O bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo foi um dos que
mais recebeu imigrantes italianos ao final do século XIX. É certo que os
italianos espalharam-se também pelos bairros vizinhos, Brás;Belenzinho;
Cambuci; Pari, e para ir além, perto do centro, a Bela Vista, apelidada como
"Bexiga".
Contudo, na Mooca, pelo fato do bairro ter inúmeros galpões
industriais, o contingente italiano tornou-se enorme, com essa massa de pessoas
atraídas pelas oportunidades em termos de oferta de trabalho, que surgira na
emergente indústria paulistana.
Não demorou nem um pouco e a cultura italiana tornou-se uma
marca registrada nesse bairro, ao imprimir usos e costumes, os mais variados.
Naturalmente, os italianos a falar o nosso idioma português, mediante a
presença de um fortíssimo sotaque, influenciou a forma em falar-se do
paulistano de uma maneira geral, ao espalhar-se por toda a cidade. Dessa
maneira, o modo para falar-se na Mooca, moldou a identidade paulistana, com o
jeito m pronunciar-se o português, d uma forma totalmente
"italianada".
Foi através desse ambiente, que mais uma menina mooquense
nasceu ao final de1946 (embora o seu pai só a registrasse oficialmente em
1947), chamada : Miriam Angela Lavecchia, que cresceu a falar com o típico
sotaque do bairro. Segundo consta em sua biografia, ainda criança, aprendeu com
uma coleguinha do bairro, a batucar com as mãos, ao estabelecer ritmos variados
e com desenvoltura. Isso repercutiria decisivamente na sua vida adulta.
Quando "mocinha", Miriam fez um curso de digitação
na IBM e conseguiu uma vaga para trabalhar em uma indústria de aparelhos
eletrodomésticos. Entretanto, pouco tempo depois, foi demitida por um motivo
insólito : quando digitava na máquina de escrever, batucava compulsivamente, ao
irritar os colegas no escritório. Embrenhou-se então no mundo da música, e a
sua incrível capacidade em tamborilar / batucar, ao usar somente as mãos,
passou a chamar a atenção, isso sem contar com a sua extroversão e o jeito
despachado, com aquele sotaque italianado, típico paulistano. E lógico, nessa
altura o seu apelido já era Miriam "Batucada"...
Em 1967, ela obteve teve a sua primeira e grande chance. Em
uma aparição na TV Record de São Paulo, encantou o público ao fazer a sua
famosa batucada manual; tocar vários instrumentos e cantar os seus sambas, além
de arrancar risadas da plateia e também do apresentador, Blota Júnior, por
conta de suas piadas e jeito engraçado para expressar-se. Imediatamente, Miriam
foi contratada pela TV Record e passou a figurar em vários programas musicais
daquela emissora, que primava pela qualidade musical, naquela época. No ano
seguinte, 1968, gravou então o seu primeiro compacto pela gravadora Rozemblit,
com as músicas : "Batucando nas mãos" e
"Plác-Tic-Plác-Plác".
A sua carreira prosperou em 1969 e 1970, ao torná-la uma
figura folclórica do samba paulistano, ao transitar inclusive entre nomes da
velha guarda, como : Adoniram Barbosa; Geraldo Filme; Germano Mathias, e os
Demônios da Garôa. Em 1971, ela surpreendeu o seu público, ao unir-se com
artistas de outro espectro muito diferente do seu, habitual. Ao lado de Sérgio
Sampaio; Raul Seixas, e Edy Star, lançou uma espécie de disco / manifesto com
teor "freak", chamado : "Sociedade da Grã-Ordem
Kavernista".
Muito cultuado por freaks, até hoje, esse disco destoou da
carreira dela, pois o seu trabalho natural, projetara-se em meio a um samba bem
tradicional, sem nenhuma ousadia estética. A seguir no embalo, Miriam Batucada
lançou muitos discos com regularidade na primeira metade dos anos setenta, e
sempre com o apoio do amigo, Raul Seixas. Porém, o tempo pôs-se a passar
rapidamente e as oportunidades rarearam para ela. Com lançamentos mais
espaçados, a sua carreira entrou em acentuado declínio, infelizmente.
Mesmo assim, o seu último trabalho tornou-se um dos mais
festejados pela crítica. O LP "Alma de Festa", de 1991, é considerado
um de seus melhores trabalhos na carreira. Em julho de 1994, Miriam deixou-nos,
e com ela, foi embora também, muito da alegria do samba italianado de São
Paulo. A sua alegria; ginga; batuque manual inigualável, e sobretudo o sotaque
ultra paulistano, deixou saudade.
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