sexta-feira, 27 de abril de 2012

Millbrook, o Mergulho de Tim Leary - Por Luiz Domingues


Em 1962, a relação do professor, Timothy Leary, com seu empregador, a Universidade de Harvard, atingiu níveis insustentáveis. Em primeiro lugar, ele fora informado que as suas pesquisas estavam a ser investigadas pela CIA. Além disso, internamente, o corpo docente estava farto em receber reclamações oriundas dos país dos alunos (invariavelmente pessoas proeminentes da sociedade norteamericana e com ligações estreitas com o poder), ao prestar queixa, no sentido de que seus filhos haviam ingerido doses com LSD, em sala de aula, como parte dos estudos propostos no curso ministrado pelo professor, Leary. Fora isso, houve a suspeita de que muitos outros alunos que não faziam parte do grupo, estavam a infiltrar-se para tomar a droga com objetivo recreativo. Cabe lembrar que nessa época, essa substância ainda não era ilegal, portanto, não cabia nenhuma intervenção policial incriminatória no caso. Todavia, a gota d'água foi uma entrevista que Leary concedeu à revista Playboy, quando referiu-se ironicamente à substância que pesquisava, como "um poderoso afrodisíaco". Ao aproveitar-se de um período onde Leary esteve fora das atividades acadêmicas, no início de 1963, a universidade tomou a atitude em demiti-lo, e na sua esteira, também o fez com o professor, Richard Alpert, igualmente envolvido nas experiências.

Então, foram ambos para o México, contudo, foram surpreendidos com uma sumária expulsão do país, algo bastante sintomático e a revelar-se um dos inúmeros boicotes velados que sofreriam dali em diante.  Foi quando surgiu a oportunidade para usar-se uma mansão privada, para que pudessem dar prosseguimento em seus experimentos, chamada : "Millbrook House", cujo proprietário era o milionário e mecenas, William Hitchcock. Ali, Tim Leary e Richard Alpert intensificaram seus estudos e doravante já estavam profundamente influenciados por ideias alternativas, oriundas de diversas fontes e não exatamente do mundo acadêmico, para mesclar-se à luz da ciência oficial. O livro Tibetano dos Mortos habitara o imaginário dos pesquisadores (em 1964, lançaram o livro : "The Psychedelic Experience, ao traçar um paralelo entre os dois conceitos).

Leary declarou anos depois, que nesse período, ele considerava-se "um verdadeiro antropólogo do século XXI, a pesquisar em meio às trevas do século XX". Ao extrapolar as fronteiras da psicologia em si, acreditava estar a criar ali, uma espécie de novo paganismo, através da completa expansão mental.

Muitas pessoas uniram-se à experiência de Millbrook, ao participar das sessões de estudos. Leary comandava experimentos sensoriais os mais diversos, com música; dança; meditação; observações no ambiente externo e em contato com a natureza; observação das estrelas; além de investigar empiricamente, diversos rituais pagãos. As observações de Tim Leary e Richard Alpert, levavam em conta aspectos da física de Einstein à quântica, à psicologia; redefinição de palavras (semiótica, incluso), como "neurose" em termos etnológicos; relacionamento entre as alterações de espaço / tempo etc.

Segundo relatou em sua autobiografia, chamada : "Flashbacks", por tratar-se de uma pesquisa independente, os recursos foram providos do próprio bolso dos pesquisadores ou mediante pequenas doações da parte de simpatizantes. Muitos jornalistas; pesquisadores e artistas simpatizantes, visitaram Millbrook. E também houve uma constrangedora visita de dois representantes da FDA, a agência norteamericana do controle farmacêutico, onde tais agentes comportaram-se como capangas mafiosos a estabelecer ameaças, mediante bravatas.
E como capítulo final nessa estada na mansão de Millbrook, Tim Leary casou-se com a jovem, Nanete Leary, em meio a uma cerimônia filmada como curta-metragem, pelo excelente documentarista, D.A. Pennebacker (Monterey Pop Festival'67; Don't Look Back; Ziggy Stardust etc). Esse filme recebeu o título como : "Wedding at Millbrook" (existe um título alternativo, chamado, "You're Nobody Till Somebody Loves You").  A banda de Miles Davis (sem a presença do genial trompetista), fez a trilha sonora da festa e o jazzista superb, Charles Mingus, foi o orador da cerimônia, ao fazer um sermão sobre a instituição do matrimônio.

Esse curta-metragem chegou a ser exibido no circuito de cinemas de arte na América, e é considerado um documento muito importante da história da contracultura nos anos sessenta. Dali em diante, Tim Leary seria mitificado pelos Hippies, ao torná-lo o inimigo n°1 do governo Nixon. Angariou muita simpatia da parte de artistas famosos, e passou por momentos de dificuldades pessoais, extremas, ao ser perseguido e preso. Mas estes são outros aspectos a ser analisados em uma outra ocasião...

Matéria publicada especialmente para o Blog Psychedelic Girl, e republicado no Site / Blog Orra Meu, ambas em 2011.

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