Nos primórdios da história do Rádio, o tratamento com o qual o jornalismo fora exercido, não manteve um formato específico e adequado à esse novo veículo. Portanto, em seu início, o noticiário radiofônico foi uma mera leitura de notícias publicadas nos jornais tradicionais, como uma espécie de jogral enfadonho e muitas vezes ao não levar-se em conta que certas particularidades das notícias, lida dessa forma, causava alguma confusão ao ouvinte. Demorou um tempo para que os radialistas notassem que seria preciso inventar um formato radiofônico específico para tal veículo.
Foi com esse propósito que em 1935, surgiu nos Estados Unidos, o “Reporter Esso”, um noticiário criado especialmente para o veículo radiofônico e patrocinado por uma companhia petrolífera (Standart Oil Company), daí esse nome ter sido personalizado. O lado obscuro dessa iniciativa, foi que houve um objetivo claro em sua linha editorial, através da sua prerrogativa, no entanto, a tratar-se de algo obviamente questionável enquanto jornalismo livre e ético, pois acintosamente noticiava-se os fatos conforme o ponto de vista norteamericano, a realçar as suas virtudes; omitir os defeitos e enxergar o mundo pelo seus interesses, de forma parcial. Dessa forma, não demorou e o grande foco do Repórter Esso foi a II Guerra Mundial, naturalmente.
Ao acompanhar
o plano expansionista da política de boa vizinhança estabelecida pelo governo de Franklin Delano
Roosevelt, o Repórter Esso criou franquias (foram quinze ao longo do
mundo, segundo consta em sua história), e dessa maneira, chegou ao Brasil de Getúlio
Vargas. Em 28
de agosto de 1941, estreou na Rádio Nacional, do Rio de Janeiro e desde o
seu início, fora subordinado ao DIP (Departamento de Imprensa e
Propaganda), com a mão de ferro de Vargas a conduzir-lhe o editorial, a privilegiar os seus interesses. No
início, foram programas curtos a contar com apenas cinco minutos de duração, e na
maior parte do tempo ocupados com a reprodução do programa americano e
as notícias dos militares americanos em tal conflito.
E mesmo com quando Vargas voltou ao poder, sob a ação do pleito democrático, anos depois, a atuação do Repórter Esso continuou firme em sua predisposição para noticiar o cotidiano da sociedade, sob o prisma norteamericano. Com o passar do tempo, o noticiário mostrava-se tão sedimentado no imaginário do cidadão brasileiro, que os seus slogans e também o seu jingle, faziam parte do cotidiano do país, talvez sob uma proporção maior do que veio a representar o Jornal Nacional da TV Globo, anos depois. Houve até um ditado popular, que dizia que : "se uma notícia surgia, só era considerada verdadeira se fosse noticiada no Repórter Esso", tamanha a sua credibilidade ou poder a exercer a fé cega, a depender do ponto de vista . O programa migrou para outras estações de Rádio, e chegou à TV, onde também fez grande sucesso.
Jornalistas como Heron Domingues; Luis Jatobá; Roberto Figueiredo e Gontijo Teodoro, passaram por ele e certamente que influenciaram outros programas que surgiram depois, incluso o Jornal Nacional da TV Globo, onde aliás, o próprio, Heron Domingues, fez parte em seu começo de atividades.
As trombetas estridentes que anunciavam a entrada do noticiário no ar, continham um ar solene, a parecer que sempre a notícia a ser dada seria bombástica, embora raramente isso ocorresse, dentro da rotina do jornalismo. A contribuição que o Repórter Esso deu para o radialismo foi imensa, e que estendeu-se ao jornalismo televisivo, posteriormente.
Segundo consta na história do radialismo, graças ao Repórter Esso, criou-se enfim o formato adequado para o veículo, com notícias curtas, de forma a portar-se com muito objetividade e expressas com frases ágeis, ao usar-se não apenas o poder da síntese, como a preocupação na escolha de palavras fortes para conferir-lhe a ênfase necessária. A última edição radiofônica ocorreu na noite de 31 de dezembro de 1968. O radialista, Guilherme de Sousa falou sobre alguns decretos de ordem econômica assinados pelo então presidente Costa e Silva;, também a respeito de certos desdobramentos do AI-5, então recentemente promulgado e notas sobre o Reveillon.
À medida que falava, pôs-se a embargar a sua voz e nitidamente emocionado, não conseguiu encerrar a sua locução, ao chorar copiosamente e assim fazer com que o locutor reserva entrasse às pressas na sala da técnica, e assumisse o microfone, para encerrar a transmissão, ao desejar um “feliz 1969, a todos”.
Na Televisão, o noticiário sobreviveu mais um pouco, mas também teve uma última edição no Reveillon, desta feita, na noite de 31 de dezembro de 1970, nas TV’s Record e Tupi. Fim de uma Era no radialismo e calou-se para sempre a “Testemunha Ocular da História”.
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2014
Interessante! Eu quando estou com insônia gosto de escutar Globo AM.
ResponderExcluirQue bacana que gostou, Ana !
ExcluirA tecnologia avançou nessas últimas décadas, mas o radiojornalismo continua firme e forte na sua função nobre.
Grato por ler e comentar !