sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Blindagem Excessiva - Por Luiz Domingues



O futebol é o mais popular esporte do planeta, por vários fatores. Um dos deles, sem dúvida, é o fato de ter regras extremamente simples, que são assimiladas por crianças. Com exceção da regra do impedimento, ou "off-side", que sucinta certas indagações e gera polêmica, quase sempre, o restante é muito simples.

Mesmo assim, ao seguir o exemplo de outros esportes com regras mais confusas, a questão da arbitragem pôs-se a ganhar contorno de uma disciplina rígida, ao longo dos tempos. Para visar tornar as decisões dos árbitros irrevogáveis e sobretudo a pensar na integridade moral e física dos mesmos, os órgãos controladores do futebol engessou cada vez mais a figura do árbitro (e de seus auxiliares, também), de uma forma militarizada, para outorgar-lhe status hierárquico de comando, e assim, não aceitar insubordinações de forma alguma por parte da "baixa casta", formada pelos jogadores.
Em primeira instância, fazia sentido dar esse poder todo ao árbitro. De fato, sem esse cuidado, estaria indefeso em meio às pressões de vinte e dois jogadores em campo, mais quatorze sentados nos dois bancos de reservas e além de outras pessoas a representar as suas respectivas comissões técnicas de cada time. Seria temerário demais não ter essa regulamentação que o protegesse de toda forma de protestos, quiçá agressões físicas em toda jogada polêmica onde um time sentisse-se prejudicado por sua decisão. Todavia, temos observado algumas distorções nessa regulamentação.
O primeiro ponto é óbvio : o árbitro também é um ser humano. Portanto, está passível em cometer erros, e no caso específico da arbitragem, o futebol pode apresentar situações dúbias, onde erros crassos são cometidos a todo instante. O segundo ponto, é que por ser humano, também, apresenta emoções e toda uma gama de precipitações psicológicas inerentes a qualquer um.
E o terceiro ponto, parece crucial nesse tabuleiro : toda a estrutura do futebol é profissional e envolve negócios na conta de milhões de reais; dólares ou euros, mas o único setor que permanece amador nessa cadeia bilionária, é o da arbitragem.
Então, por mais apaixonado que o sujeito seja pela sua nobre atividade, ele é a autoridade máxima naqueles noventa minutos, para decidir o futuro de centenas de pessoas que dependem daquele resultado diretamente, por estar envolvidas profissionalmente ali (fora os milhões que frustram-se indiretamente, os ditos torcedores), mas ele volta para a casa com um pequeno cachet no bolso (nem tão módico assim...), e no dia seguinte vai trabalhar no seu escritório; clínica; comércio; repartição pública. Com essa completa falta de compromisso com a estrutura monstruosa que envolve o futebol, política e financeiramente a falar, ele simplesmente toca a sua vida particular, sem perder o sono com eventuais prejuízos causados por seus erros terríveis, e só volta a pensar no futebol no próximo jogo.
Profissionalizá-los, seria a melhor medida para que dedicassem-se em horário integral à sua capacitação, e não somente a ficar restritos a cursinhos de fim de semana, sob um primeiro momento de sua preparação para a função. E posteriormente, responsabilizados por seus atos, de forma funcional. Fora tudo isso, como ser humano ele está sujeito às intempéries de seu ego e daí, todo esse poder inebria, em muitos casos.
O excesso de blindagem que recebem, torna-os muitas vezes, prepotentes, arrogantes... e tal como imperadores romanos tresloucados, sentem-se poderosos ao advertir atletas; expulsá-los; humilhá-los publicamente, e se for o caso de um clássico televisionado e assistido por milhões de pessoas, então...
A Fifa reluta em usar a tecnologia para auxiliar os árbitros em jogadas polêmicas. Dá-se um desconto enorme para o lado humano deles, em ter que decidir sob uma fração de segundos um lance duvidoso que todos vemos claramente, mediante infinitas repetições auxiliados pela visão do vídeotape das transmissões da TV. No entanto, por outro lado, se é notoriamente difícil para um ser humano (mesmo que supostamente capacitado para a função), tomar uma decisão dessas, em segundos, por que a Fifa não adequa à arbitragem ao século XXI, e não usa enfim a tecnologia em casos duvidosos ?
E isso evitaria a enorme insatisfação de quem é prejudicado decisivamente em uma partida, ao amargar maus resultados que geram consequentes prejuízos financeiros enormes, aos clubes.
E estabeleceria uma relação mais humana entre árbitros e jogadores, ao evitar assim essas manifestações marcadas pela extrema prepotência de árbitros que julgam-se Deuses inatingíveis, por ter o poder da vida e da morte, no uso de seus malfadados cartões, amarelo e vermelho, distribuídos a esmo, além das súmulas que redigem, onde somente as suas palavras são levadas em consideração nos tribunais esportivos, sem direito ao contraditório. Respeito à autoridade do árbitro, sim, mas intransigência exercida mediante uma couraça de aço, não !

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