sábado, 18 de agosto de 2012

Filme: Mrs. Brown, You've Got a Lovely Daughter (Senhora Brown, A Senhora tem uma Bela Filha) - Por Luiz Domingues


O cantor, Cliff Richard, muito bem acompanhado do ótimo grupo, "The Shadows", já havia protagonizado alguns filmes, desde o final dos anos cinquenta (dois deles, "Expresso Bongo" e "The Young Ones", contém as suas respectivas resenhas neste blog), no ambiente do Rock britânico. Na metade dos anos sessenta, o super grupo, The Beatles, já havia lançado dois filmes igualmente, com grande sucesso. Foi quando o grupo, Herman's Hermits, também anunciou a sua participação em um filme longa metragem, a tratar-se de "Hold on", lançado em 1966, com relativo sucesso. Algum tempo depois, a banda aventurou-se em mais uma participação em um filme longa-metragem. Registre-se que o Herman's Hermits também participara de um filme norte-americano, chamado: "When the Boys Meet the Girls", em 1965, porém com participação mais modesta, apenas a tocar e cantar em uma pequena aparição.
A história que motivou o roteiro desse novo filme que tal grupo participou, foi na verdade baseado em uma canção de seu repertório, chamada: "Mrs. Brown, You've Got a Lovely Daughter". Tal canção com forte teor Pop, foi escrita por Trevor Peacock, anteriormente e foi regravada por vários artistas, porém, foi a versão gravada pela banda britânica, Herman's Hermits, que conferiu-lhe maior notoriedade.

O Herman's Hermits foi uma banda que notabilizou-se no mercado musical britânico dos anos sessenta, a trilhar o caminho do estilo dito: "bubblegum" (termo que designava bandas Pop, especializadas em canções simples, dotadas de um apelo comercial muito forte, graças principalmente aos refrães que "grudavam na cabeça, como chiclete", daí o sentido da designação em inglês). 

Acostumados a lidar com esse público infantojuvenil, essa banda construiu a sua carreira nesse estilo.

Não foi uma banda ruim, em via de regra, mas se o Rock britânico dos anos sessenta fosse o futebol, eu diria que o Herman's Hermits pertenceu à terceira divisão, e apenas obteve remotas chances de um dia subir à segunda, sendo que na primeira, então, nem em sonhos, conseguiria chegar um dia.
Em 1968, a psicodelia lisérgica estava sob alta voga na Inglaterra, mas o grupo Herman's Hermits continuou no seu estilo, sem grandes mudanças, a não ser no visual, ao mudar o figurino de seus integrantes, no sentido de que passassem a usar peças ligeiramente mais coloridas e a observar os cabelos um pouco mais compridos, para cada membro da banda, individualmente, contudo, quanto à estética sonora propriamente dita, a banda permaneceu a centrar os seus esforços  no estilo "Bubblegum" bem simples.

Dessa forma, ao adquirir fama e seguir os passos dos Beatles e Elvis Presley e do já citado, Cliff Richard & The Shadows, o grupo também expandiu a sua divulgação através do veículo cinematográfico, e sendo assim, a sua regravação da canção: "Mrs. Brown, You've Got a Lovely Daughter", tornou-se mote para a produção de um longa-metragem. 

Bem, a ideia seria fazer com que a história fluísse com a banda a cantar muitas músicas de seu repertório, incluso a faixa título do filme, e logicamente seguir a linha dos filmes de Elvis Presley. Dessa forma, a fazer com que os componentes do grupo ao atuar como atores, passassem por situações a envolver ação, a enfrentar pequenos conflitos domésticos e naturalmente tocar & cantar as suas músicas, além é claro dos inevitáveis flertes com as garotas bonitas e possíveis conflitos beligerantes com rapazes a interpretar vilões mal-intencionados & afins.

O problema foi que a história não ajudou muito, visto que o seu mote foi montado em torno de uma premissa bastante ingênua. Então, sem uma melhor substância, nota-se que houve um esforço generalizado a envolver o diretor, os componentes da banda e a produção em geral, a dar o seu máximo, no entanto, a história é bem fraca e por conta disso, este filme não é notável, embora tenha sido produzido em uma época de ouro da história do Rock inglês.

O filme seguiu o mote proposto pela letra da canção, a traçar uma história singela, onde o quinteto britânico vê-se às voltas com uma cadela da raça Greyhound (esse animal é considerado na história, como uma outra "filha" da senhora Brown, daí a ter essa brincadeira dúbia no título do filme). Os rapazes resolvem inseri-la no mundo das corridas de cães, que aliás, são super populares na Inglaterra. No entanto, a senhora Brown não colabora financeiramente com a ideia e os rapazes passam a economizar os cachets dos shows que realizam, para bancar essa ida da cadela às corridas de cães.

Uma artimanha prosaica é utilizada para "incentivar" o animal em questão, para que ela possa render mais nas corridas, e nesse aspecto, nem em filmes de bichinhos da Disney, um roteirista pensaria em algo tão tolo, infelizmente. Não revelarei do que se trata, pois quero que o leitor assista o filme para saber e chegar à sua conclusão sobre a artimanha em questão. E quando o fizer, lembre-se que eu avisei que foi uma ideia bastante prosaica.

Os componentes do Herman's Hermits (Peter Noone, Keith Hopwood, Derek Leckenby, Karl Green e Barry Whitwam) usam os seus nomes verdadeiros, com exceção do vocalista, Peter Noone, interpreta: "Herman Tulley", ou seja, o nome do personagem mostra-se como um trocadilho engraçado, a envolver o próprio nome da banda.  Quanto aos demais membros da banda, eles usam poortanto, os seus primeiros nomes, sem um sobrenome, nem fictício, tampouco o real de cada um. Dessa forma, o guitarrista, Keith Hopwood interpreta: Keith, o guitarrista, Dereck Leckeny é Derek, o baixista, Karl Green, interpreta, Karl e o baterista, Barry Whitwam, é simplesmente, Barry.
Para levar tal cadela para a corrida de cães, os rapazes enfrentam confusões no percurso entre as cidades de Manchester e Londres. Isso vale dizer que se defrontam com vilões malvados, engatam romance com belas garotas e claro, tocam e cantam.

A corrida finalmente acontece e nesse ínterim, Herman Tulley (quem mais senão o vocalista, Peter Noone, a fazer as vezes do galã mais improvável?), apaixona-se pela bela, Judy Brown (interpretada por Sarah Caldwell), a filha de fato da senhora Brown, ou seja, a confirmar a brincadeira dúbia e tola a dar nome ao filme, sobre a filha de fato, ou uma cadela no sentido figurado da maternidade afetiva por um animal. E isso tudo, apesar de que outra garota amava-o (Herman Tulley), a tratar-se de Tulip (interpretada por Sheila White). Para resumir, a história chega a um final feliz, inclusive para a cadela. Em suma, é ingênuo em demasia, não há segunda intenção mais aprofundada, nem mesmo por acidente de percurso, portanto a revelar-se rasa como história, mesmo. 

Bem, a parte musical é o melhor do filme, sem dúvida, ao lado da beleza das garotas que assediam os membros do Herman's Hermits, incluso as personagens de Tulip e Judy. São nove canções executadas ao longo do filme, incluso a clássica: "There's a Kind of Hush", provavelmente o maior sucesso da carreira dessa banda e inegavelmente, uma bela canção. Ouve-se outras músicas tais como: "It's Nice to Be Out in the Morning", "The World is for the Young", "Holliday Inn", "Daisy Day Part 1", "Daisy Day Part 2", "ooh She's is Done it Again", "Lemon and Lime" e "The Most Beautiful Thing in my Life".

A filha bonita da senhora Brown, desta vez a humana em questão (a senhora, é interpretada por Mona Washburn), é Judy Brown (Sarah Caldwell), ou seja, obviamente a beldade da película e não por acaso, nessa época, essa atriz era casada com o roteirista desse filme, Thaddeus Vane..

Trata-se de um filme leve, onde o meu conselho é assistir sem criar-se nenhuma expectativa em relação a nada. Portanto, esqueça que não é um super filme; não leve em consideração que o Herman's Hermits não foi uma grande banda  do primeiro escalão do Rock sessentista britânico e assim, de forma descompromissada, o filme passa tranquilo, como diversão.

Claro, mesmo com essas ressalvas, as canções são boas na exata proporção da simplicidade do Heramn's Hermits, é evidente, contém imagens preciosas da cidade de Manchester, Inglaterra, nos anos sessenta, além da boa fotografia gerada e se você for um fã de corridas de cães, terá um elemento extra para interessar-se. 

Outros atoresque participaram do filme, são: Stanley Holloway (como GG Brown, o marido da senhora Brown), Marjorie rhodes (como "Grandma" Gloaria, a avó de Herman Tulley), Lance Percival (como Percy, o vagabundo), Drewey Henley (como Clive), Avis Munage (como a mãe de Tulip), John Sharp (como Oakshot), Tom Kempinsky (como Hobart), Nat Jackley (como o cantor do Pub), Billy Milton (como o proprietário  da terra), Dermot Kelley (como um malfeitor), Hugh Futcher (como Swothard), Joan Hickson (como a proprietária da terra), Lynda Baron (como a senhorita Fisher), Annete Crosbie (uma empregada doméstica) e Rita Webb (uma mulher sem nome, que aparece no pub).

Nas salas de cinema, o desempenho desse filme foi apenas razoável, certamente auferido apenas a levar-se em conta o apelo da banda, do que baseado em um suposto atrativo que essa história tão fraca pudesse angariar a atenção das pessoas para comprar-se bilhetes.

A crítica foi bastante dura, e neste caso, acho que cruelmente típica a parte, não haveria meio para que esse filme despertasse algum elogio sob o ponto de vista cinematográfico. Eis uma opinião que transcrevo, para o leitor ter ideia do teor com a qual essa obra foi analisada à época: -"Neste filme, temos cinco eremitas bonitinhos a correr como macacos pela Inglaterra, a lidar com uma cadela em meio a corrida de cachorros e a tocar as suas músicas abissais"

Rapidamente o filme entrou no circuito de TV e ao longo dos anos, teve muitas reprises. Nos anos noventa, eu cheguei a vê-lo em mostras temáticas sobre o cinema britânico, em canais de TV a cabo, mas já havia assistido na TV aberta, muitos anos antes, durante o decorrer da década de setenta.
Escrito por Thaddeus Vane e baseado na canção gravada pelo grupo Herman's Hermits, mas cuja autoria, é na verdade de um compositor chamado, Trevor Peacock. Produção de Allen Klein (isso mesmo, o temido empresário norte-americano que tratava os seus negócios com mão de ferro e foi o último e controverso empresário dos Beatles, bem no tempo da dissolução dessa banda, por volta de 1969/1970). Direção de Saul Swinmer. Foi lançado em janeiro de 1968.

Na parte da trilha sonora, o crédito foi distribuído para três produtores musicais: Mickie Most, Ron Goodwin e John Paul Jones, ele mesmo, o baixista e tecladista do Led Zeppelin. É notório que além de tocar inúmeros outros instrumentos além dos que eu anunciei e que seriam os seus principais, John Paul Jones sempre foi arranjador e músico tarimbado de estúdio, onde realizou inúmeros trabalhos como músico, arranjador e produtor.

O filme foi lançado em versão VHS, DVD e também em formato Blu-ray. Na internet, nos dias presentes de 2012, é encontrado em fragmentos no YouTube. Todavia, no portal: UK.RU, a sua cópia é encontrada gratuita, na íntegra.

Resenha escrita para a Rádio/Blog do Juma, em 2012. Posteriormente, esta resenha foi revista e ampliada para fazer parte do livro: Luz; Câmera & Rock'n' Roll" e é encontrada para a leitura em seu volume I, a partir da página 338.



2 comentários:

  1. Ainda não assisti esse filme,Herman's Hermits tem umas musicas legais...ótimo texto Luiz vou pesquisar no youtube,abraços.

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    1. Kim, trata-se de diversão leve e vale por sentir a vibe de 1968 no celulóide. A estória em si é simples e o HH, idem.

      Valeu !!

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