A vocação de São Paulo (e neste caso ao referir-me não apenas à cidade, mas ao estado, também), para abrigar colônias estrangeiras, vem de longe. Se o grande fluxo de chegada de estrangeiros começou realmente ao final do século XIX, atraídos pelas oportunidades nas lavouras interioranas e posteriormente pela industrialização na capital, não pode-se afirmar que já não existiam estrangeiros a viver em São Paulo, em número significativo, antes mesmo desse grande movimento citado.
Contudo, a partir desse fluxo mais intenso, foi óbvio que tais imigrantes imprimiram uma brutal influência cultural no estado e na capital, em específico. Outro aspecto para ser considerado, é que ao pensar na situação difícil de tais colônias em estabelecer-se no Brasil, foi mais do que natural que tais imigrantes criassem os seus próprios mecanismos de autoajuda, para amenizar a difícil adaptação a um país estrangeiro e exótico para os seus padrões, e nesses termos, tirante os portugueses, e dos outros povos com cultura latina, pela proximidade, todos os demais sofreram ao lidar com a nossa língua, que mostrou-se muito difícil para ser aprendida.
Desta forma, foi muito natural que tais grupamentos de estrangeiros, fechassem-se entre si, e criassem associações; clubes; centros culturais e esportivos para poder frequentar e obter assim um convívio social que amenizasse a saudade de suas respectivas pátrias. Não demorou e começou a aparecer pequenas publicações, a visar trazer notícias de seus respectivos países, e material sobre eles mesmos em seu cotidiano vivido por aqui. Esse fenômeno ocorreu em várias partes do Brasil, mas sobretudo em São Paulo, pela maior profusão de colônias de imigrantes oriundas de diversas nações do planeta, tal fenômeno atingiu números maiores.
E assim, com a enorme profusão de italianos em São Paulo, um jornal como o "Fanfulla", fundado em 1893, agregou a colônia, para trazer-lhes um pedaço da Itália, em suas páginas.
Houve também : "O Cara Dura (Giornale il piú stupido del mondo)", com uma dose de sarcasmo e que muitos anos depois, foi observado na linha editorial do tabloide : "O Pasquim" de Millôr Fernandes e Jaguar. No entanto, há registro de inúmeras outras publicações, jornais e revistas, escritas em italiano, como "La Famiglia Latina"; "L'Italia - Giornale Settimanali Intransigente"; "La moda Del Brasile"; Il Meridionale"; "Il Pasquino Coloniale"; "La Sentinella italiana"; "Il Secolo"; "Il Tre de Picche"; "La Tribuna Italiana";"La Vedetta Italiana" etc.
Caso de adaptação mais dramático ocorreu no entanto com os japoneses, pela obviedade da sua cultura ser inteiramente diferente em todos os aspectos. Nesse caso, jornais como o "São Paulo Shimbun" e "Nikkey Shimbun" (entre muitos outros), contribuiu e muito para unir a colônia.
Em Campinas, surgiu o "El Faiyá", jornal escrito em árabe. Posteriormente, surgiu o "Al Brasil"; "Shynge : Organ Syrio"; "Al-Assmahy"; "Al-Hadikat"; "Al-Manarat"; "Al-Mizan"; e "Al Afkar", ao abrir o caminho para o surgimento de muitos outros jornais e revistas específicos para os imigrantes sírios; libaneses; turcos e demais imigrantes de nações com raiz árabe.
Mesmo ao falar a mesma língua e a observar pouca ou nenhuma dificuldade de adaptação, os portugueses também mantiveram as suas publicações específicas para a colônia. Foi o caso de jornais tais como : "Bandeira Portugueza"; "O Lusitano"; e "Echo Portuguez".
"Deustche Nachrichten"; "Der Hausfreund"; "Germania - Allgemeine Deustche Zeitung Für Brasilien"; "Deustche Zeitung"; e "Paulistaner Zeitung", foram publicações que supriram as necessidades dos imigrantes alemães.
"Österreichische Blätter in Brasilien", cumpriu a mesma missão para auxiliar a colônia austríaca.
"Österreichische Blätter in Brasilien", cumpriu a mesma missão para auxiliar a colônia austríaca.
Os espanhóis liam : "Democracia Española"; "La Iberia"; "La tribuna Española"; "La Voz de España"; e "Gaceta Hispaña", entre outros.
"Magyar Szó", e "Déla Merikai Magyar Hirlap", uniu a colônia húngara. "Slovan : organ Spolku", supriu a necessidade dos eslovenos. "Le Courrier D'letat de St Paul", para os franceses.
Mais atualmente, temos jornais chineses como o "Jornal Chinês para a América do Sul", e coreanos como o "Bom Dia".
E não posso esquecer-me de citaras as publicações em inglês para britânicos e norteamericanos; jornais de nações africanas, inclusive alguns escritos em dialetos e não línguas europeias de países colonizadores; muitos da colônia judaica e com a recente onda de imigração da parte de povos latinoamericanos, observa-se a profusão de publicações em castellaño para bolivianos; peruanos; paraguaios; mexicanos etc.
Enfim, a tradição de órgãos de imprensa escrita, em línguas estrangeiras em São Paulo, é muito antiga e o saldo dessa contribuição cultural à formação cosmopolita da capital, principalmente, incomensurável.
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