domingo, 8 de abril de 2012

Baú com Novidades - Por Luiz Domingues

Com o sugestivo nome : "O Início; o Fim e o Meio", foi exibido no Rio de Janeiro no último dia 17 de outubro de 2011, a avant première da cinebiografia de Raul Seixas, que promete ser o documento mais bem acabado sobre o artista.
Dirigido por Walter Carvalho ("Janela da Alma"; "Cazuza"), o filme tem o mérito em elucidar pontos obscuros da carreira de Raul Seixas, ao avançar além das obviedades. Um desses pontos é o acréscimo de imagens raras, como por exemplo do Festival de Saquarema de 1976, onde o jornalista, Nelson Motta, foi um dos organizadores e o concebera para ser uma espécie de "Woodstock" tupiniquim. 

Assuntos espinhosos (e evitados por anos), vem à baila, como por exemplo a parceria com Paulo Coelho e a inevitável questão da ligação de ambos com as ideias do bruxo britânico, Aleister Crowley e sua Thelema, além da questão das drogas etc. Cenas do filme caseiro realizado em Super-8, na época, e denominado "Contatos Imediatos do Quarto Grau", estão inseridas. Outro trunfo, foi o de conter entrevistas com as suas filhas e ex-esposas, fato raro em qualquer outro documentário ou reportagem pregressa, tamanho o embate jurídico que travam entre si, pelo espólio cultural do Raulzito. Segundo Walter Carvalho, o copião original chegou a acumular quatrocentas horas preenchidas com material filmado, a conter depoimentos colhidos da parte de noventa pessoas.

Falta sentida foi o episódio de 1982, onde o Raul foi levado à uma Delegacia de Polícia, acusado de ser impostor dele mesmo (há relatos de que seu cabelo e barba foram puxados violentamente por policiais incautos, que acreditavam ser postiços), fato ocorrido em um show realizado no município de Caieiras, na Grande São Paulo, e que representa uma das histórias mais folclóricas a respeito da sua carreira. Embora sentida no filme, essa ausência culmina em ser complementada pela existência do curta metragem : "Tanta Estrela Por Aí", de Tadeu Knudesen (1993), onde Rita Lee, sob uma caracterização hilária, rivaliza com Julie Andrews em Victor / Victoria, ao interpretar a pessoa do Raul ao ser confundido com um impostor. 


Filmar e editar, certamente foi a parte mais fácil da produção para o cineasta, Walter Carvalho, pois difícil mesmo foi a negociação jurídica para satisfazer as três filhas e cinco esposas do Raul, imbróglio que consumiu um ano e meio ! Alheios a tais dificuldades com os conflitos familiares dos Seixas, o público Rocker do Brasil, agradece à produção, e torce para que esse filão das cinebiografias musicais prospere e preencha lacunas históricas, para começar a quebrar o paradigma de que o Brasil não preserva a sua memória artística e cultural.

Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2011. 

2 comentários:

  1. Eu finalmente vi esse filme, e achei maravilhoso!!! Até hj ainda carrego comigo aquela magia dos 70's que ele passava através de sua música... Assistir a esse filme foi parar no tempo por algumas horas e viajar através do mundo de Raul! Adorei!

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    1. Muito legal, Fernanda ! Quer saber de uma coisa ? Eu fico emocionado cada vez que jovens da tua idade relatam-me o quanto esse contato com a vibração daquelas duas décadas, 60 & 70, estimula a imaginação, arrancando suspiros de saudade por algo que não viveram. Isso é sinal inequívoco de que havia sim algo de mágico no ar e essa atmosfera pode ser acessada mentalmente, digamos, provocando legítimas epifanias.

      Quanto ao documentário em si, creio que faz jus à grandeza do Raul como artista criativo e instigante que era.

      Muito grato pela atenção e comentário, Fernanda !

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