Na São Paulo dos anos setenta, apesar das naturais limitações tipicamente tupiniquins, e pelo azar em termos tido uma ditadura ferrenha a pairar no ar, o bom astral oriundo do movimento hippie, ainda fervilhava. E apesar de todas as dificuldades inerentes que uma ditadura apresentava no cotidiano, a cena cultural e artística mostrava-se intensa. Nesses termos, havia muitos espaços para shows, incluso locais nobres, onde normalmente parecia inviável a realização de shows de Rock.
Um bom exemplo dessa dinâmica, foi o histórico
show dos Mutantes e do Terço, quando as duas banda uniram-se para executar um tributo aos Beatles,
no ano de 1977, em pleno Teatro Municipal. Outro caso muito interessante deu-se com o
Humauhuaca, banda que não detinha nem a metade da fama dos Mutantes e do Terço,
mas que conseguiu lotar o Teatro Municipal, em uma sessão maldita que foi para tirar o
fôlego. Ocorreu em 10 de dezembro de 1977, e eu eu estive lá
com os meus amigos, para conferir um concerto de Rock, que prometia (e que cumpriu, com juros, aliás).
Estiveram presentes, centenas de freaks; Hippies & Rockers
espalhados por todos os setores do magnífico templo de cultura da pauliceia. O contraste do luxo rococó da decoração do
teatro, com as vestimentas dos freaks, produzira um efeito cinematográfico
peculiar. Eu sentia-me no set de filmagem do filme : "Fearless with Vampires" do diretor, Romam
Polanski, em meio à vampiros surrados, o que foi bem engraçado.
O cheiro do patchouli, perfume comum para nove a
cada dez hippies, aromatizou completamente o teatro e confesso, tal fragrância
desperta-me um sentimento de saudosismo, imenso. A expectativa foi total. Era possível sentir-se no ar, que o respeito pelo
trabalho do Humauhuaca era absoluto, quase como uma reverência e sintomaticamente, penso
que hoje em dia o contraste estabeleceu-se, visto que o nível de percepção do público era muito mais elevado naquela
época, pois o som que a banda fazia, não era nada popular. Pelo contrário, tratou-se de um som híbrido, com bastante
influência de Jazz Rock; Fusion; elementos do Folk latinoamericano; Jazz
Brazuca; Prog Rock, e algo de MPB.
Não era propriamente uma banda de Rock, mas fora aceita sem reservas e mostrou-se querida pelos Rockers, pois acima de tudo, nessa época, não havia radicalismos acentuados e dessa forma, o comportamento padrão do "freak" era em torno de apreciar música com qualidade, ainda que não houvesse o rótulo "Rock" carimbado na testa do artista.
Outro fator pelo qual eu sinto muita saudade : a "sessão maldita" com uma banda autoral e instrumental, a lotar completamente o teatro municipal ! Você consegue imaginar algo parecido hoje em dia ? Luzes a apagar-se... a banda entra no palco e faz um concerto magnífico... o virtuosismo a favor da música e não o contrário, um conceito que também parece ter sido perdido no tempo, infelizmente.
Não era propriamente uma banda de Rock, mas fora aceita sem reservas e mostrou-se querida pelos Rockers, pois acima de tudo, nessa época, não havia radicalismos acentuados e dessa forma, o comportamento padrão do "freak" era em torno de apreciar música com qualidade, ainda que não houvesse o rótulo "Rock" carimbado na testa do artista.
Outro fator pelo qual eu sinto muita saudade : a "sessão maldita" com uma banda autoral e instrumental, a lotar completamente o teatro municipal ! Você consegue imaginar algo parecido hoje em dia ? Luzes a apagar-se... a banda entra no palco e faz um concerto magnífico... o virtuosismo a favor da música e não o contrário, um conceito que também parece ter sido perdido no tempo, infelizmente.
Olhos e ouvidos atentos na música cerebral de
uma banda afiada como o Humauhuaca, fazia com que o coração pulsasse forte na emoção que
tais músicos provocaram. Que prazer ouvir o baixo extraordinário de um
músico que já era lenda, naquela época. Olhos vidrados no hermano porteño que
destruía o seu baixo Fender e era história viva. Um singelo filme a passar em minha mente : 1967 ao assistir aquele bando de hippies argentinos e cabeludos na TV,
a acompanhar o baiano Caetano Veloso, que falava coisas engraçadas;
1973 e o mesmo baixista freak na retaguarda dos Secos e Molhados...
E ainda houve a presença de um baterista superb, daqueles que fazia a carcaça da bateria trepidar inteira com tanto "groove", feito que o Pedrinho "Batera" do Som Nosso de Cada Dia também era mestre em fazer. Um tremendo de um guitarrista Rocker com alma Blues, um pianista mestre de harmonias "tortas" e um tremendo flautista... que noitada ! Amigos, eu estive lá e presenciei tudo isso. Saudosista, eu ?
Pode ser, mas vou dizer-lhes : adoraria que tivéssemos uma nova onda sob astral tão boa quanto aquela, onde houvesse shows com bandas conhecidas ou não, toda a noite e inclusive à meia-noite, no Teatro Municipal, e com direito à um público absolutamente comprometido com a vontade de consumir música, avidamente. Foi assim que funcionou nos anos setenta, e eu desejo que volte a ser a realidade novamente, um dia. Se isso é ser saudosista, então está bem, sou mesmo...
E ainda houve a presença de um baterista superb, daqueles que fazia a carcaça da bateria trepidar inteira com tanto "groove", feito que o Pedrinho "Batera" do Som Nosso de Cada Dia também era mestre em fazer. Um tremendo de um guitarrista Rocker com alma Blues, um pianista mestre de harmonias "tortas" e um tremendo flautista... que noitada ! Amigos, eu estive lá e presenciei tudo isso. Saudosista, eu ?
Pode ser, mas vou dizer-lhes : adoraria que tivéssemos uma nova onda sob astral tão boa quanto aquela, onde houvesse shows com bandas conhecidas ou não, toda a noite e inclusive à meia-noite, no Teatro Municipal, e com direito à um público absolutamente comprometido com a vontade de consumir música, avidamente. Foi assim que funcionou nos anos setenta, e eu desejo que volte a ser a realidade novamente, um dia. Se isso é ser saudosista, então está bem, sou mesmo...
Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2014.
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