O Wejah é um
grupo que foi formado nos idos de 1982, fortemente inspirado pelo Rock
Progressivo setentista, sob várias vertentes e a acrescentar doses generosas dos
gêneros: Jazz-Rock, Fusion e música instrumental em geral.
A década de oitenta, como é bem sabido, não foi nada favorável para uma manifestação artística versada por tais estéticas e pelo contrário, revelou-se hostil para os artistas, que mesmo veladamente insinuassem em seus trabalhos, tais nobres influências de um passado considerado apócrifo pelos detratores em voga, portanto, a culminar em uma dificuldade tremenda para projetar-se adequadamente.
Dessa forma, a extrema contrariedade com a qual artistas dessas vertentes obtiveram para expressar-se, ganha ao olhar moderno, uma avaliação positiva ainda maior, pois a despeito da sua arte pautada pela excelência musical, o simples fato em ter tido tantas dificuldades para poder trabalhar, faz com que só possamos ter ainda mais admiração pela sua obstinação ante os obstáculos impostos.
Nesses termos, o Wejah foi valente e resistiu até demais, ao construir uma carreira que durou até o início dos anos noventa. Houve uma tentativa de retomada das atividades ao final dessa década, mas não bem sucedida, infelizmente, e somente em meados dos anos 2000, a banda reuniu forças para voltar à cena, com maior desenvoltura e desde então vem a trabalhar fortemente dentro das suas convicções artísticas e estéticas.
Eis que o seu último lançamento foi então através do CD denominado, “Springtime”, gravado em 2006 e lançado no início de 2007. E nada poderia ter sido melhor do que apontar para a perspectiva de uma florida e alvissareira primavera, após um longo inverno, não resta dúvida.
Tal trabalho apresenta canções absolutamente inéditas, gravadas entre 2003 e 2006, e a contar com três diferentes formações da banda (incluso a primeira, original dos anos oitenta), sempre conduzida pelos obstinados irmãos Sanchez: Nelson e Jorge. Foi lançado como CD tradicional em 2007 e recentemente, início de 2019, o trabalho foi incorporado em diversas plataformas digitais.
Os dois primeiros álbuns do Wejah: "Renascença" (1988) e "Sendas" (1996)
Ao escutar tal obra, chama a atenção que o lado mais Fusion da influência desses artistas, não deixa que exista um peso excessivo na sua criação e isso tem o lado bom, na medida em que muitos grupos Neo-Progressivos (principalmente após os anos noventa), buscam inspiração em artistas que mesclam o velho e bom Rock Progressivo setentista, com tendências pesadas, oriundas de vertentes do Heavy-Metal e particularmente, isso desagrada-me.
Claro, trata-se de uma mera opinião pessoal, mas eu considero que mesmo ao analisar grupos setentistas que trabalharam com peso em suas respectivas obras e são muitos os bons exemplos nesse campo, com o King Crimson como uma referência forte, só para citar uma, eu penso que grupos mais modernos que resgataram o Rock Progressivo nos anos noventa e dois mil, mas ao acrescentar correntes oriundas do Heavy-Metal, não fizeram a leitura correta do que realmente representou o Prog-Rock setentista em sua essência e nesse sentido, ao fundir com o Metal, inventaram uma receita indigesta.
Bem, não é o caso do Wejah, e como já observei, essa influência do Fusion que os seus componentes observam, tratou por não haver a menor possibilidade de existir um peso inconveniente em seu trabalho, mediante a observação de timbres e maneirismos que simplesmente não combinam adequadamente com o conceito do Prog-Rock clássico.
E mais um detalhe, o Wejah trabalha com uma vertente mais amena do Prog-Rock em si, onde busca-se uma maior aproximação com o som mais sinfônico, em paralelo ao Soft-Rock de uma maneira geral ou a trocar em miúdos, há o lado mais a pender para o som de Vangelis, principalmente naquela fase em que este grande tecladista grego construiu um projeto com o vocalista do Yes, Jon Anderson, para situar melhor o leitor.
A década de oitenta, como é bem sabido, não foi nada favorável para uma manifestação artística versada por tais estéticas e pelo contrário, revelou-se hostil para os artistas, que mesmo veladamente insinuassem em seus trabalhos, tais nobres influências de um passado considerado apócrifo pelos detratores em voga, portanto, a culminar em uma dificuldade tremenda para projetar-se adequadamente.
Dessa forma, a extrema contrariedade com a qual artistas dessas vertentes obtiveram para expressar-se, ganha ao olhar moderno, uma avaliação positiva ainda maior, pois a despeito da sua arte pautada pela excelência musical, o simples fato em ter tido tantas dificuldades para poder trabalhar, faz com que só possamos ter ainda mais admiração pela sua obstinação ante os obstáculos impostos.
Nesses termos, o Wejah foi valente e resistiu até demais, ao construir uma carreira que durou até o início dos anos noventa. Houve uma tentativa de retomada das atividades ao final dessa década, mas não bem sucedida, infelizmente, e somente em meados dos anos 2000, a banda reuniu forças para voltar à cena, com maior desenvoltura e desde então vem a trabalhar fortemente dentro das suas convicções artísticas e estéticas.
Eis que o seu último lançamento foi então através do CD denominado, “Springtime”, gravado em 2006 e lançado no início de 2007. E nada poderia ter sido melhor do que apontar para a perspectiva de uma florida e alvissareira primavera, após um longo inverno, não resta dúvida.
Tal trabalho apresenta canções absolutamente inéditas, gravadas entre 2003 e 2006, e a contar com três diferentes formações da banda (incluso a primeira, original dos anos oitenta), sempre conduzida pelos obstinados irmãos Sanchez: Nelson e Jorge. Foi lançado como CD tradicional em 2007 e recentemente, início de 2019, o trabalho foi incorporado em diversas plataformas digitais.
Os dois primeiros álbuns do Wejah: "Renascença" (1988) e "Sendas" (1996)
Ao escutar tal obra, chama a atenção que o lado mais Fusion da influência desses artistas, não deixa que exista um peso excessivo na sua criação e isso tem o lado bom, na medida em que muitos grupos Neo-Progressivos (principalmente após os anos noventa), buscam inspiração em artistas que mesclam o velho e bom Rock Progressivo setentista, com tendências pesadas, oriundas de vertentes do Heavy-Metal e particularmente, isso desagrada-me.
Claro, trata-se de uma mera opinião pessoal, mas eu considero que mesmo ao analisar grupos setentistas que trabalharam com peso em suas respectivas obras e são muitos os bons exemplos nesse campo, com o King Crimson como uma referência forte, só para citar uma, eu penso que grupos mais modernos que resgataram o Rock Progressivo nos anos noventa e dois mil, mas ao acrescentar correntes oriundas do Heavy-Metal, não fizeram a leitura correta do que realmente representou o Prog-Rock setentista em sua essência e nesse sentido, ao fundir com o Metal, inventaram uma receita indigesta.
Bem, não é o caso do Wejah, e como já observei, essa influência do Fusion que os seus componentes observam, tratou por não haver a menor possibilidade de existir um peso inconveniente em seu trabalho, mediante a observação de timbres e maneirismos que simplesmente não combinam adequadamente com o conceito do Prog-Rock clássico.
E mais um detalhe, o Wejah trabalha com uma vertente mais amena do Prog-Rock em si, onde busca-se uma maior aproximação com o som mais sinfônico, em paralelo ao Soft-Rock de uma maneira geral ou a trocar em miúdos, há o lado mais a pender para o som de Vangelis, principalmente naquela fase em que este grande tecladista grego construiu um projeto com o vocalista do Yes, Jon Anderson, para situar melhor o leitor.
O Wejah em foto ao vivo, sob formação como Power Trio, por ocasião do lançamento do CD Springtime. Teatro Santos Dumont, em São Caetano do Sul-SP, no ano de 2007
Sobre a atuação individual dos componentes no álbum, é realizada sob alto nível técnico, com muito bom gosto nas performances individuais e no tocante ao arranjo coletivo, que é bem amparado por uma ótima produção de áudio, e a incluir-se nesse bojo, o bom uso de timbres, a sobressair a opção sempre agradabilíssima em torno da escolha pelo padrão vintage. Em suma, a reforçar a ideia de que seja uma experiência prazerosa escutar tal álbum.
Não se trata de um trabalho exclusivamente instrumental, embora as canções mostrem-se quase que inteiramente construídas nesses termos. No entanto, observa-se pequenos trechos cantados em algumas faixas e embora a atenção despendida à vocalização seja menor, quando a cantoria aparece, tem uma qualidade muito grande, tanto na composição das melodias propostas, quanto na interpretação. E a opção é pelo uso do idioma inglês, e por conta desse detalhe, certamente tratou-se de uma estratégia da banda para adequar-se ao mercado internacional.
Sobre a capa do disco, a imagem usada foi a de uma paisagem cósmica, penso que uma foto obtida por um telescópio ou satélite. Sóbria, bonita e ao mesmo tempo profunda, por mostrar a amplitude do Universo e o logotipo da banda, que é muito funcional e ao mesmo tempo bem estiloso, compõe bem a imagem frontal dessa arte gráfica. Concepção e arte final do guitarrista, Nelson Sanchez. Enquanto o leitor prossegue nesta leitura, convido-o a escutar o álbum, “Springtime”, na íntegra:
https://www.youtube.com/watch?v=GiPmV5mIT_Y
Sobre as canções em si, resta-me observar mais alguns detalhes.
O Wejah ao vivo, como quarteto, desta feita, durante o Festival de Inverno de Paranapiacaba, em Santo André-SP, no ano de 2008
“Beginning of Life”
Com uma introdução bem climática, a destacar-se os teclados e a presença de sussurros fantasmagóricos, este tema desenvolve-se posteriormente em torno de uma bela levada de bateria e baixo, ao dar vazão para uma sucessão de acordes bem desenhados pela guitarra. Após uma desdobrada rítmica estratégica, acontece a parte cantada. Ao final, a bateria avança sob uma sutil intenção tribal e encerra-se o tema, mediante uma boa base obtida através do sintetizador e um bom solo de guitarra, mediante o seu timbre limpo.
“First Spring Flower”
Revela-se muita boa a condução rítmica inicial, gostei muito. Depois disso, uma base intermitente do sintetizador mostrou-se muito criativa. Apreciei bastante os ricos desenhos executados pela guitarra, tudo muito bem encaixado e a seguir, um solo de piano, muito bonito. O vocal entra e depois abre caminho para um solo de guitarra. O uso do recurso amparado por onomatopeia melódica, a la George Benson, é bem interessante.
"Insanity"
Logo no começo, uma insinuação de solo de baixo, chama a atenção. O tema fica mais pesado a mostrar densidade, e assim, impressiona o arranjo a privilegiar a inclusão de uma camada de teclados, muito bem concatenada. O uso da fórmula de compasso 6/8, traz a sutileza da influência jazzística e abre espaço para um solo de piano. Sussurros são escutados ao final, para garantir uma atmosfera misteriosa e o som do piano encerra a canção com uma intervenção deveras criativa.
A formação do Wejah, como trio, e que gravou várias faixas do CD Springtime
"Burned Out"
Canção balançada, praticamente a caracterizá-la como um R’n‘B, apresenta um bom solo ao sintetizador e posteriormente, ocorre um outro momento solo e ótimo, desta feita executado ao piano elétrico. Gostei da parte toda arpejada pela guitarra, do solo posterior e da segunda voz em contraponto, ao final da música.
"North South East West"
Com boa base harmônica ao sintetizador, e também o solo ameno de guitarra, começa bem esta faixa. Apreciei a base desdobrada para dar vazão a um solo climático. A voz bem processada com uma reverberação mais profunda, também mostrou-se criativa e a linha de bateria ficou excelente.
O Wejah ao vivo, no Parque Chico Mendes, em São Caetano do Sul-SP, no ano de 2007
"The Path"
Este tema, mostra-se bem denso, lembrou-me a canção, “Squonk” do Genesis, pela intenção. Apreciei bastante a sua sonoridade.
"Bragdah"
Talvez a música mais explicitamente influenciada pelo Jazz-Rock setentista clássico, mostra uma quebradeira rítmica memorável da parte pelos instrumentistas da banda. Gostei das convenções mais complexas, executadas com extrema habilidade.
"Box of Surprises"
Mais um tema a demonstrar destreza técnica de todos os componentes desta banda, também chamou-me a atenção um solo de baixo e a parte quebrada, onde a voz foi muito bem delineada. Gostei igualmente do solo final e dos efeitos propostos pelos teclados, a garantir uma sensação de loucura, no melhor sentido dessa expressão.
O Wejah ao vivo no auditório da livraria Cultura, no Shopping Vila Lobos, em São Paulo, em 2008
Recomendo a audição deste álbum, assim como a discografia geral do Wejah (álbuns: "Renascença", de 1988, e "Sendas", de 1996), por tratar-se de uma banda com influências nobres em sua formação artística, a contar com ótimos instrumentistas e inspirados compositores.
Gravado no estúdio próprio da banda em São Caetano do Sul-SP, e no Pro Studio, além do apoio de outros estúdios não arrolados, entre 2003 e 2006
Técnico de som (captura), mixagem e masterização: Cassio Martin
Capa (criação e lay-out): Nelson Sanchez
Produção Geral: Wejah
Formação do Wejah na faixa, "Insanity"
Nelson Sanchez: Guitarras
Jorge Sanchez: Voz e Baixo
Marcelo Perez: Teclados
Braulio Veiga: Bateria
Formação do Wejah nas faixas: “Beginning of Life”, “First Spring Flower”, “Bragdah” e “Box of Surprises”:
Braulio Veiga: Bateria
Formação do Wejah nas faixas: “Beginning of Life”, “First Spring Flower”, “Bragdah” e “Box of Surprises”:
Nelson Sanchez: Guitarras
Jorge Sanchez: Baixo e Voz
Wladimir Augusto: Bateria
Formação do Wejah nas faixas: "Burned Out", "The Path" e "North South East and West"
Formação do Wejah nas faixas: "Burned Out", "The Path" e "North South East and West"
Nelson Sanchez: Guitarras
Jorge Sanchez: Baixo e Voz
Marcelo Perez: Teclados
Luiz Fernando: “Piriquito”
Produção independente
O Wejah sente a aspereza do mercado, que sempre foi muito duro para o Rock Progressivo e neste momento de 2019, diante do quadro atual, ainda mais e apenas planeja compor novas músicas, mas sem perspectiva para lançamento ou mesmo shows ao vivo, por enquanto. No entanto, sinceramente, espero que oportunidades surjam para que esses artistas voltem a apresentar-se com maior regularidade e lançar novos trabalhos. Trata-se de um trabalho feito sob alto padrão técnico, a esbanjar criatividade e nobres propósitos.
Para conhecer melhor o trabalho do Wejah, acesse:
Página do Weah no Facebook:
https://www.facebook.com/wejah.progjazzrock
Canal do You Tube:
https://www.youtube.com/channel/UC_3elwKwmUciy9JF-3jocIw
Álbum disponível nas plataformas digitais: Spotify, Deezer e Apple Music
Informações em sites especializados em Rock Progressivo: Progarchives, Progbrasil e outros:
https://cabezademoog.blogspot.com/2012/12/wejah-springtime-2007.html?fbclid=IwAR32tf2fUr2MpJ3cNPgjmQaL_WHBdG_o5nuvZi6MSxfkQtx1hPsTgylNpc8
http://www.progarchives.com/artist.asp?id=4296&fbclid=IwAR3FDbVc3wTHgW7As5VGjvnGZ0NB_KKSjwwQAuH PvYKwaODRULQrBHBj64U
Produção independente
O Wejah sente a aspereza do mercado, que sempre foi muito duro para o Rock Progressivo e neste momento de 2019, diante do quadro atual, ainda mais e apenas planeja compor novas músicas, mas sem perspectiva para lançamento ou mesmo shows ao vivo, por enquanto. No entanto, sinceramente, espero que oportunidades surjam para que esses artistas voltem a apresentar-se com maior regularidade e lançar novos trabalhos. Trata-se de um trabalho feito sob alto padrão técnico, a esbanjar criatividade e nobres propósitos.
Para conhecer melhor o trabalho do Wejah, acesse:
Página do Weah no Facebook:
https://www.facebook.com/wejah.progjazzrock
Canal do You Tube:
https://www.youtube.com/channel/UC_3elwKwmUciy9JF-3jocIw
Álbum disponível nas plataformas digitais: Spotify, Deezer e Apple Music
Informações em sites especializados em Rock Progressivo: Progarchives, Progbrasil e outros:
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De fato o som da banda lembra muito o de bandas do estilo da década de 70. A qualidade é tão boa quanto, fica até difícil diferenciar! Creio que o fusion acaba sendo uma continuidade dessa vibe prog setentista. Um abraço!
ResponderExcluirExatamente, trata-se de uma banda fortemente inspirada pelo Prog Rock e também a incorporar influência do Fusion-Jazz em sua música.
ExcluirSuper grato por ler a resenha e ouvir o som da banda, sobretudo.
Grande abraço, Fernanda !