Essa foi saga do espetacular seriado norteamericano : "Combat !", exibido na TV da América, e ao redor do mundo, entre 1962 e 1967, com cinco temporadas vitoriosas. Concebido com um requinte técnico sem precedentes para o padrão da TV, naquela ocasião, tal produção usou e abusou de recursos de cinema, mediante a observação de enquadramentos espetaculares; efeitos especiais e muitos outros requintes.
Por exemplo, qual série de TV poder-se-ia dar ao luxo de contar com mais de dez episódios dirigidos por um diretor do calibre de um Robert Altman ? Outro trunfo, foi o figurino usado em cena pelo seu elenco. Os uniformes dos militares norteamericanos, e dos alemães, foram confeccionados sob uma rigorosa consultoria militar, para atingir um padrão de fidedignidade incrível.
Nesse aspecto, há até um relato curioso registrado da parte de um ator que participou de vários episódios, ao interpretar um oficial nazista. Pois, segundo o ator, Robert Winston Mercy, ao usar o uniforme alemão, e caminhar em meio a um grupo de pessoas de origem judaica, no set, ele chegou a causar furor, com alguns ali presentes a não perceber tratar-se de um ator, e assim a hostilizá-lo verbalmente. Outro aspecto importante, a qualidade do roteiro chamou muito a atenção da crítica e do público em geral. Em uma época onde o padrão de duração de um episódio oscilava entre cinquenta a cinquenta e dois minutos, cada um deles foi na verdade, um filme no padrão de uma média metragem e portanto, precisava de consistência em seu roteiro, para sustentar-se como uma história completa.
A quantidade de atores participantes, do elenco fixo e entre os convidados, todos tarimbados, presentes ao longo das cinco temporadas, impressiona. Eis abaixo uma pequena lista, não completa, mas sucinta para ilustrar o que afirmo :
Frank Gorshey (o vilão : "Charada" de "Batman" /1966); Robert Duvall ("The Godfather" e "Apokalypse Now", entre muitos outros); Sal Mineo ("Juventude Transviada"), Richard Basehart ("Irmãos Karamazov", "Viagem ao Fundo do Mar"); Telly Savallas ("Kojak"); Roddy MacDowell (o "Dr. Cornélius", de "O Planeta dos Macacos"); John Cassavettes ("O Bebê de Rosemary"; "Os Doze Condenados"); James Coburn ("Flint"); Charles Bronson ("Desejo de Matar"; "Era uma Vez no Oeste"); Lee Marvin ("The Wild One"; "O Homem que Matou o Facínora"); Leonard Nimoy (o "Sr. Spock" de "Star Trek" / "Jornada nas Estrelas"); James Whitmore (um dos mais solicitados atores da TV norteamericana, com dúzias de participações em diversas séries); Dennis Hopper ("Sem Destino"), Mickey Rooney (veterano ator dos anos trinta); Dean Stockwell (The Boy With Green Hair"; "Quantum Leap"); Elizabeth Montgomery ("Bewitched" / "A Feiticeira"), etc.
Outro ponto positivo, o produtor da série, Robert Pirosh, houvera escrito o roteiro de um filme super premiado e ambientado na II Guerra Mundial, chamado : "Battleground", daí a experiência pregressa adquirida para abordar tal tema.
Mais um requinte, a produção escolheu a dedo o elenco fixo, ao buscar atores que realmente obtiveram experiência militar, ao ter servido na vida real, na própria Segunda Guerra, para buscar trazer o máximo de realidade à interpretação de cada um. O tema musical de abertura era (é) espetacular. Uma marcha militar composta e arranjada pelo maestro, Leonard Rosenman (que criou muitas trilhas de cinema e TV, entra as quais, "Juventude Transviada"; "Vidas Amargas"; "O Senhor dos Anéis"). Empolgante, com o toque típico da caixa militar na percussão, e uma bela melodia para empolgar o ouvinte.
Sobre o roteiro, as histórias focavam nesse pequeno pelotão, em seu avançar pelo território francês, ao rumar em direção a Paris. Nesse ínterim, inúmeras situações a gerar conflitos aconteciam, a envolver muita dramaticidade. Por interagir com os civis, muitas vezes, situações extra-militares foram expostas de uma maneira muito interessante, para exibir-se as mazelas da guerra, e o estrago um conflito dessa natureza causa inevitavelmente na vida das pessoas comuns, ao desmantelar a sociedade civil.
De penúrias geradas pela escassez de recursos, ao prejuízo psicológico inerente; das revoltas e perdas, aos questionamentos ideológicos. E sobretudo pelo aniquilamento total dos sonhos das pessoas, em sua paz de espírito e capacidade para amar em meio a tanto ódio.
Lógico, os embates contra os inimigos nazistas, também deu margem à criação de muitos episódios interessantes, inclusive a investir em aspectos humanos, muito além do confronto militar entre inimigos, simplesmente.
Em termos de elenco fixo, um conflito velado, às vezes foi explorado de forma interessante, também. O fato de haver um abismo intelectual e social entre os personagens do tenente Hanley e o sargento Saunders, gerou certas tensões e reflexões a ser interpretada pelos telespectadores. Hanley era um oficial com pouca experiência militar prática, e por ser um civil recrutado para a guerra, e alçado à condição de oficial por suas qualificações universitárias e intelectuais avantajadas, causava uma certa revolta não confessa no sargento Saunders, muito mais experiente, militarmente a falar, mas em contraponto, por ser um homem simples do povo, sem muita educação.
Os demais membros do elenco fixo, foram : Pierre Jalbert (Soldado Paul Caje LeMay, um franco / americano, e escalado sempre para traduzir o idioma francês que falava bem, com os civis); Jake Kogan (soldado William G. Kirby); e Dick Peabody ("Little" John). Outros atores fizeram parte do elenco fixo, mas a atuar em menos temporadas em relação aos que citei acima, que participaram de todas.
Por ter todo esse esmero na produção, Combat extrapolou o padrão de orçamento da TV, para a época. Cada episódio, chegou a custar U$ 127,5 mil, ou seja, uma exorbitância para a realidade da época. Somente a quinta temporada foi filmada em cores, com o aumento do custo, para a faixa de U$ 183 mil, portanto, uma fortuna (todavia, que valeu cada centavo, acrescento).
No Brasil, a série foi exibida desde 1963, ao passar na extinta TV Excelsior, e também na TV Record. Reprises ocorreram nos anos setenta, mas depois disso, por muitos anos, a série não foi mais exibida, até obter uma nova chance, recentemente (2013), no canal a cabo, TCM, mas infelizmente tal emissora não exibiu as cinco temporadas na íntegra. O que passou, particularmente, eu gravei, mas fiquei assim, sem a coleção completa, ao menos nessa ocasião / oportunidade...
O ator, Vic Morrow, teve uma carreira muito boa na TV e no cinema, após o sucesso de Combat !, mas infelizmente teve uma morte violenta, por um acidente de trabalho, em meio a uma filmagem. Ocorreu quando ele estava a filmar uma cena de um longa metragem (curiosamente, uma versão cinematográfica para o clássico da TV, "The Twilight Zone", sendo que ele participara como ator convidado em episódios dessa série, no início dos anos 1960). Lamentavelmente, ele foi decapitado pela hélice de um helicóptero, que fazia parte da cena. Isso ocorreu em julho de 1982.
Jennifer Jason Leigh
Vic que foi pai das atrizes, Jennifer Jason Leigh e Carrie Morrow, trabalhou em dois filmes emblemáticos da década de cinquenta : "The Blackboard Jungle" e "King Creole" (o melhor filme de Elvis Presley, em minha opinião).
Já no caso de Rick Jason, ele foi um ator / cantor, que houvera atuado em espetáculos musicais, principalmente. Depois de Combat !, atuou como ator convidado em muitas séries nos anos setenta, mas saiu da TV, paulatinamente e assim voltou para a sua paixão inicial, os musicais de teatro. Em 2000, estava a enfrentar uma depressão, quando foi encontrado morto em sua residência.
Combat ! foi uma das mais espetaculares séries ambientadas em guerras, senão a melhor até hoje. Fez enorme sucesso no mundo inteiro, sendo uma das primeiras séries norteamericanas a ser exibidas praticamente no planeta inteiro, com exceção dos países dominados pelo regime comunista na ocasião, obviamente proibido pelos seus respectivos governos, antagônicos aos Estados Unidos e aliados do Ocidente.
Cada episódio tem o peso de uma pequena obra, tamanha a sua qualidade artística. De minha parte, claro que eu adoro a série, e sem dúvida que por conta da sua influência, impulsionou e muito o meu interesse pelos filmes de guerra, e pela história da Segunda Guerra Mundial, um conflito dramático e cheio de nuances, as mais diversas. Fica o convite para as produtoras nacionais lançar o Box-Set da série completa, e resgatar a dublagem brasileira, e com os devidos extras recheados, iguais à caixa norteamericana. *
*Como adendo que posto em outubro de 2017, anuncio com prazer que atualmente existe sim, no mercado brasileiro, o Box Set da série completa em DVD, com direito à dublagem em português, da época. Está disponível nas boas casas do ramo, tanto físicas, como nos seus respectivos departamentos de vendas virtuais.
Oi, Luiz
ResponderExcluirCombat era um dos seriados preferidos do meu pai. E eu assistia junto com ele.
Eu gostava muito! Era apaixonada por Rick Jason! :-)
Não sabia que Vic Morrow era pai da Jennifer J. Leigh.
Teu texto está ótimo! Foi muito bom ler sobre Combat.
Eu também adorava o seriado.
ResponderExcluirE á medida que cresci, fui tomando consciência do quanto era bom, tecnicamente falando, e minha admiração, só aumentou.
De fato, o Vic Morrow era pai da Jennifer Jason Leigh, e também da Carrie Morrow, ambas bonitas e atrizes.
Obrigado pelo elogio !!
Obrigado por ler e comentar !
Mais uma vez meus parabéns pela excelente matéria.
ResponderExcluirLembro-me de assistir o Combat junto com meu pai, tipo programa pai e filho, era muito bom.
Só para completar a informação sobre a morte do Vic Morrow ele morreu na gravação para a versão para o cinema do "Twilight Zone: The Movie", juntamente com dois garotos (Myca Dih Le e Renee Shin-Yi Chen).
Grande abraço,
Zé Reis.
Zé Reis :
ResponderExcluirObrigado por ler e comentar, antes de mais nada !!
Sem dúvida que essa lembrança maravilhosa de sua infância, vivida com seu pai, é de uma riqueza ímpar.
Infelizmente, sua informação adicional sobre a causa morte do Vic Morrow tem esse adendo triste de outras mortes envolvidas. E o diretor desse filme, que pretendia ser uma homenagem à série clássica de TV, "Twilight Zone", era Steven Spielberg.
Claro que não foi culpa dele, mas é certamente, uma mácula em sua carreira.
Abração e obrigado pelo adendo !
Aposentei-me da Marinha, há 6 anos, como Capitão-de-Mar-e-Guerra Fuzileiro Naval, depois de quase 37 anos de serviço à Pátria.
ResponderExcluirEmbora nossos ídolos interpretassem militares do Exército, posso garantir que tornei-me militar e Fuzileiro Naval graças a essa série.
Tenho vários episódios gravados da TCM. Minha caneca tem imagens do seriado. O toque do meu celular é a abertura do filme.
Costumo brincar com os Amigos dizendo que o dia mais feliz de minha vida foi quando fui promovido a Primeiro-Tenente, tornando-me mais antigo que o tenente Hanley
Preciso dizer mais alguma coisa?
Como vcs, sinto falta dos meus tempos de menino, quando sozinho, roendo unhas, assistia o bom e velho Combat !
José Donato
José Donato :
ExcluirAntes de mais nada estou bastante contente com sua visita e participação no meu Blog, com este rico e emocionante comentário.
Fico muito contente por saber que sua escolha profissional foi motivada por uma impressão tão marcante que este seriado lhe causou. De fato, era muito empolgante e calou fundo na alma de muitas crianças e adolescentes que o acompanharam na década de sessenta, donde me incluo, logicamente.
Sobre ter sido promovido à uma patente maior que a do nosso Tenente Hanley, foi seu prêmio pelo esforço na carreira e de certa forma uma homenagem ao personagem que muito o influenciou na vida, portanto, parabéns por essa vitória !
Sobre as lembranças da infância, compartilho contigo a mesma emoção. Torcendo por Hanley, "Chip" Saunders, e os demais soldados daquele destacamento, e acelerando o coração ao ouvir o bonito tema de abertura, que também curto muito.
José Donato : deixo o convite para que visite sempre o meu Blog. Tem outras matérias sobre seriados antigos, que acho que vai gostar, também.
Grato e um abraço
Tenho muitos episódios de Combat! de várias séries, mas me faltam as legendas das temporadas 2 a 5. Alguém poderia me ajudar?
ResponderExcluirOlá, amigo !
ExcluirNo meu caso em específico não tenho como ajudá-lo, pois os episódios que possuo são os que foram exibidos no Canal TCM da TV a cabo, cerca de oito anos atrás, 2009. Mas fica o seu comentário aí registrado e se algum outro leitor manifestar-se´, fique atento.
Grato pela visita ao meu Blog !
Infelizmente não cheguei a ver a série "Combate", na TV de antigamente. Lá no interior de Minas era só a TV Tupi. Vim a conhecer a série, através de TV a Cabo. Hoje considero uma das melhores séries da exibidas na TV, independente da época. Identifico-me muito com o Sargento Chip Saunders, personagem perfeito de Vic Morrow, que era descendente de Russos. Tenho a revista especial "EPI-LOG", publicada em 1991, doada por um amigo que traz todos os episódios. Adoro o episódio "Battle of the Roses" (de 1963), em que o Sargento tem uma atração por uma alienada, Jeanine (Antoinette Bower), de uma vila francesa que fica o tempo todo ouvindo uma vitrola, dançando como se nada estivesse acontecendo. O episódio em que o Tenente Gil Hanley é obrigado a usar uma farda germânica, também é genial...
ResponderExcluirOlá, Marcos !
ExcluirAchei seu comentário muito bom, pois trouxe além de seus sentimentos sobre a série em si, alguns dados a mais que só enriquecem a resenha. E também gosto muito desses episódios que citou, da moça francesa que finge que a guerra não existia e o tenente tendo que disfarçar-se com a farda do exército alemão.
Tenho outras resenhas sobre seriados dos anos sessenta e setenta disponíveis neste Blog.
Fiquei muito feliz com sua visite e comentário rico !
Volte sempre !!
Grande abraço ! !!
Prezado, descobri agora seu blog pois estava tentando saber os nomes dos dubladores brasileiros dos atores fixos de Combate.
ResponderExcluirTens essa informação?
Obrigado por nos fazer relembrar dos anos em que assistíamos a série Combate.
Como Museólogo, achei sensacional o texto.
davidminuzzo@gmail.com
Abraço
Olá, David !
ExcluirSensacional receber sua visita em meu Blog e ainda mais recebendo elogio ao texto, e vindo da parte de um museólogo que certamente valoriza o tesouro acumulado do passado, fiquei muito lisonjeado.
Infelizmente também não tenho essa informação. Acho a dublagem brasileira daquela época, primorosa e você tem toda a razão em querer saber e enaltecer o trabalho desses profissionais.
Sabendo dessa informação, acrescento de pronto ao texto, certamente.
Meu muito obrigado e deixo-lhe o convite para visitar sempre o meu Blog. Ele não é temático, eu abordo diversos assuntos no âmbito cultural e até fora disso, mas tenho muitas matérias sobre cinema e seriados de TV antigos.
Grande abraço !!