quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Trotes Estudantis, Até Quando ? - Por Luiz Domingues


Na sociedade em que vivemos, a obsessão pelo dinheiro é o normal. Esse paradigma está tão solidificado, que todo sistema educacional é centrado nesse valor básico. Dessa forma, a pressão para que obtenha-se a melhor educação, tem como objetivo primordial a preparação para o mercado de trabalho, e sob uma segunda ou terceira instância, o prazer pelo saber, razão nobre pela qual surgiram as academias na antiguidade, e as universidades na idade média.
Posto isso, o paralelo dessa pressão por melhores colocações é certamente um dos fatores que explicam o porquê da existência desse jogo marcado pela dominação; subjugação; sadismo; arrogância; prepotência etc. Segundo dizem, a palavra "trote" seria mesmo uma alusão à relação homem / eqüino, e nesse caso denotaria o "montar em cima", literalmente, como exercício de humilhação e dominação.


Alguns estudiosos sustentam a tese de que a palavra "Bixo", escrito com o "X" propositalmente, teria uma dupla função depreciativa : 

1) Chamar alguém de bicho, animal, como forma de depreciação e 

2) O "X" revelaria o estigma com o qual marcam os novatos para persegui-los até que uma nova turma entre na universidade e o ciclo perpetue-se.
A manutenção desse status quo do malfadado "bullying", só que  socialmente aceito, perpetua-se, pois o oprimido de hoje, sente-se compelido a repetir o padrão, "a descontar" no próximo novato, e não passa na mente de ninguém, quebrar esse padrão idiota em termos de paradigma, que não sabe-se onde começou.
O circo romano com gladiadores, um dia acabou; as rinhas de galos e as touradas hão de acabar um dia, e por quê essa imbecilidade do trote estudantil precisa existir ainda ? Observo defesa inflamada por parte de entusiastas dessa prática e a argumentação parece pífia, ao esbarrar no surrado argumento de que tal prática "integra" o novato à instituição, e principalmente ao convívio com os veteranos.
Desculpe, mas não aceito tal argumentação pois mais parece uma mera manutenção de um padrão adquirido, sem que haja nenhum sentido prático realmente plausível. Por quê ? Ora, não é possível receber a nova turma com um padrão diferente, em termos de convívio civilizado, mediante a observação da gentileza; respeito; boa educação ?
Se uma pessoa vem pela primeira vez à minha casa, devo-lhe aplicar um trote, com práticas humilhantes e quiçá sádicas, para que ela sinta-se bem recebida, "integrada" ?  O que se vê na maioria dos casos, não tem nada de "integração". Vemos apenas cenas marcadas pelo extremo sadismo; humilhação; exploração etc. Isso sem contar a oportunidade que abre-se para constrangimentos de conotação sexual, principalmente com as meninas.
Acho desnecessário arrolar casos extremos ocorridos com tragédias perpetradas pelos famigerados trotes. São públicos e notórios e estão nos noticiários policiais.
Só acrescento que há maneiras mais civilizadas para recepcionar os calouros. Ou podem ser recebidos com festas e atividades culturais, ou mesmo com um caderno de encargos sociais a ser cumpridos, tais como : ajudar na limpeza pública; auxiliar pessoas carentes etc.
E quem sabe, as duas coisas, em uma semana inicial com atividades edificantes, coordenadas pelos veteranos. Em suma, proponho andar para a frente, e deixar as práticas medievais para trás...


Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, e republicada posteriormente no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012

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