quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Leny Eversong, Um Furacão em Las Vegas - Por Luiz Domingues


São muitos os exemplos de artistas que caem em completo esquecimento, neste Brasil sem memória. Pouco tempo atrás, por exemplo, eu escrevi sobre a Tuca, uma grande artista musical brasileira, e a despeito da qualidade de seu trabalho artístico, inclusive com alcance internacional, no qual existiu a parceria com a estrela francesa, Françoise Hardy, com composições e duos vocais e que foi notória, infelizmente a Tuca caiu no esquecimento. 
 
O caso de Leny Eversong é muito parecido, por se tratar de uma grande intérprete, que fez carreira internacional, gravou muitos discos e desapareceu sem deixar vestígios, com pouquíssimas pessoas a se lembrar dela hoje em dia. 

Leny nasceu em Santos, litoral paulista, no dia 1º de setembro de 1920, mas o seu nome de batismo, na verdade, foi: Hilda Campos Soares da Silva.

Com apenas 12 anos de idade, ela venceu um concurso de talentos mirins promovido pela Rádio Clube de Santos e foi imediatamente contratada como artista do elenco fixo da emissora, apesar de ser uma menina. 

A sua especialidade inicial foi cantar o estilo "Fox", uma vertente jazzística norte-americana e neste caso, chamava a atenção o fato dela, mesmo sendo pequena na ocasião, cantar em inglês com perfeição, sem sotaque. Mas calma, leitor, que nesse aspecto existe uma história boa para contar, que eu vou deixar para os próximos parágrafos.

Inevitavelmente, ele mudou-se para São Paulo em 1937, e tornou-se "crooner" em casas noturnas da capital paulista. Paralelamente, também tornou-se cantora fixa de emissoras de Rádio da capital. 

O seu repertório foi sempre majoritariamente calcado no cancioneiro norte-americano e também no francês, em que também os elogios à sua pronúncia, mostraram-se efusivos. Nessa fase, entre os anos trinta e cinquenta, Leny já havia visitado e encantado o público argentino, igualmente.

Em 1952, a artista gravou seu maior sucesso, o Fox, "Jezebel", que tocou bastante nas rádios e que proporcionou-lhe muitas oportunidades ainda maiores para o desenvolvimento da sua carreira.
 
Como por exemplo, Leny excursionou pelos Estados Unidos no final da década de cinquenta. E nessa primeira ida à América, gravou um disco: "Leny Eversong na América do Norte", acompanhada da orquestra do maestro Neal Reafti. Daí em diante, Leny não parou mais de viajar à América.
 
Ficara óbvio que ela encantaria os norte-americanos pelo seu talento, mas certamente pela ótima pronúncia que os confundia ao ponto de não perceberem que ela era brasileira, latina-americana, portanto. 
Agora, eu posso enfim revelar a sua incrível habilidade a pronunciar sem sotaque os idiomas inglês e francês. Leny não entendia absolutamente nada que cantava em tais idiomas! 
 
A sua capacidade auditiva era incrível, pois conseguia memorizar a fonética das palavras ao ponto de cantá-las com pronúncia perfeita, sem sotaque, de uma maneira que norte-americanos ou franceses não desconfiassem que ela fosse estrangeira e como agravante, não compreendesse os dois idiomas. 
 
Isso gerou diversas situações engraçadas em sua carreira, contudo. A estratégia que ela adotou para não se embaraçar, foi no sentido de não conceder entrevistas para os jornalistas internacionais, com o seu empresário apenas a responder as perguntas em seu nome.

Leny respondia laconicamente apenas: "Yes", "All Right", "OK"... Algo inusitado, portanto e deveras hilário! Claro que após tantas viagens, já nos anos sessenta, ela culminou por dominar o idioma inglês, principalmente. E foram muitas as suas viagens, de fato! 
Na década de sessenta, Leny esteve em cartaz em Las Vegas, por oito vezes. E também cantou em muitas ocasiões em Nova York e Paris. Muitos críticos chegaram a dizer que Leny era invisível no Brasil, apesar de ter tido a proeza de ficar famosa na América e sem colocar cesto de frutas na cabeça, em uma alusão à Carmem Miranda. 
 
Ela gravou vários discos: "Em Foco", "A Voz de Leny Eversong", "Ritmo Fascinante", "A Fabulosa", "A Internacional" etc.
Leny excursionou por toda a América Latina, também e nos anos de ouro dos musicais na TV brasileira, durante os anos sessenta, tornou-se uma presença recorrente na tela. 
 
Aliás, são desses programas sessentistas, as minhas mais vívidas lembranças pessoais sobre Leny Eversong. Mesmo eu sendo criança nessa década e por conseguinte não ter nessa época um senso crítico nada apurado, eu simpatizava muito com ela, pois a achava muito carismática, com aquele vozeirão a la Diva do Jazz, ao cantar em um idioma estrangeiro, e a encantar a plateia. 
 
Saudade da Leny, portanto, uma artista que manteve algo além do talento vocal: ela possuía uma simpatia contagiante.
Pelo lado de sua vida pessoal, Leny era bem obesa e por conta disso, contraiu diabetes, o que colaborou para minar a sua carreira, a partir do início dos anos setenta.  
 
Entretanto, o fator que alavancou a decadência de sua carreira e de sua vida, infelizmente, foi outro. Conhece aquela clássica piada do marido que fortuitamente diz à esposa que vai comprar um maço de cigarros e desaparece? 
Pois infelizmente foi o que ocorreu com Leny, pois o seu marido foi buscar um cigarro, sabe Deus aonde e nunca mais voltou para a casa. 
 
Amigos queridos dela, como Luiz Vieira e Adelaide Chiozzo deram-lhe apoio, mas foi o cantor, Agnaldo Rayol, o seu melhor amigo, quem deu-lhe o ombro, ao hospedá-la em sua residência, no momento agudo da depressão em que ela mergulhou, por volta de 1970. 
 
Todavia, nem com esse apoio de amigos, Leny conseguiu driblar a tristeza e dessa maneira, pôs-se a definhar, largou a carreira e morreu esquecida, sob ostracismo, em 1984, derrotada pela diabetes. Eu lamento muito o mau hábito do brasileiro em geral, em não dar valor aos seus artistas.
Não é a primeira matéria em que eu resmungo essa minha desilusão com essa característica negativa do nosso povo, e por isso mesmo, faço o que posso, ao meu alcance, para reverter esse quadro de injustiça. 
 
Leny Eversong é mais um exemplo de artista super talentosa e que ficou condenada ao limbo da história. Mas se depender da minha vontade, no entanto, essa situação começa a mudar a partir desta matéria.
Matéria publicada inicialmente no Site/Blog Orra Meu, e republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012. 

Nota do editor: como uma adendo posterior, uma leitora postou o seu comentário a trazer uma versão diferente a dar conta sobre a razão real do desaparecimento do marido de Leny Eversong. Agradeço à leitora Anna Paula, pelo adendo enriquecedor à matéria e cujo teor da sua informação está publicado nos comentários abaixo.

10 comentários:

  1. Olá Luiz Domingues,
    Sou fã de Leny Eversong, principalmente pela alegria contagiante, quando ela se apresentava nos palcos dos programas de televisão.
    Lembro-me claramente do dia em que ela apareceu num programa de TV muito abalada, querendo saber notícias do marido que havia sumido.
    Deste dia em diante ela sumiu da mídia.
    Hoje digitei o nome dela no Google, e cai no seu blogue, contando a vida e obra desta grande cantora brasileira, que também brilhou nos palcos internacionais, e hoje infelizmente está esquecida.
    Não totalmente esquecida, graças a pessoas como você, e modestamente tento também fazer a minha parte.
    Parabéns pelo seu magnífico blogue!

    José Carlos Gueta
    O POETA DO ABC
    poetadoabc.blogspot.com.br

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    1. Olá, José Carlos !

      Que prazer para mim receber a sua visita e ler o seu comentário sobre a matéria sobre Leny Eversong.

      De fato, ela está esquecida há décadas e no Brasil, isso infelizmente é uma regra : Esquecermos de nossos artistas, muito rapidamente.

      Verdade. O episódio do sumiço de seu marido foi traumático e decretou o fim da carreira artística dela, e o início de seu fim, como pessoa.

      Por outro lado, fiquei contente com a possibilidade que o tag da matéria lhe ofereceu. Que maravilha esse recurso da Internet, onde pessoas interessadas se agrupam em torno de assuntos variados e dessa forma você descobriu o meu Blog.

      Quando escrevi a matéria, foi para outro Blog, o Site/Blog Orra Meu, onde sou colaborador quinzenal com uma coluna. Quinze dias depois, eu republico as minhas matérias no meu Blog, aqui.

      Eu já tinha ficado chateado, pois no Site/Blog Orra Meu, ninguém havia feito nenhum comentário na matéria da Leny. Isso provava o quanto esla estava esquecida.

      Portanto, fiquei muito contente com seu comentário e adesão ao meu Blog.

      Já visitei, gostei e vou seguir o seu Blog, também. Fico muito contente que não sou o único que valoriza o resgate da memória cultural. Parabéns por usar seu Blog como ferramenta nesse sentido, também.

      Um abraço, amigo !

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  2. Curiosa para saber o que aconteceu com ela, acabei aqui. lembro dela exuberante com seu vozeirão quando a TV brasileira não privilegiava exclusivamente as novelas e apresentava musicais....

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    1. Antes de mais nada, quero lhe agradecer, Sra.Elizabeth, pela visita ao meu Blog, e também pela gentileza de sua participação postando um comentário pertinente.

      Sobre Lenny, a senhora falou tudo, ou seja, vivemos dias tristes na TV brasileira. Se por um lado a tecnologia de som e imagem melhorou uma barbaridade nos últimos cinquenta anos, observamos com muita tristeza que o nível de exposição musical nos dias atuais é mínimo, e o pouco que temos, é do mais baixo nível .

      Portanto, é para se lamentar que nesse aspecto tenhamos regredido e não possuimos mais o privilégio de ligar a TV na faixa de horário nobre, e vermos música de qualidade como tínhamos nas décadas de cinquenta; sessenta, e até meados dos setenta.

      Lenny, com aquela vozeirão e sua graça inconfundível, nos faz falta.

      Visite sempre o meu Blog !!

      Tenho outras matérias sobre artistas musicais antigos; TV; seriados; cinema etc.

      Grato !

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  3. Com curiosidade em saber o que aconteceu com Leny Eversong acabei neste blog.
    Eu era criança quando ela aparecia na tv. Não fazia muito o meu gênero. Nela tudo era muito vibrante. Se pudesse definir sua personalidade com uma cor diria que ela era amarela.
    Porém, por algum motivo tive curiosidade de saber de sua vida. Talvez fosse seu constante estado risonho.
    Eu lembro, apesar de muito criança, que os apresentadores diziam que ela fez muito sucesso no exterior, e mesmo ela insistia em dizer. Mas parece, se a minha impressão infantil não falhou, que não davam muito crédito.

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    1. Antes de mais nada, agradeço sua visita ao meu Blog.

      Bem, nada a contra-argumentar sobre o que disse, visto ter expresso suas opiniões pessoais sobre a artista em questão.

      Acho que só posso concordar com sua visão num aspecto : de fato, ele foi subestimada.

      Volte sempre, tem muitas matérias sobre o panorama cultural das décadas de cinquenta e sessenta em meu Blog, que talvez sejam de seu interesse, como eu deduzo que aprecie.

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  4. Bom dia!

    Tenho uma boa notícia a respeito da Leny Eversong! Assisti ao programa Sem Censura (TV Brasil), sexta-feira passada (13/05/2016), e eis que um dos entrevistados foi o Ney Inácio, Diretor do SBT e cineasta, que está lançando um vídeo-documentário sobre a vida desta cantora. Confesso que não a conhecia, nunca tinha ouvido falar e fiquei encantada com a história dela, suas qualidades como cantora e o seu retumbante sucesso e reconhecimento internacional. Pesquisando, então, no Google, achei o seu blog e resolvi escrever, informando sobre esse video-documentário, já que, de fato, se sabe pouco sobre ela, infelizmente.
    Em tempo: o autor informou que o marido de Lenny, na realidade, foi sequestrado pela polícia da Ditadura, por engano, foi torturado e morto e, temendo o escândalo, interceptou uma carta que informava que o mesmo tinha morrido. E Lenny morreu sem nunca saber o que, de fato, aconteceu com o marido.
    Abraços

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    1. Olá, Anna Paula !

      Fiquei muito contente com sua intervenção muito simpática e enriquecedora, pelo fato de trazer-me esse adendo sensacional sobre o misterioso caso do desaparecimento do marido de Leny Eversong.

      Coitada, morreu de desgosto por um mal entendido, mas pela circunstância da morte do rapaz, pensando bem, a angústia, creio que poderia ser até pior, difícil mensurar.

      Muito legal saber que vão fazer um documentário resgatando a sua história, de forma merecida pela artista talentosa que ela foi.

      Muito grato pela sua iniciativa e fica o convite para visitar sempre o meu Blog. Tenho outras matérias sobre arte e cultura, principalmente das décadas de cinquenta; sessenta e setenta, que provavelmente sejam de seu interesse.

      Um grande abraço !!

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  5. https://www.instagram.com/p/BPNvI0aj0DB/

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    1. Alô, Cris, grato pela participação em meu Blog, mas senti falta de seu comentário sobre a matéria e / ou simplesmente sobre a Leny...participe !!

      Abraço !

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