sábado, 21 de abril de 2012

Filme: The Train (O Trem) - Por Luiz Domingues

Entre tantas atrocidades perpetradas pelos nazistas durante a segunda Guerra Mundial, existe a denúncia por conta das pilhagens e demais crimes de natureza civil e nada a ver com a conduta ética de guerra, assegurada por tratados internacionais.  

Nesse cenário permeado por abusos, aliás múltiplos em termos de crimes comuns perpetrados ao se aproveitarem da situação caótica que toda guerra gera por conseguinte, muito se falou do roubo de obras de arte e foi nesse contexto que situou-se o filme: "The Train", lançado em 1964. 

A trama gira em torno dos momentos finais da ocupação imposta pelos nazistas na França, entretanto em seus momentos finais, no ano de 1944, quando já a antever a derrota, se iniciou um recuo. 

Nesse contexto histórico, é sabido que de fato, muitos comboios com trens foram usados para a retirada de tropas, armas e munição, mas sabe-se igualmente, que havia muito material roubado em meio à carga retirada das suas bases de ocupação, a caracterizar um crime de guerra. 

Dessa forma, o filme, "The Train", trata dessa temática, ou seja, ao retratar tal tipo de crime, dramaturgicamente através da obsessão de um personagem fictício a representar tal prática vergonhosa, na persona de um oficial nazista, o Coronel Von Waldhein, vivido pelo bom ator, Paul Scofield, em seu afã de conduzir um trem recheado com obras de arte, a escapulir o mais rápido possível da França e amealhar para si próprio tal tesouro de valor inestimável.

Na ficção, a curadora do museu "Jeu de Paume" faz o alerta do roubo ao entrar em contato rapidamente com a resistência francesa (quem mais poderia auxiliar em uma situação de estado de sítio imposto por uma nação inimiga?), e esta organização clandestina passa a elaborar diversas ações de sabotagem, ao visar retardar ao máximo essa partida do trem. 

Nesse momento, entra em cena a figura do chefe de estação ferroviária, Paul Labiche, protagonizado pelo grande astro, Burt Lancaster. Em princípio, esse personagem é um ferroviário rude e um pouco alheio à questão da guerra em si, no entanto, ele logo se inflama em favor da causa, ao testemunhar o fato de que o seu colega, o maquinista, Papa Boule (Michel Simon), fora executado brutalmente pelos soldados nazistas, após ser flagrado em um ato de sabotagem.

Com Labiche a assumir o comando da locomotiva, mais ações de sabotagem, arquitetadas pelos "maquis" da resistência francesa, transcorrem até o desfecho, até culminar em que as obras são recuperadas e o oficial nazista morre, após um confronto direto e eletrizante com Labiche (Lancaster), ao evocar cenas que movimentam bem a ação, para um filme de guerra, mas não ambientado exatamente no front de batalha e mais a se parecer com um filme com teor policial. 

Esta obra cinematográfica, segundo consta em sua história de produção, deveria ter sido conduzida por Arthur Penn, mas por conta de certos desentendimentos com os produtores, promoveu-se uma ruptura inevitável, após duas semanas com os trabalhos das filmagens em curso, apenas. 

Dessa forma, John Frankenheimer assumiu a direção. O nome de Arthur Penn é creditado como codiretor, mas o trabalho maior foi mesmo de John Frankenheimer.

Com fotografia em preto e branco, o contraste ajudou a realçar a aspereza do ambiente da estação ferroviária, a dramaticidade da situação e de certa forma a firmar um ponto de contradição com o objeto do roubo em si, com toda a beleza das obras de arte e sua profusão de cores, traços & expressão de alta inspiração e sensibilidade artística.

O fato de Burt Lancaster ter sido muito famoso como ator, também por seus atributos acrobáticos, o ajudou certamente a compor o personagem, que foi concebido no roteiro para ser retratado ao se pendurar literalmente na locomotiva, nos vagões e a protagonizar cenas de alta periculosidade não apenas nesse sentido da ambientação insalubre por natureza, mas sobretudo pelo jogo de caça que estabeleceu com os criminosos nazistas em meio às composições do bólido férreo. 

A história foi baseada em fatos reais, com a diferença de que na história oficial, o trem em questão nunca saiu dos arredores de Paris, pois a resistência francesa agiu rapidamente e promoveu ações de sabotagem, muito eficazes. No filme, o comboio ferroviários se põe a avançar, para realçar as ações de sabotagens com maior ênfase.

Ainda no elenco, ótimos atores e atrizes a serem mencionados: Jeanne Moreau, Suzanne Flon, Wolfgang Preiss, Albert Rémy, entre outros. 

Como um fã declarado do diretor John Frankenheimer que eu sou, gosto muito desse filme e o recomendo, naturalmente.

Resenha publicada anteriormente na Revista Eletrônica, Cinema Paradiso, em sua edição de número291, no ano de 2011

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