar sua vontade para ouvir o álbum em questão. Fico lisonjeado pelos elogios e gratificado por verificar que meu intento logrou êxito, ao trazer visibilidade para o trabalho dessa ótima banda.

      Grato pela visita, comentário rico e atenção ! Deixo o convite para visitar o Blog mais vezes, tenho inúmeras outras resenhas anteriormente publicadas, sobre trabalhos de artistas extremamente inspirados e que infelizmente tem pouca ou nenhuma chance na mídia mainstream. É só procurar nos arquivos do Blog, à sua inteira disposição.

      Grande abraço !

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  2. Olá, Luiz!
    Fiz o comentário anterior e não me identifiquei.
    Sou Adriana Machado Yaghsisian.
    Mais uma vez, parabéns pelo seu trabalho!
    Até! !!

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    1. Oi, Adriana !

      Sem problemas, o importante é que postou o segundo comentário identificando-se. Grato por tal gentileza de sua parte.

      Abraço !

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