terça-feira, 10 de maio de 2022

CD Pevê III/Paulo "Pevê" Valério - Por Luiz Domingues

Idealista por natureza, Paulo Valério, o popular “Pevê” é um artista obstinado por se manter firme em torno dos ideais que norteiam a sua formação cultural em face à sua construção de carreira, sempre pautada pela coerência de se manter firme em tais nobres propósitos.

Compositor, multi-instrumentista, cantor, letrista e ativista cultural, Pevê chegou ao seu terceiro álbum e mais uma vez a usar um signo Rocker tradicional, ele o batizou novamente com o seu nome e a conter a marcação da numeração a registrar ser o seu terceiro disco, portanto a usar o número três em algarismo romano, portanto, um luxo a se pensar sob tal prisma de ordem “vintage”.

Antes de avançar sobre esta resenha em específico, deixo o lembrete ao leitor sobre as respectivas resenhas que eu preparei para analisar os dois álbuns anteriores que ele lançou no mercado, para que o leitor leia e ou releia.

Resenha sobre o CD Pevê:

http://luiz-domingues.blogspot.com/2018/12/cd-peve-paulo-peve-valerio-por-luiz.html

Resenha sobre o CD Pevê II:

http://luiz-domingues.blogspot.com/2021/06/cd-peve-iipaulo-peve-valerio-por-luiz.html

Se no primeiro disco, houve uma mescla de sonoridades e tendências, obviamente tudo amalgamado pelas correntes mais nobres do Rock, Black Music, MPB e Folk-Rock das décadas de sessenta e setenta, a balança pendeu mais para o Folk-Rock no segundo trabalho. 

Pois em relação ao terceiro disco, este “Pevê III” traz a eletricidade à flor da pele. É, portanto, um disco que mergulhou no Rock, baseado nas vertentes do Blues-Rock e Hard-Rock, sobretudo e mostra uma contundência tremenda.

A tocar com a formação de um Power-Trio muito afiado, Pevê nos apresentou um álbum inspirado, com alta densidade Rocker, brilhantismo nas composições, arranjos e forte poderio nos riffs como uma base sólida e tal muralha construída por altos decibéis de energia tiveram reforço de pontuais intervenções de teclados e instrumentos de apoio para garantir o colorido.

Em termos de capa, contracapa e encarte, o artista optou por seguir o padrão dos álbuns anteriores, ou seja, a manter uma riqueza visual muito grande e sobretudo no apuro do texto, ao oferecer para o consumidor, todas as letras, uma ficha técnica bem completa, incluso com a boa prática observada nos discos anteriores, a conter comentários do próprio artista sobre cada faixa e assim delinear ainda com maior profundidade o que ele teve em mente a cada criação que estabeleceu.

E um luxo a mais, através da presença do grande jornalista, escritor e expert em contracultura sessentista, Joel Macedo, como um colaborador no texto de apresentação, o que é um fator que engrandece ainda mais a obra. 

Todavia, há um diferencial notório em relação aos dois primeiros discos em termos de projeto gráfico da capa, no tocante ao fato de que se o formato foi mantido, principalmente para o encarte, a identidade visual mudou, ao sair da ilustração e uso de cores que aludem à pintura e adotar, por conseguinte, a fotografia nua e crua como imagem a ser apresentada.

Diante desse fato, a capa frontal mostra o Pevê e sua guitarra encostado em muro com um enorme grafite a apresentar a imagem de um tigre e com apoio da inscrição: “Ride The Tiger” (monte o tigre, na tradução livre), que acabou por se tornar uma frase de efeito a reforçar o espírito da obra, mas que também pode ser confundido como o nome do disco por algumas pessoas, fica a ressalva sobre uma possível dubiedade nesse sentido. 

Na contracapa, há a lista de músicas contidas no disco e o restante do grafite, ou seja, mediante a abertura da capa como à moda dos antigos LP’s dotados de capa dupla, tal recurso sugere a unificação da foto, para dar mais sentido visual à sua concepção.

Nas partes internas, há fotos do artista e de seus músicos convidados, que também compõe o pôster contido no encarte adicional, este em preto e branco, no entanto.

Em suma, a apresentação gráfica do álbum é muito rica e valoriza certamente o conteúdo musical da obra.

Sobre as músicas, a minha impressão sobre cada faixa vem a seguir e eu aproveito para convidar o leitor a ouvir o CD Pevê III na íntegra, enquanto examina esta parte da resenha:

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=v7hQxwlsVe0

Banda de Rock” abre o disco, mediante um riff muito bom, a se mostrar como um exemplo de puro Blues-Rock. São ótimas as intervenções de slide-guitar nos contrasolos pontuais. O peso imposto pelo baixo & bateria, impressiona.

A sobreposição de muitas guitarras no decorrer da canção é bem arranjada e o recurso do bicorde usado pelo baixo em alguns trechos, deu um peso incrível ao tema.

Na letra, Pevê fala de forma muito direta sobre o papel de uma banda de Rock clássica, sem meias palavras, de forma direta, sem rodeios metafóricos. É uma banda de Rock literalmente a dar o seu recado com força e qualquer elucubração a mais seria redundante. Perfeito.

Nuvem Negra” investe no Rock’n’Roll bem setentista e lembra bastante o trabalho de grandes bandas nacionais dessa década. É muito boa a atuação da bateria, com viradas criativas à moda antiga, bem naquela predisposição de um tempo em que os produtores deixavam o baterista livre para criar linhas de ótima qualidade, sem preocupações comerciais para atrapalhar a criatividade do músico.

Estrada Sem Fim” é um Blues-Rock bem clássico, com excelente riff e espaço para todos os instrumentistas brilharem e neste caso, a linha de baixo é muito boa, aliás, com direito aos voos mais ousados, e além do mais, é muito valorizada a questão do áudio, por conta de um belíssimo timbre a revelar bom gosto na escolha e certamente a denotar influências de altíssimo padrão da parte do músico.

Há variantes muito bonitas na harmonia da canção, ao fugir um pouco do padrão habitual do Blues e isso deu um colorido muito grande à canção. Nesse sentido, lembrou-me o trabalho do guitarrista britânico, Robin Trower que igualmente se pautou pelo Blues-Rock em sua carreira solo, mas que também costumava inserir variantes harmônicas em seu som. 

Pevê defende bem a parte vocal e o seu arranjo de guitarras é igualmente bem feito.

Floydiando” entrega no título a intenção primordial do seu autor. Trata-se de um tema instrumental com bastante inserção acústica de apoio, a mostrar aquele lado “Folk” que é uma marca registrada do artista.

No entanto, como eu disse no início, é “viajante” no sentido de seguir a estética do Pink Floyd quando da interpretação do Blues e do Folk-Rock, ou seja, com aquela marca do Space-Rock implícito para lhe conferir um aspecto de contemplação etérea e o Pevê usou do mesmo recurso, certamente como uma forma de homenagem ao fantástico quarteto britânico.

Por Quê?” é uma belíssima balada com teor Blues e que me fez recordar do trabalho do “Free”, uma banda que soube como nenhuma outra fazer das canções com andamentos lentos, um estilo a parte.

Neste caso, tudo soa bem. O uso de caixa Leslie engrandeceu sobremaneira o trabalho da guitarra, assim como a inserção de órgão Hammond a ofertar a grandiosidade que ela mereceu.

Mais uma vez o baixo e a bateria brilharam bastante e o solo de guitarra é bastante melodioso, para deixar a marca da emoção aflorar.

A música cresce muito em sua parte final e dessa maneira, o recurso do “fade out” para finalizá-la, foi sábio, portanto providencial.

Medo” começa lenta a sugerir se tratar de uma balada, porém há a mudança para o Rock acelerado e a música empolga. Há uma volta ao andamento lento e posterior retorno do Rock sob esquema de alternância.

É um tema bastante sofisticado, com ótima atuação de todos os instrumentistas e de certa forma lembrou-me o trabalho de Raul Seixas, principalmente na abordagem bem inteligente da letra, mesmo que o próprio Pevê tenha assinalado enfaticamente que a sua inspiração tenha sido o trabalho dos Mutantes e em específico de Arnaldo Baptista e claro que faz todo o sentido igualmente. Veja um trecho:

Eu Tenho Medo/Medo de Ter Medo das Coisas, que me causam medo”...

O apoio do órgão Hammond é muito feliz e o solo final de guitarra, bastante empolgante.

Para fechar o disco, temos a sétima faixa, que se chama: “Sonhar”. A música se inicia com bastante parcimônia, ao demonstrar os instrumentos a entrarem aos poucos. A ênfase inicial se dá na linha melódica. Os timbres dos instrumentos se sobressaem nessa ambientação de calmaria.

Depois o peso entra em sua estrutura mediante uma condução que realmente lembra os áureos tempos do mestre Ken Hensley a conduzir teclados e slide guitar no Uriah Heep, como Pevê descreveu no encarte. Melhor inspiração não poderia ter tido.

O tema avança, fica progressivo por algumas nuances pontuais do arranjo e se encerra em grande estilo. É um tema ousado na sua concepção ao misturar diversos conceitos e foi brilhantemente defendido por Pevê e seus dois músicos convidados, os excelentes, Adriano “Baga” Rotini (baixo) e LeandroPirata” (bateria). 

Em suma, o CD Pevê III do compositor, cantor, multi-instrumentista e letrista, Paulo “Pevê” Valério reforça a sua contribuição ao cenário artístico do Rock Brasileiro a demonstrar, desta feita, o seu lado mais Rock e reforça-se tal conceito sob muito brilhantismo em todos os quesitos musicais e também da produção em si, a se revelar muito esmerada.

É claro que eu recomendo este álbum, assim como os anteriores de sua discografia, com muita ênfase.

Assista o vídeoclip oficial da música “Banda de Rock”.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=xqeW0RH8rDU

Paulo “Pevê” Valério: Voz, guitarras de 6 e 12 cordas, violões, craviola de 6 cordas, bandolim, teclados, sintetizadores, percussão e baixo (em “Floydiando” e “Nuvem Negra”)

Músicos convidados:

Adriano “Baga” Rotini: Baixo

Leandro “Pirata”: Bateria

Gravado nos estúdios Green Box (2020 e 2021) e Jardim Elétriko (janeiro de 2021)

Técnicos de áudio: Marcelo Stock (Green Box) e Luiz Maia (Jardim Elétriko)

Mixagem e masterização: Pevê e Nycollas Medeiros (Studio de Poche – Paris/França), entre janeiro e agosto de 2021

Projeto Gráfico: Luiz “Pinky” Maia e Pevê

Foto da capa: Cláudia Laureant

Fotos: Cláudia Laurent e Mila Kichalowski

Texto de apresentação: Joel Macedo

Aproveito para agradecer ao Pevê por ter incluído o meu nome, Luiz Domingues, na lista de agradecimentos inscrita no encarte do disco, o que certamente me alegrou e honrou demais.

Lançado em 2021

Para conhecer melhor o trabalho do Pevê, acesse:

YouTube:

https://www.youtube.com/channel/UC07b44iKkufasjth_YXrNcg

Facebook:

https://www.facebook.com/PeveGuitarra

Contato direto com o artista:

paulovaleriopv1@gmail.com

Site oficial:

http://www.peve.com.br/

Instagram:

https://www.instagram.com/peveguitarra/

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