segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Um Talento na U.T.I. - Por Luiz Domingues


Houve uma época no Brasil, onde a poliomielite (a popular "paralisia infantil"), revelava-se epidêmica. Doença perigosa, que paralisa membros e tende a ser muito dura com as crianças, foi aos poucos a ser erradicada, graças aos esforços dos órgãos de saúde pública, ao promover ações de vacinação em massa. 
Infelizmente, alheio a esse esforço, um garoto chamado : Paulo Henrique Machado, não teve a sorte em escapar de tal flagelo. A sua mãe morreu apenas dois dias depois de seu nascimento e com um ano e meio, ele teve a infelicidade de contrair a doença. 
Dessa forma, Paulo foi internado no Hospital das Clínicas de São Paulo, pois além de ter perdido o movimento de pernas e braços, precisava de cuidados respiratórios, pois o seu pulmão também estava comprometido. Por isso, o pequeno Paulo permaneceu na U.T.I. do Hospital das Clínicas, pois não houve meios para que ele pudesse obter tais cuidados em sua residência. 
Crescer dentro de um ambiente de U.T.I., e ter assim sérias dificuldades de locomoção e respiração, não foi fácil para o pequeno, Paulo Henrique, todavia, o menino apresentava uma incomum disposição e alegria. Mesmo com as dificuldades inerentes às consequências da doença, Paulo não furtou-se em brincar e interagir com as demais crianças internadas e a sua inteligência desde sempre, revelou-se fora do comum. 
Uma de suas mais remotas lembranças, veio de uma TV em preto e branco, onde assistira com vívido interesse, a chegada do homem à Lua, em julho de 1969. Desse estopim remoto, nasceu o seu interesse pela tecnologia; literatura Sci-Fi e ciência em geral. 
O tempo pôs-se a passar e Paulo tornou-se adulto, mas a sua vida não mudou, ao necessitar dos cuidados terapêuticos do Hospital das Clínicas, que efetivamente estabeleceu-se como o seu Lar. Com a popularização da tecnologia, Paulo adaptou-se rapidamente ao uso da informática e dessa forma, tornou-se um Web designer muito eficiente. 
Ele ganhou seu primeiro PC, em 1994, mas tratara-se de um modelo rudimentar e limitado. Dessa maneira, ele mesmo tratou por montar um novo PC, sozinho, só a indicar as peças que visualizava para tal montagem. 
Hoje em dia, cada vez mais embrenhado nas possibilidades do mundo virtual, Paulo Henrique está com um projeto ambicioso. Pois ele está a criar uma animação em 3D, cujos personagens são deficientes físicos. 
Claro, Paulo precisa de recursos financeiros para tal empreitada e daí, fica a inevitável pergunta : será que os nossos governantes não poderiam fornecer uma ajuda para um projeto desses ? Não quero ser oportunista, mas acho um pouco injusto um talento como o de Paulo Henrique Machado permanecer obscurecido, enquanto bilhões de reais são gastos na construção / reforma de estádios de futebol para satisfazer o caderno de encargos de uma entidade perdulária como a Fifa. Aos que poderiam contra-argumentar no sentido de que um fator não tem nada a ver com a outro, eu pontuo a questão da falta de planejamento e nesse caso, a inexistência de prioridade para a cultura; educação e ciência. Para finalizar, Paulo Henrique Machado é mais um caso de talento desperdiçado e por ser assim, em uma época onde o povo clama por mudanças, entra fácil para o rol das novas prioridades de um Brasil diferente, e que precisa valorizar os seus melhores cérebros.
Publicado inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2013.

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