Quando pensamos na explosão da psicodelia, na segunda metade dos anos sessenta, tendemos a imaginar o papel da música como principal agente alavancador de todo esse processo.
Claro
que o papel da música foi primordial nessa construção cultural ou
contracultural para ser mais preciso, no entanto, outros elementos foram importantes nessa história e
entre eles, o papel das ilustrações foi muito marcante, para delinear
toda uma estética. Revistas
em quadrinhos; fanzines; jornais e revistas artesanais & alternativas;
panfletos e sobretudo os cartazes a anunciar shows e eventos em geral,
contribuíram, e muito para difundir tal estética e espalhar os ideais da
contracultura; Flower Power, e as diversas ramificações derivadas e
irmanadas, portanto.
O
uso das cores em profusão, e a perspectiva do uso de elementos a revelar elementos oníricos;
místicos; shamânicos; lisérgicos; da espiritualidade oriental e da
cultura Sci-Fi, foram preponderantes nesse sentido. Nessa
salada de influências aparentemente tão díspares entre si, os artistas
plásticos que nela trabalharam, usaram o conceito da liberdade total,
para misturar tudo sob uma solução líquida única, ao visar mexer-se no caldeirão
fervente e que gerou, por conseguinte, a efervescência do movimento.
Sem
fazer apologia às drogas, mas somente a buscar-se explicar, o fato é que baseado no uso de certas drogas
alucinógenas, a profusão das cores torna-se muito mais realçada do que a
visão que temos delas na vida normal, e portanto, isso explica em boa
parte a opção pelo uso indiscriminado de cores nos trabalhos gráficos
criados nessa época, e a enternder-se por conseguinte, o hábito hippie de usar tal prerrogativa no
quesito figurino, através do cotidiano, e por conseguinte, a determinar a
estética dos músicos de bandas de Rock, ao seguir tal tendência no seu
vestuário padrão, dessa época. Outros
fatores importantes para reforçar tal conceito das cores em profusão : a
brutal influência do misticismo oriental e indígena norteamericano,
misturados em doses maciças.
Mesmo
aparentemente sendo culturas completamente diferentes entre si, pelo
calor da euforia antropofágica gerada nesse movimento, elas fundiram-se
harmoniosamente, para gerar uma explosão visual mediante cores em profusão e a gerar beleza,
inigualável. Dentro
desse universo de possibilidades gráficas, a mostrar-se total, onde foi proibido
proibir, alguns artistas destacaram-se nesse contexto : Rick Griffin; Wes Wilson;
Victor Moscoso; Stanley Mouse; Alton Kelley; e claro, o cultuado
quadrinhista e freak-mor, Robert Crumb.
Todos os citados criaram em profusão, e com qualidade artística inquestionável. Os seus
trabalhos multiplicaram-se em várias frentes, mas claro, a grande
vitrine para a sua arte psicodélica, foram os cartazes a anunciar shows de Rock;
eventos em geral, e capas de discos para artistas do Rock,
principalmente, mas também em outras vertentes musicais, notadamente dentro do universo
da Folk Music sob um primeiro momento, mas logo a atingir a Black Music em geral e
até no Jazz. No
campo dos cartazes de shows, a criatividade lisérgica de tais artistas
foi espetacular, e os cartazes, mágicos, a anunciar performances também
mágicas de artistas consagrados ou em vias de assim tornar-se perante a crítica e público.
São
memoráveis os exemplos de cartazes para as principais casas de shows,
como por exemplo, os auditórios Fillmore East e West, controlados pelo grande
produtor de shows, Bill Graham, mas também para diversos outros locais
históricos existentes na América do Norte. Rick Griffin, por exemplo, tinha influência dos quadrinhos da revista Mad; carros Hot Rod, motos e Surf, inicialmente. Mas
ao envolver-se com músicos da Califórnia, em meados de 1964, o seu caminho
foi moldado pela lisergia, via cultura indígena, com o shamanismo a despertar-lhe a atenção.
É
de sua autoria o famoso cartaz para o evento chave da explosão do
“Verão do Amor” em 1967, denominado : “Human Be-In”, ou “The Gathering of
Tribes”. Envolvido
diretamente com os músicos do grupo de Rock, Grateful Dead, ele desenhou a espetacular mandala
que ilustra a capa do LP “Aoxomoxoa”, dessa grande banda psicodélica. A sua
famosa criação, o “Flying Eyeball”, um olho em forma de bola, e com
asas, marcou época, principalmente em posters a anunciar os shows do Jimi Hendrix.
Victor Moscoso, um espanhol radicado na América, também foi autor de posters memoráveis, cartazes de shows e capas de discos para bandas de Rock e artistas do Jazz, como Herbie Hancock, por exemplo. Wes Wilson foi o mais identificado com a produção de cartazes para os shows dos auditórios Fillmore e é considerado por críticos, o precursor do conceito da fonte de letras que dão a impressão de estar a “derreter”, um delírio lisérgico que criara em 1966, segundo consta nos anais da história.
Victor Moscoso, um espanhol radicado na América, também foi autor de posters memoráveis, cartazes de shows e capas de discos para bandas de Rock e artistas do Jazz, como Herbie Hancock, por exemplo. Wes Wilson foi o mais identificado com a produção de cartazes para os shows dos auditórios Fillmore e é considerado por críticos, o precursor do conceito da fonte de letras que dão a impressão de estar a “derreter”, um delírio lisérgico que criara em 1966, segundo consta nos anais da história.
Sobre o quadrinhista, Robert
Crumb, dispensa maiores apresentações. O criador dos famosos personagens de
quadrinhos, os geniais, “Freak Brothers”, Crumb é figura reverenciada até os
dias atuais, vide o frisson que causou em sua participação no Flip, de
Paraty, e visitas realizadas por Rio de Janeiro e São Paulo, recentemente (2015).
Stanley Mouse também foi um artista muito identificado com a banda Grateful Dead, e autor de capas de discos para tal banda.
Stanley Mouse também foi um artista muito identificado com a banda Grateful Dead, e autor de capas de discos para tal banda.
Sua
capa para o LP “Skull and Roses” dessa banda, lançado em 1971, entrou
para a história e segundo ele mesmo costumava contar, foi inspirado em uma
figura que observara na biblioteca pública de San Francisco, criado por um
desenhista chamado, Edmund Sullivan, que o criara para ornar um poema
clássico do século XI, chamado : “The Rubayat of Omar Kayyam”. São notáveis também os posters exclusivos que criou para a grande banda, Sly and the Family Stone. Os seus
cartazes de shows para o Avalon Ballroom, também são magníficos, e nesses termos, o seu
estilo teve influência da Art-Noveau. O uso de figuras inusitadas como
Edgar Allan Poe, como “modelo”, por exemplo, revelaram esse conceito da
arte total, sem limites.
Alton
Kelley gostava de usar figuras fantasmagóricas com cores fortes,
a buscar a linha onírica / lisérgica. A “Bad Trip” como possibilidade em
não ser necessariamente assustadora, mas absolutamente alucinante, foi o seu mote artístico como desenhista. Este também
desenhou capas para o Grateful Dead; Jefferson Airplane; Jimi Hendrix;
New Riders of the Purple Sage; discos solo de Mickey Hart, do Grateful
Dead, e outros.
No
Brasil, a arte psicodélica influenciou muitos artistas, notadamente os
irmãos Peticov, Antonio e André, que não fugiram à regra, ao unir-se e
muito ajudar a cena Rock brasileira, com cartazes; intervenções em
cenários e efeitos de shows, e capas de discos, vide trabalhos realizados para bandas tais como : Mutantes, O Terço,
Apokalypsis e outras igualmente importantes. A beleza singular de tais obras, onde o surrealismo é também importante influência natural, é inquestionável.
Tais representações gráficas são reflexo da música e vice-versa, na chamada arte total, sem fronteiras. Nos anos setenta, aqui no Brasil, houve um termo para definir essa síntese artística e estética total : “desbunde”.
Em
tempos de tanta frescura politicamente correta por um lado; e exaltação
da subcultura de massa, por outro, estamos a viver uma época
empobrecida pelo ponto de vista estético; artístico & cultural. Falta-nos uma catapulta que tire-nos dessa vala triste e funda... falta desbunde, portanto...
Matéria publica inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2014
Que post lindo,amigo!
ResponderExcluirMuito interessante as informações com relação às cores da época e desenhos artísticos!
Essa fase hippie foi muito marcante!
Bjus
http://www.elianedelacerda.com
Que maravilha que tenha apreciado a matéria, amiga Elyane !
ExcluirSou apaixonado pelos anos sessenta, por isso e muitos outros aspectos e sempre tenho prazer em trazer à tona tais representações dessa época mágica.
Grato por acompanhar e repercutir, sempre um prazer para mim ter sua visita em meu Blog !!
Abraço !!