Não resta dúvida de que na cultura norteamericana centrada entre os anos cinquenta e sessenta, surgiram grandes ícones negros, principalmente nos esportes e nas artes. Para que houvesse um Cassius Clay, muitos pugilistas brilharam antes e na mesma proporção, quando talentos dramatúrgicos como Harry Belafonte e Sidney Poitier explodiram nas telas de cinema, certamente foi fundamental que houvesse existido antes, Paul Robeson. Quem ?
Pois é, se nem na América do Norte, onde a cultura popular costuma preservar os seus ídolos, ele é muito lembrado, imagine se no Brasil alguém ouviu falar desse artista ? Quem foi Paul Robeson, afinal de contas ?
Nascido em 1898, Paul LeRoy Bustill Robeson era descendente de Igbos, uma tribo nigeriana. Sim, os seus antepassados chegaram na América do Norte sob a condição de escravos. O seu pai, foi um pastor presbiteriano, e a sua mãe falecera quando ele tinha apenas seis anos de idade.
Ao contrariar o script social sob extremo segregacionismo desses primeiros anos de século XX, Paul conseguiu concluir os seus estudos da High School (o ensino médio, no padrão norteamericano), e foi aceito em uma grande universidade, quando foi registrado como o terceiro homem negro na história, a frequentar e concluir um curso universitário. Formou-se advogado pela Universidade de Columbia, uma das maiores universidades norteamericanas e do mundo. Paralelamente, destacara-se também nos esportes e assim, rapidamente tornou-se o destaque do time de futebol americano da Universidade.
Esse destaque foi tão grande que após formado, tornou-se um jogador de futebol americano, profissional, ao disputar a principal Liga do país, e com o destaque em ser um grande craque nesse esporte. Jogou nas equipes do Akron Pros e Milwaukee Badgers. Não satisfeito em ser craque no futebol americano profissional, também jogou basquete, e foi técnico dessa outra modalidade esportiva. Contudo, havia também a verve artística dentro dele...
Cantor; ator e escritor de enorme talento nas três atividades, Paul Robeson destacou-se por ser um ator extraordinário, que rapidamente saltou das montagens amadoras para os palcos da Broadway.
Por atuar em diversas montagens, chamou muito a atenção, a sua interpretação para o personagem, Otelo, de Shakespeare. Com atuação muito elogiada, foi parar na Inglaterra, onde impressionou nos palcos de Londres, ao interpretar Shakespeare para o público natal da terra desse autor genial. E logo notou-se também a sua voz extraordinária, que foi explorada ao atuar em montagens musicais, quando o seu potencial vocal foi exaltado.
Com voz no registro barítono; afinação perfeita e emissão estrondosa, Paul Robeson brilhou em musicais, como por exemplo : Porgy e Bess, de Ira Gershwin. Não demorou e o cinema o convocou, primeiramente para atuar em : "O Imperador Jones", onde gerou muita polêmica o fato de seu personagem assassinar um homem branco na história.
Já em "Magnólia - Barco das Ilusões" ("Showboat"), uma adaptação do musical encenado com sucesso nos palcos da Broadway, a sua interpretação visceral do clássico do Blues, "Old Man River", arrebatou multidões nas salas de cinema. De voltando à Inglaterra, viveu por lá alguns anos e protagonizou mais de dez filmes com produção britânica.
Retornou então aos Estados Unidos, quando aproveitou a sua fama como artista e ex-atleta bem sucedido, ao perceber que poderia ser mais incisivo ao expressar as suas fortes opiniões políticas e protestar contra o vergonhoso segregacionismo contra os negros na sociedade. Contudo, em um ambiente hostil, ao final dos anos quarenta e início dos cinquenta, ainda não havia nenhum indício de que tal situação mudaria no país, para promover o fim de tais diferenças sociais, e assim tornar igualitários os direitos civis para as pessoas negras.
Concomitantemente, foi nessa época que floresceu o pesado "Macartismo", liderado pelo arbitrário senador, Joseph McCarthy. Com métodos inspirados certamente em exemplos autoritários, McCarthy passava por cima dos direitos civis, ao ignorar a constituição e dessa forma, exercer toda a pressão para forjar falsas confissões e afins.
Ao perseguir artistas e intelectuais, principalmente, McCarthy viu em Paul Robeson, um prato suculento para a sua voracidade brutal. Homem negro; artista e intelectualizado; culto e cultuado, a falar em direitos iguais entre brancos e negros, ele tornou-se um dos alvos de sua particular caça às bruxas.
Bastante atacado e perseguido, Paul Robeson viu a sua carreira declinar, graças à perseguição, e em um momento onde a carreira musical havia tornado-se o carro chefe de suas atividades, a emendar sucessos e grande vendagem de discos, decorrente disso.
Contudo, somente em 1958, ele pode retomar a sua carreira, ao livrar-se da perseguição do obstinado, McCarthy, porém, nessa altura, Robeson havia perdido terreno artístico, e já estava em fase de debilidade adquirida devido aos seus problemas de saúde. A sua última aparição pública ocorreu em 1965, e nos seus últimos tempos, ele preferiu aposentar-se, e veio a falecer em 1976.
Paul Robeson foi um artista dotado de uma versatilidade incrível; atleta profissional de alto nível; um advogado culto e um ativista político de muita coragem, em uma época onde defender ideais de igualdade, fora muito perigoso na América do Norte. Ele certamente abriu caminho para que muitos outros talentos pudessem brilhar depois dele e caiu em um inacreditável esquecimento, descabido ao meu ver.
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2013
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