sábado, 6 de julho de 2013

O Grande Jorge Loredo - Por Luiz Domingues


Prudência foi uma palavra chave na carreira do ator / comediante/ advogado, Jorge Loredo. Sempre ao dar um passo de cada vez e sob uma ação muito bem estudada, por sinal, Loredo construiu a sua vitoriosa carreira, nesses termos. 

Nascido no Rio de Janeiro, em 7 de maio de 1925, Loredo foi um menino estudioso, entretanto, sem saber exatamente o que desejava fazer na vida, até que conheceu o teatro. Já a trabalhar em um agência bancária e a estudar direito, animou-se a fazer um teste para ingressar na instituição : Teatro do Estudante Paschoal Carlos Magno, uma escola de teatro. Inscreveu-se para fazer um monólogo de humor, fator raro naquela época, pois não era uma tradição tipicamente brasileira do humor, ao contrário de hoje em dia, onde dito estilo do "Stand up Comedy", de tradição norteamericana, tornou-se uma febre. Nesta ocasião, o seu monólogo impressionou os jurados e ele foi aprovado. 

Todavia, Jorge Loredo mostrou-se como um menino precavido e mesmo animado pela perspectiva de uma carreira artística vitoriosa, não trancou a sua matrícula na faculdade e seguiu a estudar Leis para ser um advogado, pois ele sabia muito bem que ser artista no Brasil, seria estar sobre uma improvável gangorra. Mesmo assim, o seu talento como ator e humorista foi rapidamente utilizado no cinema. Loredo atuou em comédias cinematográficas, como : "Um Caso de Polícia" (1959) e "Sai Dessa, Recruta" (1960). Todavia, foi na TV que popularizou-se, ao participar de programas humorísticos, e a criar personagens marcantes. 

O primeiro que criou, foi baseado em uma experiência pessoal. De fato, ele conhecera um mendigo que costumava pedir donativos em sua residência e que era muito articulado, ao chamar a atenção da vizinhança por conta da sua cultura e educação, fora do comum. Dessa observação pessoal, Loredo criou o clássico personagem do mendigo aristocrático, que expressa-se com erudição desconcertante. Por bastante tempo, Loredo o interpretou (o personagem prosseguiu com outro ator, ao ser interpretado pelo genial ator / comediante / dublador, Borges de Barros, posteriormente), mas a seguir, Loredo criou outro personagem que estouraria na TV e o deixaria ainda mais famoso. 

Tratou-se de "Zé Bonitinho", um dândi caricato; convencido e a portar-se como a um garanhão irresistível. Segundo Loredo, sempre afirmou, tal personagem foi criado pela observação de um colega de TV, que costumava praticar poses diante do espelho, ao imitar Frank Sinatra a cantar a canção : "Strangers in the Night", entre várias bravatas proferidas sobre as suas supostas conquistas de garotas em profusão.

Concomitante à carreira, Loredo atuava como advogado, especialista em causas trabalhistas e previdência social. Poucas pessoas sabem, mas o criador de "Zé Bonitinho", é* um advogado brilhante e graças aos seus serviços, muitos colegas da TV obtiveram causas ganhas contra produtores inadimplentes e muitos conseguiram regularizar as suas respectivas situações em termos previdenciários, graças aos esforços do Dr. Loredo.

Conta-se a boca pequena, que Loredo tornou-se um terror das TV's, sempre ao ler e impedir que colegas assinassem contratos desfavoráveis, profissionalmente. Ao final dos anos sessenta, Loredo surpreendeu muita gente.

Menosprezado por um público mais intelectualizado, por ser um comediante popular de TV, atuou e de forma muito contundente, em um filme alternativo do diretor, Rogério Sganzerla. Em "Sai Dessa, Aranha" (1970), a sua atuação dentro de uma obra hermética, como era do costume de Sganzerla, foi bastante significativa. Anos depois, trabalharia com Sganzerla novamente, em "O Abismo" (1977) 

Nesse mesmo embalo, atuou em um dos melhores filmes de Arnaldo Jabor, "Tudo Bem (1978). A sua carreira dupla prosseguiu através da TV, e nas audiências do Fórum, até os dias atuais*, ainda que de forma mais sazonal atualmente, devido à idade avançada. 

Jorge Loredo é um exemplo de artista talentoso; profissional exemplar e um excelente amigo, pois o que ele que ajudou os seus colegas como advogado, não tem precedentes nos bastidores da TV brasileira.
* Nota do editor, Jorge Loredo faleceu em 2015, um pouco depois desta matéria ter sido escrita, em 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário